Blog do Raul

“Iscas eleitorais” e a ficha limpa!

A sociedade brasileira tomou partido pela despoluição do Congresso Nacional, de políticos e candidatos a cargos políticos, com a apresentação do projeto para vetar candidaturas de pessoas condenadas. O projeto “Ficha Limpa”, aprovado por deputados federais e senadores, vai ser sancionado pelo presidente da República, sobrando uma dúvida fundamental, se a Justiça irá ou não considerar a sua validade para as eleições deste ano. Essa iniciativa é transformadora num processo eleitoral improvisado e oportunista, que até hoje protege fichas sujas com a redoma da imunidade parlamentar e foro privilegiado no enfrentamento de pendências judiciais. Por outro lado, partidos médios e nanicos montam time de “iscas eleitorais” que escondem a eleição de rejeitados pela própria sociedade.

É preciso registrar que o Congresso Nacional é composto por um número mínimo de fichas sujas, que devido ao comprometimento ético dessas figuras, antes e ao longo de suas vidas públicas, contamina a visão da sociedade sobre as instituições democráticas, especificamente o parlamento em todos os níveis – Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado Federal. Comportamentos e folhas corridas de uns servem para generalizar a consideração de todos. Daí o descrédito e a rejeição aos políticos, que na última pesquisa do Datafolha no mês de março indicava que 33% consideravam o desempenho de deputados e senadores ruim e péssimo.

Acho fundamental que o Tribunal Superior Eleitoral opine pela validade da Lei “Ficha Limpa” para as eleições deste ano. Essa é a melhor resposta para o empenho da sociedade, que pela quarta vez na história quis modificar regras sobre questões essenciais e de interesse público, por meio de projetos de iniciativa popular. “Ficha Limpa” contou com 1,6 milhões de assinaturas na sua apresentação e agora soma quase quatro milhões de subscritores.

Mas será que isso por si só muda o perfil da classe política no Brasil? Acredito que é um passo muitíssimo importante para recuperar a credibilidade das instituições democráticas, mas ações complementares com uma Reforma Política e Eleitoral são necessárias, justamente para evitar as deformações representativas, que poderiam ser corrigidas a partir do voto distrital, por exemplo. No entanto, partidos forjam força eleitoral com investimento em candidatos que servem apenas para puxar votos e eleger também donos de partidos e até gente de passado duvidoso.

São as chamadas “iscas eleitorais”, compostas de personalidades do mundo artístico e dos esportes, sem traquejo político, mas de amplo conhecimento público, que se somam aos políticos com preço de compra por governantes inescrupulosos. Figuras que contribuem para aumentar a ignorância política e os desvios das finalidades do Congresso Nacional. Infelizmente esses servem de escada a políticos espertos, que apostam sempre na manutenção da repugnância e do descrédito nas próprias instituições, para agir com propriedade no retrato infiel da verdadeira democracia representativa.

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4 comentários em ““Iscas eleitorais” e a ficha limpa!”

  1. joão Inocencio

    Raul do jeito que o processo eleitoral é hoje. Os eleitores votam em várias fichas limpas e elegem uma ficha suja.

  2. Wilson Lica

    Realmente os partidos nanicos são verdadeiros balcões de negócios, que entendo ser um grande mal em evolução.

  3. Ernesto Donizete da Silva

    Discordo do companheiro Raul, no que tange a sua assertiva: “É preciso registrar que o Congresso Nacional é composto por um número mínimo de fichas sujas” [g.n.], basta acessarem os links abaixo, que nestes encontramos que quase ¼ do Congresso Nacional respondem a procedimentos judiciais no STF, inclusive com lista nominal, em ordem alfabética de quem são e quais crimes estão sendo acusados:

    http://www.vozderondonia.com.br/ler.php?id=641

    http://congressoemfoco.uol.com.br/noticia.asp?cod_canal=1&cod_publicacao=28416

    Como se vê, já passou da hora da população brasileira, fazer jus ao seu voto e depositar sua confiança em pessoas probas e capazes e não em políticos de carteirinha que somente surrupiam o dinheiro público.

    Já em relação as “iscas eleitorais”, apesar de também não concordar, é algo possível no atual jogo político e na ampla democracia pode ser utilizado por todos os partidos – como normalmente ocorre.

    Assim, urge uma verdadeira reforma política, tão propalada, mas que não sai do discurso falacioso de muitos dos atuais ocupantes de cargos eleitorais. Particularmente acredito que o voto distrital seja uma das soluções. Pena que não possamos, como preceituou MONTESQUIEU executar o voto imperativo. Ai, sim, a “coisa” ficaria boa para o povo!

    Acorda Povo Brasileiro!!!

    Ernesto Donizete da Silva
    PSDB/SANTOS

  4. Entendo que a Lei Ficha Limpa não fere o artigo 16 da CF que trata do PROCESSO ELEITORAL tais como utilização de camisetas, internet, shows, carreatas, santinhos, urnas etc, mas trata-se de lei de conteúdo material tendo portanto aplicação, eficácia e validade imediata, já para estas eleições de 2010.

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