Blog do Raul

Apagão de mão de obra

Mãos à obra, “companheiros” !

Brasil vive outra Revolução Industrial.
O crescimento acelerado da economia brasileira, desde a implantação do Plano Real nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, mostrou uma evidência, que agora vem sendo cada vez mais percebida pela sociedade brasileira: a escassez de mão de obra qualificada para as novas necessidades técnicas dos setores econômicos em transformação. Nos últimos dias, o jornal “Folha de São Paulo” reproduziu manchete sobre a ‘Falta de técnicos para telecomunicações’. Uma repetição de assunto na mídia, que atormenta quem produz no Brasil e pode competir nos mercados interno e externo.

A notícia mais recente destaca que as operadoras de telefonia e os fabricantes de equipamentos de telecomunicações precisam de 15 mil técnicos, além de engenheiros para o mesmo setor, cujo déficit atual chega a 10 mil profissionais. Não faz um ano e havia comentando sobre a necessidade de pelo menos 60 mil motoristas, principalmente carreteiros, treinados para funcionarem como gestores de unidades móveis. O profissional do volante se tornou responsável pela manutenção e para cuidar de caminhões que custam mais de R$ 500 mil.

O ensino técnico no Brasil sempre foi associado à formação de mão de obra e estava reservado às camadas mais pobres da população. Na história da educação brasileira, a legislação definia como objetivo do ensino secundário e normal a formação das elites condutoras do país; enquanto o ensino profissional objetivava oferecer formação aos filhos dos operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados, que precisavam ingressar precocemente na força de trabalho.

Esse fato motivou, por muitas décadas, o foco do país na construção de uma elite na universidade, pulando etapas básicas e necessárias à industrialização. A sociedade conservou até a estabilização da moeda no país, a ideia de que o ensino secundário, juntamente com o ensino normal e superior, era privilégio dos que detinham o saber. A Educação para o trabalho servia mesmo àqueles que executavam as tarefas manuais, de segunda categoria, prevalecendo uma divisão de classes inaceitável no mundo atual globalizado – entre os que “pensam” e os que “fazem”, e a educação profissional.

Ora, essa discussão mesclou até a edição do Decreto 2.208/97, pelo presidente FHC, que promoveu a separação curricular dos ensinos médio e técnico. Quando os cursos técnicos estavam integrados ao ensino médio, uma parte significativa dos estudantes de classe média escolhia essa opção, fundamentalmente em instituições públicas, como a melhor forma de se prepararem para os vestibulares de acesso às melhores universidades do país.

Ato contínuo às novas regulamentações, FHC criou e começou a desenvolver o PROEP – Programa de Expansão da Educação Profissional, que entre 1998 e 2002, aprovou 336 projetos de escolas técnicas, sendo 136 para o segmento estadual, 135 para o comunitário e 65 para as escolas técnicas federais. 60% desses projetos resultaram em financiamento para a criação ou modernização de escolas técnicas públicas, federais ou estaduais.

Nessa ocasião, o PT acusava o governo FHC de privatizar o ensino técnico. E em janeiro de 2003, no primeiro mês do governo Lula, o PROEP foi interrompido, determinando a paralisação de obras e a descontinuidade de projetos com legitimidade para atender, em muitas regiões do país, às carências que hoje alimentam a certeza de que o Brasil vive um verdadeiro apagão de mão de obra.

Em 2004, o ministério da Educação devolveu ao BID – Banco Interamericano para o Desenvolvimento, US$ 94 milhões não utilizados do PROEP. Mas foi em 2006, durante a campanha eleitoral para a reeleição dos lulopetistas, que o governo federal retomou o PROEP, descongelando 32, do total de 232 projetos abandonados, e, como num passe de mágica, promoveu a federalização de muitas unidades planejadas, projetadas e/ou construídas por FHC.

O debate sobre o tema “Educação para o trabalho” é sempre politizada e partidarizada pelo lulopetismo. Em São Paulo, os governos do PSDB, desde Mário Covas e continuados por Geraldo Alckmin e José Serra, foram atuantes e bem sucedidos na criação de uma ampla rede de escolas técnicas estaduais e de faculdades de tecnologia, por meio do Centro Paula Souza. Diferente do modo de fazer em Brasília, onde o governo petista de Dilma Rousseff joga todas as suas fichas numa fórmula de marketing do Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, que anuncia a oferta de 8 milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis, e que até agora não disse a que veio.

É uma ironia ver o Brasil quase parando no momento de saltar para o futuro. Não vou falar em um mutirão nacional de formação técnica para o trabalho, mas o governo federal precisa observar e repetir o exemplo de quem faz mais e melhor. A expansão, a interiorização e a democratização na oferta de cursos de educação profissional e tecnológica não acontecerão como uma febre de mudança de rumo hoje, porque o governo Dilma peca pela ineficiência no ritmo e na execução de políticas públicas, diante a tantos escândalos na sua equipe ministerial e à incompetência do atual ministro Fernando Haddad (Educação).

Falta um “Plano Real” de Educação técnica para o emprego. Sem trocadilhos, mas vale bem um mãos à obra, companheiros!

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Cubatão perde POLI-USP !

Notícia publicada nos jornais “O Estado de São Paulo” e “Jornal da Tarde” de ontem, praticamente encerram a história do relacionamento de Cubatão com a Escola Politécnica de Engenharia da Universidade de São Paulo (POLI-USP), que agora está a um passo certo de Santos. Pois é, enquanto a professora Márcia Rosa (PT), que antes de ser prefeita era uma fervorosa defensora do retorno da POLI-USP ao município, cria todo tipo de dificuldade para dar as garantias que a universidade precisa para funcionar de fato, o prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa (PMDB) deu xeque-mate: “Vamos oferecer condições para que a USP se firme aqui, pois ela é ferramenta essencial para o nosso desenvolvimento”.

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Há empregos, mas falta qualificação !

José Serra tocou num dos pontos mais preocupantes do setor produtivo hoje: a falta de mão de obra qualificada para atender às demandas de empregos existentes e disponíveis. Ao assumir a sua candidatura a presidência da República, neste final de semana, Serra disse que um governo deve começar a governar logo no seu primeiro dia e que a sua urgência, se for eleito no dia 3 de outubro deste ano, será a criação de mais de 1 milhão de novas vagas em novas escolas técnicas, com cursos de um ano e meio de duração, de nível médio, por todo o Brasil. Mas essa contradição, da existência de empregos e da falta de qualificação para eles, associada ao exército de desempregados em nosso país, também precisa ser analisada sob a ótica dos baixos salários oferecidos pelos empregadores e que tornam essas vagas desinteressantes.

Com o compromisso público de José Serra, da importância que a Educação para o emprego terá em seu governo, a distorção salarial receberá providências na medida em que o Brasil revisar os seus recordes atuais com o mais baixo investimento governamental do mundo em infraestrutura, a maior taxa de juros reais do mundo e a maior carga tributária das nações em desenvolvimento. Resolvidos esses gargalos, que impedem a satisfação das nossas necessidades e preenchimento de nossas esperanças, o país verá o crescimento da sua economia.

Não é a primeira vez que escrevo sobre essas carências do Brasil e das estatísticas preocupantes com o número de trabalhadores excluídos dos efeitos benéficos da prosperidade e do crescimento econômico nacionais. Os avanços tecnológicos mundiais e a influência deles na vida dos setores produtivos exigem preparo dos jovens, trabalhadores, desempregados, de todos os níveis sociais e de formação educacional e profissional.

Serra atinge de maneira certeira o alvo do Brasil menos desigual para todos. Realmente é de fundamental importância priorizar um amplo programa nacional de qualificação para o emprego, inclusive prevendo a multiplicação de cursos de qualificação mais curtos, para atualização dos trabalhadores da ativa e também para os desempregados. E, nesse cenário, cabe tirar do papel idéias e programas como o “meu primeiro emprego”, para os adolescentes e jovens que saem do ensino básico despreparados para ingressar no mercado de trabalho.

Hoje crianças e adolescentes são beneficiados com a compensação financeira do programa Bolsa Família. Na travessia da adolescência para a juventude observamos um vazio que poderia ser coberto pela Bolsa Família, dando uma ajuda de custo para os jovens cujas famílias dependem desse programa, enquanto eles se sentissem inventivados em participar de cursos profissionalizantes com vistas ao primeiro emprego.

Pesquisas recentes, como a realizada pela Manpower, uma consultoria internacional de recursos humanos, reafirmam que não faltam empregos e que o grande problema dos setores produtivos e de prestação de serviços é a carência de qualificação. Cerca de dois terços dos empregadores brasileiros não encontram mão de obra qualificada para preencher vagas existentes.

Nosso país não é o mais defasado nesse quesito. O Brasil perde apenas para o Japão, de acordo com esse levantamento da Manpower: dos 35 mil empregadores ouvidos em 36 países, 64% dos empregadores brasileiros responderam que têm dificuldade em preencher as vagas, enquanto no Japão a queixa foi de 76% do total. A média dos países consultados é de 31% dos empregadores.

É evidente que com José Serra na presidência da República vamos virar uma página na história da economia brasileira, aumentando a nossa capacidade de produção e renda. Um próximo governo focado em empreender mais vagas e cursos profissionalizantes, disposto evitar um apagão de trabalhadores capazes para tarefas da sua própria sobrevivência e desenvolvimentistas, só pode ser um governo que fará muito mais pelo Brasil.

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