Blog do Raul

Emprego

REINDUSTRIALIZAR O BRASIL É URGENTE

Empregos, salários e desenvolvimento social.

A pergunta que não se cala na Baixada Santista, e no resto do país: o que aconteceu com o decrescimento e o quase desaparecimento da indústria nacional? Embora o tema não seja exclusivo do Brasil, os novos governos – federal e estaduais – a partir de 1.º de janeiro precisam responder.

Donald Trump, na sua primeira eleição nos EUA, tinha o discurso da retomada da industrialização no solo americano, sintonizado com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento, preocupados com a importância das indústrias como motor da economia, geração de empregos, melhores salários, extensão de divisas, receitas tributárias, mas… ficou só na promessa.

As indústrias deviam ser vistas sempre como emergentes e a reindustrialização urgente, no entanto, pela inanição governamental, quase sumiram no mapa do nosso país. E o pior: também sumiram vozes e ações contra o fim de suas produções e o desemprego.

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, trouxe para a indústria o poder antes exercido pela agropecuária. Organizações como a FIESP ou a própria Confederação Nacional da Indústria – CNI, no Brasil, ou sua similar no Japão, a Kendaren, sempre foram interlocutoras das regras econômicas com os seus respectivos governos. Agora, qualquer decisão da área econômica passa pelo que o “mercado acha”. O tal do “mercado financeiro”, intangível, tornou-se um Deus muito temido.

Para explicar a perda do protagonismo da indústria, precisamos tratar tecnicamente das mudanças globais para o seu entendimento. Tendo o mercado financeiro como detentor de diretrizes econômicas, voltamos a 1930, quando as exportações eram apenas de comodities, sem nenhum valor agregado. E é justamente contra esse papel irrelevante para as nossas indústrias, que insurgimos e conclamamos os novos governos a mudar esse comportamento passivo.

O poder das empresas industriais mudou a partir de decisões de Ronald Reagan, nos EUA, e Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha. Em 1982, Reagan assina o “Garn-St Germain ACT”, que flexibiliza o setor financeiro americano. Thatcher, em 1986, altera as normas da Bolsa de Londres, permitindo a participação de instituições financeiras estrangeiras nos seus negócios. Em 1999, Bill Clinton revoga o “Glass Steagall ACT”, que restringia às instituições financeiras o uso desses recursos em operações especulativas. Isso acelera o processo de declínio do poder industrial.

Hoje em dia vivemos o reflexo da influência do mercado financeiro em nossas vidas, como o exemplo entre dois compradores de um carro: um pode pagar à vista e o outro só a prazo. Há pouco tempo, o vendedor não hesitaria escolher o primeiro, mas agora quer vender para aquele que quer pagar a prazo. Porque a instituição financeira pagará ao vendedor o que se convenciona chamar de taxa de retorno sobre o financiamento. Ele terá “dois lucros”: do carro vendido e da taxa de retorno do banco. O vendedor prioriza a venda de um crediário, enquanto o carro ou eletrodoméstico são só meios para o negócio.

Os industriais se tornaram rentistas. Os seus lucros são aplicados no mercado e não na modernização do empreendimento. Assim, indústrias vão se sucateando e resta a importação. Para quê milhares de empregados, investimentos em prédios, galpões e equipamentos? Os custos de importação são menores e ninguém quer se industrializar aqui, alegando o complexo sistema tributário, taxas e impostos, não é mesmo? Vamos pautar essa questão?

(*) NOTA: Esse artigo foi escrito a quatro mãos com o professor de Geopolítica, Carlos Alberto Tavares Laureano.

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Brasil que fica pra trás

O sentido é figurado.

No momento em que escrevo este artigo, o atual presidente do Brasil não participa da 26.ª edição da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia. Líderes de todo o Mundo estão lá para reafirmar as suas metas climáticas e limitar o aquecimento global, sendo um importante indicador para a convivência do desenvolvimento econômico com a proteção das suas comunidades e hábitats, estabelecendo a cooperação entre governos e sociedade civil.

Ora, o Brasil vinha ocupando papel de destaque na recuperação do tempo perdido em defesa das suas florestas e mananciais, como manda o figurino das melhores práticas ambientais em nosso planeta. Isso travou. Porque a pandemia não interrompeu o aquecimento global e nessa retomada das atividades econômicas, com a transformação dos modos e fazeres, o nosso país sente os impactos do atraso, justamente pelo atraso tecnológico.

A perda da capacidade de emprego no Brasil será muito grande e pode chegar a 50, 60% de postos de trabalho extintos. Por isso mesmo não se justifica minimizar a importância das realizações, tanto da reunião do G-20, na Itália, quanto a COP26, na Escócia, como insultam certos negacionistas. O mundo está em transição energética. De formas poluentes para formas não poluentes e que não impactem negativamente o meio ambiente.

A pergunta que resulta disso é: “e o que isso tem a ver com os empregos?” Respondo, a partir dos exemplos da indústria automotiva. A Tesla, empresa automotiva e de armazenamento de energia norte americana, que desenvolve, produz e vende automóveis elétricos de alto desempenho, por exemplo, ainda que essa produção seja menor, em relação a General Motors (GM) e Ford juntas, vale, em termos de mercado financeiro, mais que a soma dessas duas grandes produtoras de veículos.

A Volkswagen anunciou em 2018, que estava investindo 3,5 bilhões de euros (cerca de R$ 22 bilhões), no desenvolvimento de novas tecnologias de mobilidade urbana, para produtos como armazenamento de informações em nuvens, para veículos conectados e serviços de compartilhamento de carros. Em março deste ano, a Volvo anunciou a intenção de ser totalmente elétrica até 2030; e a GM já informou que até 2035 será 100% elétrica.

Independentemente se o carro será movido por baterias elétricas ou a hidrogênio, só nesse segmento automotivo, no Brasil, milhares de empregos serão extintos e centenas de empresas que fornecem produtos “tradicionais” para as montadoras terão as suas portas fechadas. Vejam bem: em um carro elétrico, o sistema de transmissão subsistirá? Se não subsistirá, quantas empresas fornecedoras de peças de transmissão fecharão? Quantos empregos serão extintos?

Faz parte do desenvolvimento, e é inevitável, o surgimento de inteligência artificial, robôs, drones, além de cidades, casas, ônibus, caminhões, tratores e carros inteligentes, sempre substituindo mão de obra e extinguindo empresas fornecedoras tradicionais. Como escrevi no artigo anterior, “Brasil que não faz”, a China planejou o seu futuro e produz, produtos reais. Não se preocupou com aquilo que se denomina “mercado”, que na realidade é o mercado financeiro.

E o que se discute no Brasil a partir de Brasília? Atualmente, dependemos tão somente da agropecuária, como era antes de 1940, com a política do café com leite. Teve que ter uma revolução, com Getúlio, para se planejar e implantar a indústria brasileira. E agora, qual a política industrial? Qual a política educacional perante esses não tão novos desafios? Como o Brasil vai lidar com as empresas que não subsistirão?

Artigo publicado na edição de 02 de novembro de 2021, do jornal “A Tribuna de Santos”, na seção Tribuna Livre.

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Brasil que não faz

Chaplin, em “Tempos Modernos”, transformação na indústria.

A China não se tornou a economia mais forte do mundo por acaso. Para atingir a esse patamar, começou a planejar há pelo menos 30 anos. Tomo como base o raciocínio de que os números geralmente são relativos e que a realidade deles pode não apresentar consistências, no entanto é possível afirmar que a China é, simplesmente, uma das maiores forças econômicas do planeta, sem exageros.

Enquanto isso há no Brasil uma certa miopia, quando se mira na China de maneira rasa ou se pretende resumir a visão dessa potência a uma mera confusão sobre conceitos e ações entre direita-esquerda. Os gurus do atual governo do Brasil não são apenas negacionistas, mas uma negação, na compreensão da realidade de um modo geral.

A China produz de tudo para todos os países, enquanto o Brasil ainda não tem noção do que pretender ser. Mas o mundo não está esperando muito daqui, conforme o andar da carruagem. Será que não enxergam os movimentos internacionais e como o país está literalmente jogado na vanguarda do atraso?

Vamos aos dados consistentes do cenário macroeconômico: até 2035, quase metade dos empregos existentes no Japão serão extintos em função das novas tecnologias, indica a consultoria Nomura Research Institute, a maior empresa de pesquisa econômica daquele país. De outro lado, nos Estados Unidos, metade dos atuais empregos estão desaparecendo e sumirão no mapa nos próximos 20 anos. E no Reino Unido, conforme estudo da Universidade de Oxford, 35% dos empregos atuais serão extintos nesse mesmo período.

A pergunta que não cala é sobre a compensação desse desemprego planetário, de quantos empregos novos surgirão dessa transformação que podemos batizar de 5.ª ou 6.ª revoluções industriais? Evidentemente, muitos, mas muito menos dos que serão extintos.

Para entender a essa complexidade, é essencial que os planejadores tenham em mente qual o nível de exigência para a formação educacional desses novos empregos. Ainda que essas projeções estejam restritas à análise em relação às demandas de países altamente desenvolvidos, na contramão do Brasil; atrasado tecnologicamente e mercê de impactos ainda maiores para o mal.

Enfim, às vésperas de um ano de eleição para a presidência da República, o Brasil caminhará inacabado para um novo momento, sem realizar a lição de casa. Pior que isso, evidenciando um comportamento tão errático do governo atual na condução da sua política diplomática, ora em relação às parcerias econômicas, ora em respeito ao consenso global de que somente a vacinação em massa projeta a sobrevivência das pessoas e a volta à normalidade.

A ideia é escrever uma trilogia de artigos, para tentar responder “o que o Brasil quer ser”. No próximo vamos tratar sobre temas que estão sob o guarda-chuvas da sigla ESG, em inglês, para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), geralmente usada para referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio, mas que também pode ser um critério para investimentos.

Artigo publicado na edição de 26 de outubro de 2021, do jornal “A Tribuna de Santos”, na seção Tribuna Livre.

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O Brasil para os jovens

Jovens x geração “nem-nem”, fora do mercado de trabalho e das escolas e faculdades. Ilustração: CIEE

 

 

 

 

 

 

Qual vai ser a resposta do Brasil à sua juventude? É o que esperam 45% dos brasileiros, integrantes da faixa adulta, entre 20 e 59 anos de idade, de uma população de 211,7 milhões de pessoas, estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em levantamento feito até o último dia 1.º de julho.

A incerteza econômica provocada pela quarentena do novo coronavírus acrescenta outros elementos a essa análise: o índice de desemprego no país cresce, hoje representa 14,3% – com mais de 13,7 milhões de pessoas desocupadas –, sendo que 29,7% são jovens, de 18 a 24 anos; e 265 mil estudantes de faculdades particulares abandonaram os cursos ou trancaram as suas matrículas, nos meses de abril e maio deste ano.

O cenário deve ser considerado em todos os níveis governamentais, uma vez que essa falta de perspectiva da nossa juventude para o futuro é um tiro mortal na retomada da produtividade do nosso país. Com os números oficiais do IBGE temos a dimensão do problema, que se agrava diante da massa juvenil sem qualificação necessária para o acesso ao primeiro empregou ou a reinserção no mercado de trabalho.

Não é um conforto para o Brasil, a comparação com os Estados Unidos e a Europa, utilizada por especialistas em análise do mercado de trabalho em tempos dessa pandemia. O fenômeno é mundial, quando se observa o impacto das crises na juventude, e caberá à governança estatal o desenho e execução urgentes de políticas públicas com vistas à uma distribuição de renda compensatória e de estímulo à formação técnica e profissional que atendam aos investimentos com propósito.

A evasão das faculdades particulares não é um bom sinal sobre os propósitos atuais da juventude brasileira, que sempre buscou nesse tipo de matrícula e formação um plus na escolha de seus currículos para as oportunidades de emprego e renda no país. A queda das receitas pessoais e familiares, com o desemprego e a diminuição drástica das atividades econômicas, em princípio tem sido a maior razão para excluir as mensalidades escolares dos orçamentos.

Inclui-se nessa realidade o número de transferências de alunos de escolas particulares paulistas para a rede estadual de ensino, entre janeiro e agosto deste ano, atingindo a marca de 12 mil matrículas. Então, o momento exige uma reação, para não perder todos os esforços que já foram mobilizados nos últimos anos, para a universalização das matrículas das crianças no ensino fundamental, a redução do déficit de vagas no ensino infantil, a reforma do ensino médio, a expansão do ensino profissional para o emprego, o Fundeb, a BNCC, o financiamento do ensino superior com o FIES e o Prouni etc.

Acredito que o Ministério da Educação tenha esse quadro disponível e sei que o Conselho Nacional de Educação está empenhado na aprovação de diretrizes para o novo normal, que prevê o funcionamento das atividades gerais do ensino, presencial, remoto, híbrido, investimentos, que compatibilizem com os protocolos estabelecidos no combate ao Covid19.

Também o Ministério da Economia precisa ter a sua ação sobre a redução dos custos com contratações para o primeiro emprego, porque hoje esses custos não apresentam diferença entre os que estão no começo do trabalho e os trabalhadores com experiência e qualificação.

Enfim, estas reflexões, que poderiam ser centrais nos debates das eleições municipais de 2020, não compuseram a maioria das agendas e programas dos candidatos a prefeitos e a vereadores. Mas são um bom início de conversa, entre governos e parlamentos – nos três níveis – e o setor privado, que pode ampliar a produção, pagando menos por isso, mas empregando mais hoje e no futuro que tem chegado rápido demais para todos nós.

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Mãos à obra, “companheiros” !

Brasil vive outra Revolução Industrial.
O crescimento acelerado da economia brasileira, desde a implantação do Plano Real nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, mostrou uma evidência, que agora vem sendo cada vez mais percebida pela sociedade brasileira: a escassez de mão de obra qualificada para as novas necessidades técnicas dos setores econômicos em transformação. Nos últimos dias, o jornal “Folha de São Paulo” reproduziu manchete sobre a ‘Falta de técnicos para telecomunicações’. Uma repetição de assunto na mídia, que atormenta quem produz no Brasil e pode competir nos mercados interno e externo.

A notícia mais recente destaca que as operadoras de telefonia e os fabricantes de equipamentos de telecomunicações precisam de 15 mil técnicos, além de engenheiros para o mesmo setor, cujo déficit atual chega a 10 mil profissionais. Não faz um ano e havia comentando sobre a necessidade de pelo menos 60 mil motoristas, principalmente carreteiros, treinados para funcionarem como gestores de unidades móveis. O profissional do volante se tornou responsável pela manutenção e para cuidar de caminhões que custam mais de R$ 500 mil.

O ensino técnico no Brasil sempre foi associado à formação de mão de obra e estava reservado às camadas mais pobres da população. Na história da educação brasileira, a legislação definia como objetivo do ensino secundário e normal a formação das elites condutoras do país; enquanto o ensino profissional objetivava oferecer formação aos filhos dos operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados, que precisavam ingressar precocemente na força de trabalho.

Esse fato motivou, por muitas décadas, o foco do país na construção de uma elite na universidade, pulando etapas básicas e necessárias à industrialização. A sociedade conservou até a estabilização da moeda no país, a ideia de que o ensino secundário, juntamente com o ensino normal e superior, era privilégio dos que detinham o saber. A Educação para o trabalho servia mesmo àqueles que executavam as tarefas manuais, de segunda categoria, prevalecendo uma divisão de classes inaceitável no mundo atual globalizado – entre os que “pensam” e os que “fazem”, e a educação profissional.

Ora, essa discussão mesclou até a edição do Decreto 2.208/97, pelo presidente FHC, que promoveu a separação curricular dos ensinos médio e técnico. Quando os cursos técnicos estavam integrados ao ensino médio, uma parte significativa dos estudantes de classe média escolhia essa opção, fundamentalmente em instituições públicas, como a melhor forma de se prepararem para os vestibulares de acesso às melhores universidades do país.

Ato contínuo às novas regulamentações, FHC criou e começou a desenvolver o PROEP – Programa de Expansão da Educação Profissional, que entre 1998 e 2002, aprovou 336 projetos de escolas técnicas, sendo 136 para o segmento estadual, 135 para o comunitário e 65 para as escolas técnicas federais. 60% desses projetos resultaram em financiamento para a criação ou modernização de escolas técnicas públicas, federais ou estaduais.

Nessa ocasião, o PT acusava o governo FHC de privatizar o ensino técnico. E em janeiro de 2003, no primeiro mês do governo Lula, o PROEP foi interrompido, determinando a paralisação de obras e a descontinuidade de projetos com legitimidade para atender, em muitas regiões do país, às carências que hoje alimentam a certeza de que o Brasil vive um verdadeiro apagão de mão de obra.

Em 2004, o ministério da Educação devolveu ao BID – Banco Interamericano para o Desenvolvimento, US$ 94 milhões não utilizados do PROEP. Mas foi em 2006, durante a campanha eleitoral para a reeleição dos lulopetistas, que o governo federal retomou o PROEP, descongelando 32, do total de 232 projetos abandonados, e, como num passe de mágica, promoveu a federalização de muitas unidades planejadas, projetadas e/ou construídas por FHC.

O debate sobre o tema “Educação para o trabalho” é sempre politizada e partidarizada pelo lulopetismo. Em São Paulo, os governos do PSDB, desde Mário Covas e continuados por Geraldo Alckmin e José Serra, foram atuantes e bem sucedidos na criação de uma ampla rede de escolas técnicas estaduais e de faculdades de tecnologia, por meio do Centro Paula Souza. Diferente do modo de fazer em Brasília, onde o governo petista de Dilma Rousseff joga todas as suas fichas numa fórmula de marketing do Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, que anuncia a oferta de 8 milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis, e que até agora não disse a que veio.

É uma ironia ver o Brasil quase parando no momento de saltar para o futuro. Não vou falar em um mutirão nacional de formação técnica para o trabalho, mas o governo federal precisa observar e repetir o exemplo de quem faz mais e melhor. A expansão, a interiorização e a democratização na oferta de cursos de educação profissional e tecnológica não acontecerão como uma febre de mudança de rumo hoje, porque o governo Dilma peca pela ineficiência no ritmo e na execução de políticas públicas, diante a tantos escândalos na sua equipe ministerial e à incompetência do atual ministro Fernando Haddad (Educação).

Falta um “Plano Real” de Educação técnica para o emprego. Sem trocadilhos, mas vale bem um mãos à obra, companheiros!

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Plataforma técnica para o emprego !

O déficit de trabalhadores brasileiros qualificados para os novos postos de trabalho criados pela Petrobrás é enorme. Recentemente assisti a uma palestra sobre as necessidades de técnicos para atender as demandas da exploração do petróleo e gás no pré-sal e o número global infelizmente não me surpreendeu: dos 243 mil trabalhadores que precisa, a Petrobrás conseguiu selecionar 43 mil até agora, porque o país ainda ressente de políticas públicas continuadas e eficientes para a formação de mão de obra para o emprego. Nos últimos dias, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou pesquisa promovida entre os seus associados, que indica o problema da falta de trabalhador qualificado como um dos entraves no setor da construção, que iniciou 2010 bastante otimista em relação ao aumento da atividade econômica nos próximos seis meses.

A tarefa de superar o desafio da qualificação profissional precisa ser melhor compartilhada por todas as esferas de governo, caso contrário amargaremos o atraso com a submissão dos serviços que exigem elevada especialização a trabalhadores temporários e baratos do Brasil, ou a estrangeiros que recebem salários superiores em funções semelhantes. Esse dilema trará prejuízos ao invés de impulsionar os dividendos dos produtos explorados pela Petrobrás. Por isso não tenho dúvida que o responsável por essa carência de vagas em escolas técnicas é o atual governo federal, mesmo com a antecedência e da clareza com que a Petrobrás explicitou as vagas e especificações de cada uma das vagas disponibilizadas ao mercado de trabalho.

Preocupado em desmanchar as iniciativas bem sucedidas do governo passado, de Fernando Henrique Cardoso, hoje, a única ação relevante é o Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural) criado em 2003, que identificou a demanda de mais de 285 mil trabalhadores nos empreendimentos previstos para o setor (construção de refinarias, plataformas, navios e dutos), serviços e produção, nos níveis básico, médio, técnico e superior. Porém os programas de escolas profissionalizantes não estão restritos as necessidades exclusivas da Petrobrás, embora estes prevejam os cursos mais procurados em função da tradição e da potencialidade dessa empresa.

Educação para o trabalho é a melhor estratégia para combater o desemprego. O risco de ter gente despreparada e barata em determinadas funções laborais representa um freio na competitividade do país e uma elevação de investimentos em manutenção, ao invés de aumentar a capaciade de produção em qualquer área da indústria nacional. Acho nefasta para o país qualquer atitude de interrupção de políticas públicas bem sucedidas, como aconteceu com o Proep (Programa de Expansão da Educação Profissional) criado por FHC com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que o governo Lula extinguiu logo nos primeiros meses de 2003. Essa atitude resultou no pagamento pela permanência dos recursos disponibilizados pelo BID que, em 2004, recebeu de volta cerca de US$ 94 milhões não utilizados.

É inacreditável, mas o Brasil não podia dar-se ao luxo de desperdiçar a oportunidade da criação de novas escolas técnicas estaduais e comunitárias, ou de ver canalizados investimentos importantes para modernizar as escolas técnicas federais existentes com equipamentos e laboratórios. Agora, quando o Ministério da Educação (MEC) apregoa que nunca antes na história deste país houve tanto investimento na formação de trabalhadores para atender as inovações e perspectivas de novos empregos, observa-se que em seis anos de governo Lula a sua política para o ensino profissionalizante não chegou a um quinto do crescimento das matrículas nas escolas federais, quando se compara apenas em relação aos dois últimos anos do governo FHC, que cresceu 41%.

Indicadores do MEC, em 2003, apontavam uma quantidade de alunos matriculados nas escolas técnicas federais levemente superiores a da rede de escolas técnicas de São Paulo: 79 mil no Brasil inteiro e 78 mil nas escolas técnicas estaduais paulistas. Seis anos mais tarde, São Paulo registrou 123 mil alunos, em comparação aos 87 mil nas escolas federais, que teve uma expansão de matrículas da ordem de apenas 9%, quando o ensino sob a direção dos governos do PSDB – Geraldo Alckmin e José Serra – registrou crescimento de 58%.

A perdurar essa falta de eficiência na gestão de políticas pra ampliar o número de vagas nas escolas de formação de mão de obra, as plataformas do pré-sal continuarão poliglotas, enquanto haverá trabalhadores brasileiros relegados a uma segunda linha, com salários bem inferiores em funções semelhantes; sem cogitar as ações e empreendimentos na área de infra-estrutura que descumprirão cronogramas e o sucateamento da indústria nacional dada a ausência de gente preparada.

Chegou a hora de elevar o pensamento nas prioridades e urgências do Brasil, com visão de futuro e perspectivas mais concretas de resultados. A hora é de comprometimento dos centros de decisão para tornar possíveis as chances de uma participação maior do povo brasileiro no usufruto da prosperidade anunciada.

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