Blog do Raul

Jair Bolsonaro

Eu, manipulado!?

O esboço da reação lembra Davi versus Golias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No último fim de semana, assisti ao filme-documentário “Dilema das redes”, na plataforma Netflix, que denuncia o mau uso de nossos dados pessoais pelo Google, Facebook, Twitter, Instagram e várias outras mais. Há depoimentos de designers, engenheiros de software e programadores do Vale do Silício, que ajudaram a construir esse sistema que hoje nos controla. São os chamados algoritmos em ação, interferindo em eleições, movimentos sociais, economia, se aproveitando de nós, pessoas tratadas como máquinas de compras e comportamento.

Não há inocentes nessa área, mas com certeza muitos telespectadores vão achar que, fazer parte de uma rede social e marcar de acordo com aquelas condições de contrato de acesso que consentimos sem ler, é como pactuar com o Diabo. No mesmo espaço em que compartilhamos fotos de nossos netos felizes, a composição de um prato de comida, há uma inteligência programada para mexer com os seus instintos.

Parecemos ingênuos, porque no fundo temos preguiça diante do ritmo que as novas tecnologias nos proporcionam, a pretexto de facilitar as nossas vidas. Movimentos, mundo afora, sempre denunciaram esses perigos para a privacidade dos cidadãos. Carole Cadwalladr, redatora do periódico inglês ‘The Observer’, relata no “Privacidade hackeada”, que também assisti na sequência do “Dilema das redes”, a existência de uma “força tenebrosa que nos conecta globalmente, e flui pelas plataformas tecnológicas”. O acesso à transparência, no caso dos filmes sobre o mesmo tema, serve apenas aos poderosos.

Uso as redes sociais não porque são modinha global. Tenho amigos que ainda não possuem um aparelho de telefone celular ou ignoram as redes sociais porque alegam que não precisam delas nas suas atividades, inclusive profissionais. Mas aí há um dilema: uma parte significativa desses meus amigos são da área das comunicações, consumistas da imprensa tradicional – papel, rádio, TV e portais correlatos, e hoje é praticamente impossível atuar nela sem o uso mínimo das ferramentas digitais e redes virtuais.

Se você tiver um mínimo discernimento e refletir sobre o que busca efetivamente nas redes sociais, para o seu uso pessoal e nas atividades laborais, de trabalho, o filme “Dilema das redes” vai ajudar a se localizar no contexto. Alerto que, em termos de conhecer os níveis de manipulação a que as pessoas em rede se sujeitam, assistindo a esse filme, você pode até resolver diminuir o seu tempo de conectividade diária.

Carole provoca os que chama de “deuses do Vale do Silício” – Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg (Facebook), Larry Page e Sergey Brin (Google) e Jack Dorsey (Twitter) – com uma bateria de perguntas, a partir da constatação: “Porque se propuseram a conectar as pessoas e estão se recusando a reconhecer que essa mesma tecnologia está agora nos afastando. E o que não parecem entender é que isso é maior do que qualquer um de nós. E não é que isso é maior do que vocês e é maior do que qualquer um de nós. E não é sobre direita ou esquerda, ficar ou largar, ou Trump ou não. É sobre se é realmente possível termos novamente eleições livres e justas”. E dispara: “É isso o que querem? É assim que querem ser lembrados na história? Como servos do autoritarismo? E a minha pergunta para todos os outros, é isso que queremos? Ficarmos sentados brincando em nossos telefones até a treva chegar?”, sentenciou e redatora do “The Observer”.

Não deixem de ver o filme “Dilemas da rede”, complementando como eu, com “Privacidade Hackeada”, também na Netflix, que detalha em parte o que a empresa de dados Cambridge Analytica fez para interferir na campanha eleitoral de 2016, nos EUA, quando Donald Trump se elegeu. Inclua no seu cardápio, “Rede do ódio”, que singulariza a manipulação através de um jovem familiarizado com as fake news e a destruição de reputações. Não se iguala ao dois que destaco neste post, mas que poderia tornar uma trilogia do momento, para se assistir e tirar cada um as suas próprias conclusões. Certamente o tema não se esgotará nessas três versões.

Mas, por falar em conteúdos tenebrosos, manipuláveis, não será surpresa se o raciocínio teórico conspiratório começar a achar que a testagem positiva de Donald Trump e a sua esposa para o Covid19, for comparada à facada em Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018 no Brasil. Enfim, recomendo que assistam aos filmes e depois pensem melhor antes de sair curtindo e distribuindo likes em fake news ou anúncios nas redes que você participa “inocentemente”. Cuidado, contudo, porque alguém está de olho em você. Na sua imagem, comportamentos, mobilidades. No que pensa. Na maioria das vezes querendo que você passe a querer consumir…

 

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Não fiz arminhas com os dedos

Bolsonaro ensina criança.

Outro dia postei uma reflexão em meus perfis pessoais na internet, com uma provocação às prioridades do governo Jair Bolsonaro sobre a liberação dos recursos do orçamento federal. Não me contive, por exemplo, com R$ 700 milhões para o ministério da Saúde, apesar de toda a necessidade que o setor tem, e R$ 1,65 bilhão para a Defesa manter os seus quarteis. Como é comum atualmente, recebi manifestações de apoio, contras e de estranheza com a minha postura, tipo “o seu partido (o PSDB) defendeu esse resultado”, agora “faz arminha e chora”.

Entendo que o povo brasileiro está dividido sobre o projeto de país em curso. A intolerância grassa em família e na sociedade, com agressividade e radicalismo. Não vejo uma pessoa que não esteja armada interiormente – no sentido da atitude – e a disparar diante da menor contestação. Há ódio nisso, como bem descreveu o jornalista e escritor Ricardo Viveiros, em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo”, no último domingo (22 de setembro).

O seu diagnóstico relembra que “as pessoas, desde a campanha eleitoral de 2018, em segundos vão da ofensa pessoal à agressão, sem limite de bom senso. Do nada, por nada, para nada. Simples descontrole e violência”, acentuando. Esse cenário está levando muitos a cometer arbitrariedades e injustiças, sem fundamentação e sem observar o contraditório tão valorizado na democracia.

Nem é preciso dizer que esse clima torna insustentável a convivência humana no país, gerando atritos, em casa, nas ruas e em praticamente todos os ambientes; inimizades, divisões nos lares, famílias, escolas, trabalho, religiões sobressaem, sem importar com as consequências futuras em suas relações. Imagina como se sentem aqueles que sempre tiveram um lado na história e que praticavam a civilidade, que é o conjunto de formalidades, de palavras e atos que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração; boas maneiras, cortesia, polidez.

Onde falhamos? É possível definir um culpado, fulanizar responsabilidades com divergência de pensamentos, quando parece que não existe uma ideia em movimento? Será que Viveiros está totalmente certo quando localiza nas eleições de 2018 o início dessa cultura?

Em 2010 experimentamos desse veneno, quando o uso das redes sociais engajou um número maior de pessoas no debate político e eleitoral. Quem esqueceu os discursos de Lula apresentando a sua candidata Dilma Rousseff e patrocinando o confronto dos nós e eles?

O pior é que o mundo enfrenta uma epidemia de fakes news, a destruir verdades, reputações e a cultura da paz universal. Chegamos à 3.ª Grande Guerra Mundial, entremeada da “Quarta Revolução Industrial”, que, abraçada às novas tecnologias transformam a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Especialistas, como Klaus Schwab, autor do livro com o título citado entre aspas, consideram que “em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”.

Portanto, não fiz arminhas com os dedos antes, durante ou depois da eleição de Bolsonaro, e espero que o país desembarque a bom termo dessa violência, dando chance à tolerância de Mário Covas ao pregar que “mais vale um não explicado, do que um sim que não pode ser cumprido”.

 

(*) Raul Christiano é jornalista, escritor e professor universitário. E-mail: [email protected]

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Estado de Alerta na Educação

Educação é uma necessidade fundamental

Se colocarmos a questão do desprezo de alguns governos pela Educação no Brasil, a resposta mais provável de todas as fontes encorpará a ideia de que governantes preferem um país de ignorantes e potencialmente manipuláveis, à uma Nação educada. Ora, se nesse momento de expectativa baixa sobre a economia, de população endividada e triste, muitos jovens e trabalhadores com algum tipo de formação educacional enfrentam dificuldades, já imaginaram sem educação?

Quando fiz parte da equipe do ministro Paulo Renato Souza (da Educação nos 8 anos do governo Fernando Henrique Cardoso) participei e testemunhei avanços importantes na organização e execução de políticas que tinham tudo para reverter o quadro de atraso educacional no Brasil. Cheguei a imaginar que os governos petistas que o sucederam, por conta dos discursos favoráveis à causa, dariam sequência com louvor, mas optaram pelo congelamento de muitos programas e ações que só serviram para retardar mais o objetivo que deveria ser a prioridade um.

Lula desdenhou em diversas oportunidades a importância dos diplomas além da sua certificação como Torneiro Mecânico pelo Senai e deixou escapar a chance histórica de usar a sua popularidade nacional, valorizando a matrícula e a escolarização da primeira infância à universidade e pós-doutorados etc. Com isso, nunca antes da história deste país assistimos a evasão escolar crescer tanto e em todos os níveis.

Agora, diante de dados do IBGE, relativos a 2016, de que mais de 1,8 milhão de meninos e meninas de 5 a 17 anos trabalham no Brasil, contrariando a Constituição Brasileira, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbem o trabalho para menores de 16 anos, salvo na condição de Aprendiz, a partir de 14 anos, o presidente Jair Bolsonaro defende o trabalho infantil, mas diz que não pretende apresentar nenhum projeto para descriminalizá-lo. E justificou sua posição de maneira simplista de querer “que as crianças sejam educadas para desenvolver a cultura do trabalho”, trabalhando desde muito mais cedo.

Essa postura, que se complementa com o desgoverno observado no MEC desde o dia 1.º de janeiro de 2019, cortando o repasse de recursos para a Educação Básica e esvaziando programas essenciais, novamente contribui para aumentar a evasão escolar e, como o trabalho infantil é ilegal, promove uma distorção para o futuro sem formação, desqualificação e salários menores.

Chegou a hora de unir mais ainda as entidades que congregam as comunidades escolares – APMs (Associações de Pais e Mestres), UNE (União Nacional dos Estudantes), UEEs (União Estadual dos Estudantes) e UBES e UPES (União de Estudantes Secundaristas) e os responsáveis e dirigentes educacionais – Undimes (União dos Dirigentes Municipais de Educação) e Consed (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação) para estancar logo esse estado de coisas.

O desempenho sofrível dos estudantes brasileiros nos últimos anos, confirmado nas avaliações institucionais no Brasil (SAEB, Prova Brasil, Saresp, ENEM, ENADE, ANA etc) e no Exterior (PISA, por exemplo), não é Fake News, muito menos a notícia estampada no portal do jornal “Folha de São Paulo”, nesta segunda-feira (15):

Conforme o jornal, a educação em tempo integral, creches, alfabetização e ensino técnico são atingidas pelos cortes de verbas do governo federal para alunos das redes e escolas estaduais e municipais. Essa informação é verdadeira e foi obtida pela “Folha” –, por meio da Lei de Acesso à Informação e do Siop (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo). Os números são grandiosos, uma vez que o orçamento do Ministério da Educação para este ano é de R$ 122,9 bilhões, sendo que o governo não está conseguindo manter em dia as políticas educacionais – descontinuando ou fragilizando muitos programas bem-sucedidos – conseguiu executar até agora 28% (estamos no sétimo mês de 2019) e os cortes somam R$ 5,7 bilhões contingenciados.

Quantas vezes precisamos dizer ainda que uma nova geração de brasileiros está em risco?

 

(*) Raul Christiano é professor universitário, escritor, poeta e jornalista. E-mail: [email protected]

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