Blog do Raul

Mário Covas

Futuro para o brasil

Democracia interna mobiliza militância tucana.
Democracia interna mobiliza militância tucana.

Leio que algumas lideranças regionais do PSDB estão preocupadas com os seus próprios palanques. Isso estimula especulações políticas sobre adesões aos discursos extremistas, inclusive, do bolsonarismo direitoso ao esquerdismo lulopetista. O tabuleiro da disputa de 2022 ainda está sendo composto.

É óbvio que os defensores de uma terceira via, especialmente no cenário nacional, estejam no modo pause, esperando a definição do nome tucano à presidência da República. Como diz o presidente Fernando Henrique Cardoso, o discurso conciliatório do candidato do PSDB nessa estratégia é fundamental para agregar apoios fora do partido, dimensionando palanques competitivos nos Estados.

Só que essa escolha do PSDB, que segue resoluções internas com a democracia interna preconizada nos seus estatutos e discursos da sua militância mais aguerrida, nesse momento conjuntural pode ter alguma influência externa. Sempre defendi candidaturas próprias e o PSDB participou de todas as disputas, desde a retomada de eleições diretas para presidente em 1989.

Não se cogita um partido que já presidiu o Brasil durante dois mandatos e é formado desde a sua fundação por quadros políticos de destaque nacional, abrir mão de encabeçar uma chapa presidencial. Mas a conspiração corre solta nos bastidores e ações, muito além da teorização. Como, por exemplo, sobre deputados tucanos se curvando ao governo Bolsonaro em troca de emendas orçamentárias, tentando influir na escolha do candidato à presidência da República nas prévias tucanas, que acontecem em 21 de novembro.

É evidente que há um objetivo maior em toda essa movimentação pelo país e que não é possível uma agenda sem o Brasil em primeiro lugar. O povo não é mero espectador das definições partidárias, mas hoje figura como vítima de governos que não atenderam e atendem as suas necessidades fundamentais. Então é preciso que os objetivos dos pretendentes sejam mais claros sobre como lidar para superar as dificuldades aparentemente impossíveis de solução, com propostas mais claras.

Me preocupo com os rumos do país em relação ao futuro. Tive a honra de participar do governo do presidente Fernando Henrique, que foi estruturante de fio a pavio, do Plano Real de estabilização da economia às políticas de proteção social e compensatórias de renda. Mas agora, novos desafios são exigidos de nossos potenciais governantes, também por conta do agravamento da crise econômica e social decorrente da pandemia do COVID 19.

O país precisa de um choque de gestão à la Mário Covas e também não é prudente desenhar um plano sem considerar os resultados que São Paulo apresenta hoje, depois de ter sido demonizado por agir de maneira exemplar no controle da infestação do coronavírus, ora com ações restritivas, ora com o aumento da capacidade de atendimento intensivo aos pacientes e na busca de vacinas para todos.

Essas linhas para o debate amplo e com bastante difusão são um ponto de partida. A meu ver elas mobilizam a representação histórica do PSDB, que sempre defendeu uma proposta social democrata progressista para o Brasil.

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Bruno, tão cedo!?

Bruno Covas foi um grande parceiro.

 

 

 

 

 

 


A informação da morte do Bruno Covas me surpreende, porque eu o via como um imortal, tamanha a confiança e coragem que ele sempre nos passou, no enfrentamento de dificuldades. Ele seguiu fielmente os preceitos do seu avô, Mário Covas, quando respondia aos que falavam em adversidade: “A vida me ensinou que, diante dela, só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer.”

Embora o Bruno tenha nascido e crescido num ambiente político, oriundo da cepa do grande governador Covas, tive a honra de ter sido o seu companheiro de chapa na primeira eleição que participou. Em 2004 disputamos juntos a Prefeitura de Santos, ele foi o candidato a vice-prefeito.

Bruno sempre teve uma inteligência acima da média, não só do ponto de vista da sua formação em matemática e economia, mas na capacidade da definição estratégica e de articulação. E Bruno sempre soube conciliar os temas áridos com o bom humor, superar adversidades com esperança e otimismo.

Difícil viver junto com o Bruno Covas sem rir muito. Ele enfrentava e fazia o bom combate sorrindo. O seu avô (Mário) tinha fama de ranzinza e mal humorado. Os mais próximos justificavam esse comportamento devido ao seu sangue espanhol, mas convivi também com ele e sempre percebi a ternura e o respeito com as pessoas. O mau humor explodia quando surgiam adversidades ou fraqueza na execução dos seus planos.

Pelo histórico com Bruno, sempre enxerguei o futuro dele como governador de São Paulo, presidente da República. No início de sua trajetória ele seguiu comigo e, desde então, me tornei seu correligionário.

Mas a doença que o acometeu tem sido impiedosa e colheu Bruno no esplendor da sua ação pelo interesse público quando mais o apoiamos e queríamos ainda um país verdadeiramente feliz. Não aceito a ideia de que Bruno morreu, tão cedo.

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Não fiz arminhas com os dedos

Bolsonaro ensina criança.

Outro dia postei uma reflexão em meus perfis pessoais na internet, com uma provocação às prioridades do governo Jair Bolsonaro sobre a liberação dos recursos do orçamento federal. Não me contive, por exemplo, com R$ 700 milhões para o ministério da Saúde, apesar de toda a necessidade que o setor tem, e R$ 1,65 bilhão para a Defesa manter os seus quarteis. Como é comum atualmente, recebi manifestações de apoio, contras e de estranheza com a minha postura, tipo “o seu partido (o PSDB) defendeu esse resultado”, agora “faz arminha e chora”.

Entendo que o povo brasileiro está dividido sobre o projeto de país em curso. A intolerância grassa em família e na sociedade, com agressividade e radicalismo. Não vejo uma pessoa que não esteja armada interiormente – no sentido da atitude – e a disparar diante da menor contestação. Há ódio nisso, como bem descreveu o jornalista e escritor Ricardo Viveiros, em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo”, no último domingo (22 de setembro).

O seu diagnóstico relembra que “as pessoas, desde a campanha eleitoral de 2018, em segundos vão da ofensa pessoal à agressão, sem limite de bom senso. Do nada, por nada, para nada. Simples descontrole e violência”, acentuando. Esse cenário está levando muitos a cometer arbitrariedades e injustiças, sem fundamentação e sem observar o contraditório tão valorizado na democracia.

Nem é preciso dizer que esse clima torna insustentável a convivência humana no país, gerando atritos, em casa, nas ruas e em praticamente todos os ambientes; inimizades, divisões nos lares, famílias, escolas, trabalho, religiões sobressaem, sem importar com as consequências futuras em suas relações. Imagina como se sentem aqueles que sempre tiveram um lado na história e que praticavam a civilidade, que é o conjunto de formalidades, de palavras e atos que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração; boas maneiras, cortesia, polidez.

Onde falhamos? É possível definir um culpado, fulanizar responsabilidades com divergência de pensamentos, quando parece que não existe uma ideia em movimento? Será que Viveiros está totalmente certo quando localiza nas eleições de 2018 o início dessa cultura?

Em 2010 experimentamos desse veneno, quando o uso das redes sociais engajou um número maior de pessoas no debate político e eleitoral. Quem esqueceu os discursos de Lula apresentando a sua candidata Dilma Rousseff e patrocinando o confronto dos nós e eles?

O pior é que o mundo enfrenta uma epidemia de fakes news, a destruir verdades, reputações e a cultura da paz universal. Chegamos à 3.ª Grande Guerra Mundial, entremeada da “Quarta Revolução Industrial”, que, abraçada às novas tecnologias transformam a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Especialistas, como Klaus Schwab, autor do livro com o título citado entre aspas, consideram que “em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”.

Portanto, não fiz arminhas com os dedos antes, durante ou depois da eleição de Bolsonaro, e espero que o país desembarque a bom termo dessa violência, dando chance à tolerância de Mário Covas ao pregar que “mais vale um não explicado, do que um sim que não pode ser cumprido”.

 

(*) Raul Christiano é jornalista, escritor e professor universitário. E-mail: [email protected]

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PSDB em definição para 2018 …

Ilustração de tucano voando, da web (Toucan Flying)

Para responder às constantes perguntas que me fazem dentro e fora do PSDB, sobre os caminhos do partido em 2018, tomo como base para escrever estas reflexões, três questionamentos trazidos nesta semana pelo repórter Rafael Motta, do jornal “A Tribuna de Santos”: “em entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à rádio Jovem Pan, ele considera que “seria boa para o Brasil” uma eventual candidatura de Luciano Huck à Presidência e que, em seu ponto de vista, a tendência é que João Dória Júnior concorra ao Governo Estadual. Enquanto Coordenador Regional do partido na região da Baixada Santista, o que pensa das duas hipóteses (Huck e Doria)?”

Como coordenador regional do PSDB busco interpretar as percepções dos companheiros tucanos da região, que vislumbram Geraldo Alckmin presidente da República. E como partido democrático, o PSDB anunciou nesta quarta-feira (7/2), as regras de uma prévia para a escolha do candidato, entre Alckmin e o prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgilio Neto. Esse evento partidário, histórico, pretende levar às urnas no próximo dia 11 de março, os 1.504.318 (1,5 milhão) de filiados em todo o país, de acordo com a listagem do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, em outubro de 2017.

Continuando, Luciano Huck não está filiado ao PSDB. O presidente Fernando Henrique defende e fala bem sobre a oxigenação da política e a renovação de ideias. Mas o PSDB dispõe de quadros políticos experientes, com uma folha de resultados a submeter aos eleitores brasileiros, com a maioria de bons exemplos para o país. São Paulo espelha essa afirmação com o controle rigoroso das contas públicas e realizações como Poupatempo, Bom Prato, estradas, escolas técnicas, hospitais, segurança pública, saneamento básico etc.

O Brasil é sério demais para ficar mercê de outsiders. Numa situação de crise, essas alternativas surgem facilmente no raciocínio de quem está bombardeado de questionamentos do tipo para onde vamos. Me incluo entre os questionados constantemente, dado o meu histórico de militância política e como um dos fundadores do PSDB.

João Dória teve experiência em gestão pública antes, nos governos de Mário Covas (prefeitura de São Paulo) e José Sarney (governo federal). Sabe lidar com a comunicação de massa e acionar os influenciadores da opinião empresarial e do terceiro setor. Huck é só um ídolo na TV. Não vejo diferença entre ele, Silvio Santos, Datena, Ratinho ou Faustão.

O Brasil precisa de um gestor público, austero. E Geraldo Alckmin, sabidamente com uma vida modesta, tem esse figurino, a meu ver.

Dória pode ser nosso candidato à governador, após as prévias no Estado, com Floriano Pesaro, Luiz Felipe D’Avila, Alberto Mourão e José Anibal, por enquanto cogitados. No dia 19 de fevereiro o diretório estadual se reunirá para decidir sobre as regras em todos os seus municípios, e a minha sugestão é no sentido de que as prévias estaduais coincidam com a nacional, para um grande e unificado evento do PSDB no país.

Com essas explicações, restava ainda a Rafael Motta uma dúvida: “você concorda com a hipótese (ou a aceitaria) de que o governador apoie Márcio França para a sucessão? Ou é categórico em dizer que não pode haver outra saída que não o lançamento de um nome do PSDB para concorrer ao Governo do Estado?”

Na minha opinião, o PSDB deve ter um nome próprio para disputar o governo do Estado. O Marcio França tem todo o direito de se candidatar, mas para o PSDB ajudaria mais articulando os apoios de Pernambuco, Paraiba e Espírito Santo, por exemplo, em torno da candidatura de Geraldo Alckmin para a Presidência da República. Marcio é um exímio articulador, poderia ser ministro chefe da casa civil de Alckmin.

Enfim, não são definições do PSDB, como o título pode intuir, mas uma reflexão da conjuntura atual. Como dizia o governador mineiro Magalhães Pinto, “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já muda”.

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Prévias no PSDB ou José Serra, eis a questão …

Dilemão do PSDB.
Um movimento de Gilberto Kassab (PSD) em direção ao lulopetismo foi suficiente para fragilizar o instituto de prévias internas para a escolha de candidatos às eleições majoritárias (prefeitos) pelo PSDB, que é uma aspiração histórica dos seus militantes e filiados. No ano passado, quando as prévias foram aprovadas pelo Diretório Estadual do partido dos tucanos em São Paulo, porque um de seus principais líderes nacionais – José Serra – não aceitava nem discutir a hipótese de se candidatar a prefeito de São Paulo, esse exemplo foi aceito e comemorado a cada evento com a participação dos pré-candidatos inscritos nesse processo pioneiro.

O partido teve uma experiência muito parcial em 1989, quando Mário Covas foi ungido pela maioria das lideranças tucanas como o candidato do PSDB a presidência da República. Mas Covas quis saber o quê pensava a maioria dos filiados em todo o país, num período em que o PSDB ainda cumpria o mínimo necessário na sua organização para ser considerado um partido. Na época votamos plebiscitáriamente sim ou não, valendo a consulta, a sensação de que um novo partido havia surgido no cenário nacional, mais democrático e em sintonia plena com as suas bases.

O PT fazia isso. As suas instâncias de participação nos seduziam, inclusive para usá-las como referências em nossas reuniões nos diretórios municipais e zonais. O PSDB respondia a esse conceito exemplar com a coexistência de dois estatutos – um para cumprir a Lei Orgânica dos Partidos Políticos (dos tempos ditatoriais ainda) e outro para servir de base e de orientação da sua militância com desejo forte de inovação e mudança.

Essa expectativa de renovação ganhou força como nunca antes nos 23 anos de existência do PSDB. Em 1987, no primeiro ano de mandato do governador Orestes Quércia em São Paulo, que correspondia ao terceiro de José Sarney na presidência da República, ambos pelo PMDB, um grupo de parlamentares na Assembléia Nacional Constituinte reagia às imposições do governo, do mesmo modo em que um grupo de parlamentares e dirigentes do partido constituíam em São Paulo uma dissidência ao comando, estilo rolo-compressor de Quércia, do PMDB.

Nos dois níveis havia uma familiaridade: o clientelismo e o fisiologismo políticos em lugar de verdadeiros projetos de interesse da maioria da sociedade brasileira. Na Assembléia Constituinte e no PMDB paulista a democracia passava ao lado de fora, sem qualquer possibilidade de participação e de discussão. Em São Paulo, por exemplo, quem não estivesse alinhado com o grupo de Orestes Quércia, dificilmente conseguiria a legenda do PMDB para disputar uma eleição municipal.

A seqüência histórica é do conhecimento de todos. Nasceu o PSDB, das costelas do PMDB, como um partido de quadros representativos da política nacional – Mário Covas, Franco Montoro, José Richa, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Affonso Arinos, Geraldo Alckmin, João Gilberto, Almir Gabriel, Ronaldo Cezar Coelho etc.

Agora, quando parecia dar um passo à frente na sua democracia interna e na travessia para a renovação de quadros, volta à estaca zero? Quando José Serra optou por não disputar as eleições municipais de 2012, mirando mais um projeto nacional para 2014 (a saber com Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Marconi Perilo, Beto Richa, Tasso Jereissati etc), o PSDB paulista escolheu o caminho de liberar que a “fila” andasse, renovando expressões partidárias, oxigenando a sua organização inclusive para a perspectiva de prévias nacionais e um dia, quem sabe, promover primárias para a escolha dos seus nomes para as eleições nacionais.

O dilema que se coloca é da ordem de importância do PSDB com a sua relação com o poder e a governança dos seus princípios e propostas. O medo de uma derrota de um nome novo em São Paulo é maior que o exemplo democrático num país que não se importa com os partidos? Os partidos servem apenas para cumprir a lei eleitoral, quando dispuser de nomes para uma disputa de eleições em qualquer nível?

Sei que o maior desejo de um militante político é ter o direito e participar vivamente das decisões nos partidos políticos. A sintonia entre as direções partidárias e os filiados nem sempre é fina, prevalecendo a influência de líderes e parlamentares que argumentam sempre com os seus patrimônios eleitorais – votos, para ser mais explícito. O PSDB está numa encruzilhada: antes queria muito isso e agora pode deixar para depois.

Enfim, o que foi motivo de comemoração e de generosos espaços em todas as mídias, pelo exemplo novo, transformou agora o PSDB na Geny longe do Zeppelin? Do ponto de vista partidário acho tudo isso um retrocesso sem igual. Eleitoralmente, pragmaticamente analisando, a entrada de José Serra nesse novo cenário, que pode parecer o acesso de um descuidado numa loja de cristais, há motivos de sobra, principalmente porque os riscos são menores diante da inovação para um novo estilo de fazer política neste país.

A decisão que se coloca para nós todos é a seguinte: prévias ou Serra? Eis a questão…

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Morre Neco Sobral, quadro tucano !

Jovem quadro gestor do PSDB, elogiado por Mário Covas.
Quando Emmanuel Nóbrega Sobral tomou posse como presidente da Eletropaulo, na época (janeiro de 1996) uma empresa estatal do governo do Estado de São Paulo, ela era a terceira maior empresa brasileira em faturamento (por volta de R$ 5,4 bilhões). Ele era um jovem de 34 anos de idade, que havia deixado a direção financeira da Companhia Energética de São Paulo – Cesp, sendo bastante elogiado pelo então governador Mário Covas ao justificar o seu trabalho e a sua responsabilidade em equacionar uma dívida de R$ 3 bilhões, com grande parte no curto prazo, negociando com a Eletrobrás e o governo federal: “A Cesp enfrentou problemas financeiros gravíssimos, e ele deu conta muito competentemente”, acentuou Covas. Triste relembrar dessa passagem somente hoje, quando Neco Sobral partiu para o outro lado da vida sem se despedir de todos nós.

Neco foi um quadro técnico e profissional do PSDB, daqueles que as principais lideranças do partido sempre fizeram questão de ressaltar desde a fundação do partido em 1988. O Partido dos Tucanos nasceu como um “Partido de Quadros”, com vocação para governar. Talvez por isso mesmo, além de uma análise estritamente política da conjuntura sete anos mais tarde, o PSDB tenha chegado na infância ao governo brasileiro, tendo como meta a estabilização da economia do país e o lançamento das bases principais para a implantação de uma rede de proteção social, que passaram a oferecer safras bem sucedidas ao Brasil.

Uma grande parte desses quadros da militância do PSDB veio das universidades e da vida acadêmica. Neco frequentou esses caminhos, mas também era oriundo de uma família empresarial de São Paulo, responsável pela Sobral Invicta S/A (indústria fabricante das famosas garrafas térmicas da marca Invicta, dentre outros produtos) e também pelo estímulo à sua formação como engenheiro mecânico e administrador financeiro.

Conheci melhor Emmanuel Sobral durante a campanha que elegeu Fernando Henrique Cardoso para a presidência da República em 1994. Gilda Portugal Gouvea, nossa amiga comum e também fundadora do PSDB, foi a responsável por essa aproximação. Neco revelava uma alma vibrante e solidária. Chegava do trabalho e explanava ideias para o futuro de São Paulo e do Brasil, mobilizando-nos para as novas perspectivas. Pensava muito rápido e sorria antes de ouvir o que havíamos pensado sobre o mesmo assunto. Tinha também uma grande capacidade de aproximar e unir quadros diferentes e colocava os seus espaços pessoais para atender a essa finalidade construtiva. Gostava de organizar.

Certa vez contou uma passagem sobre o dia em que tomou posse na presidência da Eletropaulo: __ Por causa das chuvas ocorridas nessa data, a sede da empresa só não ficou às escuras, porque o prédio possuía gerador próprio. Pelo menos 10 bairros da zona sul da Capital de São Paulo ficaram sem luz e, com a interrupção do fornecimento de energia naquele momento, a estatal paulista, a maior distribuidora de eletricidade do país, com um mercado estimado em 22,2 milhões de pessoas, deixou de arrecadar R$ 605 mil. Logo Emmanuel, que abominava perdas, sabia que era um sinal para a modernização e para as medidas que iniciou, preparando a Eletropaulo para o processo de privatização.

Era impressionante ouvir de um gestor tão jovem a sua audácia. Suas ideias e resultados estavam avalizadas por uma figura tão importante e exigente como Mário Covas. Mas o endividamento da Eletropaulo, de R$ 6 bilhões, era deveras preocupante. O desafio de Neco Sobral foi grandioso e ele cumpriu o seu papel num período bastante curto no Governo do Estado.

Passos seguintes os levaram a Brasília, para a equipe do presidente FHC, no Ministério dos Transportes e, de volta a São Paulo, para a presidência da Sobral Invicta, onde mais recentemente compôs como membro do Conselho de Administração da sua empresa. Quando Horácio Lafer Piva assumiu a presidência da Fiesp, Emmanuel Sobral foi seu diretor secretário, acompanhando-o também na AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente, onde atuou como membro do Conselho de Administração e foi um de seus vice-presidentes.

Não me esqueço da maneira com que o ministro Paulo Renato Souza o distinguia, como amigo e gestor competente. Paulo Renato sempre foi muito exigente com os seus amigos, dentro e fora da sua equipe de trabalho. Juntos dirigiram o ISD – Instituto Social Democrata, criado no final dos anos 80 por Fernando Henrique Cardoso.

Fazia tempo que não conversava com Neco, mesmo pelas redes sociais. Nos últimos anos ele vivia em Portugal, lugar que escolheu para viver até os seus últimos dias. Vontade atendida, prematuramente, infelizmente!

Adeus, Neco Sobral, amigo e companheiro de muitas jornadas! Saudade!

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Adeus, Companheiro Biléo!

Biléo, militante indignado.

O PSDB perdeu um jovem fundador e militante: Biléo Soares ou, para muito poucos, Gilberto Celestino Brásio. Tive a alegria de conhecê-lo quando fui apresentado ao grupo de Campinas, cujas maiores expressões políticas do partido estavam representadas pelos saudosos José Roberto Magalhães Teixeira, o “Grama”, e Paulo Renato Costa Souza. Biléo, como eu, era um soldado, um militante dedicado e passional com as causas da inventada social-democracia brasileira, desde a fundação do PSDB em 1988.

52 anos de idade representa a metade da expectativa de vida do homem, como faz questão de explicar sempre, teoricamente, o governador Geraldo Alckmin, citando Platão, para quem o ensino devia durar 50 anos e somente depois de ter passado por todas as provas estaria pronto para servir à sociedade. Biléo desde a juventude misturou a busca do conhecimento com a repartição das suas ideias com figuras exponenciais da política na região de Campinas, São Paulo e o Brasil.

Formado em Direito, dessa condição extraiu o senso de justiça que o acompanhou a vida inteira. Biléo era uma pessoa doce no trato com os seus comuns, mas não conseguia controlar o vulcão guardado em seu peito quando a vitamina de uma causa exigia o posicionamento firme do militante indignado. Alguém que sabia ouvir e era bastante ouvido pelas suas experiências e convivência histórica com as atividades partidárias e a necessidade de manter as ideias sempre rejuvenescidas.

Lutou contra diferentes tipos de câncer nos últimos seis anos, mas ainda assim participou ativamente dos trabalhos na Câmara Municipal de Campinas, onde cumpria o seu segundo mandato como vereador (elegeu-se a primeira vez em 1992, cumprindo os seus compromissos até 1996; e a segunda, em 2008, até o dia da sua morte, em 6 de dezembro de 2011), que resultaram na cassação do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) e na instauração de uma comissão processante que também pode cassar Demétrio Vilagra (PT), o sucessor na Prefeitura.

Quando soube da sua partida, por uma mensagem SMS do PSDB de São Paulo, tive a mesma reação da época em que assessorava o ministro Paulo Renato (Educação), em Brasília, no ano de 1996 e fui um dos primeiros a saber da morte do prefeito Magalhães Teixeira. Um choque semelhante, mesmo sabendo dos antecedentes de doença grave de ambos.

Não esperava que Biléo fosse vencido. Na verdade torcia para que ele saísse vitorioso também no enfrentamento dos males contra a sua saúde. Mas enxergo um privilégio dele nesse embarque precoce. Biléo foi reencontrar seus velhos amigos e companheiros – Grama, Franco Montoro, Mário Covas e Paulo Renato. Não tenho dúvida que, de onde estiver, com os exemplos que nos deixou, àqueles que mantém vivo o velho espírito militante dos tempos em que buscávamos, com muito ímpeto, a volta da democracia no Brasil, sorrirá o companheiro Biléo Soares, como no início e sempre…

Fica em paz, Companheiro!

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