Blog do Raul

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Mulher combina com Poesia

Cartaz do espetáculo Mulheres Poetas – outono de 2019.

Não é preciso ser poeta neste mundo para tentar conquistar o coração de uma mulher com palavras. Quando buscamos no Google a combinação de seduzir uma mulher pela poesia achamos as melhores receitas. Mas é bom que se diga que vale também o inverso e digo com o testemunho de quem foi tocado assistindo ao espetáculo cênico de poemas e prosas “Mulheres Poetas – Raízes Portuguesas”, protagonizado pela poeta e atriz Orleyd Faya.

Foi nesse outono, em Santos, no palco do teatro do Centro Português – Teatro Armênio Mendes, restaurado na parte histórica da cidade, que a multivoz e a expressão corporal de Orleyd refizeram o “Périplo Africano” – das grandes viagens marítimas, em que Portugal foi o primeiro país europeu a se aventurar – no navio da poesia.

Nesse “Périplo”, que alcança as Índias fundeando o Brasil e contornando a África, os poemas ditos por Orleyd emocionam do começo ao fim. Os textos foram pinçados no universo da produção feminina na literatura, com a influência portuguesa na escrita de mulheres poetas de Portugal e de suas ex-colônias, enfatizando os contextos histórico, político, social e cultural dos diversos países de língua portuguesa.

Diferente de um sarau poético onde são compartilhadas as participações de poetas e suas próprias vozes, “Mulheres Poetas” é muito mais do que um sarau, jogral ou monólogo, recursos comuns na teatralização da poesia. O espetáculo nos seduz embalado pelo repertório de instrumentos e sons variados pelo ator e músico Wagner Bastos justaposto nessa realização da Teatraria e direção geral de Tanah Correa – ator, produtor e principalmente diretor de inúmeras peças, filmes e novelas.

“Mulheres Poetas” decora o palco com “linhas de união de um conjunto de países, em diversos continentes, diferentes e ao mesmo tempo marcados por uma mesma cultura pátria, e colônias, que apesar de todas as diferenças culturais, sociais e geográficas encontram na língua um eixo comum que evidencia e conta sua história: lutas e conquistas de povos distintos, desnudados na sensibilidade feminina, nas vozes de meninas, irmãs, mães, esposas, amantes, senhoras e escravas”.

São 17 poetas de 11 países – Brasil – Laura Moreira, Adélia Prado, Cora Coralina, Hilda Hilst, Dora Ferreira da Silva, Patrícia Galvão (Pagu), Olga Benário; Portugal – Florbela Espanca; Angola – Alda Lara; São Tomé e Príncipe – Conceição Lima; Moçambique – Noémia de Souza; Cabo Verde – Yolanda Marazzo; Nova Guiné – Filomena  Embaló; Guiné Bissau – Odete Semedo; Gôa/Índia – Vimala Devi; Macau/China – Si Luosha e Timor Leste – Filomena Reis.

Mulheres diferentes na geografia, tempo-espaço, e que através da poesia revelam tanto em comum, escritas na língua portuguesa, sua relação com Portugal. Nesse espetáculo perceberemos mulheres que desde o século XV e, ainda hoje, lutam para ter sua voz na sociedade, no mundo da literatura, espaço sempre tão masculino. Mulheres que pariram, embalaram, alimentaram, amaram e que foram propriedade destes homens portugueses e de seus colonizados.

Recomendo “Mulheres Poetas – Raízes Portuguesas”, um revival à poesia falada e às viagens que a literatura nos aproximam: “O mundo? O que é o mundo, ó meu Amor? O jardim dos meus versos todo em flor… a seara dos teus beijos, pão bendito… Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços… São os teus braços dentro dos meus braços, Via Láctea fechando o Infinito” (Florbela Espanca).

 

(*) Raul Christiano é professor universitário, poeta, escritor e jornalista. E-mail: [email protected]

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… Teatro Municipal de portas abertas

Santos retoma seu palco principal.
Santos retoma seu palco principal.
Foi uma feliz notícia da semana, a reabertura das cortinas do Teatro Municipal Braz Cubas. Durante as falas solenes, na noite de quinta-feira (12 de novembro), a soma de esforços de muitos para esse resultado foi realçada. Mas é sempre importante relembrar o quanto é difícil tomar uma decisão de interditar um prédio a serviço da Cultura.
No Brasil é assim, sem uma cultura de conservação e manutenção dos patrimônios materiais, governantes resistem em suspender atividades, porque a revitalização dos espaços não está no rol de prioridades, mesmo com riscos à população. Por isso este artigo e o reconhecimento do apoio do prefeito Paulo Alexandre Barbosa, nas reformas necessárias do Teatro Coliseu e diante da obrigação de fechar o Teatro Municipal.
Nossa primeira atitude, em janeiro de 2013, foi levantar necessidades dos teatros da Prefeitura para ter o AVCB. A resposta não nos surpreendeu. Havia muitos serviços a realizar, só não contávamos com as emergências, alertadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT.
A assistência técnica do IPT foi fundamental, em convênio firmado por meio do Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios – Patem, no valor de R$ 180 mil, sendo R$ 134 mil do Governo do Estado e R$ 46 mil da secretaria municipal de Cultura – Secult. Com esse respaldo, houve a inspeção e avaliação das condições estruturais do Teatro Municipal, sobre a sustentação do urdimento na sala de espetáculos e as condições externas do Centro de Cultura Patrícia Galvão, com ferragens e desgaste estrutural aparentes.
De outro lado, uma inspeção extraordinária no Coliseu, às condições denunciadas por servidores e usuários desse teatro, sobre o funcionamento defeituoso do sistema de ar condicionado e do comprometimento das paredes históricas por conta de infiltrações dos telhados, foi determinante para fechá-lo antes, em abril de 2013, reabrindo um ano depois. O Coliseu foi recuperado graças à parceria da Prefeitura com empresas empreendedoras na região, que investiram R$ 2 milhões, como Responsabilidade Cultural.
No Municipal não foi diferente. Em julho de 2014, baseados em laudo crítico, o teatro foi interditado para substituir todos os tirantes do urdimento, e investimos R$ 428 mil até dezembro daquele ano, quando os serviços foram concluídos.
Desde o verão de 2013, o teatro tinha restrições de uso por causa da paralisação dos seus sistemas de ar condicionado. Com a interferência direta do prefeito, conseguimos que empresas doassem materiais e disponibilizassem mão de obra especializada para recuperar o sistema de refrigeração, substituir tubulações e corrigir instalações antigas das torres de resfriamento. Estimamos nesse quesito um empenho de R$ 65 mil, que chegou a R$ 120 mil no final das reformas, com o mesmo exemplo de Responsabilidade Cultural.
O orçamento projetado para as reformas, em julho de 2014, era de R$ 800 mil a R$ 1 milhão, e chegaram a R$ 875 mil. Somando os R$ 46 mil (IPT), R$ 428 mil (tirantes), R$ 65 mil (ar condicionado) – em nossa gestão; mais R$ 250 mil (diversos serviços), R$ 55 mil (complementares de ar condicionado) e R$ 30 mil (emenda parlamentar para Galerias de Arte) – com Fabião Nunes.
Felizes com a reconquista da população santista e com o reconhecimento geral sobre essas iniciativas, conforta manter e reconhecer o espírito público com a transparência republicana dos valores públicos aplicados e resultados para o benefício coletivo. (Re)bem-vindo, Teatro Braz Cubas!

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