Um movimento de Gilberto Kassab (PSD) em direção ao lulopetismo foi suficiente para fragilizar o instituto de prévias internas para a escolha de candidatos às eleições majoritárias (prefeitos) pelo PSDB, que é uma aspiração histórica dos seus militantes e filiados. No ano passado, quando as prévias foram aprovadas pelo Diretório Estadual do partido dos tucanos em São Paulo, porque um de seus principais líderes nacionais – José Serra – não aceitava nem discutir a hipótese de se candidatar a prefeito de São Paulo, esse exemplo foi aceito e comemorado a cada evento com a participação dos pré-candidatos inscritos nesse processo pioneiro.
O partido teve uma experiência muito parcial em 1989, quando Mário Covas foi ungido pela maioria das lideranças tucanas como o candidato do PSDB a presidência da República. Mas Covas quis saber o quê pensava a maioria dos filiados em todo o país, num período em que o PSDB ainda cumpria o mínimo necessário na sua organização para ser considerado um partido. Na época votamos plebiscitáriamente sim ou não, valendo a consulta, a sensação de que um novo partido havia surgido no cenário nacional, mais democrático e em sintonia plena com as suas bases.
O PT fazia isso. As suas instâncias de participação nos seduziam, inclusive para usá-las como referências em nossas reuniões nos diretórios municipais e zonais. O PSDB respondia a esse conceito exemplar com a coexistência de dois estatutos – um para cumprir a Lei Orgânica dos Partidos Políticos (dos tempos ditatoriais ainda) e outro para servir de base e de orientação da sua militância com desejo forte de inovação e mudança.
Essa expectativa de renovação ganhou força como nunca antes nos 23 anos de existência do PSDB. Em 1987, no primeiro ano de mandato do governador Orestes Quércia em São Paulo, que correspondia ao terceiro de José Sarney na presidência da República, ambos pelo PMDB, um grupo de parlamentares na Assembléia Nacional Constituinte reagia às imposições do governo, do mesmo modo em que um grupo de parlamentares e dirigentes do partido constituíam em São Paulo uma dissidência ao comando, estilo rolo-compressor de Quércia, do PMDB.
Nos dois níveis havia uma familiaridade: o clientelismo e o fisiologismo políticos em lugar de verdadeiros projetos de interesse da maioria da sociedade brasileira. Na Assembléia Constituinte e no PMDB paulista a democracia passava ao lado de fora, sem qualquer possibilidade de participação e de discussão. Em São Paulo, por exemplo, quem não estivesse alinhado com o grupo de Orestes Quércia, dificilmente conseguiria a legenda do PMDB para disputar uma eleição municipal.
A seqüência histórica é do conhecimento de todos. Nasceu o PSDB, das costelas do PMDB, como um partido de quadros representativos da política nacional – Mário Covas, Franco Montoro, José Richa, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Affonso Arinos, Geraldo Alckmin, João Gilberto, Almir Gabriel, Ronaldo Cezar Coelho etc.
Agora, quando parecia dar um passo à frente na sua democracia interna e na travessia para a renovação de quadros, volta à estaca zero? Quando José Serra optou por não disputar as eleições municipais de 2012, mirando mais um projeto nacional para 2014 (a saber com Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Marconi Perilo, Beto Richa, Tasso Jereissati etc), o PSDB paulista escolheu o caminho de liberar que a “fila” andasse, renovando expressões partidárias, oxigenando a sua organização inclusive para a perspectiva de prévias nacionais e um dia, quem sabe, promover primárias para a escolha dos seus nomes para as eleições nacionais.
O dilema que se coloca é da ordem de importância do PSDB com a sua relação com o poder e a governança dos seus princípios e propostas. O medo de uma derrota de um nome novo em São Paulo é maior que o exemplo democrático num país que não se importa com os partidos? Os partidos servem apenas para cumprir a lei eleitoral, quando dispuser de nomes para uma disputa de eleições em qualquer nível?
Sei que o maior desejo de um militante político é ter o direito e participar vivamente das decisões nos partidos políticos. A sintonia entre as direções partidárias e os filiados nem sempre é fina, prevalecendo a influência de líderes e parlamentares que argumentam sempre com os seus patrimônios eleitorais – votos, para ser mais explícito. O PSDB está numa encruzilhada: antes queria muito isso e agora pode deixar para depois.
Enfim, o que foi motivo de comemoração e de generosos espaços em todas as mídias, pelo exemplo novo, transformou agora o PSDB na Geny longe do Zeppelin? Do ponto de vista partidário acho tudo isso um retrocesso sem igual. Eleitoralmente, pragmaticamente analisando, a entrada de José Serra nesse novo cenário, que pode parecer o acesso de um descuidado numa loja de cristais, há motivos de sobra, principalmente porque os riscos são menores diante da inovação para um novo estilo de fazer política neste país.
A decisão que se coloca para nós todos é a seguinte: prévias ou Serra? Eis a questão…
Raul,
Contrapondo a sua questão, lanço outra: Porque não Serra com prévias ? Ele sairia legitimado e consagrado pelo processo histórico do PSDB. Não tenho dúvidas que Serra em uma prévia é imbatível.
Olá Raul…
Acho que se o PSDB quiser tornar-se um partido além dos nomes e sim das propostas, deveria lutar por prévias e deixar a militância escolher quem de fato e de direito será o candidato a prefeitura de SP.
Sei do potencial eleitoral do Serra, mas te pergunto:
1- essa candidatura é pra valer? ou é pra cacifar a de governador de novo?
2- será que o povo paulistano cai nessa de novo? que moral esse cidadão terá se abandonar o barco mais uma vez, em nome do “clamor” partidário e do dever cívico?
3- seria bom o partido dimensionar o real “tamanho” do Serra, e lembrá-lo que já teve oportunidades de colocar seu nome a prova e que sem novos quadros o PSDB fica igual aos partidos que dependem sempre de um “puxador de votos”, e não de um conteúdo partidário que promova mudanças e avanços, quer seja em nível local, estadual e nacional.
Ainda aguardo seus comentários sobre a Educação em SP.
Abaço.
Raul, como disse ao Pedro Tobias no twitter, creio que impor Serra cancelando as prévias, será agir da mesma maneira que agiu aquele que combatemos. Além do desrespeito ao trabalho e as pessoas ja envolvidas nas prévias, inclusive os militantes. Quanto ao que Evandro falou, tb acho o justo. Mas fica a pergunta: o ego de Serra arriscará mesmo uma prévia? Duvido. Pq se por um acaso, um mero acaso, pq a gente nunca sabe, ele for derrotado, estará liquidado.
Abraços 😉
Com ou sem prévias Serra não é apenas “um puxador de votos”, é um homem público consagrado em São Paulo, eleito com mais de 57% de votos para governador.
Seria um nome forte para o partido lançar como candidato a prefeitura, com um bom nome de vice.(importante frisar)
A única certeza que tenho é que não podemos perder a prefeitura de SP, custe o que custar! O outro candidato vem com o par a tiracolo na campanha. E isso fará diferença, mesmo este candidato tendo feito tantas lambanças por onde passou.
Pensemos então na vitória. Prévias deveriam servir para avaliar o melhor candidato para o partido sair vitorioso. A filosofia dos candidatos não é a mesma?
amigo Raul: concordo integralmente com o Losacco. Por que não prévias com o Serra? Creio, porém, que a eleição para a Prefeitura de São Paulo não será tranquila desta vez. Temos o nome do Chalita, que é muito mais “simpático” que o Serra, conta com o apoio da Igreja Católica, nunca foi candidato e é jovem. O Serra agora colide com a visão do eleitorado ante as brigas do PSDB, a sua renúncia ao cargo de Prefeito para sair à Presidência etc…
Mas, eleição é uma incógnita, até porque o “ungido” do PT também fracionou o seu partido; O Netinho de Paula já foi objeto de notícias de apuração pelo Ministério Público; o Russomano é o mesmo “defensor e comunicador do consumidor” como dantes, e só isso; a Soninha mantém-se como pouco conhecida; o PDT não agrega outros partidos.