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Prévias, no partido dos outros ?

Prévias ou primárias são temas recorrentes nos partidos políticos, quando se aproximam as escolhas de candidatos para o Legislativo e Executivo. O poder de decidir é restrito à comissão diretora executiva da máquina partidária, que quase sempre contempla fatores como a força de grupos majoritários, fila de lideranças e desempenho em pesquisas internas ou exposição na mídia. O historiador Marco Antonio Villa publicou artigo sobre o assunto no Caderno Aliás, do jornal “O Estado de São Paulo”, enfatizando uma crença minha também, de que “as prévias podem oxigenar o debate político extrapartidário. Com a cobertura da imprensa e o interesse das lideranças de ganhar espaço, os grandes temas estarão presentes muito antes do início da campanha” (http://bit.ly/pBWbQ0). Ora, apesar de defender como militante a abertura de canais de participação e decisão dos rumos e projetos do PSDB, no meu caso, é evidente, historicamente, confrontar que só não apóia o instituto de prévias partidárias quem já ganhou nas convenções, com a participação de todos os filiados aptos a votar, a direção do processo político e o poder de decisão.

Para disputar uma eleição é necessária a filiação a um partido político. Não há em nossa legislação eleitoral e partidária a previsão de candidaturas avulsas. Por isso, diante do calendário brasileiro para as eleições do ano que vem, por exemplo, o pré-candidato precisa se filiar a um partido até um ano antes do pleito. Nesse caso, até o dia 6 de outubro, porque as eleições acontecerão no dia 7 de outubro, em 2012.

Acontece que muitos eleitores desavisados, além dos que almejam disputar eleições, chegam aos partidos políticos carregados de expectativas sobre as melhores formas da sua participação política e não encontram espaço para isso. No limite conseguem se incluir em eventos esporádicos para a discussão sobre a conjuntura política atual ou das propostas partidárias para os governos-alvos, sem qualquer possibilidade de conhecer alternativas de candidaturas para liderar as disputas eleitorais. Pior que isso ocorre quando os partidos nada promovem para validar a vontade de participação do eleitor e contribuem para o seu afastamento desse território de cada vez mais poucos.

Essa reflexão política não serve para aqueles que não se preocupam em ter identidade ideológica, doutrinária ou programática com os partidos. Essas figuras buscam legendas para uma disputa eleitoral com maiores chances de sucesso ou então de obter algum favorecimento financeiro ou de outra ordem pessoal. Confesso que fico indisposto quando o meu interlocutor revela que o seu interesse pelo PSDB é circunstancial, principalmente ao elencar outras opções partidárias que já lhes foram oferecidas antes do contato comigo.

Portanto, de nada vale para convalidar o tema democracia interna, os interesses oportunistas e inconseqüentes com os partidos. Nesse caso eles nunca levantarão as suas vozes para exigir algo além do que já teve ou que poderia ter sob contrato político de oportunidade. Não há tempo a perder com uma discussão ampla de envolvimento maior da sociedade na vida partidária, com quem tem o seu pragmatismo resolvido. Mas para a sociedade é fundamental crer na construção de um processo transparente sobre os melhores nomes e a identidade dos seus propósitos com o objetivo a ser atingido pela vitória nas urnas.

Se os partidos políticos adotassem como regra todas as instâncias democráticas de participação e decisão sobre os seus rumos – como, pré-convenções, convenções, primárias e prévias – o eleitor e a própria sociedade saberiam por antecipação qual a melhor opção partidária no cenário atual. Contudo, se persistir o mandonismo, não admitindo a divergência e querendo sempre a imposição de candidaturas e alianças políticas sem discussão, a democracia não sobreviverá nesse caldo de cultura.

Prévias ou primárias são mais democráticas, mas não podem ter, numa cultura partidária em que todos os filiados somente são convocados a participar das convenções que delegam poderes aos seus diretórios políticos locais, o caráter de revanche ou do começo de um novo jogo político, que na maioria das vezes ajuda a desunir mais o quê pode estar despedaçado faz tempo!

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6 comentários em “Prévias, no partido dos outros ?”

  1. Victor Picanço

    O primeiro passo para as prévias é fazer um recadastramento de todos os filiados. Afinal, nem o PSDB, nem nenhum partido no Brasil tem controle sobre quem de fato está filiado e quem não está.

    Sonho com o dia em que o PSDB fará plenárias regionais nos Estados, com ampla participação da militância, para discutir temas relevantes, como a reforma política.

    Ou ainda, com nossos pré-candidatos viajando o país para debater suas candidaturas com as bases partidárias.

  2. nadyr bonifacio junior

    as prévias são necessárias em qualquer partido poi é necessário ouvir a voz do povo nas ruas e na internet antes de decidir o nome do candidato a cargo eletivo.
    ano que vem tem eleição para prefeito.
    chegou a hora das previas

  3. Allan Kardec Pitta Veloso

    As prévias ajudariam naturalmente a valorizar o papel do militante político e fariam os candidatos a discutir seus projetos no partido antes de colocar a apreciação da sociedade.

  4. Parabens,

    pela lucida e clara manifestação, ela representa o anseio da militancia partidária, que é deixar de ser um instrumento simplesmente homologatório nas convenções.
    estamos tendo uma oportunidade unica perante a opinião publica de mudar o ja pauperizado quadro que ela tem da politica no país. cabe agora aos dirigentes partidários sem manequeismos transformar o discurso da prévia em realidade. e mais uma vez parabens por sua sempre sabia colaboração.

  5. vila esperança

    sou canditato a vereador de cubatao????? fora marcia rosa

  6. Evandro Losacco

    Raul,

    Sempre defendi as prévias no PSDB como forma de escolha de candidaturas majoritárias quando não se tem uma candidatura natural. Entende-se aqui como candidatura natural aquela em que não há constestação expressiva dentro do Partido. As prévias tem as vantagens de uma maior mobilização das bases, divulgação de candidatura fora do ambiente partidário e uma maior legitimidade ao vencedor. Os que temem as prévias argumentam , basicamente, um motivo: o seu resultado é imprevisível.

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