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Bom senso nessa hora

É tempo de refletir.

2024 será um ano de grandes desafios na vida social e seu meio ambiente, com intempéries, guerras e o que nos consome e exige cotidianamente, mirando a política como a panaceia para a solução da maioria dos problemas. Sendo esse o caminho natural, aqui no Brasil, é sempre válido reafirmar o poder do voto popular na sua democracia representativa.

Cansei de esmurrar pontas de faca nessa vida e tenho lido muitas reflexões, nos últimos tempos, baseadas na transferência da responsabilidade para os que estão no poder, eleitos ou delegados, generalizando críticas aos seus comportamentos e atividades, como se não houvesse uma corresponsabilidade nossa com eles. E não ousaria culpar a sociedade pelos resultados percebidos, naquilo que depende da política.

Vivemos tempos diferentes e a experiência vai moldando o nosso relógio e a temperatura frente os acontecimentos gerais. Entendo o quanto é fácil hoje em dia fazer os enfrentamentos políticos pelas redes sociais. Elas criaram coragem em muita gente que se acovardou em oportunidades decisivas antes, mas também não ousarei no papel de juiz por duas razões óbvias: a primeira, porque não sou juiz; a segunda, porque respeito as opiniões de todos, independente da minha visão do mundo e das suas coisas.

Dia desses, com tempo para interagir em grupos de interesses comuns no WhatsApp, percebi que sem ter a intenção de polemizar, acabei cometendo uma polêmica, sobre o retrato da sociedade atual como o resultado da vontade manifestada por ela mesma nos seus canais de influência e decisão. Relembrei que não concordava com aquela frase atribuída ao Rei Pelé, de que “brasileiro não sabe votar”.

Na época, fins de 1977, o então “Jornal do Brasil” do Rio de Janeiro cunhou essa frase numa manchete, mas em nenhum momento a inseriu no contexto da matéria. O jornal “O Estado de São Paulo”, por exemplo, interpretou no mesmo dia que Pelé, sempre ausente do debate político em todos os momentos de sua carreira, dissera que “o povo precisa saber mais para pedir mais”, e que “se o povo procurar aprender um pouquinho mais, nós poderemos ir muito longe”.

Ora, o que isso tem a ver com a interpretação do momento atual? Tudo e mais com o bom senso para não precipitar em conclusões desesperançadas. Primeiro também porque caberá à sociedade pensar mais antes de verbalizar os seus pensamentos, embora todos estejamos livres para pensar e opinar a respeito do que nos cerca. O debate é saudável e é compreensível que as opiniões divergentes sejam respeitadas para se chegar a um ponto comum.

A intransigência funciona como combustível para os conflitos que estamos assistindo em diversas partes do mundo, e há que considerar o comportamento de ceder e desarmar espíritos, corações e mentes. Só assim vamos praticar a harmonia dos sonhos de um novo tempo que desejamos tanto, quando nos abraçamos em reverência, na travessia do passado para o futuro no presente. Chega de intolerância e radicalismos, porque todos dependemos uns dos outros para alcançar a paz e a justiça social tão clamada nos discursos. Isso é uma das muitas ideias da cidadania e do respeito pela natureza humana.

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REINDUSTRIALIZAR O BRASIL É URGENTE

Empregos, salários e desenvolvimento social.

A pergunta que não se cala na Baixada Santista, e no resto do país: o que aconteceu com o decrescimento e o quase desaparecimento da indústria nacional? Embora o tema não seja exclusivo do Brasil, os novos governos – federal e estaduais – a partir de 1.º de janeiro precisam responder.

Donald Trump, na sua primeira eleição nos EUA, tinha o discurso da retomada da industrialização no solo americano, sintonizado com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento, preocupados com a importância das indústrias como motor da economia, geração de empregos, melhores salários, extensão de divisas, receitas tributárias, mas… ficou só na promessa.

As indústrias deviam ser vistas sempre como emergentes e a reindustrialização urgente, no entanto, pela inanição governamental, quase sumiram no mapa do nosso país. E o pior: também sumiram vozes e ações contra o fim de suas produções e o desemprego.

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, trouxe para a indústria o poder antes exercido pela agropecuária. Organizações como a FIESP ou a própria Confederação Nacional da Indústria – CNI, no Brasil, ou sua similar no Japão, a Kendaren, sempre foram interlocutoras das regras econômicas com os seus respectivos governos. Agora, qualquer decisão da área econômica passa pelo que o “mercado acha”. O tal do “mercado financeiro”, intangível, tornou-se um Deus muito temido.

Para explicar a perda do protagonismo da indústria, precisamos tratar tecnicamente das mudanças globais para o seu entendimento. Tendo o mercado financeiro como detentor de diretrizes econômicas, voltamos a 1930, quando as exportações eram apenas de comodities, sem nenhum valor agregado. E é justamente contra esse papel irrelevante para as nossas indústrias, que insurgimos e conclamamos os novos governos a mudar esse comportamento passivo.

O poder das empresas industriais mudou a partir de decisões de Ronald Reagan, nos EUA, e Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha. Em 1982, Reagan assina o “Garn-St Germain ACT”, que flexibiliza o setor financeiro americano. Thatcher, em 1986, altera as normas da Bolsa de Londres, permitindo a participação de instituições financeiras estrangeiras nos seus negócios. Em 1999, Bill Clinton revoga o “Glass Steagall ACT”, que restringia às instituições financeiras o uso desses recursos em operações especulativas. Isso acelera o processo de declínio do poder industrial.

Hoje em dia vivemos o reflexo da influência do mercado financeiro em nossas vidas, como o exemplo entre dois compradores de um carro: um pode pagar à vista e o outro só a prazo. Há pouco tempo, o vendedor não hesitaria escolher o primeiro, mas agora quer vender para aquele que quer pagar a prazo. Porque a instituição financeira pagará ao vendedor o que se convenciona chamar de taxa de retorno sobre o financiamento. Ele terá “dois lucros”: do carro vendido e da taxa de retorno do banco. O vendedor prioriza a venda de um crediário, enquanto o carro ou eletrodoméstico são só meios para o negócio.

Os industriais se tornaram rentistas. Os seus lucros são aplicados no mercado e não na modernização do empreendimento. Assim, indústrias vão se sucateando e resta a importação. Para quê milhares de empregados, investimentos em prédios, galpões e equipamentos? Os custos de importação são menores e ninguém quer se industrializar aqui, alegando o complexo sistema tributário, taxas e impostos, não é mesmo? Vamos pautar essa questão?

(*) NOTA: Esse artigo foi escrito a quatro mãos com o professor de Geopolítica, Carlos Alberto Tavares Laureano.

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Chamava o Centro de “Cidade”

Rua XV de Novembro, sem vivalma, às 16h50 de 23/08. Foto: Fernando Valle

A vocação de Santos e da região para o turismo conta com as praias, como atrações principais, o Parque Estadual da Serra do Mar, muralha natural dos seus limites territoriais, e desperdiça os seus valores patrimoniais históricos centrais, onde aprendemos mais sobre as nossas formações urbanas. Quando cheguei a Baixada Santista, há 51 anos, e ainda menino fui trabalhar no centro histórico de Santos, acostumei-me a me referir ao lugar como “Cidade”.

Faz tempo que não ouço essa referência nativa, mas inadvertidamente digo que vou à “Cidade” resolver alguma coisa e percebo que não me faço entender. Porém acho curioso que os desentendidos nem questionam essa referência, porque sabem do meu apreço pelas ruas e edificações históricas e tradicionais do Centro, que sempre me impulsionam fotografar sob ângulos novos, descobertos de passagem, por curiosidade ou tristeza diante do estado de deterioração do patrimônio cultural material de Santos.

Não sabia que 16 de agosto fora escolhido em 2000, como o Dia do Centro de Santos. O motivo é porque houve um jornal local, O Comercial, que circulou pela primeira vez nessa mesma data em 1857. Aliás, bem apropriada, para exibir que a indução da cidade ao desenvolvimento do comércio, porto, café, trabalho e serviços, sempre foi marcada por laços importantes, representados por veículos de imprensa, porta-vozes de uma comunidade multicultural e mobilizada.

Me aproveito desse contexto para provocar uma reflexão sobre o que temos feito para reconhecer, recuperar, proteger, manter e conservar os traços que justificam a nossa formação cultural e o orgulho da tal santisticidade, cantada em prosa e verso pelos escritores e poetas Nelson Salasar Marques e Flávio Viegas Amoreira e recentemente reconhecida inclusive pelo atual prefeito Rogério Santos.

Certa vez, Salasar Marques escreveu que “toda a última sexta-feira do mês me pego caminhando pelo centro da velha Santos à procura de alguma coisa. É como dizia este genial T.S. Elliot, ‘… indo ao mesmo lugar e vendo o lugar sempre pela primeira vez’. Essa parece ser a grande sabedoria. É como se alguma coisa que venho procurando, estivesse ali enterrada, naquelas ruas e becos que parecem contemplar os passantes com madura e compreensiva sabedoria. Porque os prédios falam uma língua de pedra que a poucos é dado compreender.”

Agora fui questionado sobre caminhos para a “Cidade”, que no começo das tardes parece esvaziada de gente, com portas cerradas de atividades e perspectivas. Em todo o mundo, exemplos de edificações históricas com novos usos são achados e, desde a década de 1930, houve um incentivo à utilização diferente dos originais, confirmando as doutrinas de restauro da época. Na Europa, a revitalização de construções históricas é crescente, sem improvisos e desvios.

Desde 2003, Santos conta com programas de requalificação da região central histórica, no “Alegra Centro”, redimensionados e atualizados também por leis municipais em 2019, definindo diretrizes para o uso e ocupação do solo, além de dispor sobre os elementos que compõem a paisagem urbana, fixando normas, padrões e incentivos fiscais. A “Cidade” em ruínas não pode ser só porto.

Carece envolver os três entes federativos – município, Estado e União. Nossa “Cidade” possui essas interfaces, com propriedades e posses de prédios e serviços nessa região. E é certo que uma atuação forte na conservação da memória, tonificará o ânimo social, o turismo, a economia, valorizará o mercado imobiliário, melhorará o desempenho dos equipamentos e instalações em geral, com redução de custos e garantia de segurança e conforto para todos que os desejam perenes e úteis.

Publicado na Plataforma do “Jornal da Orla”, em 23/08/2022.

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Quer salvar o seu país?

Política fora das nuvens. Foto: Jornal da Orla.

Primeiro precisamos parar de ver as coisas como se houvesse uma dicotomia na disputa eleitoral de 2022. Não há apenas dois candidatos, um da direita e outro da esquerda. O Brasil que já teve 20 candidatos, quando reconquistou o direito de votar para presidente da República, em 1989, agora conta com diversos nomes e propostas e histórias para suceder o atual ocupante do Palácio do Planalto.

Quando escrevia este artigo, o prazo para a realização das convenções partidárias para a aprovação das candidaturas às eleições de 2 de outubro de 2022 estava terminando. Todas as pesquisas, desde o início do ano passado, revelam uma polarização entre Bolsonaro (PL) e Lula (PT), porque o país já se acostumou com esse tipo de pressão. Só que não, na medida em que os partidos, federações e coligações definiram os seus nomes para a disputa eleitoral do cargo maior, fica claro que é possível escolher o que achamos melhor para o futuro do Brasil.

Conforme os números projetados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira está em torno de 215 milhões de pessoas. De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), medindo o estado de insegurança alimentar no Mundo, o Brasil tem pelo menos 61 milhões de pessoas com insegurança alimentar, grave ou moderada. O levantamento considera o período entre 2019 e 2021.

E tem mais números preocupantes, mais importantes do que ficar discutindo a polarização política: 33,1 milhões de pessoas passam fome (insegurança alimentar grave) no Brasil, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), a partir de dados coletados em cerca de 13 mil domicílios, de novembro de 2021 a abril deste ano.

O número de desempregados chega a 10,6 milhões de pessoas e o número de jovens até 29 anos, que nem estuda nem trabalha, até o segundo trimestre de 2021, ostentava 12,3 milhões de brasileiros. Em tese, todo esse fracasso recai sobre os governos federal, estaduais e municipais, para deixar bem claro que é uma questão de Estado, e todas as ações devem mobilizar a cooperação entre todos os entes da federação.

Não se trata fazer um mix sobre as estatísticas negativas, mas o momento eleitoral é a ocasião ideal de serem consideradas, avançando para solucionar os problemas, ao invés de ficar remoendo intolerâncias advindas das radicalizações e intolerâncias. Pense que o Brasil tem perdido investimentos nessas áreas, que podem ser por conta da ineficiência dos atuais governantes.

O debate sobre questões concretas, envolvendo inflação, carestia das cestas de alimentos, gás de cozinha, compensações financeiras em forma de bolsas sociais, retomada do desenvolvimento, educação, saúde, deve ser posto na agenda de todos, mas, salvo algumas “sabatinas” em entrevistas às emissoras de rádio, TV e plataformas de internet, está evidente que não haverá um olho no olho das candidaturas postas. Porque, de pronto, seria o melhor para a cidadania brasileira enxergar com transparência a forma com que pretendem atuar para minimizar essas agruras, generalizadas hoje para praticamente todas as classes sociais, e, principalmente, para os mais pobres.

Publicado na Plataforma do “Jornal da Orla”, em 04/08/2022.

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O troço da foto … é pra votar quando?

Envolver o jovem no debate (foto: Jornal da Orla)

O título deste artigo faz parte do diálogo entre o filho adolescente (16 anos de idade) de um amigo meu, em cuja casa predominam os assuntos políticos nas conversas familiares. Ele é um dos novos 2.042.817 eleitores (sim, mais de 2 milhões), na faixa entre 16 e 18 anos, que dia 2 de outubro podem votar para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais ou distritais.

Essa desconexão mostra o grau de consciência, entendimento e envolvimento deles com a importância de votar. Isso acontece num momento em que a sociedade avalia mal e demoniza a grande maioria dos representantes do povo em cargos políticos de governança ou do parlamento, que ajudou a eleger em 2018 e 2020, por exemplo. E, se tomarmos essa temperatura dos novos alistamentos eleitorais, comparando com os esforços do TSE – Tribunal Superior Eleitoral em 2018, numericamente tivemos um aumento de 47,2% na faixa etária em análise, mas qual a qualificação desses para o dever cívico?

O TSE focaliza os seus esforços na realização das chamadas Semanas do Jovem Eleitor, desde 2015, para aumentar cada vez mais o “número de brasileiras e brasileiros que contribuem para a escolha dos representantes políticos do país”. Todos testemunhamos as campanhas nos canais de comunicação, inclusive na tentativa de interagir diretamente com os jovens, com influenciadores digitais, times de futebol, shows artísticos, astros como Anitta, Pabllo Vittar, Leonardo DiCaprio etc., para convencê-los a baixar e acessar o aplicativo da justiça eleitoral e se tornarem cidadãos mais completos. Mas, como fica o debate sobre o que deve importar na hora da escolha?

Escolhas do que pode ser melhor para o Brasil são sempre deixadas para os próprios políticos. Porque a sociedade deixa pra lá os temas aflitivos, principalmente para essa camada juvenil que não vem sendo preparada para uma educação conectada com a realidade, formação para o trabalho, primeiro emprego, organização comunitária, lazer, entretenimento, segurança, cidadania plena. Pois a maioria desses políticos se elege e pensa mais nas próximas eleições do que nas próximas gerações.

O primeiro passo foi atender à convocação do TSE. Agora, quem vai promover o debate sobre o que lhe despertará o interesse por todo esse processo? As convenções partidárias vão oficializar as escolhas dos seus candidatos a partir de 20 de julho. Pela questão levantada pelo filho do meu amigo se percebe que apesar dos assuntos políticos dominarem em sua casa, não está nem um pouco interessado.

Em sua memória sobrou que os pais praticamente o obrigaram a se alistar como eleitor, fazendo selfies segurando documentos de identidade, preenchendo cadastros etc., mas ainda não possui noção do poder que conquistou, incorporando à sua pessoinha física, estudantil, não emancipada, a figura de Cidadão Brasileiro, mesmo que o voto ainda não seja obrigatório para ele.

Sublinho que esse fato foi registrado em um território composto de pessoas conscientes, participativas e com posição política clara em relação ao todo. Vale perguntar sobre a reação das outras 2.042.816 garotas e garotos, de lares esclarecidos e posicionados ou nem uma coisa e nem outra?

Recentemente dei um pitaco no post de outro amigo, especialista em marketing eleitoral, emocionado ao ver seu filho mais velho tirar o título de eleitor. Falei da minha preocupação com os novos eleitores, para distinguir o joio do trigo. Como pai zeloso, esse amigo afirmou esperar “que essa nova geração ajude o Brasil a ser mais tolerante e generoso”, e que “é preciso ter esperança”. Ora, sou todo esperança, mas cético com o tempo exíguo para mesclar os novos, com as nossas experiências vividas e as projeções que talvez guardem para si mesmos. Coisa de velho?

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Sabe o que é disruptivo?

Interrompe curso natural.

Ouvi pela primeira vez o termo “disrupção”, quando acompanhava palestra de uma de minhas filhas a estudantes e trainees da área de marketing, durante a pandemia. Juro que nunca ouvira antes e me apressei a buscar o significado no google e leituras específicas para ter uma ideia de onde ele se aplicaria.

Não é novo, mas pode-se dizer que é uma palavra da moda, sempre que se observa uma inovação em um produto ou serviço geradores de um novo mercado e que desestabilizam os concorrentes que antes o dominavam. Essa palavra está por trás das mudanças no mundo empresarial, na forma como consumimos produtos e serviços e no sucesso de empresas top do ramo tecnológico.

O termo foi batizado pelo professor Clayton Christensen, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, em um artigo publicado em 1995, que no bom português o seu significado está associado ao ato de romper, de interromper o curso natural, de gerar uma ruptura. A etimologia da palavra disrupção vem do latim disruptio.onis, ou seja, fratura, quebra.

Encontrei nessa pesquisa rápida para compartilhar aqui, que “disrupção” é substantivo feminino, que pode ser também perturbação, no sentido figurado, ou o salto de uma faísca entre dois corpos carregados de eletricidade. Mas com todos esses significados e significantes, o termo é usado coloquialmente mesmo no mercado empresarial e onde vivem os verdadeiros gestores do mundo globalizado.

Sempre me lembro dos tempos em que oferecíamos alguma resistência à globalização, teoricamente ou com algumas mobilizações mundo afora. A globalização remonta a era das grandes navegações e descobertas no século 16, quando houve o registro das crescentes trocas comerciais entre nações. Seu significado está associado à expansão econômica, política e cultural em todo o mundo.

De que forma? Com a aculturação, fundindo culturas, em decorrência do contato continuado, provocando a modificação cultural do indivíduo, grupo ou povo que se adapta a outra cultura ou dela retira traços significativos. Criação de blocos econômicos, expansão do capitalismo, presença de multinacionais, maior propagação de conhecimentos.

Nos anos 1990, os antiglobalistas propunham alternativas ao regime econômico capitalista neoliberal e aos blocos comerciais como o NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte e a ALCA – Acordo de Livre Comércio das Américas, com o capitalismo keynesiano (protecionismo e equilíbrio econômico, intervenção estatal na economia, benefícios sociais etc), o socialismo, o comunismo, a anarquia e o fascismo, entre outras propostas mais inovadores, centradas nas necessidades da sociedade para combater as alterações climáticas, os danos ao meio ambiente e aos direitos humanos etc.

Contextualizando, para os nossos dias, em que o mundo se globalizou, por causa principalmente das inúmeras tantas facilidades tecnológicas, veja agora que esses horizontes não estão restritos ao planeta Terra, quando conhecemos as intenções e os planos do comprador do Twitter, Elon Musk, que se tornou a pessoa mais rica do mundo, em 2021, segundo a Bloomberg; mas no ranking da Forbes, em 2022, Musk ocupa o segundo lugar.

Ele é dono também da Tesla, fabricante de carros elétricos, e da Spacex, a primeira empresa no mundo a vender um voo comercial à Lua (marcado para 2013, mas não aconteceu) e a desenvolver um projeto multiplanetário, específico para a colonização de Marte, e para o desenvolvimento seguro da inteligência artificial.

Voltando, pois, à “disrupção”, vale trazer à reflexão as também chamadas “tecnologias disruptivas”, que consideram o estágio da qualidade inferior das inovações em relação aos produtos líderes do mercado, e que ganham terreno e prevalecem, globalizam. Como o Youtube, que abriu oportunidade aos vídeos caseiros e surpreendeu estúdios e produtoras; as câmeras digitais, desdenhadas pelos fotógrafos profissionais pela qualidade ruim das realizadas por amadores; as plataformas Netflix, Now, Amazon etc, que permitem o acesso online a filmes, documentários e séries, colocando uma pá de cal nas locadoras de vídeos, e por aí vai.

A internet tem sido um terreno fértil para reviravoltas e é humanamente impossível reagir contra os que nos batizam assertivamente de “metamorfoses ambulantes”. Eu prefiro, “do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, né Raul Seixas, meu xará!?

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As máscaras começam a cair

São Paulo sem máscaras.

Esta semana trouxe uma decisão do governador do Estado, João Doria (PSDB), sobre a desobrigação do uso de máscaras de proteção contra a Covid-19 em ambientes abertos. A medida foi adotada por meio de um novo decreto, estabelecendo que em lugares fechados a obrigatoriedade continua, mas em áreas livres, como ruas, praças, parques, pátios de escola, estádios de futebol, centros abertos, autódromos e praias, não haverá mais necessidade.

Desde 7 de maio de 2020, esse acessório passou a compor os nossos figurinos na Capital, Interior e Litoral de São Paulo, que saiu na frente para buscar e vacinar as pessoas, agindo preventivamente para controlar o novo coronavírus. Essa atitude foi interpretada com viés político pelo governo federal, cuja linha de ação se baseava na minimização da pandemia, com falas negacionistas, que ainda hoje justificam a posição de algumas pessoas de não aceitarem as doses das vacinas.

São Paulo lidera o ranking de vacinação, com 83% da população adulta com esquema vacinal completo e 98,8% com ao menos uma dose. E 70,6% das crianças, de 5 a 11 anos, já receberam a primeira dose, enquanto 20,2% estão com as duas doses.

Esses números embasaram a flexibilização do uso das máscaras, mas quem se sentir melhor usando, continua usando até que definitivamente o risco de contaminação desapareça de verdade do nosso meio. Sabemos que nas aglomerações o risco é sempre maior e que nos ambientes fechados as máscaras são necessárias.

Por outro lado, com o que tem sido divulgado pelas secretarias estaduais e por outros países, a maioria das internações mais graves e mortes pela Covid-19 hoje é de pacientes sem o esquema vacinal completo. No Estado de São Paulo, com dados parciais divulgados pelo hospital Emílio Ribas, 82% dos óbitos dos internados por Covid-19 não tinham esquema vacinal com 3 doses. Assim, dos 17 óbitos que ocorreram nessa unidade hospitalar do Governo do Estado, que é uma referência para atendimento de casos graves do coronavírus, 14 não tinham as 3 doses da vacina.

Vê-se que a desobrigação das máscaras no território paulista faz cair a máscara dos que ainda tentam utilizar as restrições impostas para a movimentação das pessoas com um discurso político e eleitoreiro. O trato sério da pandemia, planejando e respeitando todos os protocolos necessários para a segurança da saúde popular, sofreu desde março de 2020, quando o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) comparava a Covid-19 a uma gripezinha, campanhas difamatórias, preconceituosas, principalmente contra São Paulo, que fazia o dever de casa.

O interessante é que num determinado momento, com apoio de mentiras, notícias falsas ou fake news, desinformação, houve uma narrativa que servia para tentar desmoralizar a estrutura do Sistema Único de Saúde brasileiro – SUS e as suas conexões em todas as partes do país, e da Anvisa, antagonizando médicos e cientistas, polarizando direita e esquerda, enquanto a saúde geral da Nação estava em risco.

Isso faz lembrar dos tempos em que estávamos mergulhados, em 1993, no Brasil, numa inflação oficial de 2.477% do IPCA medida pelo IBGE, enquanto na maioria dos países latino-americanos que faziam as reformas liberais, ela estava efetivamente caindo. Vivíamos uma economia em frangalhos, depois de atravessar vários planos econômicos heterodoxos, como o Cruzado I e II, em 1986; o Bresser, em 1987; o Verão, em 1988/1989 e o Collor I e II, em 1990/1991, que fazia o brasileiro não confiar na sua moeda, o cruzeiro real, a última denominação antes do real.

Houve então a estabilização da economia com o Plano Real, que combinava diferentes frentes, como o fim do déficit público, a indexação pelo dólar, a abertura comercial e o acúmulo de reservas internacionais. Criou-se a Unidade Real de Valor (URV), baseada na cotação do dólar do dia anterior, sem embutir a inflação passada, e, aos poucos, os brasileiros foram perdendo a memória inflacionária, que os fazia correr aos supermercados logo que recebiam os seus salários no fim do mês.

A diferença entre essa época e os dias atuais é que no governo federal, comandado por Itamar Franco e tendo o então senador Fernando Henrique Cardoso no ministério da Fazenda, havia transparência no compartilhamento das informações com todas as pessoas. Agora, quando a vacinação se tornou uma espécie de novo Plano Real, destinado a parar com as mortes (654 até esta sexta-feira, dia 11 de março) pela Covid-19, o governo e alguns políticos só pensam nas eleições, como em 1994 votando contra essas medidas, e não nas atuais e próximas gerações.

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 11 de março de 2022.

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Ano novo começou antes da Quarta de Cinzas

Olhares vem desde ontem.

Nunca antes na história vivemos uma época assim. Seria comum postar feliz ano novo nas redes sociais, ou centrar as rodas de conversas, porque no Brasil o ano sempre foi dado como iniciado na Quarta-feira de Cinzas! Agora é diferente, simplesmente porque não houve Carnaval como antes.

Nem passamos os dois primeiros meses do ano escolhendo as fantasias e os nossos destinos para poder rasgá-las na folia. Tempos mudados, com rima e tudo, de pandemia. Então me estranho nessa condição de ter recomeçado as minhas atividades de trabalho, longe de repetir aquele rito que sempre fez parte da nossa história.

Certa vez um professor da faculdade de jornalismo ensinou evitar títulos ou inícios de textos com nãos, nuncas, nens. E com ele aprendi que devia escrever uma redação, crônica, artigo científico ou trabalho escolar com um começo cativante, para funcionar como um convite para ser lido até o final. Hoje fiz uma salada mista, porque não tenho uma boa história de Carnaval para lhes contar, pois não houve desfile de blocos nas ruas, trios elétricos baianos, marchinhas nos salões dos clubes, campeonatos de escolas de samba.

Também não vou ficar resmungando aqui da pandemia da Covid-19, que ainda mantém protocolos de segurança sanitária que são para o nosso próprio bem. Nem falar de políticos que quando abrem as suas bocas ou agem nas suas esferas, é melhor cancelar de vez.

Simplesmente porque o ano novo começou no dia certo em 2022: 1.º de janeiro e será inesquecível. Escolhi viajar para um lugar tranquilo, Brotas, no Interior do Estado de São Paulo e não foi para ficar contemplando a natureza num refúgio ou retiro espiritual. Vacinado e cumprindo à risca as distâncias regulamentares, pude assistir de perto algumas cantorias de marchinhas antigas, inclusive com letras adaptadas para os dias atuais e pensar como está passando rápido esse novo ano.

Essa sensação toma conta por causa da quantidade de coisas que já aconteceram e pela instabilidade do mundo com essa máquina de guerra da Rússia. A emergência climática que estamos vivendo, com eventos extremos cada vez mais extremos, sem um movimento urgente dos governos de plantão de antecipação de socorro aos desastres naturais em áreas urbanas. E o ataque contra o povo ucraniano sem perspectivas ainda de um cessar fogo, apesar de toda a mobilização das atenções pelas pessoas que temem pela integridade da própria Terra.

Como é possível minimizar esses acontecimentos, marcados por um tsunami de sangue e mortes, que não vimos antes na história nessa época do ano, salvo raras exceções? Esse Carnaval aconteceu na época certa do calendário, mas o que mudou mesmo foi a nossa forma de nos importar com tudo.

Aprendi com a vida que amadurecer é um processo experimentado diante de situações que exigem o crescimento pessoal, para controlar melhor nossas emoções, entender limitações próprias e tomar decisões com mais segurança. Por isso considero que esses dois meses findados de 2022 serviram bastante para nos fortalecer e poder decidir melhor os novos caminhos que já realçam no horizonte dos próximos 10 meses.

Não acho inteligente, por exemplo, o Brasil mostrar a sua insignificância política, econômica e cultural, porque, como diz assertivamente o jornalista e escritor Mário Sabino, “não somos insignificantes, nos fazemos insignificantes”. Certa vez, o também escritor Stefan Zweig, que escolheu viver em nosso país, fugindo das atrocidades do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial na Europa, em 1940, escreveu o livro cujo título marcou e ainda marca discursos ao longo da nossa história: “Brasil, um país do futuro”.

Já estamos no início do terceiro mês de 2022 e apesar do crescimento de 4,6% do PIB em 2021, o Brasil caiu do 12.º para o 13.º lugar no ranking das maiores economias do mundo, de acordo com levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating. Portanto esse ranking possibilita uma comparação do PIB dos países em valores correntes, em dólares, mostrando que fomos ultrapassados no ano passado pela Austrália, assim como em 2020, Canadá, Coreia e Rússia, tiraram o nosso país da lista das 10 maiores economias do mundo.

Retomando a linha do raciocínio com foco na mudança, uso uma frase que passou a circular nas redes sociais em 2020, após um estudo da Organização Mundial da Saúde – OMS ganhar manchetes apontando “o brasileiro como o povo mais otimista do mundo. E de tanto pensar no futuro, esquece de agir no presente”. Em 2017, a mesma OMS revelara que o Brasil também era considerado o campeão mundial de transtornos ansiosos, revelando que ninguém teme o futuro mais do que nós.

Ora, quase 19 milhões de brasileiros tinham a qualidade de vida comprometida, antes do coronavírus, que desencadeou transtornos mentais e piorou a situação de quem já sofria com eles. Então, o Ministério da Saúde conduziu pesquisa para avaliar a nossa situação mental, com a participação de mais de 17 mil pessoas em todo o Brasil. O resultado ficou mais alarmante: 86,5% dos entrevistados estavam enquadrados em algum tipo de ansiedade patológica.

Como você, leitor, chegou até aqui, deixo uma questão para refletir e comentar aqui na coluna: Pelo fato de o Brasil ser considerado por uma boa parte da sua gente ufanista ou não, o país do futuro, será eternamente padrão esperar que o melhor esteja somente no futuro?

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 04 de março de 2022.

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Todavia a paz é melhor para o Mundo

Guerras não são bem-vindas. (Foto: Anna Moneymaker – Getty Images)

Desde o fim da Guerra Fria, em 1991, a União Soviética e os Estados Unidos não se estranhavam e ficavam literalmente em pé de guerra como agora, por conta da invasão da Ucrânia pela Rússia. Esse que não é um mero detalhe na história do mundo deve ser trazido à baila para tentar entender melhor o que está acontecendo e provocando um verdadeiro estado de insegurança em todos nós.

Vejo que governantes e partidos estão tropeçando nas suas falas sobre os acontecimentos, porque a cultura da paz deve prevalecer. E isso não é só o politicamente correto, marcando a sua posição. Mas uma condição de continuar respeitando a sociedade que já vem apavorada pela pandemia do Covid-19 e que não percebe o grau de manipulação a que está sujeita. A Ucrânia é um detalhe que comove o mundo diante da violência e dos efeitos de um ensaiado ataque genocida, que por ora se sobressai com a cena de um tanque atropelando um automóvel civil, guiado por um motorista idoso, nos arredores de Kiev.

A União Soviética foi extinta em 1991 e Vladimir Putin com a sua decisão de realizar uma “operação militar especial” que se diz sintonizada com o artigo 51 da Carta das Nações Unidas (da legitima defesa individual ou coletiva dos países membros), apesar de induzir geral à intenção de reintegrar territórios separados, alega que quer desmilitarizar a região que descumpre o Protocolo de Minsk. Esse documento é um acordo assinado em setembro de 2014, para por fim à guerra no leste da Ucrânia, onde há separatistas em busca de formação de um outro país.

Acho importante o conhecimento da história, para compreender inclusive que no momento agudo em que estamos vivendo, à flor da pele, qualquer demonstração de força bélica pode ameaçar um conflito mundial e de proporções que sempre nos atormentaram. Certa vez escrevi um texto sobre ter crescido na adolescência, motivado pela linha tênue da Guerra Fria, achando que uma 3.ª Grande Guerra nos dizimaria. Confesso que, assistindo aos movimentos de Putin e as contrarreações de lideres mundiais, a cultura da paz prevalecerá, porém é fundamental que todos pudessem conhecer mais sobre os avanços de bases militares e zonas de influência de países como os Estados Unidos, com o respaldo da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Estados Unidos e União Soviética foram aliados na luta contra a Alemanha nazista na 2.ª Grande Guerra, de 1939 a 1945, e logo após a vitória se tornaram adversários até 1991. Chamou-se de Guerra Fria porque não houve uma guerra ou conflitos entre as superpotências, uma vez que seria inimaginável restar o Mundo ante uma batalha nuclear, porque houve uma corrida armamentista para a construção de um grande arsenal de armas nucleares nos primeiros 20 anos desse conflito de ideologias defendidas por cada uma.

Vale perceber nesse entendimento, que a rivalidade se distinguia das incompatibilidades, da defesa norte-americana do capitalismo, da democracia, da propriedade privada, da livre iniciativa; enquanto a União Soviética queria o socialismo, o fim da propriedade privada, a igualdade econômica, um Estado forte para garantir as necessidades básicas do povo. Hoje em dia essas ditas incompatibilidades povoam o imaginário político global, polarizando disputas eleitorais em todos os continentes.

Posto isso, o episódio global e histórico que estamos testemunhando, com o encaminhamento de tropas a Ucrânia, somado de sanções econômicas a Rússia, que já recebeu sinais de apoio da China, que possui força econômica, tecnológica e o maior exército do mundo, incomoda geral. Era difícil de imaginar que ocorresse durante a pandemia do novo coronavírus, mas nada é impossível hoje em dia.

Que a paz é a melhor bandeira para se hastear no mundo, isso é indiscutível. No entanto, como nos proteger da angústia que nos toma diante de ameaças genocidas? Importa conhecer que há um poderio de influência política, econômica e ideológica em curso, em todo esse mundo. E não se trata de uma questão plebiscitaria, de tomar um lado da questão e pronto. Com a paz mundial é mais possível compreender que cada pessoa é um agente transformador, um cidadão, capaz de fazer mudanças, sem mais manipulações.

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 25 de fevereiro de 2022.

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Nem tudo é lixo nas campanhas eleitorais

Democracia por suas mãos.

Desde o ano passado as eleições gerais de 2022, marcadas para o dia 2 de outubro, estão no radar dos políticos, partidos, governos e dos simplesmente candidatos de primeira viagem. O Congresso Nacional aprovou e o presidente Jair Bolsonaro ensaiou um veto, mas assinou de acordo com a previsão de R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral. E ainda há a chance de crescer mais R$ 800 milhões, atingindo a marca de R$ 5,7 bilhões, como nunca na história.

Antes as campanhas podiam receber doações de dinheiros das empresas brasileiras, mas havia alguns senões. Uma boa parte da sociedade, interessada no funcionamento dessas campanhas, atribuía que os eleitos priorizavam os compromissos com as empresas que os patrocinavam, ao invés do interesse público em primeiro lugar. Mas havia também a prática de partidos e candidatos que tocavam a sua contabilidade com um caixa 2, usando uma boa parte dos recursos financeiros em proveito próprio.

Dessa situação simples e objetiva, nasceu a defesa do fim das doações privadas e do uso de dinheiro público para pagar os santinhos, programas de rádio, TV e internet, cabos eleitorais etc., porque assim a política teria eleitos com os olhos voltados somente para as causas públicas. Houve uma expectativa que não se concretizou até agora: com dinheiro público e a fiscalização das prestações de contas pelo Tribunal Superior Eleitoral, as campanhas milionárias deixariam de existir e a renovação de candidatos oxigenaria a política de uma forma geral.

Fica a lembrança, ainda nestas reflexões, de que as pessoas físicas continuam podendo doar para as campanhas, desde que observem os limites dos seus ganhos durante o ano anterior às eleições, porque a Receita Federal está atenta e todos os nossos dados estão cruzados por ela. E há ainda a possibilidade de as contas de campanha contabilizarem doações dos próprios candidatos, nesse caso sem um limite pré-estabelecido.

Perceba que há ainda uma situação de desigualdade no ar. Explico: os partidos são obrigados a reservar 30% do seu fundo eleitoral para as candidaturas de mulheres, que não recebem repasses com o mesmo valor. O prestígio político das candidatas, somado ao interesse de alguns candidatos majoritários (a presidente, governador ou senador) ou candidatos proporcionais (a deputado estadual ou federal), norteiam esses investimentos eleitorais. Enquanto os homens-candidatos, ocupantes de mandatos, levam vantagem sobre os marinheiros de primeira viagem ou daqueles que já tentaram vitória e ficaram na suplência, mesmo colaborando, imensamente às vezes, na soma de votos para as legendas partidárias.

Para resumir a história, ainda não houve no Brasil uma reforma política de verdade, abrangente, para democratizar a democracia existente no país, com uma renovação de pessoas e até de modos de fazer política. Parecerá contraditório dizer que em 2018 houve um passo importante, se observarmos a quantidade de caras novas que governos, Congresso Nacional e assembleias legislativas estaduais e distrital trouxeram.

A resposta está no guarda-chuvas de uma “nova política”, sustentada no discurso da negação dos que vinham se elegendo e se reelegendo até então, e do uso das redes sociais na internet, que serviram para dar maior evidência também nas eleições aos influenciadores digitais, que tem opinião formada para tudo e que raramente se aprofundam em alguma coisa. Resta buscar e ver a atuação da maioria desses nos seus mandatos, para então avaliar se repetiria neles os seus votos, que muitos ainda não entenderam, votos que valem mudanças.

Ora, se essas mudanças não acontecem ou não aconteceram como esperado, 2022 está completando o seu segundo mês e nele reside a chance de escolher melhor, não aquele que parece mais ativo nas redes e lhe promete mudar o mundo, mas a pessoa-candidata que realmente tem um pensamento mais claro e objetivo do que pode fazer por todos que representar. Não cabe negar o direito de votar porque se frustrou com os resultados dos seus escolhidos, vale sim melhorar a sua consciência e os seus sentidos.

Não parece, mas as campanhas eleitorais deste ano já estão nas redes sociais e em todas as mídias de comunicação. Não é possível mais encontrar nas ruas a publicidade eleitoral, que na festa da democracia (as eleições) enfeitava e nos despertava para o clima da mudança, para a hora do voto. A reação aos descaminhos da política no Brasil mudou o olhar dos eleitores até para esses enfeites: tudo é lixo, barulho, ladroagem.

É prudente conversar mais e a respeito, começando em casa, estendendo para as raras oportunidades de lazer em grupo, nas suas redes sociais e nos contatos com amigos mais próximos, inclusive no ambiente de trabalho. Não pense pronto, como se os resultados futuros já estivessem definidos. Só lhe peço que fique atento, antes de se precipitar e chamar toda política de lixo, pois quem ama esse comportamento são justamente os maus políticos. Essa reação afasta as boas pessoas e diminui as chances de eleição de quem pode orgulhar você mais cedo do que você pensa.

Generalizar faz mal.

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 19 de fevereiro de 2022.

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