Utilizo uma carta de leitor na ‘Folha de São Paulo’ para refletir e tentar compreender o quê se passa com os princípios e os valores morais e éticos no Brasil. Walter Jalil Garib escreveu sobre a repercussão da novela “Avenida Brasil”: “O inexplicável fica por conta de o povo se ligar numa trama que levou à total desmoralização da mulher, com incentivo diário à homofobia, ao bullying, à vingança, à violência, ao ódio, à mentira, à desonestidade, à traição, à falta de caráter e, principalmente, à exploração do trabalho infantil.”
Fui um dos telespectadores dessa telenovela, por causa do enredo e das tramas que me aguçavam a curiosidade. Vejo novelas e não vou intelectualizar o debate sobre os argumentos do autor e a identificação de boa parte da sociedade brasileira, com as histórias da vida num lixão, seus heróis, bandidos e coadjuvantes de cenas cotidianas de nosso país.
Walter Garib tocou o dedo na ferida, quando Brasil vive divisor de águas para redefinição de comportamentos, inclusive. O debate sobre os valores da sociedade brasileira é tratado como reacionarismo ou conservadorismo, porque a vanguarda política é passada a limpo, com o seu envolvimento no maior escândalo de corrupção da nossa história.
A quem interessa a inversão de valores? Onde foi parar a bandeira da ética? Meu moralismo não é falso. Porém reflito que as disputas eleitorais não deveriam valorizar os erráticos, o triunfo dos espertalhões e os que estão habituados às rasteiras, no cotidiano da vida. A política é uma ciência belíssima para ser tão banalizada.
Já escrevi sobre a perda da chance do ex-presidente Lula da Silva, no auge da sua popularidade, de valorizar as condutas positivas e exemplares. Por que não aproveitou a sua empatia popular para enfatizar a importância da Educação, no sucesso das pessoas e na cidadania. Critiquei-o por se gabar de ter sido eleito sem um diploma, além do curso técnico do Senai. Não creio que despreze a Educação.
Além de tudo, votos não eximem ninguém das culpas. Na história brasileira sempre prevaleceu a impunidade, mas hoje, com o desempenho do STF – Supremo Tribunal Federal no julgamento do Mensalão, essa será uma página virada e o desestímulo aos que buscam o atalho mais vantajoso dos malfeitos. Pela primeira vez a vantagem se tornará desvantagem e isso é pedagógico numa sociedade incrédula como a nossa.
‘Avenida Brasil’ podia retratar os dois lados da moeda. As pessoas estão acostumadas a mudar de canal quando percebem uma lição de moral, por menor que ela seja. Essa é a cultura caricata do Brasil, país de caráter a reformatar.
Seria pedir muito que a novela evidenciasse as lutas pelo novo papel da mulher na sociedade e o respeito aos LGBTs, assim como os contrapontos ao bullying, à vingança, violência, ódio, mentira, desonestidade, traição, trabalho infantil etc. Essas deformidades em nosso país continental, impede que ele desabroche mais e comemore os avanços no respeito aos valores da pessoa, passaporte para a cidadania.
Continuo crendo que vamos virar esse jogo raso e dar lugar à uma travessia constante, sem mais a velha Lei do Gerson (da vantagem do cigarro Vila Rica), sem demagogias ou interesses na perpetuação do atraso. O Brasil tem jeito e ainda será de fato uma grande Nação!
Só acredito em mudanças maiores se o PSDB também mudar para ser um partido que não fica em cima do muro, que tenha pessoas com coragemde criticar ou apoiar situações que estejam a favor do povo brasileiro em geral.
Esta geração maravilhosa que está tendo sucesso está na faixa de mais ou menos emtre 30 e 40 nos.
Eles devem participar mais da política pois não tem medo de ser ridicularizado e sabem que podem contar com a provação da massa crítica dos brasileiros de bem.FERNANDO HENRIQUE é A CABEÇA. não o menosprese, ouçam.
Lucília
Lucília como sempre muito feliz em suas ponderações! o assunto não podia ser mais apropriado xará,rss.
Assim como uma novela cheia de suspenses/dramas,está o PSDB,que diferentemente das tramas onde os finais costumam ser felizes,vem enfrentando ultimamente finais melancólicos e desagradáveis.
Tudo isso porque o enredo conta com roteiristas e atores que precisam de uma vez por todas começar a fazer política de verdade,precisam ser mais precisos,mais eficientes,enfim,montar grandes cenários,produzir grandes espetáculos e emocionar o espectador/eleitores.
O diretor como disse a Lucília precisa ser mais ouvido,nenhuma trama tem sucesso quando os atores tomam as rédeas do jogo,quando egos pessoais passam à frente do senso comum do grupo/partido.
FHC já deu a letra,precisa renovar,do jeito que ta não dá,estacionou-se no comodismo da coisa ultrapassada e precisou-se punições severas pra se dar conta disso!
Nem os espectadores mais conservadores que antigamente gostavam do projeto e da forma como os atores conduziam o espetáculo se comovem mais.Isso é preocupante!
Não sou telespectador de novelas,mas sei que o Tufão foi só um prenúncio do Furacão Vermelho que pode acontecer,e como puniram a tal da Carminha,podem punir também todo um projeto estagnado e sem poder de reação!
Sou jovem e não quero viver pra ver isso,Deus me livre desse capítulo final!
Abraço Xará,excelente texto!
Raul boa tarde, seu texto é excelente.
Lembro-me que certa vez fiz um trabalho na universidade sobre a “Lei de Gerson” e na época já questionávamos se este costume tão enraizado na cultura comportamental do brasileiro teria prazo de validade. Alguns anos se passaram e a resposta está bem aí na nossa frente, com a eleição de representantes de um partido que foi condenado em um dos julgamentos mais históricos deste país. A população fez vista grossa e elegeu o representante do partido do mensalão para a gestão da prefeitura de São Paulo, ou seja, no final desta novela real, o populismo barato falou mais alto. Gostaria de pensar que os valores éticos e morais serão valorizados um dia, mas acho que estamos cada vez mais distantes desta realidade. Quanto ao PSDB, acredito que deva considerar este período para se reciclar e se reorganizar, investindo em novas propostas e principalmente, novos representantes.
Aproveito para disponibilizar um artigo escrito em 2010 que fala justamente da Lei de Gerson na Educação, bem interessante
http://www.brasileconomico.com.br/noticias/em-defesa-do-fim-da-lei-de-gerson-na-educacao_91251.html
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