Blog do Raul

O Brasil no volume morto

Tempos vazios de confiança
Tempos vazios de confiança
Recentemente, Lula disse que ele e o governo de Dilma Rousseff estavam no volume morto, e que o PT estava abaixo do volume morto. Essa constatação própria é bem menos grave do que a responsabilidade deles com a atual conjuntura política e econômica no país, que arrastou o Brasil ao volume morto, nessa estiagem de honestidade e boa governança.

Tão apropriada quanto as constatações retóricas de Lula, as utilizo para diagnosticar esse momento crítico, que nunca antes na história deste país houve tamanho descalabro com a vida e a cidadania do povo brasileiro.

O tsunami de escândalos e o desgoverno, temperados com uma competente e enorme política de comunicação e propaganda, exige o realinhamento dos objetivos das instituições brasileiras, a começar pelo Congresso Nacional, perpassando pelo Poder Judiciário e de chofre o governo Dilma. Os números econômicos estão abaixo da crítica, e o país só respira ainda graças às medidas econômicas estabilizadoras, que neste ano completaram 21 anos de Plano Real.

Em todas as mídias nos atormentam notícias, como a de que nove em cada dez empresários e dirigentes lojistas brasileiros não contrataram e nem pretendem contratar funcionários para reforçar o quadro das suas empresas para o movimento da época do final do ano. O levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em setembro de 2015, ouviu 1.168 empresários e gestores responsáveis pela contratação de mão de obra de empresas de serviços e comercio varejista nas capitais e interior do país.

Ou sobre a expectativa para inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ajustada para 9,53% ao ano para o final de 2015. Sem contar os números relativos à população endividada, que supera a 50% das famílias brasileiras. Em fevereiro de 2015 eram 57,8%, e as dívidas mais relatadas estão relacionadas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros.

O cenário conturbado resulta dos testes dos governos PTistas com a política econômica, baseada no intervencionismo e na falência do planejamento governamental. Começou a dar benesses que não eram possíveis comportar no orçamento, a não ser que o país crescesse 6% ao ano.

Daí, quando surgem elementos suficientes para o impeachment de Dilma Rousseff na presidência da República, somos taxados de golpistas, porque se apoiou em grande medida na abertura de brechas e precedentes como as pedaladas fiscais, programas de refinanciamento da dívida, as triangulações entre governo, Tesouro e estatais, antecipação de dividendos, além da agenda creditícia de discutível isonomia, somos taxados de golpistas.

Sem saída e vocacionados na desconsideração do debate político nacional, despacham (e desautorizam) o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como um boi de piranha, para propor remédios amargos (sem receitas) como a recriação da CPFM, que não significa mais do que mais carga tributária no lombo dos brasileiros. Conforme o pacote anunciado, de R$ 65 bilhões, mais da metade do valor vem do impostaço – ressurreição do imposto do cheque e o aumento do imposto de renda sobre operações imobiliárias: 62% do esforço anunciado virá de mais tributação.

Os sinais da crise estão espalhados, com dólar instável para mais e juros crescentes, diante da produção paralisada e os investimentos congelados. O Brasil, literalmente no volume morto, vê a escassez de empregos e o crescimento do desemprego.

No mês de julho, a taxa de desemprego medida pelo IBGE indicou 7,6%, contrapondo aos 5% do mesmo mês em 2014. E se considerarmos a série histórica, os índices de agosto estavam no mesmo patamar de março de 2010, o pior em mais de cinco anos, e o oitavo mês em alta.

De outro lado, o rendimento médio real também vem caindo, na comparação com agosto do ano passado, caiu 3,5%. No setor privado sem carteira de trabalho, as perdas são bem maiores, chegando a 12,6%, com resultados parciais pelo IBGE, que cobre o mercado de trabalho somente das seis principais regiões metropolitanas do país.

A Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD), mais ampla e consultando mais de 3.500 municípios, por exemplo, revela uma taxa de desemprego bem mais alta: 8,3% no segundo trimestre. Desde que Dilma foi reeleita, mais de 1 milhão de vagas de emprego foram eliminadas, segundo o Cadastro Geral de Emprego (CAGED), do ministério do Trabalho.

O Congresso Nacional vive momentos slow motion com a volta do balcão de negócios e a entrega de mais ministérios para o PMDB, que agora repete os fatídicos 7 a 1 da retórica futebolística (7 ministérios para o PMDB e 1 presidente da República isolada). De prático, nessas mudanças anunciadas, só um fôlego a mais no poder; nenhum plano de salvação nacional.

A propaganda lullodilmoPTista sempre surfou na onda de campanhas de comunicação e numa guerrilha de detratores, ironizando a oposição e garantindo que o Brasil estava imune a crises, diante das baixas taxas de desemprego. E faltou à oposição uma contrainformação eficiente para desconstruir essa inverdade.

O mercado de trabalho manteve-se aquecido por um tempo em razão de estímulos artificiais, como as pedaladas detectadas e uma falsa sensação de que o país estava acima das contradições políticas e partidárias. Na verdade, o PT nunca teve um projeto de país, ou um modelo econômico a seguir; relembrem como se posicionou na época do lançamento das bases e do Plano Real.

Até quando vamos nos dispersar de uma discussão democrática para o processo de impeachment de Dilma, do PT e de seus quejandos?

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5 comentários em “O Brasil no volume morto”

  1. Roberto Carlos da Silva

    Eu concordo, mas desde que essa discussão seja ampliada para o governador Alckmim, que agora quer esconder por 25 anos os documentos dos desmandos do transporte de trens e metrô em São Paulo.

  2. Newton Rodrigues

    A palavra de ordem é GOLPE JÁ! Perdemos as eleições, estamos inconformados, sem dormir, com nossos rostos empipocados, queremos o poder a qualquer custo e não suportamos mais ver a Dilma na TV e nos sentirmos ameaçados com o retorno do Lula. Então, não podemos esmorecer: GOLPE JÁ! Rodrigo Constantino foi demitido pela Veja. Estamos tristes por isso, verdadeiramente arrasados, mas não vamos baixar guarda, GOLPE JÁ! Não podemos esquecer, golpistas unidos jamais serão vencidos. Caso algum dia tenhamos lutado ou falado em democracia, nos sentimos credenciados para o GOLPE JÁ! Depois que tivermos o poder, vamos discutir o que fazer com ele. Provavelmente teremos que reduzir o Estado e retomarmos o processo de darmos eficiência à economia. Vamos privatizar tudo, inclusive o Palácio do Planalto. Vamos pagar aluguel. Tudo em nome da eficiência. GOLPE JÁ!

  3. Maria Alice Antunes

    Analisando o texto … Fica difícil qualquer discussão sobre idéias já definidas …

  4. Newton Rodrigues

    Lutamos tanto pela democracia, não é Maria Alice? Aqueles que a negam acreditando que não se deve perder a oportunidade no jogo do vale-tudo, certamente cavam a sepultura da sua trajetória política, pois perdem credibilidade. Lamentável!

  5. Maria Alice Antunes

    Continuo tentando entender o seu texto com a combinação de uma discussão democrática … Acho que realmente eu ” emburreci ” de vez …. Uma pena … A discussão democrática pressupõe conceitos a serem definidos ….gostaria q você me convencesse do contrário …. Defendo o Estado Democrático com unhas e dentes … Só o povo com o seu voto depõe a quem o seu próprio voto elegeu !!! Vamos lutar para termos políticos mais sérios e competentes . Por isso apoio sua candidatura …

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