Blog do Raul

Guerra em Gaza, guerra do Mundo ?

Ciclicamente testemunhamos conflitos no Oriente Médio. Quando os acordos de cessar fogo acontecem sempre sobram imagens e um saldo de mortos e feridos de todas as idades, especialmente crianças, "vítimas de uma guerra de adultos". Há um ódio embutido em gerações daquela região, que os breves períodos de paz revelam apenas uma tomada de fôlego para um próximo conflito. É mais fácil escrever um comentário pacifista, sem tomar partido de Israel ou do Hamas. Mas como assistir a esse cenário sangrento sem tomar partido ? O PT fez isso por sua conduta histórica e ideológica e vem sendo condenado porque reincidiu na formulação de um roteiro simplório da luta entre o "bem" e o "mal". O PSDB é a favor de um caminho para a paz, com o abandono de mitos e ilusões.

Leio atentamente as posições dos leitores dos jornais e algumas opiniões na blogsfera. Deste lado, longe do conflito, subsiste a impressão que o noticiário é filtrado, porque há informações, como o relato de um correspondente da BBC, de que Israel não deixa jornalistas entrarem em Gaza, razão pela qual os boletins são raros em primeira mão. Nos sujeitamos então à cobertura das agências e aos artigos de fundo de patrícios, historiadores, especialistas no assunto e políticos.

O jornal "Folha de São Paulo" chegou a produzir uma enquete entre os seus leitores da "Folha Online", questionando se é possível ser isento na cobertura do Oriente Médio. 47% (476 votos) disseram que não, mas consideram que os jornais devem se esforçar para fazer uma cobertura isenta; 38% (390 votos) defendem que é possível e que os jornais deveriam fazer uma cobertura isenta; 10% (100 votos) acham que não e que os jornais devem tomar partido no conflito; e 5% (54 votos) acham que é possível, mas que os jornais devem tomar partido no conflito.

Acho que é possível ser isento na cobertura, mas abrindo espaços para opiniões favoráveis a Israel, ao Hamas e à defesa da paz, como fez o deputado federal Paulo Renato Souza (PSDB-SP) sobre o prejuízo de todos com a continuidade da guerra. Está claro para mim que Israel, a cada conflito, fica mais isolado politicamente ao não permitir que os palestinos se constituam também como Nação e Estado.

Vivemos em um país comprometido com a democracia e a paz. Sabemos que somos admirados por isso em todo o Mundo. Então resisto à idéia de que a guerra em Gaza seja justa para um lado e injusta para o outro, justamente porque entendo e defendo o direito da existência, da convivência pacífica e do respeito à diversidade étnica, cultural, religiosa e política de cada um dos povos.

Realmente é inaceitável que Israel e o Hamas não se esforcem para a conciliação. Alon Feuerwerker, no seu blog – http://www.blogdoalon.com.br/, postou comentário com uma excelente análise intitulada "Sem luz no túnel", onde reflete, a par de todos os esforços das Nações Unidas pelo cessar fogo, que não haverá solução enquanto "o Hamas dá sinais de que não sossegará enquanto Israel fizer parte do mapa. E Israel não sossegará enquanto o Hamas for um risco militar. A doutrina e a História ensinam que um inimigo assimétrico pode representar ameaça real. E o impasse pode piorar caso a Autoridade Palestina, hegemonizada pela laica Fatah, perca relevância como representante institucional de seu povo. Estaríamos então diante de um novo quadro, no qual um estado palestino se tornaria politicamente inviável."

Enquanto registrava este comentário, a Globo News noticiava o bombardeio de hospitais, de prédio da ONU e de centros de imprensa, por Israel. Enfim, um cenário horroroso persiste com a intransigência. Se não houver a construção do caminho da paz, não haverá a autodeterminação do povo palestino e a segurança do Estado de Israel continuará ameaçada.

A autodeterminação dos povos, em pauta com essa nova guerra em Gaza, não pode ser refletida apenas por eles. Pense alto também.

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3 comentários em “Guerra em Gaza, guerra do Mundo ?”

  1. Acácio Marques Guimarães Filho

    O conflito entre Israelenses e Palestinos é secular e cultural, arraigado a ponto de não ser mais apenas intolerância, mas ter se tornado um meio de vida e até mesmo de subsistência.
    Dizer que um ou outro tem razão é no mínimo limitar a visão histórica do problema, já que a situação atual é conseguência de séculos de vinganças.
    Não existe uma solução única para o problema, mas acredito que passa diretamente pelas crianças, pois se houver uma vontade das partes de se entenderem, devem preparar as próximas gerações para a tolerância e o respeito a vida; Coisa difícil de fazer uma vez que essa chance de futuro, as crianças, são as primeiras baixas na brutalidade irracional dos adultos.
    Mas quem disse que a vida é fácil.
    Parabéns pelo tema e a linha coerente de raciocínio.

    Um abraço,

    Acácio Marques Guimarães Filho

  2. Peter perfect

    O conflito entre Israel e Palestina é igual a corrupção no brasil, interminavel.

  3. Essa questão é como o caso dos irmãos que disputam a herança do “Pai”, terra prometida e coisas do gênero.
    Trata-se, portanto, de um problema “familiar”, o qual ninguém deve se intrometer.
    Há batalhas muito mais sangrentas e fatais em regiões como a África, onde poderíamos ser mais atuantes e solidários com as vítimas, mas até agora o nosso governo só tem manifestado solidariedade aos tiranos que governam essas regiões, incluindo o perdão de dívidas.
    O povo que “sivire” (linguagem da moda).

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