Blog do Raul

Missa para Rubens Lara, na terça (18).

A esposa Solange, os filhos Tércio e Tatiana, e o irmão Telmo agradecem pelo conforto recebido e convidam parentes, amigos e pessoas de suas relações para a missa que farão celebrar, em memória de ANTÔNIO RUBENS COSTA DE LARA, dia 18 de março, terça-feira, às 19h00, na Catedral de Santos, à Praça José Bonifácio, s/n.

A pedidos, publico texto do jornalista Carlos Mauri Alexandrino (Jornal da Orla):

Opinião
O Lara que eu vi
Mauri Alexandrino
 

O escritório do Pezinho, ficasse onde ficasse, era sempre território neutro nas décadas de 70 e 80, quase um refúgio, com certeza um abrigo. Estava sempre cheio de toda a variedade de esquerda da cidade, desde as mais tradicionais até o pessoal da contracultura, passando pela igreja progressista, pela universidade e até pelas múltiplas frações trotskistas. Só isso já era de muito admirar.

Mais notável ainda é que a presença era basicamente de jovens. Muito jovens. Tinham em comum o sentimento que Ulisses Guimarães muito mais tarde descreveria como “ódio e nojo à ditadura”. Aqueles escritórios, muito mais que a sigla, que os filiados e os detentores de cargos eletivos, representavam o que era de fato o Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Lara, o Pezinho, acreditava nisso, nunca pediu crachá ideológico pra ninguém.

Foi por onde passaram as campanhas contra a censura, pelo fim da tortura e apuração dos assassinatos e desaparecimentos e pela anistia que se queria ampla, geral e irrestrita. Era onde se reunia a organização das campanhas pela autonomia política de Santos, pelos grêmios e diretórios acadêmicos livres, pelo amplo direito de sindicalização e reivindicação, pelo direito de greve, pela liberdade para a imprensa alternativa… Havia mais, mas não lembro assim de bate-pronto. Lara era sempre uma fonte de apoio, suporte e infra-estrutura. O pezinho quebrava todos os galhos.

O Lara era o sujeito a quem todo mundo recorria quando a cana baixava. Político de oposição podia pouco, quase nada, mas sua simples presença criava embaraços aos costumes policiais e, em geral, facilitava tirar o indivíduo da cadeia. Pelo menos quando não era caso do Departamento da Ordem Política e Social — o DOPS. Aí não tinha jeito nem para político da situação. Pezinho nunca faltou a tantos e tantos.

Ele era habituê de passeata, manifestação, greve… Não só para levar apoio, mas para dar segurança aos manifestantes. Os deputados estaduais emedebistas mais comprometidos com a luta anti-ditatorial, como era o caso na época de Eduardo Suplicy por exemplo, tinham entre suas tarefas apresentarem-se nesses eventos populares para refrear a fúria repressiva das forças policiais. Muitos jornalistas prestavam-se a essa tarefa também. Claro que não raramente as manifestações terminavam em bombas de gás e porradas, com ou sem a presença de deputados. Mas sem eles era pior, podem crer. O Lara sempre estava ali.

Com a lenta, gradual e segura queda da ditadura, cada grupo foi procurando seu próprio caminho. O MDB, que virou partido, acabou fracionado com a redemocratização do país, como era de se esperar. Fraturou-se também a Aliança Renovadora Nacional — a Arena, o partido da ditadura. A vida também levou a todos para outros caminhos, lugares, tarefas, trabalho… O tempo costuma alargar os espaços de proximidade que se tinha no passado. Foi o caso. Nos vimos pouco desde o final dos anos 80.

Mas até por isso, o Pezinho ficará na minha lembrança como a mais completa tradução do MDB, menos o movimento que um tempo. Um tempo em que estivemos todos juntos. E estivemos devido a uma causa comum que se sobrepunha a todas as demais considerações, é claro. Hoje é difícil, pra não dizer impossível, que surja uma causa comum de tão profundos efeitos. Mas que força formidável reunimos! A morte prematura de Rubens Lara me fez lembrar dela.

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11 comentários em “Missa para Rubens Lara, na terça (18).”

  1. Ernesto Donizete da Silva

    A vida é assim…

    Passa mais rápido do que imaginamos. Outro dia, era a notícia da morte repentina deste amigo e político ímpar. Agora já estamos noticiando a missa de 7º dia…e o tempo implacável nos conduz a este lugar comum denominado morte.

    Aproveito o momento Raul, para deixar claro que devemos atentar para mais nas pessoas que nos são importantes, aquelas que amamos, que estão próximas, com as quais temos algum contato. Como já disse, a morte é sempre repentina ou sempre esperada (fica a critério de cada um), mas o inexorável é a sua imprevisibilidade.

    Devemos cuidar mais e de melhor forma das nossas relações (colegas, amigos, família, amores e desconhecidos), – devemos dar-lhes a importância que todos eles possuem. Devemos repartir mais nossos sentimentos, viver mais o interpessoal, falar o que temos vontade, principalmente os adjetivos e mostrar o quanto estes laços são importantes e significativos, pois compõem nossas próprias vidas.

    Façamos por todos o que pudermos enquanto estão vivas. A morte finda a nossa existência terrena e o tempo, oh! implacável tempo, um dia levará também a lembrança da nossa finita e transitória existência.

    Fiquem em Paz!

    Ernesto Donizete da Silva
    PSDB/SANTOS

  2. Resolvi escrever somente para tentar trasnmitir o que assimilei no que escreveu o Ernesto.
    Humildade, humildade, humildade.
    Estarei de corpo presente a missa dedicada ao PROFESSOR.

    Amém.

  3. UM TEMPO PARA CADA COISA.
    Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus:
    Tempo para nascer, e tempo para morrer; Tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado. E o seu tempo chegou, neste mundo por onde passou Dr. RUBENS LARA, por onde passou semeou a paz, o amor, a caridade, o bem. Agora florescerá no céu, iluminado pela luz resplandecente do Pai.

  4. Lourdes (Lurdeca)

    Gostaria de expressar aqui, meus sentimentos mais profundo, e com carinho e muitas saudades, daquele que nos deixou, “Grande Mestre e Professor”, que com sua humildade, serenidade, esteve sempre pronto a servir todos à queles que o procurasse. Tenho certeza que o professor está em algum lugar muito iluminado, e que se aqui no plano terrestre, plantou todo o bem, estará agora trabalhando no plano espiritual, prosseguindo e ajudando a todos que puder ajudar. Um forte abraço e um grande beijo no coração de vocês: Dna. Solange, Tércio, Tatiana e Sr. Telmo.

  5. fafi pontes

    já uma semana? o tempo é mesmo um pai devorando os filhos…
    achei um artigo do lara, na mesma pg em que se anunciava a urbanização da praça com o nome de papai no jardim são manoel.na tribuna de 6 de outubro de 1988.
    20 anos atrás.coincidênica? não, digo eu. não.
    saudade.

  6. Rafael Valdivia

    Num tempo em que esquerda foi invadida por um novo e terrivel povo e seu significado, obrigado por nos lembrar que esquerda já foi ( e é ) Pezinho, Ulisses … Saudade.
    Rafael Valdivia

  7. Roberto Tamura

    Figuras como Rubens Lara, Franco Montoto, Ulisses Guimarães, Mário Covas, Theotonio Villela não morrem. Quem faz a história deixa seu legado, e do seus exemplos a imortalidade. Matamos as figuras que amamos ou admiramos, quando traimos os seus legados. Rubens Lara estará sempre vivo aos apaixonados pelas causas da LIBERDADE, FRATERNIDADE e SOLIDARIEDADE.

  8. Raul,o artigo acima “O Lara que eu vi” do Mauri Alexandrino,me reportou a aqueles tempos, lá estavamos no meio daquele povo.Parabéns,Mauri nosso jornalista mor.Saudades do Lara.Abraço

  9. Carlão.Biomédico

    Prezado Raul…
    Somente para reafirmar a conversa que tivemos pessoalmente, com a perda do nosso amigo Lara, não só o PSDB, mas também o municipio de Santos, estão orfãos de um grande PAI que com certeza mudaria a história de nossa comunidade…Abraços Sinceros. Carlão

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