A natureza vem respondendo com muita fúria aos ataques dos homens e máquinas ao longo dos últimos anos. O tempo quase sempre instável, as fortes chuvas, a irregularidade das marés e as enchentes que vêm afetando a vida das cidades brasileiras acendem logo uma luz vermelha. Infelizmente é comum ver governantes assumindo a impotência diante das soluções possíveis, limitando-se ao recolhimento de vítimas das chamadas áreas de risco para alojamentos precários, projetos habitacionais emergenciais e, no caso do Rio de Janeiro, na última semana, para os cemitérios cariocas.
Como era de se esperar, a maioria das mortes ocorrem em áreas mapeadas como de risco. Porém fica cada vez mais difícil entender porque os poderes públicos mostram a sua ação apenas quando as casas estão caindo e as pessoas perdendo vidas, bens, lares. Não é preciso ficar mirando a situação do Rio de Janeiro, cujas mortes ultrapassam a 200, quando na Baixada Santista e em muitos outros rincões deste país sobram dificuldades de moradias há pelo menos 30, 40 anos.
No Brasil há governantes que “descobrem” povo morando mal apenas na hora das tragédias. Quase não vemos iniciativas de planejamento e de políticas públicas continuadas e urgentes, mas sobram a exposição de vidas de pessoas passando e sofrendo com essas experiências-limites. A injustiça social é percebida há vários anos e a atenção para reduzí-la não é priorizada.
É bem mais fácil culpar os governos anteriores, que não planejaram ações e viabilizaram casas e apartamentos em locais urbanizados e seguros. Durante muito tempo nós assistimos a um verdadeiro conflito entre os moradores de aluguel, que sonhavam com uma casa própria; os inquilinos expulsos de aluguéis cada vez mais proibitivos, dadas as dificuldades econômicas familiares, para as periferias; e os moradores de áreas de risco, que se enquadram como fura-filas dos programas habitacionais oficiais.
Utilizarei o exemplo do município de Cubatão, na Baixada Santista, em razão do diagnóstico do seu déficit de moradias e número elevado de pessoas habitando em áreas e regiões similares àquelas que ilustram as tragédias mais recentes – Angra dos Reis, Rio de Janeiro e Niterói. Cabia à Prefeitura a tarefa de coordenar essas ações, igual ao enxugamento de gelo com uma toalha, jamais pensando globalmente de modo que Cubatão tivesse a idéia da solução sob qualquer prazo.
Acho que esses acontecimentos nos forçam compreender e reconhecer muito mais, por exemplo, a importância do Programa de Recuperação Sócio-Ambiental da Serra do Mar, elaborado e iniciado durante o governo José Serra, há três anos. Pela primeira vez na história do município temos uma ação que servirá para livrar a exposição de vidas cubatenses ao risco de mortes e tragédias. De um total de 7.835 moradias nos bairros Cotas e na base da Serra do Mar, o programa prevê a remoção de 5.405 famílias para unidades habitacionais em construção no município e em outras cidades da Baixada. As famílias restantes permanecerão nas áreas mais seguras desse território, com a garantia da urbanização e da melhoria das suas atuais condições habitacionais.
O governo municipal do PT, atualmente, dificulta bastante o encaminhamento das soluções propostas, que prevêem a construção de novos bairros, com toda infra-estrutura urbana, o congelamento de novas ocupações e de expansões habitacionais, o reflorestamento das áreas. Então, no meio do debate que se apresenta em todo o país, se os problemas da insegurança e da qualidade de vida precária existem na cidade, por que não somar esforços de todas as esferas de governo e da sociedade local para que os programas aconteçam e beneficiem quem realmente precisa ?
Eduardo Paes (prefeito/RJ) e Sérgio Cabral (governador do RJ), são protagonistas de mais uma história nefasta que assola a sociedade brasileira. São responsáveis sim, pois são os maiores mandatários nas suas esferas de poder e competência. Respondem no melhor das hipóteses por omissão.
Todo governante sabe onde estão os pontos de risco. Como sabiam no RJ, tanto é verdade que já anunciaram e iniciaram a remoção de inúmeras famílias, com a devida destruição das moradias irregulares, justamente por já existir a tempo o levantamento a respeito.
O assunto é de extrema gravidade e se repete por todo o território brasileiro. E vamos tocar na ferida, estamos falando de pessoas simples, humildes e desprovidas muitas vezes de cidadania. Tragédias assim, normalmente (para não dizer sempre), somente atingem um estrato social: o dos pobres.
Pobre neste país, serve sobretudo como capital humano para a época de eleição. Se alguém pensa diferente, por favor, me diga uma situação semelhante na qual os “agraciados” foram os opulentos aristocratas ou oligárquicos que morreram na inércia dos órgãos governamentais.
Repito, problemas da mesma envergadura temos em todos os lugares; no entanto as AÇÕES somente são realizadas quando ocorrem às desgraças, não existe respeito aos princípios da precaução e prevenção. Afinal só morem “humildes”.
Está mais do que na hora de mudarmos o paradigma. Chega de discursos, precisamos é de ações no presente e que sejam eficazes e válidas. Na baixada santista temos por exemplo o caso do AVANÇO DAS ÁGUAS DO MAR, com inúmeros estudos e trabalhos dando conta dos fatos decorrentes em toda a região, sobretudo Santos, e em especial, na ORLA DA PRAIA E ZONA NOROESTE (a qual no pior cenário, simplesmente ficará submersa).
E o que tem sido feito? Nada! Mas, tudo bem – vamos esperar. Afinal é somente para o final do século – quem estiver por aqui que se vire, não é mesmo. Errado! Mas esta parece ser a postura adotada pelos governantes diante do problema (dentre tantos outros).
Acorda Povo Brasileiro!!!
Ernesto Donizete da Silva
PSDB/SANTOS
Toda essa crítica poderia ser usada para a Prefeitura de São Paulo e para o Governo do Estado de São Paulo…mas não é, e não foi. Por que? Vários morreram, vários perderam casa, vários ficaram alagados, bairro ficou alagado por dois meses e…e NADA. Serra e Kassab se esconderam. O Kassab só apareceu depois de todo o desastre para mostrar que “trabalhou”, sendo que no mesmo dia da propaganda caiu outra tempestade que ferrou tudo novamente. Sendo que nos dias seguintes ele DESCOBRIU QUE TINHA EMPRESA QUE NÃO FEZ SEU SERVIÇO…Incompetência travestida de ÓTIMOS GESTORES.
Acho justo criticar os péssimos políticos fluminenses, mas não nos esqueçamos de nossos péssimos políticos paulistas. Fica a dica.
Até imagino como serão os debates do Serra x Dilma, as “alfinetadas” que serão dadas por ambos, pelo visto terão muitas “titicas” para se jogar no ventilador um do outro rsrsrs…
Agora, em que gestão municipal foi que se iniciou essa invasão de moradias IRREGULAR a este Morro de lixo e com permissão das Autoridades? O que irá acontecer agora a estas Autoridades? Para obtenção de votos permitem tudo e agora irão penalizar os Infratores ou ficará só no bla bla bla e tb acabara no esquecimento como de costume… esperamos que não ok…
Raul, infelizmente já se tornou rotina, após qualquer tragédia aparecem os mandatários dos Estados, Municípios,como também o Presidente da República, alegando desconhecimento dos motivos que tais tragédias aconteceram, para com isso tirar o corpo fora e não assumirem sua total culpabilidade.
Basta acontecer as calamidades, sejam com relação a excesso de chuvas e com isso enchentes e deslizamentos acontecem, seje na questão da violência urbana ou até mesmo nas epidemias e falta de leitos hospitalares para atender as pessoas no Sistema Sus, que são as pessoas de baixa renda, ai vem esses mesmos governantes que sempre dizem nada saber e apresentam projetos e soluções que por não sairem do papel finda se amarelando e se deteriorando com o passar do tempo, até que uma nova tragédia aconteça, para que as promessas se renovem.
Sem exceção, quando isso acontesse todos mos governantes são culpados, e deveriam ser julgados por um juri popular, onde seriam condenados a pagar pela falta de planejamento e investimento em seus estados, municípios e ou país.
Mas infelizmente estamos no Brasil, e nada se modifica em benefício das classes menos privilegiadas na qual me incluo, os moradores das periferias desse gigante chamado Brasil!
Raul,
Em um debate com Especialistas sobre a tragédia do Rio, ouvi um deles fazer uma análise desapaixonada do problema e citar o Programa de Recuperação da Serra do Mar como exemplo a ser seguido.
Quero lembrar que as preocupações e ações com o Problema da Serra do Mar em Cubatão, vem desde o Governo Montoro, com um enorme Programa de Controle das fontes de poluentes e a ações para recuperação de áreas da Serra degradadas pela poluição. E o resultado daquela ação hoje é visivel.
O atual Programa de recuperação socio-ambiental vai dar um fim a esse problema que se arrasta a tanto tempo, e quem ficar contra vai quebrar a cara.
Prezado Raul, a discussão deve ser menos passional e mais racional.
Como você disse, “há governantes(???) que descobrem o povo mal apenas na hora das tragédias.”
Nessa sua frase, queda-se claro que essas pessoas não podem ser chamadas de “governantes”, já que desconhecem a situação dos municípios, estados que supostamente “governam”.
Outrossim, forçoso reconhecer que em época de eleições, “surgem” supostos “experts” em meio ambiente a falar “baboseiras” sem nenhum embasamento científico.
Esses pseudos “experts” devem apresentar soluções viáveis, e não propor idéias estapafúrdias.
O meio ambiente está ligado diretamente com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, alías, tão caro ao brasileiros.
Enfim, o estado precisa se fazer sempre presente de forma preventiva e não corretiva, haja vista, que envolve a vida humana, o bem mais importante.