Blog do Raul

A Tribuna de Santos

Brasil que não faz

Chaplin, em “Tempos Modernos”, transformação na indústria.

A China não se tornou a economia mais forte do mundo por acaso. Para atingir a esse patamar, começou a planejar há pelo menos 30 anos. Tomo como base o raciocínio de que os números geralmente são relativos e que a realidade deles pode não apresentar consistências, no entanto é possível afirmar que a China é, simplesmente, uma das maiores forças econômicas do planeta, sem exageros.

Enquanto isso há no Brasil uma certa miopia, quando se mira na China de maneira rasa ou se pretende resumir a visão dessa potência a uma mera confusão sobre conceitos e ações entre direita-esquerda. Os gurus do atual governo do Brasil não são apenas negacionistas, mas uma negação, na compreensão da realidade de um modo geral.

A China produz de tudo para todos os países, enquanto o Brasil ainda não tem noção do que pretender ser. Mas o mundo não está esperando muito daqui, conforme o andar da carruagem. Será que não enxergam os movimentos internacionais e como o país está literalmente jogado na vanguarda do atraso?

Vamos aos dados consistentes do cenário macroeconômico: até 2035, quase metade dos empregos existentes no Japão serão extintos em função das novas tecnologias, indica a consultoria Nomura Research Institute, a maior empresa de pesquisa econômica daquele país. De outro lado, nos Estados Unidos, metade dos atuais empregos estão desaparecendo e sumirão no mapa nos próximos 20 anos. E no Reino Unido, conforme estudo da Universidade de Oxford, 35% dos empregos atuais serão extintos nesse mesmo período.

A pergunta que não cala é sobre a compensação desse desemprego planetário, de quantos empregos novos surgirão dessa transformação que podemos batizar de 5.ª ou 6.ª revoluções industriais? Evidentemente, muitos, mas muito menos dos que serão extintos.

Para entender a essa complexidade, é essencial que os planejadores tenham em mente qual o nível de exigência para a formação educacional desses novos empregos. Ainda que essas projeções estejam restritas à análise em relação às demandas de países altamente desenvolvidos, na contramão do Brasil; atrasado tecnologicamente e mercê de impactos ainda maiores para o mal.

Enfim, às vésperas de um ano de eleição para a presidência da República, o Brasil caminhará inacabado para um novo momento, sem realizar a lição de casa. Pior que isso, evidenciando um comportamento tão errático do governo atual na condução da sua política diplomática, ora em relação às parcerias econômicas, ora em respeito ao consenso global de que somente a vacinação em massa projeta a sobrevivência das pessoas e a volta à normalidade.

A ideia é escrever uma trilogia de artigos, para tentar responder “o que o Brasil quer ser”. No próximo vamos tratar sobre temas que estão sob o guarda-chuvas da sigla ESG, em inglês, para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), geralmente usada para referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio, mas que também pode ser um critério para investimentos.

Artigo publicado na edição de 26 de outubro de 2021, do jornal “A Tribuna de Santos”, na seção Tribuna Livre.

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Primavera do futuro

Militância virtual em rede (ilustração via Google).

Este ano para nunca mais esquecer, terá eleições políticas no Brasil e nos EUA. Ambas seguem o protocolo da comunidade científica internacional e de autoridades locais, convivendo com o distanciamento social nessa pandemia que só imaginamos nas telas do cinema catástrofe. O clima de festa nas ruas e nos centros de eventos foram para as calendas. Militância agora, só virtual.

Quem se importa com isso? Eu, também, como militante à moda antiga, diante da preocupação de um velho amigo idealista, daqueles que acompanhei em passeatas e panfletagens, desde há, pelos menos, quarenta e cinco anos. Desperto de um sonho que pareceu atrapalhado, contou-me que andava angustiado com o rumo das coisas no mundo. Lamentou que bandeiras defendidas com convicção estavam largadas, como ações menos importantes.

Isso me preocupou, no divã mutante que o celular se tornou. Teclei logo nas redes sociais, para descobrir o paradeiro, o estado físico e o que cada um de outros pares vêm pensando recentemente. Tudo para comparar se a memória política do meu amigo não era paranoia. Foi assim que nasceu o reencontro de comuns do meu tempo, entre analógicos, digitais funcionais e conectados.

Os preparativos para o dia da reunião em plataforma virtual foram um bom exercício, sendo difícil contornar a ansiedade de alguns convidados, querendo saber se estava tudo combinado mesmo. Independente da falta de contato normal de antes dessa pandemia, a reunião despertou o que dizer.

Não fossem as motivações que nos uniram no passado, lembranças fortes ainda hoje, não teria sentido esse revival. Nos sentimos e nos gabamos como legítimos filhos da luta, em cujas mentes, em algum lugar do passado, houve o temor da globalização, da comunicação de massa, do capitalismo selvagem.

Enfim, chegamos à primavera do futuro que ajudamos a construir. Relembramos que antepassados mais recentes viveram outras moléstias e epidemias, como a febre amarela, peste bubônica, varíola, AIDS, enquanto temíamos a 3.ª Grande Guerra Mundial, o fim do mundo, a bomba atômica, as armas químicas, o bug do milênio, mas não previmos o Covid19.

Vale recorrer ao que escreveu Stéphane Hessel, em “Indignai-vos!”, em 2010, aos 93 anos de idade. Um manifesto contra a indiferença à conjuntura presente, favorável à Democracia, ao Estado de Direito e à liberdade de imprensa: “Os motivos para se indignar atualmente podem parecer menos nítidos, ou o mundo pode parecer complexo demais. Quem comanda, quem decide? Nem sempre é fácil distinguir entre todas as correntes que nos governam. […] Vivemos em uma interconectividade que nunca existiu antes…”

Era mais simples um reporte em outros tempos. Mas, longe das praças, ruas, portas de fábricas, paredes da estiva, partidos, palanques, parlamentos, essa tarefa foi a mais difícil a que me impus. Estamos exilados em casa.

(*) Artigo publicado no jornal “A Tribuna de Santos”, em 20/09/2020.

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PSDB em definição para 2018 …

Ilustração de tucano voando, da web (Toucan Flying)

Para responder às constantes perguntas que me fazem dentro e fora do PSDB, sobre os caminhos do partido em 2018, tomo como base para escrever estas reflexões, três questionamentos trazidos nesta semana pelo repórter Rafael Motta, do jornal “A Tribuna de Santos”: “em entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à rádio Jovem Pan, ele considera que “seria boa para o Brasil” uma eventual candidatura de Luciano Huck à Presidência e que, em seu ponto de vista, a tendência é que João Dória Júnior concorra ao Governo Estadual. Enquanto Coordenador Regional do partido na região da Baixada Santista, o que pensa das duas hipóteses (Huck e Doria)?”

Como coordenador regional do PSDB busco interpretar as percepções dos companheiros tucanos da região, que vislumbram Geraldo Alckmin presidente da República. E como partido democrático, o PSDB anunciou nesta quarta-feira (7/2), as regras de uma prévia para a escolha do candidato, entre Alckmin e o prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgilio Neto. Esse evento partidário, histórico, pretende levar às urnas no próximo dia 11 de março, os 1.504.318 (1,5 milhão) de filiados em todo o país, de acordo com a listagem do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, em outubro de 2017.

Continuando, Luciano Huck não está filiado ao PSDB. O presidente Fernando Henrique defende e fala bem sobre a oxigenação da política e a renovação de ideias. Mas o PSDB dispõe de quadros políticos experientes, com uma folha de resultados a submeter aos eleitores brasileiros, com a maioria de bons exemplos para o país. São Paulo espelha essa afirmação com o controle rigoroso das contas públicas e realizações como Poupatempo, Bom Prato, estradas, escolas técnicas, hospitais, segurança pública, saneamento básico etc.

O Brasil é sério demais para ficar mercê de outsiders. Numa situação de crise, essas alternativas surgem facilmente no raciocínio de quem está bombardeado de questionamentos do tipo para onde vamos. Me incluo entre os questionados constantemente, dado o meu histórico de militância política e como um dos fundadores do PSDB.

João Dória teve experiência em gestão pública antes, nos governos de Mário Covas (prefeitura de São Paulo) e José Sarney (governo federal). Sabe lidar com a comunicação de massa e acionar os influenciadores da opinião empresarial e do terceiro setor. Huck é só um ídolo na TV. Não vejo diferença entre ele, Silvio Santos, Datena, Ratinho ou Faustão.

O Brasil precisa de um gestor público, austero. E Geraldo Alckmin, sabidamente com uma vida modesta, tem esse figurino, a meu ver.

Dória pode ser nosso candidato à governador, após as prévias no Estado, com Floriano Pesaro, Luiz Felipe D’Avila, Alberto Mourão e José Anibal, por enquanto cogitados. No dia 19 de fevereiro o diretório estadual se reunirá para decidir sobre as regras em todos os seus municípios, e a minha sugestão é no sentido de que as prévias estaduais coincidam com a nacional, para um grande e unificado evento do PSDB no país.

Com essas explicações, restava ainda a Rafael Motta uma dúvida: “você concorda com a hipótese (ou a aceitaria) de que o governador apoie Márcio França para a sucessão? Ou é categórico em dizer que não pode haver outra saída que não o lançamento de um nome do PSDB para concorrer ao Governo do Estado?”

Na minha opinião, o PSDB deve ter um nome próprio para disputar o governo do Estado. O Marcio França tem todo o direito de se candidatar, mas para o PSDB ajudaria mais articulando os apoios de Pernambuco, Paraiba e Espírito Santo, por exemplo, em torno da candidatura de Geraldo Alckmin para a Presidência da República. Marcio é um exímio articulador, poderia ser ministro chefe da casa civil de Alckmin.

Enfim, não são definições do PSDB, como o título pode intuir, mas uma reflexão da conjuntura atual. Como dizia o governador mineiro Magalhães Pinto, “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já muda”.

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