Blog do Raul

Brasil

REINDUSTRIALIZAR O BRASIL É URGENTE

Empregos, salários e desenvolvimento social.

A pergunta que não se cala na Baixada Santista, e no resto do país: o que aconteceu com o decrescimento e o quase desaparecimento da indústria nacional? Embora o tema não seja exclusivo do Brasil, os novos governos – federal e estaduais – a partir de 1.º de janeiro precisam responder.

Donald Trump, na sua primeira eleição nos EUA, tinha o discurso da retomada da industrialização no solo americano, sintonizado com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento, preocupados com a importância das indústrias como motor da economia, geração de empregos, melhores salários, extensão de divisas, receitas tributárias, mas… ficou só na promessa.

As indústrias deviam ser vistas sempre como emergentes e a reindustrialização urgente, no entanto, pela inanição governamental, quase sumiram no mapa do nosso país. E o pior: também sumiram vozes e ações contra o fim de suas produções e o desemprego.

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, trouxe para a indústria o poder antes exercido pela agropecuária. Organizações como a FIESP ou a própria Confederação Nacional da Indústria – CNI, no Brasil, ou sua similar no Japão, a Kendaren, sempre foram interlocutoras das regras econômicas com os seus respectivos governos. Agora, qualquer decisão da área econômica passa pelo que o “mercado acha”. O tal do “mercado financeiro”, intangível, tornou-se um Deus muito temido.

Para explicar a perda do protagonismo da indústria, precisamos tratar tecnicamente das mudanças globais para o seu entendimento. Tendo o mercado financeiro como detentor de diretrizes econômicas, voltamos a 1930, quando as exportações eram apenas de comodities, sem nenhum valor agregado. E é justamente contra esse papel irrelevante para as nossas indústrias, que insurgimos e conclamamos os novos governos a mudar esse comportamento passivo.

O poder das empresas industriais mudou a partir de decisões de Ronald Reagan, nos EUA, e Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha. Em 1982, Reagan assina o “Garn-St Germain ACT”, que flexibiliza o setor financeiro americano. Thatcher, em 1986, altera as normas da Bolsa de Londres, permitindo a participação de instituições financeiras estrangeiras nos seus negócios. Em 1999, Bill Clinton revoga o “Glass Steagall ACT”, que restringia às instituições financeiras o uso desses recursos em operações especulativas. Isso acelera o processo de declínio do poder industrial.

Hoje em dia vivemos o reflexo da influência do mercado financeiro em nossas vidas, como o exemplo entre dois compradores de um carro: um pode pagar à vista e o outro só a prazo. Há pouco tempo, o vendedor não hesitaria escolher o primeiro, mas agora quer vender para aquele que quer pagar a prazo. Porque a instituição financeira pagará ao vendedor o que se convenciona chamar de taxa de retorno sobre o financiamento. Ele terá “dois lucros”: do carro vendido e da taxa de retorno do banco. O vendedor prioriza a venda de um crediário, enquanto o carro ou eletrodoméstico são só meios para o negócio.

Os industriais se tornaram rentistas. Os seus lucros são aplicados no mercado e não na modernização do empreendimento. Assim, indústrias vão se sucateando e resta a importação. Para quê milhares de empregados, investimentos em prédios, galpões e equipamentos? Os custos de importação são menores e ninguém quer se industrializar aqui, alegando o complexo sistema tributário, taxas e impostos, não é mesmo? Vamos pautar essa questão?

(*) NOTA: Esse artigo foi escrito a quatro mãos com o professor de Geopolítica, Carlos Alberto Tavares Laureano.

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Quer salvar o seu país?

Política fora das nuvens. Foto: Jornal da Orla.

Primeiro precisamos parar de ver as coisas como se houvesse uma dicotomia na disputa eleitoral de 2022. Não há apenas dois candidatos, um da direita e outro da esquerda. O Brasil que já teve 20 candidatos, quando reconquistou o direito de votar para presidente da República, em 1989, agora conta com diversos nomes e propostas e histórias para suceder o atual ocupante do Palácio do Planalto.

Quando escrevia este artigo, o prazo para a realização das convenções partidárias para a aprovação das candidaturas às eleições de 2 de outubro de 2022 estava terminando. Todas as pesquisas, desde o início do ano passado, revelam uma polarização entre Bolsonaro (PL) e Lula (PT), porque o país já se acostumou com esse tipo de pressão. Só que não, na medida em que os partidos, federações e coligações definiram os seus nomes para a disputa eleitoral do cargo maior, fica claro que é possível escolher o que achamos melhor para o futuro do Brasil.

Conforme os números projetados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira está em torno de 215 milhões de pessoas. De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), medindo o estado de insegurança alimentar no Mundo, o Brasil tem pelo menos 61 milhões de pessoas com insegurança alimentar, grave ou moderada. O levantamento considera o período entre 2019 e 2021.

E tem mais números preocupantes, mais importantes do que ficar discutindo a polarização política: 33,1 milhões de pessoas passam fome (insegurança alimentar grave) no Brasil, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), a partir de dados coletados em cerca de 13 mil domicílios, de novembro de 2021 a abril deste ano.

O número de desempregados chega a 10,6 milhões de pessoas e o número de jovens até 29 anos, que nem estuda nem trabalha, até o segundo trimestre de 2021, ostentava 12,3 milhões de brasileiros. Em tese, todo esse fracasso recai sobre os governos federal, estaduais e municipais, para deixar bem claro que é uma questão de Estado, e todas as ações devem mobilizar a cooperação entre todos os entes da federação.

Não se trata fazer um mix sobre as estatísticas negativas, mas o momento eleitoral é a ocasião ideal de serem consideradas, avançando para solucionar os problemas, ao invés de ficar remoendo intolerâncias advindas das radicalizações e intolerâncias. Pense que o Brasil tem perdido investimentos nessas áreas, que podem ser por conta da ineficiência dos atuais governantes.

O debate sobre questões concretas, envolvendo inflação, carestia das cestas de alimentos, gás de cozinha, compensações financeiras em forma de bolsas sociais, retomada do desenvolvimento, educação, saúde, deve ser posto na agenda de todos, mas, salvo algumas “sabatinas” em entrevistas às emissoras de rádio, TV e plataformas de internet, está evidente que não haverá um olho no olho das candidaturas postas. Porque, de pronto, seria o melhor para a cidadania brasileira enxergar com transparência a forma com que pretendem atuar para minimizar essas agruras, generalizadas hoje para praticamente todas as classes sociais, e, principalmente, para os mais pobres.

Publicado na Plataforma do “Jornal da Orla”, em 04/08/2022.

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As máscaras começam a cair

São Paulo sem máscaras.

Esta semana trouxe uma decisão do governador do Estado, João Doria (PSDB), sobre a desobrigação do uso de máscaras de proteção contra a Covid-19 em ambientes abertos. A medida foi adotada por meio de um novo decreto, estabelecendo que em lugares fechados a obrigatoriedade continua, mas em áreas livres, como ruas, praças, parques, pátios de escola, estádios de futebol, centros abertos, autódromos e praias, não haverá mais necessidade.

Desde 7 de maio de 2020, esse acessório passou a compor os nossos figurinos na Capital, Interior e Litoral de São Paulo, que saiu na frente para buscar e vacinar as pessoas, agindo preventivamente para controlar o novo coronavírus. Essa atitude foi interpretada com viés político pelo governo federal, cuja linha de ação se baseava na minimização da pandemia, com falas negacionistas, que ainda hoje justificam a posição de algumas pessoas de não aceitarem as doses das vacinas.

São Paulo lidera o ranking de vacinação, com 83% da população adulta com esquema vacinal completo e 98,8% com ao menos uma dose. E 70,6% das crianças, de 5 a 11 anos, já receberam a primeira dose, enquanto 20,2% estão com as duas doses.

Esses números embasaram a flexibilização do uso das máscaras, mas quem se sentir melhor usando, continua usando até que definitivamente o risco de contaminação desapareça de verdade do nosso meio. Sabemos que nas aglomerações o risco é sempre maior e que nos ambientes fechados as máscaras são necessárias.

Por outro lado, com o que tem sido divulgado pelas secretarias estaduais e por outros países, a maioria das internações mais graves e mortes pela Covid-19 hoje é de pacientes sem o esquema vacinal completo. No Estado de São Paulo, com dados parciais divulgados pelo hospital Emílio Ribas, 82% dos óbitos dos internados por Covid-19 não tinham esquema vacinal com 3 doses. Assim, dos 17 óbitos que ocorreram nessa unidade hospitalar do Governo do Estado, que é uma referência para atendimento de casos graves do coronavírus, 14 não tinham as 3 doses da vacina.

Vê-se que a desobrigação das máscaras no território paulista faz cair a máscara dos que ainda tentam utilizar as restrições impostas para a movimentação das pessoas com um discurso político e eleitoreiro. O trato sério da pandemia, planejando e respeitando todos os protocolos necessários para a segurança da saúde popular, sofreu desde março de 2020, quando o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) comparava a Covid-19 a uma gripezinha, campanhas difamatórias, preconceituosas, principalmente contra São Paulo, que fazia o dever de casa.

O interessante é que num determinado momento, com apoio de mentiras, notícias falsas ou fake news, desinformação, houve uma narrativa que servia para tentar desmoralizar a estrutura do Sistema Único de Saúde brasileiro – SUS e as suas conexões em todas as partes do país, e da Anvisa, antagonizando médicos e cientistas, polarizando direita e esquerda, enquanto a saúde geral da Nação estava em risco.

Isso faz lembrar dos tempos em que estávamos mergulhados, em 1993, no Brasil, numa inflação oficial de 2.477% do IPCA medida pelo IBGE, enquanto na maioria dos países latino-americanos que faziam as reformas liberais, ela estava efetivamente caindo. Vivíamos uma economia em frangalhos, depois de atravessar vários planos econômicos heterodoxos, como o Cruzado I e II, em 1986; o Bresser, em 1987; o Verão, em 1988/1989 e o Collor I e II, em 1990/1991, que fazia o brasileiro não confiar na sua moeda, o cruzeiro real, a última denominação antes do real.

Houve então a estabilização da economia com o Plano Real, que combinava diferentes frentes, como o fim do déficit público, a indexação pelo dólar, a abertura comercial e o acúmulo de reservas internacionais. Criou-se a Unidade Real de Valor (URV), baseada na cotação do dólar do dia anterior, sem embutir a inflação passada, e, aos poucos, os brasileiros foram perdendo a memória inflacionária, que os fazia correr aos supermercados logo que recebiam os seus salários no fim do mês.

A diferença entre essa época e os dias atuais é que no governo federal, comandado por Itamar Franco e tendo o então senador Fernando Henrique Cardoso no ministério da Fazenda, havia transparência no compartilhamento das informações com todas as pessoas. Agora, quando a vacinação se tornou uma espécie de novo Plano Real, destinado a parar com as mortes (654 até esta sexta-feira, dia 11 de março) pela Covid-19, o governo e alguns políticos só pensam nas eleições, como em 1994 votando contra essas medidas, e não nas atuais e próximas gerações.

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 11 de março de 2022.

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Ano novo começou antes da Quarta de Cinzas

Olhares vem desde ontem.

Nunca antes na história vivemos uma época assim. Seria comum postar feliz ano novo nas redes sociais, ou centrar as rodas de conversas, porque no Brasil o ano sempre foi dado como iniciado na Quarta-feira de Cinzas! Agora é diferente, simplesmente porque não houve Carnaval como antes.

Nem passamos os dois primeiros meses do ano escolhendo as fantasias e os nossos destinos para poder rasgá-las na folia. Tempos mudados, com rima e tudo, de pandemia. Então me estranho nessa condição de ter recomeçado as minhas atividades de trabalho, longe de repetir aquele rito que sempre fez parte da nossa história.

Certa vez um professor da faculdade de jornalismo ensinou evitar títulos ou inícios de textos com nãos, nuncas, nens. E com ele aprendi que devia escrever uma redação, crônica, artigo científico ou trabalho escolar com um começo cativante, para funcionar como um convite para ser lido até o final. Hoje fiz uma salada mista, porque não tenho uma boa história de Carnaval para lhes contar, pois não houve desfile de blocos nas ruas, trios elétricos baianos, marchinhas nos salões dos clubes, campeonatos de escolas de samba.

Também não vou ficar resmungando aqui da pandemia da Covid-19, que ainda mantém protocolos de segurança sanitária que são para o nosso próprio bem. Nem falar de políticos que quando abrem as suas bocas ou agem nas suas esferas, é melhor cancelar de vez.

Simplesmente porque o ano novo começou no dia certo em 2022: 1.º de janeiro e será inesquecível. Escolhi viajar para um lugar tranquilo, Brotas, no Interior do Estado de São Paulo e não foi para ficar contemplando a natureza num refúgio ou retiro espiritual. Vacinado e cumprindo à risca as distâncias regulamentares, pude assistir de perto algumas cantorias de marchinhas antigas, inclusive com letras adaptadas para os dias atuais e pensar como está passando rápido esse novo ano.

Essa sensação toma conta por causa da quantidade de coisas que já aconteceram e pela instabilidade do mundo com essa máquina de guerra da Rússia. A emergência climática que estamos vivendo, com eventos extremos cada vez mais extremos, sem um movimento urgente dos governos de plantão de antecipação de socorro aos desastres naturais em áreas urbanas. E o ataque contra o povo ucraniano sem perspectivas ainda de um cessar fogo, apesar de toda a mobilização das atenções pelas pessoas que temem pela integridade da própria Terra.

Como é possível minimizar esses acontecimentos, marcados por um tsunami de sangue e mortes, que não vimos antes na história nessa época do ano, salvo raras exceções? Esse Carnaval aconteceu na época certa do calendário, mas o que mudou mesmo foi a nossa forma de nos importar com tudo.

Aprendi com a vida que amadurecer é um processo experimentado diante de situações que exigem o crescimento pessoal, para controlar melhor nossas emoções, entender limitações próprias e tomar decisões com mais segurança. Por isso considero que esses dois meses findados de 2022 serviram bastante para nos fortalecer e poder decidir melhor os novos caminhos que já realçam no horizonte dos próximos 10 meses.

Não acho inteligente, por exemplo, o Brasil mostrar a sua insignificância política, econômica e cultural, porque, como diz assertivamente o jornalista e escritor Mário Sabino, “não somos insignificantes, nos fazemos insignificantes”. Certa vez, o também escritor Stefan Zweig, que escolheu viver em nosso país, fugindo das atrocidades do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial na Europa, em 1940, escreveu o livro cujo título marcou e ainda marca discursos ao longo da nossa história: “Brasil, um país do futuro”.

Já estamos no início do terceiro mês de 2022 e apesar do crescimento de 4,6% do PIB em 2021, o Brasil caiu do 12.º para o 13.º lugar no ranking das maiores economias do mundo, de acordo com levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating. Portanto esse ranking possibilita uma comparação do PIB dos países em valores correntes, em dólares, mostrando que fomos ultrapassados no ano passado pela Austrália, assim como em 2020, Canadá, Coreia e Rússia, tiraram o nosso país da lista das 10 maiores economias do mundo.

Retomando a linha do raciocínio com foco na mudança, uso uma frase que passou a circular nas redes sociais em 2020, após um estudo da Organização Mundial da Saúde – OMS ganhar manchetes apontando “o brasileiro como o povo mais otimista do mundo. E de tanto pensar no futuro, esquece de agir no presente”. Em 2017, a mesma OMS revelara que o Brasil também era considerado o campeão mundial de transtornos ansiosos, revelando que ninguém teme o futuro mais do que nós.

Ora, quase 19 milhões de brasileiros tinham a qualidade de vida comprometida, antes do coronavírus, que desencadeou transtornos mentais e piorou a situação de quem já sofria com eles. Então, o Ministério da Saúde conduziu pesquisa para avaliar a nossa situação mental, com a participação de mais de 17 mil pessoas em todo o Brasil. O resultado ficou mais alarmante: 86,5% dos entrevistados estavam enquadrados em algum tipo de ansiedade patológica.

Como você, leitor, chegou até aqui, deixo uma questão para refletir e comentar aqui na coluna: Pelo fato de o Brasil ser considerado por uma boa parte da sua gente ufanista ou não, o país do futuro, será eternamente padrão esperar que o melhor esteja somente no futuro?

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 04 de março de 2022.

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Todavia a paz é melhor para o Mundo

Guerras não são bem-vindas. (Foto: Anna Moneymaker – Getty Images)

Desde o fim da Guerra Fria, em 1991, a União Soviética e os Estados Unidos não se estranhavam e ficavam literalmente em pé de guerra como agora, por conta da invasão da Ucrânia pela Rússia. Esse que não é um mero detalhe na história do mundo deve ser trazido à baila para tentar entender melhor o que está acontecendo e provocando um verdadeiro estado de insegurança em todos nós.

Vejo que governantes e partidos estão tropeçando nas suas falas sobre os acontecimentos, porque a cultura da paz deve prevalecer. E isso não é só o politicamente correto, marcando a sua posição. Mas uma condição de continuar respeitando a sociedade que já vem apavorada pela pandemia do Covid-19 e que não percebe o grau de manipulação a que está sujeita. A Ucrânia é um detalhe que comove o mundo diante da violência e dos efeitos de um ensaiado ataque genocida, que por ora se sobressai com a cena de um tanque atropelando um automóvel civil, guiado por um motorista idoso, nos arredores de Kiev.

A União Soviética foi extinta em 1991 e Vladimir Putin com a sua decisão de realizar uma “operação militar especial” que se diz sintonizada com o artigo 51 da Carta das Nações Unidas (da legitima defesa individual ou coletiva dos países membros), apesar de induzir geral à intenção de reintegrar territórios separados, alega que quer desmilitarizar a região que descumpre o Protocolo de Minsk. Esse documento é um acordo assinado em setembro de 2014, para por fim à guerra no leste da Ucrânia, onde há separatistas em busca de formação de um outro país.

Acho importante o conhecimento da história, para compreender inclusive que no momento agudo em que estamos vivendo, à flor da pele, qualquer demonstração de força bélica pode ameaçar um conflito mundial e de proporções que sempre nos atormentaram. Certa vez escrevi um texto sobre ter crescido na adolescência, motivado pela linha tênue da Guerra Fria, achando que uma 3.ª Grande Guerra nos dizimaria. Confesso que, assistindo aos movimentos de Putin e as contrarreações de lideres mundiais, a cultura da paz prevalecerá, porém é fundamental que todos pudessem conhecer mais sobre os avanços de bases militares e zonas de influência de países como os Estados Unidos, com o respaldo da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Estados Unidos e União Soviética foram aliados na luta contra a Alemanha nazista na 2.ª Grande Guerra, de 1939 a 1945, e logo após a vitória se tornaram adversários até 1991. Chamou-se de Guerra Fria porque não houve uma guerra ou conflitos entre as superpotências, uma vez que seria inimaginável restar o Mundo ante uma batalha nuclear, porque houve uma corrida armamentista para a construção de um grande arsenal de armas nucleares nos primeiros 20 anos desse conflito de ideologias defendidas por cada uma.

Vale perceber nesse entendimento, que a rivalidade se distinguia das incompatibilidades, da defesa norte-americana do capitalismo, da democracia, da propriedade privada, da livre iniciativa; enquanto a União Soviética queria o socialismo, o fim da propriedade privada, a igualdade econômica, um Estado forte para garantir as necessidades básicas do povo. Hoje em dia essas ditas incompatibilidades povoam o imaginário político global, polarizando disputas eleitorais em todos os continentes.

Posto isso, o episódio global e histórico que estamos testemunhando, com o encaminhamento de tropas a Ucrânia, somado de sanções econômicas a Rússia, que já recebeu sinais de apoio da China, que possui força econômica, tecnológica e o maior exército do mundo, incomoda geral. Era difícil de imaginar que ocorresse durante a pandemia do novo coronavírus, mas nada é impossível hoje em dia.

Que a paz é a melhor bandeira para se hastear no mundo, isso é indiscutível. No entanto, como nos proteger da angústia que nos toma diante de ameaças genocidas? Importa conhecer que há um poderio de influência política, econômica e ideológica em curso, em todo esse mundo. E não se trata de uma questão plebiscitaria, de tomar um lado da questão e pronto. Com a paz mundial é mais possível compreender que cada pessoa é um agente transformador, um cidadão, capaz de fazer mudanças, sem mais manipulações.

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 25 de fevereiro de 2022.

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Com Educação não se brinca

Na pandemia, patente que Educação é em sala de aula

Os estudantes brasileiros, principalmente do ensino fundamental, estão vivendo uma experiência desigual na história, por causa da pandemia da Covid-19. O Brasil foi o país que mais tempo ficou sem aulas presenciais no ensinos infantil e fundamental, com base em estudos feitos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entidade que reúne 35 países membros, com as economias mais avançadas do mundo, que se dedicam a promover o desenvolvimento econômico e o bem-estar social.

Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em outubro de 2021, mostra que os impactos no desenvolvimento e bem-estar das crianças na pré-escola, por exemplo, registraram perdas equivalentes a quatro meses nos filhos de famílias com maior poder econômico, enquanto os mais pobres chegaram a seis meses. Nesse trabalho foram comparadas as rotinas das crianças em 2019 e em 2020.

Ainda não há dados oficiais sobre as consequências do fechamento prolongado das escolas ou da percepção do ensino remoto, mas conforme os estudos – como os da Fundação Getúlio Vargas para a Fundação Lemann – que vem sendo divulgados nos meios de comunicação com credibilidade, o desafio nacional ficou ainda maior: enquanto no mundo a média do atraso na educação é estimada de três a nove meses, no Brasil pode ser de até 4 anos.

Em nosso país, historicamente desigual, constatação que para muitos é apenas um discurso político, esse cenário de desigualdade se tornou ainda mais grave com a pandemia. Nas pesquisas realizadas, por exemplo, indicam que 11,2% dos estudantes que diziam estar frequentando a escola em 2020 não haviam recebido nenhuma atividade escolar e não estavam em férias.

Assim, os dados comprovam que o mesmo perfil de estudantes que já sofriam com a cultura do fracasso escolar não conseguiu se manter aprendendo com as escolas fechadas, reforçando a necessidade desse enfrentamento por parte dos responsáveis pela Educação. Com a volta às aulas presenciais, seguindo os protocolos de segurança, como máscaras, uso de álcool e a necessidade da apresentação do comprovante da vacinação contra a Covid-19, é impossível desconsiderar o espírito de recomeço, inclusive com a mesma realidade vivida antes da interrupção das aulas.

Para pensar e empreender nessa reação, por um plano de recuperação do aprendizado, é preciso ter em mente alguns fatores que fizeram avançar o financiamento da Educação pública, desde a obrigação dos governos (municipais, estaduais e federal) investirem 25% dos seus orçamentos em Educação (Constituição de 1988) e a criação do FUNDEF (agora FUNDEB) em 1997.

Mas o Ministério da Educação – MEC não cumpriu o seu papel nesse período, como coordenador nacional de políticas públicas para o setor, deixando que Estados e Municípios atuassem por conta própria desde a suspensão das aulas presenciais no início da pandemia. Esperava-se do MEC ações mais rápidas e mitigadoras, principalmente em relação aos municípios menores, que dispõem de recursos também muito ínfimos para o atendimento aos seus estudantes.

Sem falar nas questões que ficaram ainda mais evidentes com a experiência do ensino remoto, dada a falta de uma política nacional de conectividade e do veto presidencial ao projeto de lei que previa internet gratuita para os estudantes e professores da rede pública em todo o país, em março de 2021. No mês de junho o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional, mas o governo federal tentou suspender os efeitos no Supremo Tribunal Federal – STF, colaborando para o atraso maior do atendimento dessa necessidade para a Educação.

E até o momento o Ministério da Educação não apresentou ações ou políticas públicas para tentar minimizar os impactos da ausência de escola na vida de nossas crianças. Mas, no início da semana, o mesmo ministério não pensou duas vezes em anunciar o reajuste do piso salarial dos professores, passando de R$ 2.886,24 para R$ 3.845,63, como uma medida generosa do governo que não é responsável pelo pagamento desses salários, que cabem mais uma vez aos Estados e Municípios.

Também cabe ao Poder Público garantir que as instalações das escolas estejam em condições de receber os alunos nessa volta às aulas presenciais, sem riscos gerais, como se observam em muitas delas nos últimos tempos: janelas quebradas, ladrilhos e pisos rachados, iluminação e telhados deficientes, vazamentos nos bebedouros, pias e banheiros etc. Contudo, o retrato em muitas dessas unidades é desolador: sem uma política de manutenção e conservação dos prédios e das suas instalações, muitas prefeituras não conseguem agora responder a essas necessidades cruciais.

Há sempre muita controvérsia quando se busca no Brasil as razões e as soluções para reverter o atraso em sua política educacional. Não podemos esquecer que lidamos com vários brasis dentro de um país desigual, cuja dívida social se torna impagável também pela descontinuidade de políticas públicas bem sucedidas. Creio que hoje temos um desafio bem maior, materializado pela paralisia na Educação, que já condenou milhares de crianças, adolescentes e jovens à ignorância: um pacto nacional pela recuperação educacional do Brasil!

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, em 04 de fevereiro de 2022.

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Política não é um jogo

A alternativa a Lula e Bolsonaro.

Sou militante dos princípios e ideais do PSDB, partido que ajudei a fundar em 1988, ao lado de figuras importantes do cenário político nacional. De pronto, faço questão de lembrar, antes que pedras sejam arremessadas em minha direção, que o PSDB não mudou seus ideais, o manifesto e o programa escritos na origem.

Dessa pilha de legendas (33 legalizadas no Tribunal Superior Eleitoral, desde dezembro de 2019), o PSDB figura entre os incomuns, porque mantémdiferenças ideológicas claras, abrigando ideias sociais democráticas, socialistas democráticas, democratas cristãs e liberais progressistas. Esse arco fez com que políticos de outras legendas, representadas na Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), as abandonassem e se juntassem na formação do PSDB.

Trinta anos depois, o Brasil fez uma opção eleitoral (2018), votando e elegendo alguém que expunha como valor a negação da política e dos partidos. Convenceu que significava a nova política, por ser diferente e desdenhar o papel institucional partidário, porque já esteve em muitos, e se tornaram bode expiatório da má conduta de alguns dos seus filiados. Não segui essa tendência, pois acredito na história e numa plataforma programática para o país.Também não sou um arrependido e nem me sinto desobrigado de fazer alguma coisa para mudar esse estado de coisas.

O PSDB mantém e segue à risca o que preconizou nas suas raízes. Pelo histórico de cada um de nós, algumas estratégias nos puseram ao lado de partidos e figuras exponenciais do campo progressista; nos colaram neles e nelas, nos momentos em que não polarizamos localmente. Essas opções não se balizaram no clientelismo convencional, conforme os costumes políticos brasileiros.

Tenho lido considerações de baixo nível sobre companheiros do PSDB que estão decidindo mudar de legenda para seus projetos políticos, pouco claros hoje em dia. Mas a maioria do PSDB permanece no mesmo lugar, revigorando os ideais e requalificando nomes de protagonistas para as disputas eleitorais. Em síntese, a fila interna de nomes andou, graças à democracia interna, que ampliou a decisão das escolhas com prévias e rejuvenesceu lideranças a nos conduzir para novos desafios.

Não fulanizo e nem polemizo, dentro ou aqui fora, porque creio na tarefa de trazer a maior parte dos que ficaram para a tese da política, como ela é e irá favorecer a descoberta de caminhos que tirem o país desse atoleiro social e econômico, além dedesgovernos. Posso dizer que identificamos quem vai nos liderar nesse processo, novos nomes e capacidades reservadas ao debate próximo futuro.

De toda forma, embora estejamos fadados à condenação prévia pela existência da polarização política que domina o sentimento nacional, como se isso fosse obra das disputas recentes na história, entre PSDB e PT, acho que o fator positivo desse entendimento em perspectiva pode desaguar num caráter educativo.

um papel histórico a cumprir nas próximas eleições gerais de 2022. Diante dessas duas caras – Lula e Bolsonaro – não é possível perder de vista que caberá ao PSDB furar o bloqueio do cenário posto. E se prestarmos a atenção no tabuleiro, para os que gostam de comparar o momento político a um jogo, faltam casas e peças para movimentar com sabedoria e bom senso. Sem isso, o entendimento da democracia na sua plenitude, será desvalorizado, como não bastassem as condições desiguais dos que se propõem fazer algo pela mudança de verdade, não só de narrativas.

A ideia é instigar a pensar na conjuntura por inteiro,o que pode parecer uma utopia. A educação política no Brasil é entendida à base da troca de migalhas e favores clientelistas pelo voto, sem sonho ou esperança. Não desejo Lula e nem Bolsonaro na presidência do nosso país. O melhor para a nossa história republicana está por vir. Não basta provocar com um “quem viver, verá”. Fará bem a todos, participar para mudar!

Artigo publicado no jornal “A Tribuna” de Santos, em 27 de dezembro de 2021.

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Brasil inova, com ciência e educação

O caminho da estratégia.

Os exemplos estão escancarados mundo afora, justificando que investir em educação, ciência, tecnologia e inovação deve ser tarefa essencial para garantir um país mais desenvolvido tanto no plano econômico quanto social. No Brasil, 95% das pesquisas são produzidas pelas universidades públicas, mas esse desempenho parece não importar quando saímos da esfera acadêmica e constatamos a realidade do mundo político atual.

Infelizmente não é surpresa ler que devido à falta de verbas, universidades federais como a UFRJ, uma das instituições mais importantes do país, pode fechar prédios e realizar rodízio em suas instalações. E o comprometimento do funcionamento de muitas outras pelo mesmo problema é revelado em praticamente todas as unidades da federação. O corte orçamentário de 2021, comparado a 2020, chegou a 18,2% para custeio, 22,8% nos recursos de capital e 18,3% na assistência estudantil.

Na semana passada, uma notícia importante adveio do leilão da nova geração de internet móvel – 5G – com a movimentação de 47,2 bilhões de reais e o compromisso das empresas em executar entre as contrapartidas de investimentos, a colocação de internet nas escolas públicas de todo o país. Se isso acontecer de fato, haverá um impulso histórico para a diminuição da desigualdade existente no desempenho dos estudantes, que durante a pandemia ficaram ainda mais para trás no aprendizado, dadas as dificuldades com o ensino à distância.

Contudo, é preciso ter em mente que uma parcela importante das escolas públicas brasileiras, que não tem internet, também não possui energia elétrica, água potável, saneamento básico. Esse quadro precisa ser considerado quando se busca responder “o que o Brasil quer ser”. Então, como os governos e legislativos avançarão em macro políticas em busca da qualificação, como fazem os países considerados mais ricos, como EUA e Alemanha, e também nos que vem se desenvolvendo mais rapidamente nos últimos anos como China, Coreia do Sul e Cingapura?

No Brasil parece que não há garantias à educação, ciência e pesquisa, por conta dos bloqueios e cortes orçamentários. Isso explica o motivo de não contar com conglomerados Apple, Google, Tesla, Huawei, Pfizer e Moderna. A negligência nacional é tanta que provoca a “fuga de cérebros” para países que valorizam a educação como valor fundamental e tratam a inovação como mola propulsora do desenvolvimento social, financeiro e econômico.

Olhando para o mundo, o presidente norte-americano Joe Biden tem dito que “Wall Street não construiu os EUA”. Por si só essa afirmativa devia orientar determinados responsáveis por nossa economia, para justificar que determinadas medidas governamentais não agradaram ao mercado. Mercado dos fundos de investimento, Bolsa de Valores, bancos, onde o dinheiro gira, mas se distancia da economia real, movimentada pela produção industrial, de serviços e do comércio.

Essa a insegurança dos industriais no Brasil, que é preciso acabar e que têm que ter garantias que o jogo econômico ao seu redor não mude ao sabor do humor do governante federal de plantão. Só assim, o industrial deixará de ser rentista.

Ao fechar essa trilogia de reflexões, nos inspira a iniciativa de Biden, com o seu plano Build Back Better (“construir de volta e melhor”). Quem sabe, conforme o tamanho do nosso bolso, elas se reproduzam no Brasil, na infraestrutura, com reforço da frente industrial e de energia limpa, para a geração de empregos, auxilio emergencial a famílias de renda média e baixa, como lema para se ter uma economia forte no pós-pandemia.

Artigo publicado na edição de 09 de novembro de 2021, do jornal “A Tribuna de Santos”, na seção Tribuna Livre.

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Brasil que fica pra trás

O sentido é figurado.

No momento em que escrevo este artigo, o atual presidente do Brasil não participa da 26.ª edição da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia. Líderes de todo o Mundo estão lá para reafirmar as suas metas climáticas e limitar o aquecimento global, sendo um importante indicador para a convivência do desenvolvimento econômico com a proteção das suas comunidades e hábitats, estabelecendo a cooperação entre governos e sociedade civil.

Ora, o Brasil vinha ocupando papel de destaque na recuperação do tempo perdido em defesa das suas florestas e mananciais, como manda o figurino das melhores práticas ambientais em nosso planeta. Isso travou. Porque a pandemia não interrompeu o aquecimento global e nessa retomada das atividades econômicas, com a transformação dos modos e fazeres, o nosso país sente os impactos do atraso, justamente pelo atraso tecnológico.

A perda da capacidade de emprego no Brasil será muito grande e pode chegar a 50, 60% de postos de trabalho extintos. Por isso mesmo não se justifica minimizar a importância das realizações, tanto da reunião do G-20, na Itália, quanto a COP26, na Escócia, como insultam certos negacionistas. O mundo está em transição energética. De formas poluentes para formas não poluentes e que não impactem negativamente o meio ambiente.

A pergunta que resulta disso é: “e o que isso tem a ver com os empregos?” Respondo, a partir dos exemplos da indústria automotiva. A Tesla, empresa automotiva e de armazenamento de energia norte americana, que desenvolve, produz e vende automóveis elétricos de alto desempenho, por exemplo, ainda que essa produção seja menor, em relação a General Motors (GM) e Ford juntas, vale, em termos de mercado financeiro, mais que a soma dessas duas grandes produtoras de veículos.

A Volkswagen anunciou em 2018, que estava investindo 3,5 bilhões de euros (cerca de R$ 22 bilhões), no desenvolvimento de novas tecnologias de mobilidade urbana, para produtos como armazenamento de informações em nuvens, para veículos conectados e serviços de compartilhamento de carros. Em março deste ano, a Volvo anunciou a intenção de ser totalmente elétrica até 2030; e a GM já informou que até 2035 será 100% elétrica.

Independentemente se o carro será movido por baterias elétricas ou a hidrogênio, só nesse segmento automotivo, no Brasil, milhares de empregos serão extintos e centenas de empresas que fornecem produtos “tradicionais” para as montadoras terão as suas portas fechadas. Vejam bem: em um carro elétrico, o sistema de transmissão subsistirá? Se não subsistirá, quantas empresas fornecedoras de peças de transmissão fecharão? Quantos empregos serão extintos?

Faz parte do desenvolvimento, e é inevitável, o surgimento de inteligência artificial, robôs, drones, além de cidades, casas, ônibus, caminhões, tratores e carros inteligentes, sempre substituindo mão de obra e extinguindo empresas fornecedoras tradicionais. Como escrevi no artigo anterior, “Brasil que não faz”, a China planejou o seu futuro e produz, produtos reais. Não se preocupou com aquilo que se denomina “mercado”, que na realidade é o mercado financeiro.

E o que se discute no Brasil a partir de Brasília? Atualmente, dependemos tão somente da agropecuária, como era antes de 1940, com a política do café com leite. Teve que ter uma revolução, com Getúlio, para se planejar e implantar a indústria brasileira. E agora, qual a política industrial? Qual a política educacional perante esses não tão novos desafios? Como o Brasil vai lidar com as empresas que não subsistirão?

Artigo publicado na edição de 02 de novembro de 2021, do jornal “A Tribuna de Santos”, na seção Tribuna Livre.

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Brasil que não faz

Chaplin, em “Tempos Modernos”, transformação na indústria.

A China não se tornou a economia mais forte do mundo por acaso. Para atingir a esse patamar, começou a planejar há pelo menos 30 anos. Tomo como base o raciocínio de que os números geralmente são relativos e que a realidade deles pode não apresentar consistências, no entanto é possível afirmar que a China é, simplesmente, uma das maiores forças econômicas do planeta, sem exageros.

Enquanto isso há no Brasil uma certa miopia, quando se mira na China de maneira rasa ou se pretende resumir a visão dessa potência a uma mera confusão sobre conceitos e ações entre direita-esquerda. Os gurus do atual governo do Brasil não são apenas negacionistas, mas uma negação, na compreensão da realidade de um modo geral.

A China produz de tudo para todos os países, enquanto o Brasil ainda não tem noção do que pretender ser. Mas o mundo não está esperando muito daqui, conforme o andar da carruagem. Será que não enxergam os movimentos internacionais e como o país está literalmente jogado na vanguarda do atraso?

Vamos aos dados consistentes do cenário macroeconômico: até 2035, quase metade dos empregos existentes no Japão serão extintos em função das novas tecnologias, indica a consultoria Nomura Research Institute, a maior empresa de pesquisa econômica daquele país. De outro lado, nos Estados Unidos, metade dos atuais empregos estão desaparecendo e sumirão no mapa nos próximos 20 anos. E no Reino Unido, conforme estudo da Universidade de Oxford, 35% dos empregos atuais serão extintos nesse mesmo período.

A pergunta que não cala é sobre a compensação desse desemprego planetário, de quantos empregos novos surgirão dessa transformação que podemos batizar de 5.ª ou 6.ª revoluções industriais? Evidentemente, muitos, mas muito menos dos que serão extintos.

Para entender a essa complexidade, é essencial que os planejadores tenham em mente qual o nível de exigência para a formação educacional desses novos empregos. Ainda que essas projeções estejam restritas à análise em relação às demandas de países altamente desenvolvidos, na contramão do Brasil; atrasado tecnologicamente e mercê de impactos ainda maiores para o mal.

Enfim, às vésperas de um ano de eleição para a presidência da República, o Brasil caminhará inacabado para um novo momento, sem realizar a lição de casa. Pior que isso, evidenciando um comportamento tão errático do governo atual na condução da sua política diplomática, ora em relação às parcerias econômicas, ora em respeito ao consenso global de que somente a vacinação em massa projeta a sobrevivência das pessoas e a volta à normalidade.

A ideia é escrever uma trilogia de artigos, para tentar responder “o que o Brasil quer ser”. No próximo vamos tratar sobre temas que estão sob o guarda-chuvas da sigla ESG, em inglês, para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), geralmente usada para referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio, mas que também pode ser um critério para investimentos.

Artigo publicado na edição de 26 de outubro de 2021, do jornal “A Tribuna de Santos”, na seção Tribuna Livre.

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