Blog do Raul

Socialdemocracia brasileira

Uma Rosa com Amor

Há rosas azuis no jardim da Democracia.

Aprendi com a escola e as orientações de meus mentores políticos, que na vida política, ou você tem vocação para servir o público, ou é melhor não tentar. Sem essa vocação, corre-se o risco de usar a política como escada para conseguir vantagens pessoais. Isso acontece em grande medida – e é o que causa o repúdio tão grande do povo aos políticos. Fernando Henrique Cardoso sempre acentuou essas afirmações, e as incluiu em seu livro “Cartas a um jovem político: para construir um país melhor”. E acho que hoje é um momento muito propício para refletir sobre a reafirmação de nossas convicções, que se construíram teórica e praticamente com a militância por ideais desde os tempos em que atuávamos no movimento estudantil secundarista.

Em diversos momentos da história do Brasil, dada a coincidência de bandeiras como a democratização, a normalidade institucional e a redução das desigualdades sociais, nos mobilizamos em busca do bem comum. Nessas ocasiões estivemos em agrupamentos comuns ou firmamos alianças políticas para fortalecer vozes com um número representativo e maior, e alcançar os alvos, no caso os centros decisórios, que em nosso país estão representados pelos poderes Legislativo e Executivo. O Judiciário era buscado quando esgotadas as chances de conquistas pela unidade da sociedade.

Meus parceiros mais acessíveis combinavam socialistas democráticos, social-democratas, liberais progressistas e democratas cristãos. O radicalismo permeava as ideias e objetivos a serem alcançados para o bem geral, havendo uma concentração de ações no convencimento da sociedade para que ela pudesse se sensibilizar e utilizar os canais democráticos de participação e representação políticas. A dicotomia esquerda versus direita sempre existiu e juntava militantes de um lado, não proprietários, do outro, elites influentes. O senso de justiça da maioria do povo sempre prevaleceu, entre os que se atribuíam a missão de obter o avanço das classes que viviam de seu próprio trabalho. A direita era composta de velhas facções das elites dominantes, com uma visão mais conservadora da sociedade e da ação política.

Nesse cenário construi minha história, reafirmando em muitas oportunidades que me mantive do mesmo lado, desde 1976, quando comecei a minha militância política e partidária. Contudo, faço questão de frisar que o meu alinhamento nunca foi incondicional com todas as forças políticas que se articulavam no mesmo arco de alianças. Acontece que dado o foco da nossa atuação, este lado era batizado de esquerda e mais tarde o meu campo se enquadrou como de centro-esquerda. Politicamente é assim que me apresento e localizo, embora haja hoje em dia um pensamento radical da existência apenas de dois polos, esquerda ou direita. Antes da queda do Muro de Berlim, em 1989, o patrulhamento ideológico determinava lados, principalmente no Brasil em que havia gente contra a democracia.

O patrulhamento ideológico e partidário existente nos dois campos, ao longo da história, hoje está muito presente e visível nas redes sociais. Estas permitiram a participação livre e irrestrita das pessoas, independentemente das suas convicções ou visões formadas a respeito das coisas à sua volta ou no próprio mundo. Os envolvimentos de figuras políticas do PT e de partidos mais aliados em circunstâncias eleitorais desde 2003, com o espetáculo da corrupção desenfreada – Mensalão e Lava Jato, para citar as principais denúncias, serviu de base para definir os lados na conjuntura atual. A população de eleitores negou confiança e voto naqueles que tinham algum tipo de ligação com essas denúncias e operações da Justiça e Polícia Federal, mesmo que pessoalmente limpas de qualquer participação.

Por isso, quando se pretende promover uma reavaliação dessa condição militante e se ligar mais com a maioria da sociedade, que desidratou os partidos políticos como o meu, PSDB, é necessário desarmar espíritos. Continuo caminhando e cantando, mas acho muito oportuno o poema-canção “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas, em especial quando acentua que “É chato chegar a um objetivo num instante / Eu quero viver nessa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo / […]”

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Travessia no Brasil

Brasil
Brasil

Ninguém é dono da democracia, lutamos a vida inteira por uma sociedade democrática, e que só é possível com mais cultura e educação para todos no Brasil. Por que dizer isso agora? Porque apesar das manifestações de uma parte da sociedade sobre os últimos acontecimentos políticos no país, de que um golpe destituiu a presidente Dilma Rousseff do poder encampado pelo presidencialismo, isso não foi um golpe na democracia, mas uma ação da democracia restabelecida e bem mantida desde 1985.
A confusão sobre o conceito, desse que é o melhor regime que um povo pode ter, funciona como um desserviço à cultura e à educação brasileiras. Sabe-se que um governo em desabalada carreira, como vinha o de Dilma Rousseff, principalmente nos dois últimos anos de seu primeiro mandato, só poderia ser substituído pelo voto popular em novas eleições. Contudo, o Brasil não poderia esperar tanto tempo. A maioria do eleitorado em 2014 acreditou no seu discurso de que não havia com que se preocupar e que a crise era apenas uma reação corrente de seus adversários eleitorais.
E desde os primeiros dias de seu novo mandato, em janeiro de 2015, os sinais de desgoverno ganharam uma culpada, a crise internacional, um mote para passar por cima do legislativo com a emissão de decretos sem autorização, como proíbe a Constituição. Além disso, uma saraivada de ações proibidas foi verificada por meio de operações de crédito com bancos estatais, fraudes fiscais e eleitorais comprovadas e documentadas pelo Tribunal de Contas da União, bem como o espetáculo nacional da queda da produção, retração econômica, desemprego, miséria, endividamentos etc.
A democracia brasileira é jovial e forte. Não sucumbiu ante a justificativa exposta pela tentativa de ganhar sobrevidas e encarcerar o país num abismo. Se o sistema de governo fosse Parlamentarista, como defende a socialdemocracia brasileira, uma nova direção teria sido estabelecida com o apoio do Congresso Nacional. A antecipação de eleições presidenciais, a título de encontrar uma forma de substituição de Dilma pelo voto popular, configuraria um casuísmo por conta de ter sido eleita para cumprir um novo mandato de quatro anos. Então restou o dispositivo constitucional do impeachment, para estancar de uma vez por todas a hemorragia político-institucional, que empurrava fortemente o país ladeira abaixo.
É sabido que desde o resultado da votação pelo impeachment, no Senado Federal, muitas pontes da sociedade foram rachadas. Nos grupos de relacionamento familiar e pessoal em geral na sociedade democrática brasileira sentimos arder feridas abertas por conta da deseducação política. Hoje em dia todo mundo é livre para se manifestar e na maioria das vezes não pensa antes. Daí os confrontos de opinião, deformada pela divisão de classes, desconsiderando nossas lutas históricas pela redução das desigualdades no Brasil.
Um novo governo se inicia legitimamente com o então vice-presidente Michel Temer, que foi eleito com Dilma e não agiu diretamente com ela nas operações ilegais. As regras do jogo democrático foram cumpridas e o povo brasileiro alimenta uma esperança: que o país resgate a estabilidade consolidada nos oito anos de governos de Fernando Henrique Cardoso. Olhar agora no retrovisor da história mais recente deve ser um imperativo, ainda que seja apenas para não errar mais ainda. O Brasil precisa continuar a sua travessia para o futuro, com um governo capaz de unir e promover as reformas necessárias, sem mais travessuras.
Nos cabe ajudar o país, participando sem intolerância. Ela sim, um golpe certeiro contra a democracia. Aceitar uma trégua agora significa recompor as pontes e nos preparar, com outro país, para escolher um presidente em 2018.

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