Blog do Raul

Qual a urgência na Educação brasileira?

Educação básica é urgente.
A partir de pesquisa realizada pela Diretoria de Acompanhamento e Integração Acadêmica (Daia), da UnB – Universidade de Brasília, constatou-se uma evasão de 34% dos seus alunos entre 2002 e 2006. Nos cursos de ciências sociais e história, esse percentual salta para mais de 60%, enquanto da área de ciências exatas 44% se desligaram no período analisado. Na rede, comentando esses números, o senador Cristovam Buarque, primeiro ministro da Educação do governo Lula, alimentou o debate sobre a necessidade de redefinir o foco governamental sobre a questão educacional. Como na maioria das suas intervenções e interatividade com internautas, o senador defende que o baixo rendimento, apontado como principal motivo da evasão acadêmica, seria revertido com o governo federal priorizando o ensino básico.

Durante o governo FHC, o ministro Paulo Renato Souza (Educação) optou claramente em melhorar as condições da escola fundamental, organizando o sistema de informações educacionais (“refundou” o Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), criando mecanismos de avaliação do aprendizado, institucionalizando novas fontes de financiamento a partir do Fundef – Fundo de Desenvolvimento da Educação e de Valorização do Magistério, universalizando a matrícula de crianças de 7 a 14 anos de idade, avaliando os livros didáticos e elaborando os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais entre outras medidas.

A comunidade das IFES – Instituições Federais do Ensino Superior reagiu à essa orientação e politizou o debate, argumentando que FHC havia abandonado e sucateado as universidades. Em nenhum momento, nessa discussão, houve honestidade por parte dos seus interlocutores, nos partidos de oposição principalmente, em confirmar que o orçamento federal não fora reduzido e que os maiores percentuais sempre foram investidos nas próprias IFES.

Para algumas vozes, que se dizem da esquerda brasileira, o governo Lula foi eleito para “salvar a educação pública”, mas não tem conseguido resolver minimamente a questão do acesso às vagas públicas de ensino superior. Ainda segundo elas, as políticas apresentadas como “democratização do acesso” apenas têm criado uma cortina de fumaça que esconde o real problema da necessidade de abrir mais vagas, criticando que o ‘Novo Enem’, o ‘SISU’, ‘ProUni’ e ‘Fies’ são drenos de dinheiro público que poderia ser usado para aumentar as vagas nas universidades públicas.

Está cada vez mais claro que a questão da Educação no Brasil não se resolve apenas com mais recursos no orçamento do MEC – Ministério da Educação. Nos últimos dez anos, o dinheiro para essa pasta subiu de R$ 19 bilhões para R$ 69 bilhões, mas a qualidade do ensino não acompanhou na mesma proporção, tanto em relação aos números de beneficiados quanto na eficiência da gestão de programas que apresentam falhas contínuas e perdem qualidade.

Conforme diretrizes do Reuni – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, do MEC, pensando no financiamento como um dos pontos centrais para a mudança profunda da educação e para que a universidade possa seguir seus caminhos de forma autônoma, cogitam aplicar no mínimo 75% do orçamento no ensino superior. Não prevêem de onde virão os recursos para atender a essa perspectiva, muito menos como Estados e Municípios suportarão as demandas do ensino básico sem outras fontes além do suposto fundo social do Pré-Sal, que seria constituído com 50% de dinheiro carimbado para a Educação.

Ora, o debate do financiamento da Educação brasileira em todos os níveis precisa ser priorizado. O senador Cristovam fala em um Ministério da Educação Básica e na federalização do financiamento do ensino básico, apenas para começar a corrigir as distorções do sistema educacional e construir o aprendizado de maneira sólida e com perspectivas melhores. Entre os resultados negativos do ensino superior e a politização das IFES sem caminhos mais concretos, sou defensor intransigente de que a Educação básica seja uma urgência do Brasil.

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3 comentários em “Qual a urgência na Educação brasileira?”

  1. mas eh claro tem q descer do muro e ir observar o governo do Ciro do ceara pra aprender com eles …rs.

  2. Ernesto Donizete da Silva

    Na verdade Raul, num país no qual as estimativas dão conta do desvio de pelo menos 85 BILHÕES contra dos cofres públicos, por atos dos “poderosos” de plantão, falar em educação é meio que falacioso.

    Quando a estrutura social está sendo atingida diariamente por desmandos de todas as ordens:

    Onde os exemplos dados pelo alto escalão são os piores possíveis;

    onde o importante é colocar dinheiro no bolso a qualquer custo;

    onde o importante é levar vantagem em cima de todos;

    onde os pais não possuem mais autoridade sobre os filhos;

    onde os professores não possuem mais autoridade sobre os alunos;
    onde a direção da escola se omite de tudo;

    onde só há “burrocratas” gerindo a educação, etc…

    No Brasil, ter educação NÃO TEM VALOR.

    Em qualquer outro país o ser humano é valorado de acordo com sua formação. Aqui quem têm dinheiro vira “doutô”. Absurdo!!!

    O ministério da educação, como bem demonstrado na matéria, é um dos locais onde mais se desviam dinheiro, onde mais se cobram comissões (nos livros didáticos, nas merendas, nas compras de materiais diversos, etc.) – acredito que somente perca para os desvios das obras públicas.

    Enquanto isto há locais onde nem “quadro negro” existe.

    Lamentável!!!

    Veja no caso do Governo Federal, passou de 19 milhões para 69 milhões, aumento da ordem de 361%, afinal o HADDAD, o competente que permitiu os vazamentos no ENEM, vai ser candidato em São Paulo, com a devida mão do Inácio, quanto desse dinheiro foi realmente aplicado na educação?

    Somos hipócritas, pois na realidade tapamos “o sol com a peneira” e não tratamos com profundidade nenhum dos temas ditos sociais. É tudo cortina de fumaça para manter o povo na alienação profunda e inércia total.

    Precisamos sim, de um verdadeiro choque de gestão, capaz de valorar e valorizar os educadores, motivando-os, deixando-os funcionar realmente como educadores e formadores da cognição, volição e personalidade daqueles que em tese são o futuro do país.

    Caso contrário, estudar para quê???

    Afinal as falcatruas, maracutaias, vender o corpo, traficar drogas, etc… No Brasil atual, VALE A PENA!!!

    Afinal as leis estão cada vez mais brandas, por não haver presídios e nem uma política de ressocialização. Bandidos na cadeia só os de “margarina” – veja os vários exemplos que temos!!!

    É muito triste admitirmos tudo isto, mas o pior é continuarmos fingindo que nada disto é verdade! E se assim o fizermos, continuaremos aumentando os problemas.

    Ernesto Donizete da Silva
    PSDB/SANTOS

  3. Dentre as poucas coisas que temos certeza que afetam a qualidade da aprendizagem é o professor: sua formação, compromisso, dedicação, estímulo. Um dos problemas mais difíceis de resolver é mudar o conceito do que é importante na formação inicial do professor. As “Faculdades de Educação” têm uma visão teórica, conceitual. Os alunos aprendem o que Vigotsky pensava mas não aprendem o que fazer diante de uma turma com 40 alunos que precisam aprender matemática. A formação teórica é importante também mas não pode ser só ela. Precisamos criar no Brasil escolas com o viés de um “Teacher´s College”, que foca na formação do professor, não apenas do pesquisador. E olhe que estou falando das melhores Universidades públicas brasileiras mas é preciso lembrar que nossos professores são formados majoritariamente em faculdades privadas, noturnas, de baixa qualidade. Portanto, formação e carreira do professor estão no centro do problema. Aumentar salário em si não resolve o problema no curto prazo, mas no médio e longo prazos, uma carreira atraente trará pessoas que hoje fazem opções profissionais diferentes, por causa da desvalorização da profissão docente.
    Quanto à expansão do ensino superior, qualquer discussão/solução que ignorar a qualidade da educação básica é superficial.

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