Blog do Raul

‘Cracolândia’ impressiona agora ?

Apu Gomes, da 'Folhapress', registra degeneração humana
Antes da ação da Polícia Militar paulista, na região central da Capital conhecida como cracolândia, parece que todo mundo sabia da sua existência, mas não se impressionava porque não cruzava por aqueles caminhos. Bastou a presença do Estado, enfiando o dedo na ferida dessa chaga da sociedade paulistana, para surgirem opiniões contrárias e uma súbita solidariedade àquela espécie humana em degeneração, sem oferecer alternativas para a sua recuperação.

O governador Geraldo Alckmin explicou que nos últimos dias, 878 pessoas foram encaminhadas para abrigos, 212 para serviços de saúde e 80 internadas voluntariamente. Disse também que desde o início da operação central, 149 pessoas foram presas, 106 por delitos diversos e 43 foragidos.?

O PT se apressou em rotular essa operação de desastrada, quando o maior desastre é manter o Estado e os seus governos impotentes e sem a confiança da sociedade. Impossível continuar fingindo que esse cenário não existe e ainda topar com voluntários para um churrasco oba-oba de solidariedade contra a ação policial.

Percebe-se logo, que o Estado tirou do imaginário dos cidadãos, que já tiveram uma vida comum nas moradias da região, os marcos divisórios. O clima de tensão e guerra instalados revive uma São Paulo intimidada por muitos anos sem expectativa de se recuperar.

Hoje há cracolândias em cidades de todos os tamanhos. O ambiente não é diferente do descrito pelos principais meios de comunicação do país, sobre a São Paulo que se encontra desafetada de um pedaço cruel para a humanidade e a cidadania: “atravessar a multidão de “noias” é assustador. A todo momento, rapazes com cachimbos na mão oferecem crack. O cheiro forte provoca tosse e embrulha o estômago. Há pessoas rindo e outras chorando. Crianças, idosos e deficientes físicos acendem seus cachimbos simultaneamente” (O Estado de São Paulo).

A presidenta Dilma Rousseff esperou um ano para materializar a disponibilidade de R$ 4 bilhões em aumento da oferta de tratamento de saúde aos usuários de drogas, enfrentar o tráfico e as organizações criminosas, e ampliar ações de prevenção. Ora, essa dinheirama terá o mesmo destino das verbas que sempre anunciam para prevenção das enchentes e desmoronamentos urbanos?

Esse momento está sendo muito propício para que o tema seja pautado não apenas enquanto há imprensa testemunhando o dia a dia da polícia e dos representantes das áreas da saúde e da assistência social, dos governos Estadual e municipais. Julita Lemgruber, socióloga e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, é uma das defensoras da ideia de que está mais do que na hora de encarar a questão das drogas como problema de saúde pública e de regulação social, não de Direito Penal.

Julita Lemgruber enfatiza que o Brasil tem a quarta maior população prisional no mundo. E que o número de presos triplicou em 15 anos, basicamente como resultado do endurecimento da legislação na área de drogas, e a violência provocada pela guerra às drogas faz vítimas diárias nas grandes cidades. O que estamos esperando para discutir, com seriedade, a legalização das drogas e aceitar que os cidadãos têm o direito de decidir sobre suas vidas privadas, desde que não causem dano aos outros?

Enfim, o momento exige a execução de políticas públicas por meio de ações planejadas e coordenadas, para se ter conseqüência. A Segurança Pública age para reincluir o território à responsabilidade do Estado. Impressionam as ações da Polícia Militar de São Paulo, contra traficantes e usuários de crack no Centro da Capital? E antes, a situação degenerativa das pessoas impressionava?

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2 comentários em “‘Cracolândia’ impressiona agora ?”

  1. Alessandro Padin

    Raul,

    Acho que há outra guerra além desta travada contra o crack. É a guerra midiática, que o PSDB não enfrenta. Ao ignorar o recado do FHC, naquele famoso artigo de meses atrás, o partido se mantém distante das camadas mais conservadoras da sociedade, que está órfã depois que a direita foi trucidada como queria o Lula. Aqueles que defendem ações do tipo não enxergam no PSDB o grande condutor do processo, porque o partido é suave no enfrentamento daqueles que usam e abusam de temas como esse com fins eleitoreiros.

  2. Paulo Matos

    Foi uma ação a curto prazo essa na cracolândia. É o Estado mandando a PM cometer um genocidio e tortura em cima dos dependentes, e a maquina opressora continua.
    Os reacionários que assiste na TV acha que tá resolvendco tudo, auando na verdade, não passa de ações a curto prazo e genocidio dos agentes publicos, aquilo que a imprensa não mostra, inerente a reintegração de Pinheirinho. São Paulo está carente de ações sociais por parte do Estado, para cortar o mal pela raiz.

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