Herança de Lula: fora Dilma?

A crise está instalada no governo federal. As revistas semanais reproduzem os efeitos da herança subterrânea de Lula e as segundas-feiras funcionam como choque de realidade num governo técnico-político que mais parece uma barata tonta. Primeiro foi a descoberta do milagre da multiplicação de ganhos com consultoria de Antônio Palloci. Depois a lambança no Ministério dos Transportes, com o superfaturamento de obras e corrupção no Dnit – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Agora o Ministério da Agricultura perde o véu com os negócios em licitações na Conab – Companhia Nacional de Abastecimento e na própria pasta. Não faltam argumentos para sugerir um bom combate à corrupção, com uma faxina de verdade, desta feita incluindo a desgovernabilidade da presidente Dilma Rousseff (PT). O momento é pálido para os herdeiros de Lula, mas eles tergiversam comemorando os resultados do Datafolha sobre os sete meses do atual governo.

Mesmo atolada em terreno pantanoso, de onde borbulham diariamente novas denúncias de corrupção no seu ministério, Dilma não consegue disfarçar a sua falta de surpresa com os acontecimentos. Afinal, a sua conivência com o passado recente garantiu-lhe o carimbo no passaporte eleitoral para presidir o Brasil. E é fácil de contabilizar quem terá a maior parcela de perda com tudo isso: o povo brasileiro.

O espetáculo é deprimente e deseduca pelo cinismo. Não será exagero comparar os fatos de hoje como o remake do “mensalão”, em que os partidos de oposição optaram por demonstrar que política se faz sem golpes e ataques abaixo da cintura. Naquela ocasião, antes da primeira reeleição do PT, em 2005-2006, houve uma preocupação com a preservação da ordem institucional, rejeitando radicalismos que são ruíns em qualquer situação. Foi também uma resposta do PSDB às ações do PT, que três meses após a posse de FHC no seu segundo mandato, em 1999, foi às ruas gritar palavras de ordem com “Fora, FHC!”.

Não havia em 1999 motivos que justificassem aquela conduta do PT, que precisava produzir para a mídia um governo paralelo e mostrar que se opor ao governo do PSDB era mais importante que apoiar as suas medidas que estabilizaram o país para Lula em 2003. Essas atitudes reacionárias não se concentraram apenas nas passeatas luloPTistas de então; no Congresso Nacional seus deputados federais e senadores votaram contra o Plano Real, o Fundef – Fundo de Desenvolvimento da Educação e Valorização do Magistério, a LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal etc.

Compreendendo a realidade dos fatos atuais e os antecedentes históricos, inclusive sobre o papel da oposição que deve combater o desgoverno e a corrupção, não vejo outro caminho senão o de alertar da tentativa governista de massacrar parlamentares contrários, dificultando e praticamente selando a sorte de se compor CPI’s para investigar tantos desvios éticos e morais do governo Dilma Roussef.

Para começar é preciso lembrar que esses acontecimentos comprovados fazem recordar o preço que o país pagou e vem pagando com a continuidade do PT no governo federal. Lula não se cansava de exigir que os seus ministros e assessores devessem executar ações sem se importar com os órgãos fiscalizadores, como o TCU – Tribunal de Contas da União, por exemplo. Apesar disso, o PAC – Programa de Aceleração dos comícios ou da campanha eleitoral PTista teve uma baixa execução de ações. Não tenho dúvidas, que suficientemente suculentas para os que se beneficiaram da explosão bilionária dos custos das obras de tapa-buracos nas estradas, principalmente.

Muitos analistas entendem que a presidente Dilma dá um exemplo com a sua “faxina” nos órgãos sob suspeita, cortando na carne aliada. Contudo esse lixo não está sendo reciclado e saneado, como atitude educativa. Observamos todos que essa sujeira governista está indo para debaixo do tapete, como o feito de uma faxineira desqualificada para a função.

O #ForaFHC nos anos 90 foi injusto. Mas hoje, com todos os indícios e comprovações decisivos favoravelmente para a re-reeleição do PT no governo federal, longe de se autoflagelar por uma sensação honesta e natural de golpismo ou revanchismo, os partidos de oposição – PSDB, PPS e DEM – poderiam considerar, desde já, a palavra de ordem: #ForaDilma! Ou não?


Nota: quando escrevi o artigo ainda não se tinha notícia do novo escândalo no Ministério do Turismo, que apenas serve para reforçar as ideias e posições descritas aqui.