Era das chuvas…
As chuvas que têm castigado a Capital paulista nos últimos dias, resultando no caos de avenidas e bairros, com mortes e prejuízos materiais incontáveis assustam. No meio das manifestações de solidariedade com as comunidades atingidas coleciono opiniões políticas sobre a responsabilidade pelas enchentes e não faltam referências históricas em relação ao posicionamento dos antecessores de José Serra e Gilberto Kassab, quando aconteciam sob os seus governos. Para tocar nesse tema de maneira séria e responsável é fundamental considerar que, a exemplo de outras políticas públicas de urbanização, saneamento e melhoria da qualidade de vida, a solução para o enfrentamento das consequências das chuvas não pode ser vista apenas como a tarefa similar a enxugar gelo pelos governantes.
São Paulo funciona como uma vitrine do Brasil e qualquer fenômeno que a assole repercute em todo o mundo, para o bem ou para o mal. Lógico que por estar na berlinda política, pelas perspectivas das disputas eleitorais deste ano, a intensidade das chuvas passa a ser relacionadas mais com as deficiências de décadas na infra-estrutura da cidade, do que com os fenômenos naturais, porque o planeta está mais quente e propício ao poder do El Niño, por exemplo.
Basta o registro de novas e intensas chuvas para ter um cenário propício a uma enxurrada de críticas corretas sobre o assoreamento dos córregos e rios que cortam a maior cidade do país. Acresce-se a isso o questionamento sobre o destino dos recursos vultosos que sempre são anunciados pelos governos, cujas obras acontecem mas parecem insuficientes dada a complexidade do desordenamento urbano de São Paulo e de quase todos os municípios brasileiros quando são castigados por chuvas e suas decorrentes enchentes.
Não leio uma linha acerca da importância de investimentos paralelos em ações sócio-educativas-ambientais que poderiam resultar em medidas preventivas com o envolvimento da própria população que paga pela ignorância e pela falta de capacidade de oferecer a sua contribuição. Quando a pessoa descarta os seus resíduos domésticos em um córrego próximo da sua moradia, talvez não consiga imaginar que essa atitude vai contribuir de maneira crescente para o assoreamento dos cursos naturais das águas.
Repito que sobra a idéia de que as autoridades cuidam da infra-estrutura urbana como se tivessem praticando o esforço repetitivo de enxugar gelo, dado que passada essa temporada outras prioridades tomam a frente do que aflige técnicos experientes em projetos de drenagem e macrodrenagem das cidades. Não é possível pensar nas ditas ações preventivas ao advento das chuvas, apenas quando elas geram suas maiores consequências. Sem educação e comunicação eficiente da necessidade e importância dessas obras básicas, poucos entenderão os seus resultados e atirarão a primeira pedra na hora do estado de atenção ou calamidade. Alguém já prestou a atenção no quanto essencial é o Programa Córrego Limpo, exeutado na Capital pelo Governo do Estado, através da Sabesp, em parceria com a Prefeitura local?
Vejam, pois, as políticas municipais de uso e ocupação do solo. Concentrem-se no planejameto e execução de politicas públicas para a urbanização de áreas ocupadas por milhares de pessoas e para a construção de moradias dignas em áreas saneadas e seguras. Em todo lugar deste país há um estudo numa gaveta à espera de se tornar um projeto viável. Solidariedade nessa hora também significa trabalhar em sintonia com todas as esferas do poder público, com transparência e informação à população, para reduzir cada vez mais as imagens comuns do rescaldo e do recolhimento das suas vítimas.