Blog do Raul

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Sabe o que é disruptivo?

Interrompe curso natural.

Ouvi pela primeira vez o termo “disrupção”, quando acompanhava palestra de uma de minhas filhas a estudantes e trainees da área de marketing, durante a pandemia. Juro que nunca ouvira antes e me apressei a buscar o significado no google e leituras específicas para ter uma ideia de onde ele se aplicaria.

Não é novo, mas pode-se dizer que é uma palavra da moda, sempre que se observa uma inovação em um produto ou serviço geradores de um novo mercado e que desestabilizam os concorrentes que antes o dominavam. Essa palavra está por trás das mudanças no mundo empresarial, na forma como consumimos produtos e serviços e no sucesso de empresas top do ramo tecnológico.

O termo foi batizado pelo professor Clayton Christensen, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, em um artigo publicado em 1995, que no bom português o seu significado está associado ao ato de romper, de interromper o curso natural, de gerar uma ruptura. A etimologia da palavra disrupção vem do latim disruptio.onis, ou seja, fratura, quebra.

Encontrei nessa pesquisa rápida para compartilhar aqui, que “disrupção” é substantivo feminino, que pode ser também perturbação, no sentido figurado, ou o salto de uma faísca entre dois corpos carregados de eletricidade. Mas com todos esses significados e significantes, o termo é usado coloquialmente mesmo no mercado empresarial e onde vivem os verdadeiros gestores do mundo globalizado.

Sempre me lembro dos tempos em que oferecíamos alguma resistência à globalização, teoricamente ou com algumas mobilizações mundo afora. A globalização remonta a era das grandes navegações e descobertas no século 16, quando houve o registro das crescentes trocas comerciais entre nações. Seu significado está associado à expansão econômica, política e cultural em todo o mundo.

De que forma? Com a aculturação, fundindo culturas, em decorrência do contato continuado, provocando a modificação cultural do indivíduo, grupo ou povo que se adapta a outra cultura ou dela retira traços significativos. Criação de blocos econômicos, expansão do capitalismo, presença de multinacionais, maior propagação de conhecimentos.

Nos anos 1990, os antiglobalistas propunham alternativas ao regime econômico capitalista neoliberal e aos blocos comerciais como o NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte e a ALCA – Acordo de Livre Comércio das Américas, com o capitalismo keynesiano (protecionismo e equilíbrio econômico, intervenção estatal na economia, benefícios sociais etc), o socialismo, o comunismo, a anarquia e o fascismo, entre outras propostas mais inovadores, centradas nas necessidades da sociedade para combater as alterações climáticas, os danos ao meio ambiente e aos direitos humanos etc.

Contextualizando, para os nossos dias, em que o mundo se globalizou, por causa principalmente das inúmeras tantas facilidades tecnológicas, veja agora que esses horizontes não estão restritos ao planeta Terra, quando conhecemos as intenções e os planos do comprador do Twitter, Elon Musk, que se tornou a pessoa mais rica do mundo, em 2021, segundo a Bloomberg; mas no ranking da Forbes, em 2022, Musk ocupa o segundo lugar.

Ele é dono também da Tesla, fabricante de carros elétricos, e da Spacex, a primeira empresa no mundo a vender um voo comercial à Lua (marcado para 2013, mas não aconteceu) e a desenvolver um projeto multiplanetário, específico para a colonização de Marte, e para o desenvolvimento seguro da inteligência artificial.

Voltando, pois, à “disrupção”, vale trazer à reflexão as também chamadas “tecnologias disruptivas”, que consideram o estágio da qualidade inferior das inovações em relação aos produtos líderes do mercado, e que ganham terreno e prevalecem, globalizam. Como o Youtube, que abriu oportunidade aos vídeos caseiros e surpreendeu estúdios e produtoras; as câmeras digitais, desdenhadas pelos fotógrafos profissionais pela qualidade ruim das realizadas por amadores; as plataformas Netflix, Now, Amazon etc, que permitem o acesso online a filmes, documentários e séries, colocando uma pá de cal nas locadoras de vídeos, e por aí vai.

A internet tem sido um terreno fértil para reviravoltas e é humanamente impossível reagir contra os que nos batizam assertivamente de “metamorfoses ambulantes”. Eu prefiro, “do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, né Raul Seixas, meu xará!?

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Nem tudo é lixo nas campanhas eleitorais

Democracia por suas mãos.

Desde o ano passado as eleições gerais de 2022, marcadas para o dia 2 de outubro, estão no radar dos políticos, partidos, governos e dos simplesmente candidatos de primeira viagem. O Congresso Nacional aprovou e o presidente Jair Bolsonaro ensaiou um veto, mas assinou de acordo com a previsão de R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral. E ainda há a chance de crescer mais R$ 800 milhões, atingindo a marca de R$ 5,7 bilhões, como nunca na história.

Antes as campanhas podiam receber doações de dinheiros das empresas brasileiras, mas havia alguns senões. Uma boa parte da sociedade, interessada no funcionamento dessas campanhas, atribuía que os eleitos priorizavam os compromissos com as empresas que os patrocinavam, ao invés do interesse público em primeiro lugar. Mas havia também a prática de partidos e candidatos que tocavam a sua contabilidade com um caixa 2, usando uma boa parte dos recursos financeiros em proveito próprio.

Dessa situação simples e objetiva, nasceu a defesa do fim das doações privadas e do uso de dinheiro público para pagar os santinhos, programas de rádio, TV e internet, cabos eleitorais etc., porque assim a política teria eleitos com os olhos voltados somente para as causas públicas. Houve uma expectativa que não se concretizou até agora: com dinheiro público e a fiscalização das prestações de contas pelo Tribunal Superior Eleitoral, as campanhas milionárias deixariam de existir e a renovação de candidatos oxigenaria a política de uma forma geral.

Fica a lembrança, ainda nestas reflexões, de que as pessoas físicas continuam podendo doar para as campanhas, desde que observem os limites dos seus ganhos durante o ano anterior às eleições, porque a Receita Federal está atenta e todos os nossos dados estão cruzados por ela. E há ainda a possibilidade de as contas de campanha contabilizarem doações dos próprios candidatos, nesse caso sem um limite pré-estabelecido.

Perceba que há ainda uma situação de desigualdade no ar. Explico: os partidos são obrigados a reservar 30% do seu fundo eleitoral para as candidaturas de mulheres, que não recebem repasses com o mesmo valor. O prestígio político das candidatas, somado ao interesse de alguns candidatos majoritários (a presidente, governador ou senador) ou candidatos proporcionais (a deputado estadual ou federal), norteiam esses investimentos eleitorais. Enquanto os homens-candidatos, ocupantes de mandatos, levam vantagem sobre os marinheiros de primeira viagem ou daqueles que já tentaram vitória e ficaram na suplência, mesmo colaborando, imensamente às vezes, na soma de votos para as legendas partidárias.

Para resumir a história, ainda não houve no Brasil uma reforma política de verdade, abrangente, para democratizar a democracia existente no país, com uma renovação de pessoas e até de modos de fazer política. Parecerá contraditório dizer que em 2018 houve um passo importante, se observarmos a quantidade de caras novas que governos, Congresso Nacional e assembleias legislativas estaduais e distrital trouxeram.

A resposta está no guarda-chuvas de uma “nova política”, sustentada no discurso da negação dos que vinham se elegendo e se reelegendo até então, e do uso das redes sociais na internet, que serviram para dar maior evidência também nas eleições aos influenciadores digitais, que tem opinião formada para tudo e que raramente se aprofundam em alguma coisa. Resta buscar e ver a atuação da maioria desses nos seus mandatos, para então avaliar se repetiria neles os seus votos, que muitos ainda não entenderam, votos que valem mudanças.

Ora, se essas mudanças não acontecem ou não aconteceram como esperado, 2022 está completando o seu segundo mês e nele reside a chance de escolher melhor, não aquele que parece mais ativo nas redes e lhe promete mudar o mundo, mas a pessoa-candidata que realmente tem um pensamento mais claro e objetivo do que pode fazer por todos que representar. Não cabe negar o direito de votar porque se frustrou com os resultados dos seus escolhidos, vale sim melhorar a sua consciência e os seus sentidos.

Não parece, mas as campanhas eleitorais deste ano já estão nas redes sociais e em todas as mídias de comunicação. Não é possível mais encontrar nas ruas a publicidade eleitoral, que na festa da democracia (as eleições) enfeitava e nos despertava para o clima da mudança, para a hora do voto. A reação aos descaminhos da política no Brasil mudou o olhar dos eleitores até para esses enfeites: tudo é lixo, barulho, ladroagem.

É prudente conversar mais e a respeito, começando em casa, estendendo para as raras oportunidades de lazer em grupo, nas suas redes sociais e nos contatos com amigos mais próximos, inclusive no ambiente de trabalho. Não pense pronto, como se os resultados futuros já estivessem definidos. Só lhe peço que fique atento, antes de se precipitar e chamar toda política de lixo, pois quem ama esse comportamento são justamente os maus políticos. Essa reação afasta as boas pessoas e diminui as chances de eleição de quem pode orgulhar você mais cedo do que você pensa.

Generalizar faz mal.

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 19 de fevereiro de 2022.

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Quem não vê o BBB?

Pela audiência o BBB é a maior atração da TV

Fui buscar justificativas científicas sobre o sucesso de público do reality show BBB – Big Brother Brasil, que chega à sua 22.ª edição pela TV Globo. Encontrei o que esperava: o povo ama programas dessa natureza porque lhe passa uma sensação de prazer e saciação da curiosidade.

Em resumo, dar uma passada básica pela sala de TV e assistir ou ouvir esse programa, assanha um certo “voyeurismo”. Não o transtorno propriamente dito, cuja tendência é observar, às escondidas, cenas íntimas ou eróticas levadas a efeito por outras pessoas com o fim de obter prazer sexual. Somos chegados a assuntar a vida dos outros, ouvir conversas além das paredes. Quem não age minimamente assim, que atire a primeira pedra.

Ora, em edições anteriores à que está em curso atualmente, houve um caráter educativo por conta desse extrato social de brasileiros, atuantes como se estivessem numa cabine para uma pesquisa qualitativa de opinião. O debate sobre comportamento humano e costumes da sociedade atual é travado em mosaico, de modo que é possível a identidade e as comparações dos centrados no programa e os confinados na casa cênica.

No ano passado, especialmente, quando a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) entrava no seu segundo ano e as ações restritivas para a movimentação das pessoas fora de casa estavam bem mais fortes, a audiência explodiu na estreia: cerca de 43 milhões de brasileiros estiveram ligados na emissora.

Os efeitos disso, neste ano, para as contas da emissora e nos trends da rede mundial de internet são possantes. Em termos financeiros, por exemplo, a previsão de faturamento do reality gira em torno de R$ 690 milhões, um recorde de receitas.

Na internet, em especial nas redes sociais, Twitter e Facebook, o BBB 22 lidera na maior parte do tempo, entre os assuntos mais buscados e referenciados. Isso mostra o fenômeno que, conforme o Ibope, recente, para ilustrar esse olhar sobre o assunto, entre a segunda e a terceira semana de exibição, o BBB 22 ganhou 1 milhão de telespectadores na TV, atingindo a marca de 79 milhões de pessoas ligadas no canal.

Afora os dados da audiência, que repetem edições de Big Brothers em vários países, com a mesma receita de acesso às câmeras na vida das duas dezenas de participantes, em média, pessoas normais mescladas de artistas e célebres, durante 3 meses, 24 horas por dia, sem interrupções, podemos até dizer que é uma atividade sócio-cultural, reprodução do nosso cotidiano.

Os palavrões são fluentes, sem se importar muito com o discernimento da assistência. Faz parte, hoje virou normal um palavrão entre os adjetivos. Há reações resistentes ao programa por causa disso, quando não pelo preconceito à diversidade. A moda ditada é dos patrocinadores, que igualam todos em banhos de loja, gerando uma aparência globalizante. Não sobressaem a condição social e a econômica dos confinados.

Mas o politicamente correto censura as derrapadas, filtrando a consequência do lado de fora da casa, como aconteceu sobre a forma do cabelo black power do professor João Luiz, no BBB 21, que quase enterrou a carreira do cantor sertanejo Rodolffo. A comunicação age em nossos sentidos, sem perceber o quanto somos manipulados.

Essa vitrine exibe as fraquezas humanas. Hoje se percebe um esforço para uma presença de cena planejada, parecendo um roteiro combinado. Sabe-se que desse reality, uma parcela ganha a condição de celebridades, com ou sem contratos de atuação na própria TV Globo. Se houver talento e comprometimento, essa oportunidade turbina carreiras de influenciadores digitais, na propaganda, moda e, raramente, na política. Aliás, para essa perspectiva, assistindo ao programa no todo ou em partes, nos últimos anos, não há um pio.

Enfim, os exemplos de remanescentes das 21 edições do BBB, mais do que os R$ 1,5 milhão do prêmio ao vencedor final, estão por aí, participando desse novo normal como todos nós. Não acredito na fala daqueles que dizem que não assistem ao Big Brother. Afinal, quem no mundo atual gosta de ficar sem assunto, especialmente do momento, quando os acontecimentos confinados estão reverberando do nosso lado, falando sobre nós mesmos, da nossa realidade, no alcance do tamanho dos nossos espaços?

Artigo publicado no site do “Jornal da Orla” de Santos, espaço de colunistas, Um Olhar Sobre o Mundo, em 11 de fevereiro de 2022.

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Eu, manipulado!?

O esboço da reação lembra Davi versus Golias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No último fim de semana, assisti ao filme-documentário “Dilema das redes”, na plataforma Netflix, que denuncia o mau uso de nossos dados pessoais pelo Google, Facebook, Twitter, Instagram e várias outras mais. Há depoimentos de designers, engenheiros de software e programadores do Vale do Silício, que ajudaram a construir esse sistema que hoje nos controla. São os chamados algoritmos em ação, interferindo em eleições, movimentos sociais, economia, se aproveitando de nós, pessoas tratadas como máquinas de compras e comportamento.

Não há inocentes nessa área, mas com certeza muitos telespectadores vão achar que, fazer parte de uma rede social e marcar de acordo com aquelas condições de contrato de acesso que consentimos sem ler, é como pactuar com o Diabo. No mesmo espaço em que compartilhamos fotos de nossos netos felizes, a composição de um prato de comida, há uma inteligência programada para mexer com os seus instintos.

Parecemos ingênuos, porque no fundo temos preguiça diante do ritmo que as novas tecnologias nos proporcionam, a pretexto de facilitar as nossas vidas. Movimentos, mundo afora, sempre denunciaram esses perigos para a privacidade dos cidadãos. Carole Cadwalladr, redatora do periódico inglês ‘The Observer’, relata no “Privacidade hackeada”, que também assisti na sequência do “Dilema das redes”, a existência de uma “força tenebrosa que nos conecta globalmente, e flui pelas plataformas tecnológicas”. O acesso à transparência, no caso dos filmes sobre o mesmo tema, serve apenas aos poderosos.

Uso as redes sociais não porque são modinha global. Tenho amigos que ainda não possuem um aparelho de telefone celular ou ignoram as redes sociais porque alegam que não precisam delas nas suas atividades, inclusive profissionais. Mas aí há um dilema: uma parte significativa desses meus amigos são da área das comunicações, consumistas da imprensa tradicional – papel, rádio, TV e portais correlatos, e hoje é praticamente impossível atuar nela sem o uso mínimo das ferramentas digitais e redes virtuais.

Se você tiver um mínimo discernimento e refletir sobre o que busca efetivamente nas redes sociais, para o seu uso pessoal e nas atividades laborais, de trabalho, o filme “Dilema das redes” vai ajudar a se localizar no contexto. Alerto que, em termos de conhecer os níveis de manipulação a que as pessoas em rede se sujeitam, assistindo a esse filme, você pode até resolver diminuir o seu tempo de conectividade diária.

Carole provoca os que chama de “deuses do Vale do Silício” – Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg (Facebook), Larry Page e Sergey Brin (Google) e Jack Dorsey (Twitter) – com uma bateria de perguntas, a partir da constatação: “Porque se propuseram a conectar as pessoas e estão se recusando a reconhecer que essa mesma tecnologia está agora nos afastando. E o que não parecem entender é que isso é maior do que qualquer um de nós. E não é que isso é maior do que vocês e é maior do que qualquer um de nós. E não é sobre direita ou esquerda, ficar ou largar, ou Trump ou não. É sobre se é realmente possível termos novamente eleições livres e justas”. E dispara: “É isso o que querem? É assim que querem ser lembrados na história? Como servos do autoritarismo? E a minha pergunta para todos os outros, é isso que queremos? Ficarmos sentados brincando em nossos telefones até a treva chegar?”, sentenciou e redatora do “The Observer”.

Não deixem de ver o filme “Dilemas da rede”, complementando como eu, com “Privacidade Hackeada”, também na Netflix, que detalha em parte o que a empresa de dados Cambridge Analytica fez para interferir na campanha eleitoral de 2016, nos EUA, quando Donald Trump se elegeu. Inclua no seu cardápio, “Rede do ódio”, que singulariza a manipulação através de um jovem familiarizado com as fake news e a destruição de reputações. Não se iguala ao dois que destaco neste post, mas que poderia tornar uma trilogia do momento, para se assistir e tirar cada um as suas próprias conclusões. Certamente o tema não se esgotará nessas três versões.

Mas, por falar em conteúdos tenebrosos, manipuláveis, não será surpresa se o raciocínio teórico conspiratório começar a achar que a testagem positiva de Donald Trump e a sua esposa para o Covid19, for comparada à facada em Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018 no Brasil. Enfim, recomendo que assistam aos filmes e depois pensem melhor antes de sair curtindo e distribuindo likes em fake news ou anúncios nas redes que você participa “inocentemente”. Cuidado, contudo, porque alguém está de olho em você. Na sua imagem, comportamentos, mobilidades. No que pensa. Na maioria das vezes querendo que você passe a querer consumir…

 

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A globalização dos boatos

Quem disse a você é uma fonte confiável?

Hoje em dia todo mundo sabe o significado de fake news, assim como desde a antiguidade os nossos antepassados testemunharam que verdade e mentira se misturavam nos mais diversos contextos da vida em sociedade. Esses fatos e versões, reais ou inventados, influenciam a nossa percepção e opinião, aguçando mentores e interesses a lançarem mão desses recursos no jogo baixo e covarde.

Vê-se que essa questão, nos meios de comunicação cada vez mais acessíveis, é imperativa em todos os níveis. Outro dia li uma associação do consumo dos boatos aos menos educados ou formados. Ora, o pecado a meu ver vincula-se à falta de uma orientação e consciência da sociedade sobre a origem das versões, que superam os fatos ou se criam sustentadas no nada apenas para alcançar algum tipo de vantagem.

O mundo é competitivo e quem tem uma formação melhor pode mais. Entendo que se as condições fossem igualitárias e menos sujeitas às espertezas, certamente haveria mais justiça e respeito entre os desiguais. O historiador francês Paul Marie Veyne registrou no seu ensaio “Os Gregos acreditavam em Seus Mitos?”, que “os homens não encontram a verdade, a constroem, como constroem sua história”.

Motivos não faltam para a criação de notícias falsas e espalhar e reforçar boatos, com o interesse de atrair a atenção das pessoas. Com a internet, além de ampliar o número de acessos aos sites, são reforçadas as estratégias de se estabelecer um pensamento coletivo, desconstruindo personalidades, reputações, para o prejuízo da integridade de pessoas comuns, celebridades, políticos, marcas e empresas.

Nesse contexto, urge orientar a partir dos anos iniciais das crianças nas escolas, além de evitarem doces e presentes de estranhos e interagir com tarados e pessoas anormais em rede, que a educação valorize a conectividade com redes confiáveis. Os grandes portais de imprensa, editoras e dirigentes da Educação deveriam criar um selo de qualidade para quem trabalha com a verdade.

Assim vamos contribuir para tornar as próximas gerações menos superficiais e mais preparadas para os desafios do futuro, em sintonia com a realidade, sem mais depressão, complexo de inferioridade, bullying etc.

Acho apropriada, nesse momento de buscas e descobertas, a célebre frase de Abraham Lincoln, de que “você pode enganar algumas pessoas todo o tempo. Você pode também enganar todas as pessoas algum tempo. Mas você não pode enganar todas as pessoas todo o tempo”. Que se valorize o papel do jornalista, dos escritores e, fundamentalmente, dos professores, para diminuir a influência dos boatos na formação de uma sociedade intelectualmente sã.

Portais de notícias no mundo criaram setores para checagem de informações e no Brasil existem agências chamadas fact-checking, para notícias suspeitas. Respondo aos amigos de Facebook, Twitter e WhatsApp, que o ideal é duvidar sempre e saber em outros meios. Eis um processo educativo que, na medida em que cada cidadão fizer a sua parte, compartilhando apenas aquilo que tem certeza de que é verdade, as fake news estarão fadadas ao ostracismo, como o recurso da mentira e da corrupção dos valores humanos essenciais.

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Poesia em Tudo – 2016

Livro de Poesia: Poesia em Tudo

A Realejo Livros difunde o poeta Raul Christiano como uma figura irrequieta e envolvente, no livro ‘Poesia em tudo #AmorAosTuítes’. Justifica o editor que essa essência transborda nas linhas poéticas desta obra, antagônica diante do passado marcado pela geração do “mimeógrafo”, junto com companheiros do Grupo Picaré, de poesia e artes, para uma linguagem contemporânea, high-tech. Raul se apropriou tão naturalmente a partir do advento das comunicações instantâneas virtuais e suas redes sociais de relacionamento na Internet. O artista visual, poeta e arquiteto Eber de Gois ilustra essa obra, que vale a pena ler, curtir e compartilhar…

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Twitter, cadê você ?

Uma das redes sociais mais badaladas da Internet hoje em dia, o Twitter, saiu do ar por volta das 23h30 desta segunda-feira (14). Busquei informações no google e em outros sites e parece que a boataria de que o Twitter sofreria uma pane geral nos próximos dias, desta vez teve razão de ser. Faz uma hora e meia que não consigo acessá-lo e, a exemplo das vezes anteriores, ao digitar o seu endereço de acesso www.twitter.com aparece aquela já famosa imagem da baleia com o aviso “Twitter is over capacity” (excesso de capacidade do Twitter). Então comecei a imaginar como seria a vida sem o Twitter…

Coube lembrar imediatamente a letra daquela composição do Arnaldo Antunes, intitulada “Longe”, que descreve uma situação muito parecida e “aflitiva” com o pesadelo de viver sem o hábito de tuitar: “Onde é que eu fui parar? / Aonde é esse aqui? / Não dá mais pra voltar / Por que eu fiquei tão longe? / Longe… / Onde é esse lugar? / Aonde está você? / Não pega celular / E a terra está tão longe / Longe… / Não passa um carro sequer / Todo comércio fechou / Não tem satélite algum transmitindo / notícias de onde eu estou / Nenhum email chegou / Nem o correio virá / E eu entre quatro paredes sem porta / ou janela pro tempo passar / Dizem que a vida é assim / Cinco sentidos em mim / Dentro de um corpo fechado / no vácuo de um quarto no espaço sem fim / Aonde está você? / Por que é que você foi? / Não quero te esquecer / Mas já fiquei tão longe / Longe… / Não dá mais pra voltar / E eu nem me despedi / Onde é que eu vim parar? / Por que eu fiquei tão longe? / Longe, longe, longe, longe / Longe, longe, longe / Seis, cinco, quatro, três, dois, um.

Por onde os meus amigos, conhecidos, desconhecidos, fakes ou trolls, que passaram a interagir comigo, desde que criei o meu login www.twitter.com/raulchristiano em agosto de 2008, voltarão a se encontrar comigo? Quem sabe o meu amigo e colega de pós-graduação na ESPM, o publicitário Adriano Brandão, que me orientou acessar o Twitter pela primeira vez, tenha uma receita que substitua esse quase vício de contar o que estou fazendo, pensando e querendo mudar. Por ele já me habituei ao mantra: #Educaçãoétudo #Educaçãoétudo #Educaçãoétudo ou parodiar o poeta, dizendo que tuitar é preciso, mas viver é ainda muito mais!

Pelo Twitter além de interagir mais com as pessoas, contando sobre as minhas idéias e tornando mais transparentes as minhas opiniões sobre quase todos os assuntos que movimentam nossas vidas, acompanhei também as reflexões dos meus filhos e percebi o quanto bem humorados eles se tornaram. Eles cresceram e já pontuam uma visão do mundo à sua volta, que hoje em dia é quase impossível conhecer nos raros momentos em que compartilhamos todos à mesma mesa na hora do almoço ou do jantar.

O Twitter me fez tuitar mais que blogar, que já havia se tornado um hábito diário. Virtualizando consegui olhar o mundo de uma outra forma, sem barreiras, principalmente porque quando comecei aqui, o fazia pelo prazer de confabular, chegando a imaginar que na síntese das minhas orações, mensagens, agendas, análises críticas, em apenas 140 caracteres, na prática retomaria a minha produção poética dos anos 70 e começo dos 80. Mas está cada vez mais clara a importância dessa rede e de suas ferramentas eficazes, o seu uso no dia a dia pessoal, do trabalho e da militância política.

Não posso crer que o Twitter se apagou, mesmo agora quando começo a acreditar, há quase três horas sem conseguir acessar o meu próprio perfil, que os boatos tinham um fundo de verdade. Buscando informações, achei uma nota sobre um possível “Twitpocalypse”, informando que a ameaça de esgotamento devia ao banco de dados da rede social Twitter, que suporta 2.147.483.647 (dois bilhões, cento e quarenta e sete milhões, quatrocentos e oitenta e três mil, e seiscentos e quarenta e sete) posts e que, quando esse número fosse ultrapassado, a tendência é que o sistema pararia de funcionar.

A vida é mesmo assim… quem sabe esse apocalypse seja apenas mais uma estratégia de marketing para ganhar ainda mais adeptos ou então para que possamos utilizá-lor cada vez mais, como se já não tivéssemos a idéia do quanto impossível é viver fora de uma rede social nos dias atuais. Confesso que, antes de postar estas divagações, tentei dezenas de vezes acessar o Twitter, em vão… …enquanto isso não acontece, e nem bem sei se ele irá voltar, vale a pena ouvir Arnaldo Antunes, cantando “Longe”, mas tão perto de todos nós: http://youtu.be/uoKWAiwmUes

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