Blog do Raul

Para quê CPI dos cartões corporativos ?

O quê era para ser uma resposta à sociedade brasileira, passando a limpo a questão da má utilização dos cartões corporativos durante o Governo Lula e esclarecendo as suspeitas dos atuais governistas em relação ao período FHC, o Congresso Nacional revela-se incapaz até para iniciar os trabalhos da CPI sobre o tema. Mesmo assim, não assinaria embaixo do artigo de Dora Kramer, intitulado "Solidariedade de resultados", no Estadão desta sexta (14), em que ela sugere um acordo espúrio entre PT e PSDB, para não executar uma operação de saneamento da política brasileira.

A falta de entendimento entre os dois partidos está obstruindo os trabalhos da CPI dos Cartões Corporativos. Com isso, potenciais investigados e quebras de sigilo como das contas da Presidência da República, por exemplo, estão do mesmo jeito, imóveis, sob névoas, secretíssimos. O Congresso Nacional assumiu para si uma tarefa que lhe é inerente e, como nos filmes vistos antes, está imobilizado, aumentando a perda da sua importância para o povo brasileiro.

Defendi a criação dessa CPI no início das denúncias, mas estou revendo essa posição, porque entendo que o Congresso tem outras urgências. Se não bastasse o seu imobilismo por causa da pauta de medidas provisórias, a dependência do governo pelos parlamentares é decepcionante. Literalmente revivemos a época do balcão de negócios do governo José Sarney, durante a Constituinte de 1987/1988.

Não se registra uma nova matéria para votação, se não tiver em troca a destinação de uma verba para as paróquias políticas ou de uma vaga nos ministérios. Imagina, então, um Congresso assim decidindo o futuro do país, com a mesma pressa e interesse verificados em vários momentos da crise Renan Calheiros.

O uso sem critério dos Cartões Corporativos foi confirmado pela divulgação das faturas e pela confissão dos ministros-usuários, nas compras em free-shops, tapiócas, além dos saques sem fim. Então, bastaria a um governo sério e comprometido com a transparência dos gastos públicos, reunirem esses comprovantes e enviar ao Tribunal de Contas da União, com cópias para o Ministério Público Federal e para a Polícia Federal. A Polícia, sem dúvida, chancelaria a operação de Robin Hood às avessas, porque com o uso abusivo dos cartões de crédito corporativos, houve a tomada de dinheiro do povo para os próprios bolsos e necessidades pessoais.

Não vejo razão para continuar essa farsa. A meu ver essa CPI já era. O PSDB está sendo usado nesse processo, por um PT que faz de conta que quer investigar tudo. O PSDB subscreverá um relatório sem consequências? Não acredito mais na capacidade dos parlamentares acompanharem e investigarem as ações erradas do governo. O descontrole desse processo, com a falta de entendimentos básicos entre os parlamentares nessa encenação, desmoralizará todas as CPI’s.

PSAlgum leitor deste blog tem notícias sobre os trabalhos da CPI sobre irregularidades nos repasses de recursos públicos às organizações não governamentais? O total de recursos repassados às ONG’s, entre 2001 e setembro de 2006, chegou a R$ 11 bilhões em valores correntes.

Em 2002, a estimativa era de que existiam 22 mil ONG’s no país, atuando nas mais diversas áreas, da saúde indígena e construção de cisternas no Nordeste a reforma agrária, atendimento a crianças de rua e biodiversidade. Estima-se que hoje existam 260 mil ONG’s, a maioria vivendo de repasses governamentais.

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4 comentários em “Para quê CPI dos cartões corporativos ?”

  1. Helio Campos Marques

    Noticias de investigação de desvios em ONGs não tenho.Mas se pesquisar em nossa região dá pra encontrar muita coisa. Será que interessa a investigação disso nesta época ? Muita casa iria cair…Rs…

  2. Edgar Boturão

    Alo Raul. Forte abraço.Infelizmente acho que Dora Kramer tem razão. Não creio que haja real interesse de ambos(PT/PSDB) para esclarecer nada disso. Aliás,há algum tempo defendo uma ampla revisão nas funções do poder legislativo: Congresso, Assembléias e Câmaras Municipais. A subserviência ao Executivo é inegável. Esse tipo de acordo também. É a velha história da reforma política que não vem nunca.

  3. Raul, montar cpi, é a maneira mais medíocre dos parlamentares de oposição, tentar mostrar que estão fazendo algo em benefício do País. Como também acho um absurdo tantas Ong’s , criadas somente para iludir as pessoas mais humildes e com isso tirar proveito com a dinheirama que recebem tanto da área pública ,quanto da privada. A votação do orçamento estava imperrada, bastou o Presidente abrir as torneiras, e aprovaram por unanimidade. Era esperado que os governantes aprovassem, mais acreditar que todos da oposição dissessem amém, foi demais. Até quando essa oposição vai brincar de gato que corre atrás dos ratos? Talvez até virarem situação? ??????????????????????Aguardo resposta!

  4. Amigo Raul
    Bom domingo.
    Só par tocar em um tópico que você abordou, no tocante as ONGs, quando da visita do Senador Artur Virgílio ao Guarujá, lançando-se pré candidato do PSDB Ã Presidência da República, passando por Santos para orar e acender vela no túmulo de Mário Covas, seu ídolo e referência de dignidade na política brasileira, há cerca de dois meses, fiz a seguinte pergunta ao Senador:
    “- Senador, uma vez que o Estado Democrático é o aglutinador dos três poderes nas esferas de ações sociais e econômicas, e a mais legítima representação da Nação, na aceitação e até na legalização das não governamentais, átravés de ONGs e afins, não haveria a necessidade de um instrumento institucional permanente e eficiente de inscrição,controle, fiscalização e possível intervenção na atuação
    nem sempre transparente, de grande parte das
    referidas empresas que por seus princípios deveriam buscar apenas o lucro social, a preservação ambiental e desenvolvimento do Brasil?”
    Respondeu-me o Senador que era uma constante a preocupação do Senado com muitas distorções e irregularidades nacionais e internacionais dessas Associações de interesses declarados e por esse motivo, uma CPI sobre o assunto já havia sido instaurada no Senado Federal.
    Perguntar não ofende…Não é uma ferramenta
    de prazo determinado a apuração de desvios de ações nos objetivos de ONGs e afins, para uma
    “Câmara Alta”, na representação dos princípios
    da Nação Brasileira?
    Um abraço
    Ivan Alvim

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