Blog do Raul

Estado de Alerta na Educação

Educação é uma necessidade fundamental

Se colocarmos a questão do desprezo de alguns governos pela Educação no Brasil, a resposta mais provável de todas as fontes encorpará a ideia de que governantes preferem um país de ignorantes e potencialmente manipuláveis, à uma Nação educada. Ora, se nesse momento de expectativa baixa sobre a economia, de população endividada e triste, muitos jovens e trabalhadores com algum tipo de formação educacional enfrentam dificuldades, já imaginaram sem educação?

Quando fiz parte da equipe do ministro Paulo Renato Souza (da Educação nos 8 anos do governo Fernando Henrique Cardoso) participei e testemunhei avanços importantes na organização e execução de políticas que tinham tudo para reverter o quadro de atraso educacional no Brasil. Cheguei a imaginar que os governos petistas que o sucederam, por conta dos discursos favoráveis à causa, dariam sequência com louvor, mas optaram pelo congelamento de muitos programas e ações que só serviram para retardar mais o objetivo que deveria ser a prioridade um.

Lula desdenhou em diversas oportunidades a importância dos diplomas além da sua certificação como Torneiro Mecânico pelo Senai e deixou escapar a chance histórica de usar a sua popularidade nacional, valorizando a matrícula e a escolarização da primeira infância à universidade e pós-doutorados etc. Com isso, nunca antes da história deste país assistimos a evasão escolar crescer tanto e em todos os níveis.

Agora, diante de dados do IBGE, relativos a 2016, de que mais de 1,8 milhão de meninos e meninas de 5 a 17 anos trabalham no Brasil, contrariando a Constituição Brasileira, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbem o trabalho para menores de 16 anos, salvo na condição de Aprendiz, a partir de 14 anos, o presidente Jair Bolsonaro defende o trabalho infantil, mas diz que não pretende apresentar nenhum projeto para descriminalizá-lo. E justificou sua posição de maneira simplista de querer “que as crianças sejam educadas para desenvolver a cultura do trabalho”, trabalhando desde muito mais cedo.

Essa postura, que se complementa com o desgoverno observado no MEC desde o dia 1.º de janeiro de 2019, cortando o repasse de recursos para a Educação Básica e esvaziando programas essenciais, novamente contribui para aumentar a evasão escolar e, como o trabalho infantil é ilegal, promove uma distorção para o futuro sem formação, desqualificação e salários menores.

Chegou a hora de unir mais ainda as entidades que congregam as comunidades escolares – APMs (Associações de Pais e Mestres), UNE (União Nacional dos Estudantes), UEEs (União Estadual dos Estudantes) e UBES e UPES (União de Estudantes Secundaristas) e os responsáveis e dirigentes educacionais – Undimes (União dos Dirigentes Municipais de Educação) e Consed (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação) para estancar logo esse estado de coisas.

O desempenho sofrível dos estudantes brasileiros nos últimos anos, confirmado nas avaliações institucionais no Brasil (SAEB, Prova Brasil, Saresp, ENEM, ENADE, ANA etc) e no Exterior (PISA, por exemplo), não é Fake News, muito menos a notícia estampada no portal do jornal “Folha de São Paulo”, nesta segunda-feira (15):

Conforme o jornal, a educação em tempo integral, creches, alfabetização e ensino técnico são atingidas pelos cortes de verbas do governo federal para alunos das redes e escolas estaduais e municipais. Essa informação é verdadeira e foi obtida pela “Folha” –, por meio da Lei de Acesso à Informação e do Siop (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo). Os números são grandiosos, uma vez que o orçamento do Ministério da Educação para este ano é de R$ 122,9 bilhões, sendo que o governo não está conseguindo manter em dia as políticas educacionais – descontinuando ou fragilizando muitos programas bem-sucedidos – conseguiu executar até agora 28% (estamos no sétimo mês de 2019) e os cortes somam R$ 5,7 bilhões contingenciados.

Quantas vezes precisamos dizer ainda que uma nova geração de brasileiros está em risco?

 

(*) Raul Christiano é professor universitário, escritor, poeta e jornalista. E-mail: [email protected]

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17 comentários em “Estado de Alerta na Educação”

  1. Oportuno, urgente , prioritário – tudo que se pede aos governantes, de qualquer esfera pública, é que deixem as ideologias, os dogmas, as intervenções, e efetivem maiores investimentos que visem maior qualidade de ensino para todos os brasileiros, sem distinção de credo, de cotas ou qualquer desvio da meta maior da Educação.

  2. Pois é, Raul. Parece que parcela considerável do povo brasileiro não consegue associar as dificuldades crônicas na economia, na infraestrutura e na política, com a baixa qualidade da Educação. E assim, elege governantes cada vez menos qualificados.

  3. Por falta de candidatos a presidência da República,governos de Estado e Prefeitos com formação pífia, os brasileiros amargaram por mais tantos outros anos a falta de um ensino de qualidade. Muito triste!!!

  4. Raul, compartilho sua preocupação mas tenho uma visão um pouco diferente, se me permite. Essa fórmula de fornecimento da estrutura completa de educação (escolas, professores, alimentação etc) pelo Estado já provou sua ineficiência. O Estado não dá conta de administrar tudo isso e ainda é refém dos fortíssimos sindicatos, isso sem considerar o altíssimo índice de afastamentos e a insuportável judicialização (professores e policiais são, de longe, os maiores litigantes contra o Estado, uma verdadeira indústria) gerando ainda mais custos e dificuldades constantes nessa estrutura ineficiente. Temos que ousar mais e o bolsa escola é uma ideia promissora onde o Estado deixaria de investir em construção e manutenção de escolas, contratação de professores, merendeiras e vigilantes e usaria esse imenso orçamento de 122 bilhões unicamente na educação, uma alocação de recursos muito mais eficiente. Com uma demanda de alunos desse porte floresceriam escolas privadas ávidas a prestar o melhor serviço em regime de competição com baixo índice de inadimplência e com melhoria inclusive na questão disciplinar já que a imagem da escola estaria em jogo. Essa implementação levaria anos e seria paulatina com mudança inclusive da Constituição mas não tenho dúvida que seria muito melhor. Grande abraço.

  5. Daniela Da Guarda

    Eu adorei o seu texto Raul!
    Posso opinar, opinando?!
    rs Gosto da forma que escreve, sempre!
    A Educação começa a ter força nas estruturas de base, que são família, emprego e a classe de professores bem remunerados e motivados. Além de qualidade de vida no ambiente escolar, com escolas públicas em melhores condições. As particulares possuem mensalidades faraônicas para a realidade de muitos trabalhadores… enfim, um processo longo, que se contextualiza com as várias áreas mencionadas para dar certo, para um start… rs ?

  6. José do Nascimento Machado

    No Brasil prevalece a ignorância dos governantes em detrimento a protagonizarem uma educação de má qualidade. Lamentável!

  7. Cleidemeire Viegas

    Ninguém liga para educação, até quando? Irresponsáveis!

  8. Andre Galdino

    É Raul Christiano, a educação e a cultura enfrentam tempos nefastos, sinto prenúncio de quem tem medo da ferramenta mais libertadora que é a educação. Cortar gastos na educação é condenar uma geração ao atraso e ignorância.

  9. Maria Emilia Botelho

    Perfeito Raul. Sua preocupação é a nossa. Através das entidades q congregam as comunidades escolares poderemos agir com segurança e respeito.

  10. Carlos Alberto Laureano

    Prezado, li teu blog sobre educação. Gostei bastante.

    Entretanto, em relação ao “futuro”, que educação devemos propiciar?

    Se não temos para onde ir, desafios e objetivos a alcançar, qualquer caminho serve (Alice no país das Maravilhas).

    Se não temos um norte, qualquer linha educacional serve.

    E é isso que está acontecendo com a educação brasileira (caos). O Brasil não sabe o que quer ser.

    Se soubermos para onde ir, nosso sistema educacional deverá ser reformulado.

    Abraços

  11. Augusto Henrique Rodrigues

    Caro amigo Raul Christiano.
    Boa noite.
    Li o seu artigo sobre educação, na edição de hoje do jornal “A Tribuna”, de Santos.
    Concordo em gênero, número e grau, com o seu conteúdo.
    Nada a acrescentar ou divergir, penso igual a respeito do tema.
    Abraços.
    AHR (pai).

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