Blog do Raul

Dilma

A oportunidade das greves

Entre a política e a sobrevivência.
Entre a política e a sobrevivência.
O Brasil convive com uma das suas maiores crises na história de sua democracia. A economia, a política e a moral rastejam. E nesse cenário praticamente todos os setores estão comprometidos, em prejuízos ou vantagens. Não vejo saída de curto prazo e as perspectivas atuais não alentam muito, além da ocupação da Esplanada dos Ministérios por cabanas de manifestantes e de uma reflexão sobre a oportunidade das greves, que afetam diretamente as vidas de muitos brasileiros do Monte Caburaí, em Roraima, ao Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul.

A falta de governo, apesar de contarmos com um eleito democraticamente, colabora com o desajuste fiscal, a dívida pública, paralisação de programas sociais e obras de infraestrutura, juros siderais, queda do crescimento e do emprego, instabilidade na base parlamentar e institucional, chantagens etc. Uma conjuntura que amarga o nosso cotidiano, proporcionando um salve-se quem puder, em nada educativo para o velho espírito solidário popular da Nação.

Longe de não compreender que a greve é um direito constitucional do trabalhador, e o seu último recurso, a sequência de greves em vários setores de serviços públicos e de prática cidadã, como justiça, INSS, correios, bancos, saúde, escolas, creches, universidades públicas etc., de braços cruzados por melhores salários e condições de trabalho, sem o esforço mínimo das autoridades governamentais, na mediação e solução de suas contendas, amplia o fosso existente entre a sociedade e os poderes instituídos. Aos trabalhadores pesam a responsabilidade política contra o seu posicionamento pela sobrevivência suas e de suas famílias.

Reflito muito sobre a falta de bom senso e diálogo. Uma trégua geral, quem sabe, para se buscar caminhos para um Brasil desgovernado. Porque ao trazer as greves, como pauta de uma discussão mais ampla, cogito questionar sobre o fato delas se transformarem em atitudes contra o povo, por parte dele próprio, porque os movimentos recentes reforçam mais a autonomia tecnológica (bancos) e deterioram mais a qualidade do ensino e aprendizado dos estudantes.

Quem paga essa conta? É a pergunta que não fazem os dependentes dos serviços. Mesmo quando assistimos o retorno das atividades, ainda mais precárias e retardadas, com a exigência do ressarcimento salarial dos dias e até meses não trabalhados.

São inúmeras as razões para as greves. A inércia governamental é responsável por esse estado de coisas, por exemplo, quando os banqueiros deliram de alegria com os juros escorchantes e não valorizam os seus operários; quando o governo federal cria universidades precárias e sem uma política de avaliação de desempenho e condições reais de oferta; ou dos Correios que já não são mais uma instituição de confiança e credibilidade, e do INSS, que desapareceu da responsabilidade com as perícias, aposentadorias etc.

O quê dizer então da Justiça Federal, que serve de bode expiatório na queda de braços entre o Congresso Nacional e a presidente da República? Ora, a greve dos servidores do poder judiciário federal, iniciada em 25 de maio passado, atingiu as justiças do Trabalho, Eleitoral e Federal, dos 26 Estados mais o Distrito Federal. O mérito pode ser válido, pois os reajustes do Plano de Cargos e Salários das suas categorias estavam congelados desde 2006. O Parlamento aprovou aumento de 41,47%. Mas alguém dispõe de uma estimativa de quanto somou o prejuízo àqueles que dependem de uma decisão judicial ou do encaminhamento burocrático dos seus direitos e conquistas?

Quem vai remunerar o cidadão prejudicado pela falta de governo? Quero que fique bem claro que me refiro à governança e não à autoridade (ou autoritarismo, como podem pensar determinados contrários a este tipo de reflexão pública e transparente por um democrata). O governo Dilma Rousseff e Michel Temer deve menos inércia, apesar de submerso nesse mar econômico crítico, corrupto e inconfiável. Do contrário, da falta de uma ação de proximidade com os cidadãos e eleitores, que massivamente reprovam os rumos atuais (conforme pesquisas de opinião recentes, apenas 9% aprovam), a saída desse governo pode ser uma saída!

A oportunidade das greves Read More »

O Brasil no volume morto

Tempos vazios de confiança
Tempos vazios de confiança
Recentemente, Lula disse que ele e o governo de Dilma Rousseff estavam no volume morto, e que o PT estava abaixo do volume morto. Essa constatação própria é bem menos grave do que a responsabilidade deles com a atual conjuntura política e econômica no país, que arrastou o Brasil ao volume morto, nessa estiagem de honestidade e boa governança.

Tão apropriada quanto as constatações retóricas de Lula, as utilizo para diagnosticar esse momento crítico, que nunca antes na história deste país houve tamanho descalabro com a vida e a cidadania do povo brasileiro.

O tsunami de escândalos e o desgoverno, temperados com uma competente e enorme política de comunicação e propaganda, exige o realinhamento dos objetivos das instituições brasileiras, a começar pelo Congresso Nacional, perpassando pelo Poder Judiciário e de chofre o governo Dilma. Os números econômicos estão abaixo da crítica, e o país só respira ainda graças às medidas econômicas estabilizadoras, que neste ano completaram 21 anos de Plano Real.

Em todas as mídias nos atormentam notícias, como a de que nove em cada dez empresários e dirigentes lojistas brasileiros não contrataram e nem pretendem contratar funcionários para reforçar o quadro das suas empresas para o movimento da época do final do ano. O levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em setembro de 2015, ouviu 1.168 empresários e gestores responsáveis pela contratação de mão de obra de empresas de serviços e comercio varejista nas capitais e interior do país.

Ou sobre a expectativa para inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ajustada para 9,53% ao ano para o final de 2015. Sem contar os números relativos à população endividada, que supera a 50% das famílias brasileiras. Em fevereiro de 2015 eram 57,8%, e as dívidas mais relatadas estão relacionadas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros.

O cenário conturbado resulta dos testes dos governos PTistas com a política econômica, baseada no intervencionismo e na falência do planejamento governamental. Começou a dar benesses que não eram possíveis comportar no orçamento, a não ser que o país crescesse 6% ao ano.

Daí, quando surgem elementos suficientes para o impeachment de Dilma Rousseff na presidência da República, somos taxados de golpistas, porque se apoiou em grande medida na abertura de brechas e precedentes como as pedaladas fiscais, programas de refinanciamento da dívida, as triangulações entre governo, Tesouro e estatais, antecipação de dividendos, além da agenda creditícia de discutível isonomia, somos taxados de golpistas.

Sem saída e vocacionados na desconsideração do debate político nacional, despacham (e desautorizam) o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como um boi de piranha, para propor remédios amargos (sem receitas) como a recriação da CPFM, que não significa mais do que mais carga tributária no lombo dos brasileiros. Conforme o pacote anunciado, de R$ 65 bilhões, mais da metade do valor vem do impostaço – ressurreição do imposto do cheque e o aumento do imposto de renda sobre operações imobiliárias: 62% do esforço anunciado virá de mais tributação.

Os sinais da crise estão espalhados, com dólar instável para mais e juros crescentes, diante da produção paralisada e os investimentos congelados. O Brasil, literalmente no volume morto, vê a escassez de empregos e o crescimento do desemprego.

No mês de julho, a taxa de desemprego medida pelo IBGE indicou 7,6%, contrapondo aos 5% do mesmo mês em 2014. E se considerarmos a série histórica, os índices de agosto estavam no mesmo patamar de março de 2010, o pior em mais de cinco anos, e o oitavo mês em alta.

De outro lado, o rendimento médio real também vem caindo, na comparação com agosto do ano passado, caiu 3,5%. No setor privado sem carteira de trabalho, as perdas são bem maiores, chegando a 12,6%, com resultados parciais pelo IBGE, que cobre o mercado de trabalho somente das seis principais regiões metropolitanas do país.

A Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD), mais ampla e consultando mais de 3.500 municípios, por exemplo, revela uma taxa de desemprego bem mais alta: 8,3% no segundo trimestre. Desde que Dilma foi reeleita, mais de 1 milhão de vagas de emprego foram eliminadas, segundo o Cadastro Geral de Emprego (CAGED), do ministério do Trabalho.

O Congresso Nacional vive momentos slow motion com a volta do balcão de negócios e a entrega de mais ministérios para o PMDB, que agora repete os fatídicos 7 a 1 da retórica futebolística (7 ministérios para o PMDB e 1 presidente da República isolada). De prático, nessas mudanças anunciadas, só um fôlego a mais no poder; nenhum plano de salvação nacional.

A propaganda lullodilmoPTista sempre surfou na onda de campanhas de comunicação e numa guerrilha de detratores, ironizando a oposição e garantindo que o Brasil estava imune a crises, diante das baixas taxas de desemprego. E faltou à oposição uma contrainformação eficiente para desconstruir essa inverdade.

O mercado de trabalho manteve-se aquecido por um tempo em razão de estímulos artificiais, como as pedaladas detectadas e uma falsa sensação de que o país estava acima das contradições políticas e partidárias. Na verdade, o PT nunca teve um projeto de país, ou um modelo econômico a seguir; relembrem como se posicionou na época do lançamento das bases e do Plano Real.

Até quando vamos nos dispersar de uma discussão democrática para o processo de impeachment de Dilma, do PT e de seus quejandos?

O Brasil no volume morto Read More »

A Educação descontinuada!

#PatriaEducadora só no slogan
#PatriaEducadora só no slogan
O maior problema da Educação pública no Brasil está na descontinuidade das políticas públicas bem sucedidas para o setor. Essa atitude dos governantes, em todas as esferas, penaliza uma geração de pessoas. E o prejuízo é relevante, porque o intervalo entre gerações, que antes era de 25 a 30 anos, e hoje se fala em uma geração a cada 10 ou 15 anos, representa perdas no aprendizado e na produção, ampliando o fosso na convivência em ambientes como o trabalho, a escola e em sua própria família.

Começo essa constatação para refletir sobre um fato recente, admitido pelo Ministério da Educação (MEC), ao divulgar, dia 16 de setembro, a proposta da Base Nacional Comum Curricular com o objetivo de nortear o Ensino Básico no País. A iniciativa está prevista no Plano Nacional de Educação (PNE) para 2014-2023, buscando a contribuição em consulta pública até o dia 15 de dezembro, para determinar o que cada aluno deve saber em 60% dos conteúdos na Educação Básica do ensino público e privado, com os 40% restantes determinados regionalmente, com valorização das peculiaridades locais, considerando escolhas de cada sistema educacional sobre as experiências e conhecimentos a serem oferecidos aos estudantes ao longo do processo de escolarização.

Relembro os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados durante o governo FHC, na gestão do ministro Paulo Renato Souza (Educação). Os PCNs definiam que os currículos e conteúdos não podiam ser trabalhados apenas como transmissão de conhecimentos, mas que as práticas docentes deveriam encaminhar os alunos rumo à aprendizagem. E que essa reflexão da prática docente deveria ser feita através de reuniões com todo o grupo da escola, direção, coordenação, orientação, psicopedagoga, psicóloga, professores, dentre outros profissionais, ligados à rotina da instituição e de sala de aula.

Da transição dos governos FHC para Lula e Dilma Rousseff, a herança da universalização do acesso de 97% das crianças de 7 a 14 anos nas escolas, desafio consagrado por Paulo Renato graças às motivações contidas no Fundo de Desenvolvimento da Educação e Valorização do Magistério – Fundef, entre outras medidas, da redistribuição de recursos para os Estados e Municípios, não completou a segunda etapa. Restou para os governos pós-FHC, a melhoria da qualidade da Educação, mas em 13 anos essa meta não foi alcançada, por conta das trocas de ministros da Educação e de projetos e programas descontinuados. Cada titular petista assume sem projeto, sugere um caminho e o foco é distorcido.

Os PCNs haviam sido amplamente debatidos no país, principalmente com professores e especialistas em Educação, graças ao programa ‘PCNs em Ação’, mas o que vemos é a desconsideração desse movimento, que aconteceu em conjunto com a chegada de mais recursos para os municípios, a definição de um piso salarial mínimo para os professores (em alguns Estados, havia pagamentos de R$ 28,00/mês), a avaliação do livro didático, a formação continuada de educadores, a TV Escola, a bolsa escola federal para manutenção das crianças nas escolas, a organização dos ciclos de aprendizado, o resgate do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – Inep para ter o censo, a estatística e a avaliação do aprendizado etc.

Li uma entrevista do atual ministro Renato Janine Ribeiro, que atesta o atraso pela parcialidade de sua informação. Ele atribui simplesmente a Lula e Dilma a universalização do ensino fundamental. E quando se oferece ao desafio de melhorar a alfabetização das crianças nos três primeiros anos do ensino, de recuperar a qualidade da escola pública e conquistar a convivência das pessoas de classes mais diferentes na mesma instituição, não tem proposta, senão cumprir a retórica e metas assinaladas no PNE. Esse passo pode ser impossível, assim, como foram nesses 13 anos por conta da descontinuidade das políticas desenhadas por Paulo Renato e uma equipe técnica preparada e bastante integrada.

Afora isso, mesmo com a Educação alçada à prioridade de todas no slogan governamental de Dilma Rousseff, com a hashtag #PatriaEducadora – o Ministério da Educação foi o mais afetado pelos cortes de gastos “não obrigatórios”, anunciados pela presidente da República, no início de seu novo mandato.

As avaliações internacionais com o Brasil sempre nas últimas colocações, assim como nos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mostrando que nem as metas definidas pelo próprio MEC são atingidas, impõem um compromisso com a Educação acima das diferenças partidárias. Reflito que o círculo vicioso de omissão e vaidades políticas no MEC decreta prejuízos às gerações futuras. A Educação devia ser exceção ao que me parece uma regra de conduta dos últimos titulares do ministério.

Confesso que gostei quando soube da nomeação de Janine para o ministério, mas começo a achar que ele é bom só em filosofia política, mesmo não concordando com ele, na maioria das vezes. A continuar assim, sem uma receita de foco na Educação básica do Brasil, como prosperar na missão de formar cidadãos conscientes para a construção de um mundo melhor, frente às novas realidades e constantes mudanças?

A Educação descontinuada! Read More »

Saúde precisa mais do que Médicos!

Termômetro das ruas pede mais Saúde
Termômetro das ruas pede mais Saúde
O Brasil é um país que paga salários razoáveis aos seus médicos – em média R$ 8.966,07 àqueles que possuem mestrado e doutorado, e R$ 6.705,82 com graduação e alguma especialização, de acordo com o CPS – Centro de Políticas Sociais da FGV – Fundação Getúlio Vargas. Contudo esse não é o ponto principal das discussões iniciadas nos últimos tempos, com a reclamação das ruas sobre a precariedade dos serviços de saúde pública e da falta de assistência médica em muitas regiões do país. Em alguns estados brasileiros, para cumprir uma jornada de 40 horas semanais, um médico chega a receber mais de R$ 10 mil por mês.
O programa ‘Mais Médicos’, anunciado pelo governo da presidente Dilma Rousseff nesta semana, quer ampliar a oferta de atenção básica à população, com atendimentos de urgência, emergência e consultas de clínica médica. Essa medida é muito bem-vinda para suprir as deficiências do sistema público de saúde, mas de antemão enfrenta dificuldades na sua implementação por causa da indisponibilidade de médicos brasileiros em atender às demandas interiorizadas Brasil afora.
Não faltam médicos em nosso país, atualmente são graduados cerca de 18 mil novos médicos, que resistem à interiorização dadas as condições de trabalho inadequadas. O ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, compartilha dessa análise, sustentando que é fundamental melhorar o modelo de gestão dos recursos do setor. E o governo federal atual não consegue resolver esse quesito, sonegando a aplicação dos recursos previstos no Orçamento da União, que prevê R$ 94 bilhões em 2013, que atenderiam hospitais, salários e medicamentos, plena e principalmente. Em média histórica, nos últimos anos, cerca de 15% orçamentários deixam de ser executados.
Em todas as mídias, a importação de médicos estrangeiros e os mais dois anos de permanência nas escolas de medicina brasileiras, para os atuais estudantes, sobressaem em relação à uma discussão mais profunda sobre as medidas de gestão que deveriam ser urgentes, sem mais improvisação quando é preciso governar. Essa polêmica favorece ao governo federal, porque continua tratando questões cruciais do país com medidas laterais.
Ninguém é contra a oferta de mais médicos para a população, independentemente do questionamento sobre a origem dessa mão de obra. Está bastante claro que o ministério da Saúde não tem uma solução para essa providência sem o recurso da importação de profissionais. Contudo, a marca demagógica do governo fica mais evidente quando se decide obrigar que os estudantes estendam a sua permanência nas faculdades, por dois anos, e que, nesse novo período, involuntariamente sejam obrigados a prestar serviços no SUS – Sistema Único de Saúde, antes de obterem o registro definitivo dos CRM – Conselhos Regionais de Medicina.
Ora, para quem toma essa informação como uma resolução urgente do governo, acaba surpreendido quando cai a ficha e descobre que essa regra defendida pelo ministro da Educação, Aluizio Mercadante, só vale para quem começar a estudar em 2015, com efeito prático a partir de 2021. Quando é que será pautada a urgência de fato na Saúde?
O Brasil é um país de características continentais, desintegrado governamentalmente e por isso composto de desigualdades históricas. Estou convencido de que o povo brasileiro assiste à desenvoltura da política de marketing do atual governo, em detrimento ao caráter emancipatório produzido apenas por políticas públicas bem fundadas, conservadas e bem mantidas. Já pensei que o problema da Saúde era da necessidade de mais dinheiro, porque suas atividades são bastante caras aqui e em todo o mundo. Nada disso. O país teria condições de fazer um pacto com a sua sociedade, se efetivamente tivesse um caminho para as soluções devidas.

Ilustração: Site da Revista Exame.

Saúde precisa mais do que Médicos! Read More »

Futuro do pretérito na Educação ?

Futuro do presente: Maria Júlia fará.
Nos livros didáticos e gramáticas normativas, o futuro do pretérito costuma ser relacionado às noções de hipótese, incerteza e irrealidade. Na Educação, quando os governos tencionam dar um salto para o futuro, comprando tecnologias – lousas digitais, laptops, netbooks e tablets – e só depois começam a pensar como serão usados, essa atitude tem merecido os maiores questionamentos, inclusive de educadores favoráveis ao uso delas.

O Brasil continua apresentando resultados ruins nas avaliações internas e externas. Recentemente o ex-ministro (Educação) e senador Cristovam Buarque propôs a divisão do MEC – Ministério da Educação em dois ministérios. Um seria o responsável pelo ensino técnico e superior; outro cuidaria exclusivamente da Educação Básica. Isso soa como um sonho para os educadores que se dedicam ao aprendizado infantil, das crianças e adolescentes, mas a última experiência numa definição de foco – durante o governo FHC, com Paulo Renato Souza – de priorizar a educação fundamental causou uma reação muito forte das corporações das Instituições Federais de Ensino Superior, por causa do orçamento do MEC para as escolas técnicas federais, centros de formação tecnológica e universidades públicas mantidas pela União.

Nessa mesma época, Paulo Renato iniciou o Proinfo – Programa de Informática na Educação, com uma atitude bem diferente se comparada à dos governos Lula e Dilma Rousseff. Antes de comprar milhares de equipamentos – computadores – optou-se pela criação de NTEs – Núcleos Tecnológicos Educacionais, destinados à familiarização dos educadores com as novas tecnologias.

O editorial “Tecnologia sem pedagogia”, publicado hoje no jornal ‘O Estado de São Paulo’ – http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,tecnologia-sem-pedagogia-,835153,0.htm – reflete o cenário do desperdício da tecnologia e de dinheiro que poderia ser melhor aplicado na melhoria das condições de oferta de ensino no país.

Na passagem do bastão de Fernando Haddad para Aloizio Mercadante, na condução do MEC, todas as mídias vinham anunciando a aquisição de 900 mil tablets, em princípio para uma parte dos alunos das escolas públicas (na verdade é para professores), ao custo de R$ 330 milhões.

Essa compra soma à aquisição de 150 mil laptops do projeto “Um aluno por Computador”, na época de Lula na presidência da República, cuja maioria está em desuso por falta de orientação de como fazer e aplicar ao aprendizado. Não tenho dúvida em relação à importância da tecnologia como instrumento de Educação, mas o país precisa chegar ao futuro em sintonia, para não ficar no pretérito, fazendo de conta.

Ademais, o momento é muito oportuno, com ministro novo, para tentar acertar o foco e o ritmo, sem descontinuar as políticas públicas educacionais que vêm dando certo! Ou não?

Futuro do pretérito na Educação ? Read More »

‘Cracolândia’ impressiona agora ?

Apu Gomes, da 'Folhapress', registra degeneração humana
Antes da ação da Polícia Militar paulista, na região central da Capital conhecida como cracolândia, parece que todo mundo sabia da sua existência, mas não se impressionava porque não cruzava por aqueles caminhos. Bastou a presença do Estado, enfiando o dedo na ferida dessa chaga da sociedade paulistana, para surgirem opiniões contrárias e uma súbita solidariedade àquela espécie humana em degeneração, sem oferecer alternativas para a sua recuperação.

O governador Geraldo Alckmin explicou que nos últimos dias, 878 pessoas foram encaminhadas para abrigos, 212 para serviços de saúde e 80 internadas voluntariamente. Disse também que desde o início da operação central, 149 pessoas foram presas, 106 por delitos diversos e 43 foragidos.?

O PT se apressou em rotular essa operação de desastrada, quando o maior desastre é manter o Estado e os seus governos impotentes e sem a confiança da sociedade. Impossível continuar fingindo que esse cenário não existe e ainda topar com voluntários para um churrasco oba-oba de solidariedade contra a ação policial.

Percebe-se logo, que o Estado tirou do imaginário dos cidadãos, que já tiveram uma vida comum nas moradias da região, os marcos divisórios. O clima de tensão e guerra instalados revive uma São Paulo intimidada por muitos anos sem expectativa de se recuperar.

Hoje há cracolândias em cidades de todos os tamanhos. O ambiente não é diferente do descrito pelos principais meios de comunicação do país, sobre a São Paulo que se encontra desafetada de um pedaço cruel para a humanidade e a cidadania: “atravessar a multidão de “noias” é assustador. A todo momento, rapazes com cachimbos na mão oferecem crack. O cheiro forte provoca tosse e embrulha o estômago. Há pessoas rindo e outras chorando. Crianças, idosos e deficientes físicos acendem seus cachimbos simultaneamente” (O Estado de São Paulo).

A presidenta Dilma Rousseff esperou um ano para materializar a disponibilidade de R$ 4 bilhões em aumento da oferta de tratamento de saúde aos usuários de drogas, enfrentar o tráfico e as organizações criminosas, e ampliar ações de prevenção. Ora, essa dinheirama terá o mesmo destino das verbas que sempre anunciam para prevenção das enchentes e desmoronamentos urbanos?

Esse momento está sendo muito propício para que o tema seja pautado não apenas enquanto há imprensa testemunhando o dia a dia da polícia e dos representantes das áreas da saúde e da assistência social, dos governos Estadual e municipais. Julita Lemgruber, socióloga e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, é uma das defensoras da ideia de que está mais do que na hora de encarar a questão das drogas como problema de saúde pública e de regulação social, não de Direito Penal.

Julita Lemgruber enfatiza que o Brasil tem a quarta maior população prisional no mundo. E que o número de presos triplicou em 15 anos, basicamente como resultado do endurecimento da legislação na área de drogas, e a violência provocada pela guerra às drogas faz vítimas diárias nas grandes cidades. O que estamos esperando para discutir, com seriedade, a legalização das drogas e aceitar que os cidadãos têm o direito de decidir sobre suas vidas privadas, desde que não causem dano aos outros?

Enfim, o momento exige a execução de políticas públicas por meio de ações planejadas e coordenadas, para se ter conseqüência. A Segurança Pública age para reincluir o território à responsabilidade do Estado. Impressionam as ações da Polícia Militar de São Paulo, contra traficantes e usuários de crack no Centro da Capital? E antes, a situação degenerativa das pessoas impressionava?

‘Cracolândia’ impressiona agora ? Read More »

Herança de Lula: fora Dilma?

A crise está instalada no governo federal. As revistas semanais reproduzem os efeitos da herança subterrânea de Lula e as segundas-feiras funcionam como choque de realidade num governo técnico-político que mais parece uma barata tonta. Primeiro foi a descoberta do milagre da multiplicação de ganhos com consultoria de Antônio Palloci. Depois a lambança no Ministério dos Transportes, com o superfaturamento de obras e corrupção no Dnit – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Agora o Ministério da Agricultura perde o véu com os negócios em licitações na Conab – Companhia Nacional de Abastecimento e na própria pasta. Não faltam argumentos para sugerir um bom combate à corrupção, com uma faxina de verdade, desta feita incluindo a desgovernabilidade da presidente Dilma Rousseff (PT). O momento é pálido para os herdeiros de Lula, mas eles tergiversam comemorando os resultados do Datafolha sobre os sete meses do atual governo.

Herança de Lula: fora Dilma? Read More »

O ‘bolo’ do Congresso Nacional

A oposição tem uma representação menor no Congresso Nacional, quando se fala em quantidade. Hoje, PSDB, DEM, PPS e PV contam com cerca de 120 parlamentares na Câmara dos Deputados, enquanto o rolo-compressor, comandado pelo PT e PMDB, detém 393 deputados federais. A democracia proporcionou esse cenário nas eleições de 2010, mas a atual conjuntura, que exige decisões que importem um país mais transparente e justo, pode não ser modificada por causa do rumo avassalador do governo PTista, que herdou um passivo de comportamentos duvidosos desde Lula e que, aos poucos, a sociedade só conhece graças às vozes firmes de Duarte Nogueira (deputado federal, líder do PSDB), Álvaro Dias (senador, líder do PSDB), Antonio Carlos Magalhães Neto (deputado federal, DEM) e Roberto Freire (deputado federal, PPS).

O ‘bolo’ do Congresso Nacional Read More »