Blog do Raul

Acorda, para uma agenda crítica !

Não há mea culpa a fazer em relação às críticas mais contundentes ao governo Lula e à sua passividade com os escândalos e maus exemplos. O papel da imprensa, com as suas reportagens, analistas e blogs, deve ser de investigar e opinar a fundo, para alertar os representantes da sociedade que exercitam o poder em qualquer esfera e para estimular ações e sensações de mudanças possíveis. Nada de crítica pela crítica, como se fosse apenas para desconstruir um projeto de interesse público desafinado com as nossas convicções.

Do que adianta ficar apenas apontando os erros dos outros e governando com o olhar no retrovisor, se falta capacidade de apresentar soluções? Os erros atuais são muitos e devem continuar na pauta, até porque a eficiência da sua correção é tão remota, que concomitantemente é necessário ampliar o espaço para questões que dizem respeito a uma agenda positiva, que oriente o debate para o plano das idéias, longe dos ataques pessoais ou de natureza partidária.

Nesse sentido, quando agendarmos posições acerca da atual política econômica, que agrada e faz sucesso desde o advento do Plano Real, com Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, é preciso considerar políticas que efetivamente reduzam a carga tributária e ampliem a capacidade de produção no país. Ou sobre as políticas públicas de transferência de renda, como a Bolsa Família, que paralelamente apresentem direcionamentos para que estas deixem de ser apenas compensatórias, para significar emancipatórias de fato com formação técnica profissionalizante, emprego e oportunidades de geração de renda familiar.

Dentre as políticas públicas básicas, como Saúde e Educação, qualquer um é capaz de formular um diagnóstico sobre a situação precária desses setores. A saúde vive um verdadeiro caos, e é um setor que exige um reforço de monta nas suas verbas, além da melhoria do seu modelo de gestão. Na educação, alguém discordará que o maior desafio é pela melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis?

Quanto à infra-estrutura, o Brasil precisa muito mais que ondas de investimentos a cada quatro anos. É fundamental um choque de planejamento e a execução de políticas que assegurem construções e manutenções permanentes das obras e serviços públicos que elas proporcionam, para que o país deixe para trás o retrato de abandono e sucateamento.

Para começar, acho que estes temas poderiam localizar ou formular a agenda que o país reclama. O exercício, por si só, colocaria os temas no cenário político, contribuindo para chacoalhar o Congresso Nacional, que perde tempo fazendo o papel que melhor caberia ao Tribunal de Contas da União ou à Polícia Federal. Decepciona ver um parlamento sem foco, quando há urgências e o entendimento míngua.

A CPI dos Cartões Corporativos, por exemplo, domina as atividades dos deputados federais e senadores, enquanto o governo cumpre uma pauta política que visa exclusivamente o desgaste do parlamento e da oposição. Pior que isso, a oposição, que não mescla o seu papel com uma agenda propositiva, fica desmoralizada.

E ainda perde o bonde da história em relação aos casos da CPI das verbas para as entidades não governamentais e do veto à fiscalização dos recursos públicos repassados aos sindicatos e centrais sindicais. Há munição de sobra contra o governo Lula, mas os políticos brasileiros precisam modificar logo esse jeito omisso de se contentar com holofotes esporádicos. Ao aceitar as regras do jogo, ninguém tem mais notícia das reformas política, tributária e previdenciária, apenas para citar algumas.

Como discutir e se projetar contra o urdido terceiro mandato, a re-reeleição, se amanhã tem sessão parlamentar para continuar a discussão sobre a qualidade da tapióca do ministro dos esportes ou para aceitar que o governo monta dossiês para a oposição vazar?

O Brasil está parado, apesar de tantas alternativas concretas para sair dessa mesmice. Não vejo futuro em projetos artificiais, que se sustentam apenas nos discursos demagógicos e no abuso da publicidade institucional. Está na hora de acordar e querer mais que tudo isso, bem além da esperança!

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3 comentários em “Acorda, para uma agenda crítica !”

  1. …Caro Raul,

    Concordo com você quando diz que têm muitos assuntos importantes, urgentes p/ discutir ao invés de ficar batendo na tecla do cartão corporativo. Reformas urgentes que faça o País desenvolver-se. Dentres elas as citadas por vc. e acrescento também uma política que beneficie o Trabalho, o trabalhador, este coitado que sempre paga as contas dos desacertos dos governos enquanto a elite empresarial e banqueira faz o que quer, absorvendo os lucros e repassandos os prejuízos aos trabalhadores, governos; ao povo em geral. As oposições neste País varonil adoram criticar, mas mostrar soluções, nem pensar…E isso ocorre em todos os governos, não só no atual. Abs.

  2. Dr.Carlão.Biomédico

    Prezado Raul,

    Infelizmente algumas pessoas, ou seja, a grande maioria, se utiliza do artificio, que quando o CALO aperta, tenta apontar as falhas do outro, infelizmente não é diferente na politica…
    Gosto muito de assistir a TV SENADO, me divirto muito com as atitudes de alguns senadores, acho que deveriam se reunir e listar os 100 maiores problemas da nação, e começar a discuti-los e encontrar as soluções, não ficar naquele bla bla bla, sem eira nem beira, e não chegar a lugar algum…sem falar nas medidas provisórias…piada.

    Abraços.SInceros.

    Dr.Carlão.Biomédico

  3. Raul,

    Eu li essa matéria no jornal e considero muito importante que suas idéias sejam divulgadas nos mais diversos veículos de comunicação. Aliás, você deveria participar sempre nos programas de entrevistas e debates na TV.

    Quanto ao PSDB, eu tenho acompanhado alguma coisa e reconheço que há um trabalho sério, porém, com pouca divulgação, ao contrário do outro partido que governa o país.

    No âmbito nacional, eu também acompanho a TV Senado. É um verdadeiro Big Brother político. Entretanto, o DEM tem dado um banho de coragem e sabedoria, e tem sido bem sucedido. É uma pena que o PSDB só faça parte dessa luta quando resolve pegar carona com o bonde andando.

    A luta do PT em favor dos trabalhadores e aposentados quando era oposição, cujos projetos estão sendo aprovados agora pelos senadores, deveriam ser amplamente discutidos. O povo não entende que depende do presidente aceitar ou não tais projetos. Ele tem maioria na Câmara, faz os deputados de gato e sapato, e tem, como último recurso, o veto.
    O Lula faz um discurso dúbio, com o propósito de confundir, como se ainda fosse da oposição e contra o que ele próprio faz ou manda fazer. A oposição não devolve a peteca e fica com a responsabilidade, como se tivéssemos um sistema parlamentarista. Mas, na verdade, temos quase uma monarquia.
    É preciso ter cuidado com a malandragem. O povo quer ação.

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