Blog do Raul

Sem vergonha de ser “pelego” !

Nunca antes na história deste país houve tanto patrocínio de movimentos sociais, como faz hoje o governo Lula. Depois do mensalão no Congresso Nacional, as suas baterias se voltaram para entidades históricas e combativas, que hoje se submetem ao Estado sem qualquer sombra de vergonha. Antigamente essa atitude era rotulada de "peleguismo", para identificar entidades e líderes que se justificavam como conciliadores dos interesses do trabalho e do capital. Essa ação, além de provocar o seu imobilismo, também permite a sensação de impunidade de alguns para invadir áreas rurais, destruir laboratórios de pesquisas, ocupar prédios públicos e até assassinar quatro seguranças, como ocorreu numa fazenda em Pernambuco.

A democracia é sem dúvida o melhor regime para garantir que essas atitudes não passem em brancas nuvens. A manchete da "Folha" do último domingo "constata" que ‘Crise revela despreparo de sindicatos’. Faz alguns meses, a jornalista Lúcia Hippólito "suspeitava" em seu blog sobre o possível renascimento do "peleguismo", enquanto Denis Rosenfield clareava ainda mais a sua opinião sobre o poder da "pelegada" no atual governo. Não me parece patrulha ideológica, mas essa discussão recoloca em pauta o uso desenfreado de dinheiro público, nos movimentos sociais camuflados em entidades como a CUT, Força Sindical, MST, UNE …

Na década de 70, por exemplo, Lula liderava um novo sindicalismo, que empunhava a bandeira contra a cobrança obrigatória do imposto sindical. No ano passado, quando foi aprovado o projeto que legalizava a existência das centrais sindicais, no acordo firmado com o governo federal ficou combinado que elas receberiam parte dessa grande receita, atrelando o movimento sindical ao Estado, sustentado pelo Ministério do Trabalho. Quando os deputados votaram pela extinção da fonte desses recursos houve ameaças de uma campanha popular para denegrir a imagem do Congresso. Perceba o comportamento dos "pelegos" fabricados pelo lulopetismo.

Imagine se isso acontecesse na época das lutas contra os governos militares e pela democracia !? Sem pestanejar, não tenho receio de achar que essas entidades logo seriam carimbadas de "pelegas", expressão pejorativa que indicava uma colaboração de classes via integração ao Estado. Não havia meio termo, uma parte dos atuais dirigentes do país apresentavam-se como moralmente puros e viam no mundo sindical de então um antro de colaboracionismo e de corrupção, sem representatividade.

Então, de onde esperar apoio e mobilização para buscar novas conquistas e mudanças, se a atuação das centrais sindicais, para enfrentar os efeitos da crise mundial no mercado de trabalho, como alertou a matéria da "Folha", revelam despreparo para defender o trabalhador, falta de sintonia com o cenário econômico e social e atrelamento de parte do movimento sindical ao governo Lula ? Pior ainda é que o governo Lula não se limita ao financiamento da bolsa pelego, mas também se omite em relação à falta de ação das principais autoridades do país diante do festival de abandono e violência que se constata hoje.

Para os leitores mais novos, cabe explicitar mais claramente o significado do termo "pelego", que andava em desuso pelos "companheiros", mas que sempre foi utilizado por eles para designar o líder sindical, trabalhador, que faz o jogo do governo e das entidades patronais. Aquele que se coloca como o "amaciador" das relações entre  Estado e trabalhadores.

O "pelego" é aquele que serve de correia de transmissão entre governo e trabalhadores, fazendo com que a política do Estado tenha maior aceitação entre os trabalhadores, se utilizando de fórmulas variadas, desde a defesa simples da política oficial até a desmobilização dos próprios trabalhadores. Referindo-se à "pelegada", o Barão de Itararé, precursor do humorismo no Brasil, afirmou: "O homem que se vende sempre recebe mais do que vale".

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8 comentários em “Sem vergonha de ser “pelego” !”

  1. Plínio Melo

    Raul,
    concordo com você em relação aos sindicatos e vou além: Em um levantamento recentemente realizado em uma unidade de conservação do Mosaico da Juréia se constatou que entre as 5 maiores fontes de renda da população residente estão: bolsa escola, Bolsa Família, Auxilio defeso e aposentadoria. (a 5ª é serviço de construção civil, irregular naquela UC)
    Imagine se muda a política de governo?

    PS: Ajude-nos a combater o “colunismo” da Revista Veja. Leia e opine: http://www.mongue.org.br/blongue/?p=661

  2. Ernesto Donizete da Silva

    Companheiro Raul, tomo a liberdade de ampliar um pouco o foco. “NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS”, se viu tanta CORRUPÇÃO. Seria muito bom, vermos bons investimentos sendo feitos nos movimentos sociais…mas infelizmente a realidade na qual estamos inseridos no momento nos mostra outra realidade.

    Recentemente, as ONGs mantiveram seus títulos de utilidade pública, com todas as benesses decorrentes, mesmo aquelas que estavam sendo investigadas por desvio e má administração do dinheiro público. E não eram poucas, não. Cerca de 1/3 teriam perdido esta condição e graças ao Governo do Sr. Inácio, mantiveram o status quo.

    O “peleguismo” retratado na matéria fica pequeno perto de todo o cenário de corrupção, no qual está assolado o Brasil. Vejamos o mais recente caso de destaque protagonizado pelo Senador Jarbas Vasconcelos do PMDB/PE, que denunciou de forma categórica a corrupção dos políticos de seu partido e dos demais.

    O caso é gravíssimo. E num sistema democrático não pode passar em branco. Atualmente para termos uma idéia mais concreta, dos 19 senadores do PMBD, atualmente 10 senadores respondem a processos no Supremo Tribunal Federal.

    São tantos casos e temas diversos que acredito não haver espaço no seu Blog, para retratarmos tudo. E para finalizar, Raul, em relação à omissão do Governo do Sr. Inácio que versa sobre o “abandono e a violência” é naturalmente bem vinda. Como quem deveria agir se omite, não há cobrança e fiscalização, portanto alguns IMPUNES permanentes fazem o que querem em detrimento do povo brasileiro e a favor do seus bolsos.

    Fecho com o adágio popular que nunca esteve tão em moda: “Em terra de cego, quem tem um olho é Rei”.

    Acordo Povo Brasileiro!!!

    Ernesto Donizete da Silva
    PSDB/SANTOS

  3. Plínio Melo

    A critica a Revista Veja é sobre uma nota que relata a intenção do governo de São Paulo retomar a idéia de implantar um porto na cidade de Peruíbe.

    O governo diz que é mentira. O jornalista Lauro Jardim afirma que é uma informação verdadeira.

    Com a palavra o governador Serra.

  4. Raul Christiano.
    Talvez eu esteja atravesando uma fase de pelego cultural, e para ser franco…deposito esperanças só no Barak Obama!
    Quanto ao Brasil de hoje, vive a balela da democracia, e é
    na realidade um fascismo corporativista a todos os níveis de ativdade humana (sic José Saramago, na Folha de São Paulo há anos atrás). Essa “cultura”, do “Silêncio é de Ouro” implantada pela rede Globo a serviço da ditadura é desnudada no site da BBC de 1991, “além do cidadão Kane”.
    O Brasil de ontem era apaixonado pelo entreguismo do “pai
    dos pobres”.O caudilhismo em nossas vidas está impregnado de mercantilismo imperial capitalista globalizado, e só mudaram os meios e mensagens e formatos tecnológicos dos arautos do rei. A nossa história oficial é farsa, desde
    o “Descobrimento” (invasão genocida das tribos índígenas e depredadora dos recurso naturais) que trouxe os jetinhos
    de adequação social para os pelegos de plantão.
    Há que se mudar tudo…para que tudo continue como antes, no quertel do Seu Abrantes…(“Il gato Pardo”…”Conde de Lampedusa”, o Leopardo, tradução de título, com o ator Burt Lancaster.
    O José Serra é administrador de verdade, mas o PSDB pode armar ciladas…você sabe, que é um partido de cúpulas e não de bases como o PT (bases apoiadas pela reação para se apropriar dos Sindicatos ideológicos do então, partido comunista e através dos diaristas criar o sindicalismo de resultados rsssss)
    Vou parar por aqui, e aproveito o espaço para dizer que a nossa Prefeita eleita em Guarujá está sendo engessada por
    uma sociedade representativa…(nem vou dizer o lugar) e pelas mídias regionais e locais, as quais obtinham seus lucros à custa da estagnação cultural desta cidade, sempre
    a reboque de Santos e São Paulo. Grrrrr! Maria Antonieta
    não percebeu que o PT mudou, ou ainda acha que Senadores
    e Ex-Ministros têm a Ideologia Cristã Socialista? Ela não
    caiu na real desta Ilha de privilégios “a long time ago”?
    São apenas perguntas que não podem calar…E o PSDB não pode fazer nada, aqui? Sou sonhador, aceito a pecha, mas entrei nesse partido para procurar mudar alguma coisa.
    Desculpe-me por fugir do assunto…mas macro e micro, se confundem nos comportamentos político-partidários e etc…
    Ivan Alvim

  5. Carlos de Brito

    Olá Raul!
    Estou dando uma passada por aquí depois de algum tempo, por isso peço permissão para acrescentar um informação quanto a origem do termo peleguismo.
    Vamos lá: Os gauchos usam entre a sela e o lombo do cavalo, (montaria) uma coberta ou manta, para amaciar o atrito, de modo a não ferir o animal. Essa manta recebe o no de pelego.
    Raul, faço esse acréscimo para os mais jovens que não estão acostumados com tais termos, de resto estais perfeito na explicação.
    Um abraço!
    BRITO

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