Poucos minutos antes do encerramento da votação, nas eleições deste ano, escrevi este texto para revelar as minhas primeiras impressões da campanha que ora encerrava. Os leitores sabem que concorri a uma vaga de deputado federal pelo PSDB, que fiz uma campanha como candidato temático da Educação e que consegui convencer apenas 31.468 eleitores. Porém, não vou culpar o tema pelo insucesso eleitoral, se bem que na hora do voto outros argumentos justificaram outras escolhas.
Nas ruas, durante os últimos 60 dias, a grande maioria dos eleitores pareceu mais preocupada com a disputa para a presidência da República, indiferente com a composição do próximo Congresso Nacional, que é a trincheira do povo perante os rumos políticos do país. Jamais escondi a minha preocupação com a possibilidade de vitória do lulopetismo no primeiro turno, que significaria a prorrogação do atraso político que ninguém quer, mas que timidamente reage para impedir que aconteça.
Hoje pela manhã, minha filha enviou um SMS enquanto estava em aula, preocupada comigo e justificando que não havia ligado de São Paulo porque “não sabia o que falar” para o seu pai, numa hora difícil da derrota. Minimizei, tranquilizando-a, e acho que exagerei. Disse que não ficaria bem na foto no Congresso Nacional ao lado do Tiririca e de outros sem qualificação.
Entenda que concorri a mais essa eleição para deputado, justamente porque ainda acredito na chance de limpar o Parlamento, com os mesmos ideais democráticos que sempre nortearam a minha militância social, política e partidária. Queria me eleger, mas, do lado de fora do Congresso, espero que os deputados federais e senadores eleitos e reeleitos iniciem uma discussão dentro e fora do seu âmbito, sobre reformas política, partidária e eleitoral reclamadas há muitos anos pela sociedade e pelas próprias instituições.
O espaço reservado ao debate temático ainda é muito restrito e menosprezado no atual sistema político. Não só pelas limitações dos meios de comunicação, exceto a Internet que neste ano protagonizou um grande avanço, mas também pela estratégia dos partidos políticos que optaram investir em nomes do cenário artístico, cultural e esportivo, que se respaldam apenas nas celebridades e não nas ideias para o país.
É preciso focalizar a divisão do Estado em distritos, ampliando o caráter de mobilização de lideranças regionais e a importância da segmentação das suas propostas, que fortaleçam a representação e as potencialidades durante o próximo mandato. A Baixada Santista, por exemplo, alvo da expectativa econômica e social, por causa dos anúncios de descobertas de gás e petróleo na Bacia de Santos, não aprofundou a discussão sobre os investimentos necessários e qual a atenção destinada à formação técnica de jovens e trabalhadores atuais para as novas demandas dos cerca de 50 mil empregos a serem criados.
O tema da minha campanha “Educação é tudo” motivou que eu fosse convidado a raras palestras em escolas e universidades. Fiquei pasmo com o desinteresse regional, enquanto o tema fragmentado estava incluído genericamente por outros concorrentes ou não ao mesmo cargo, quando deveria ser tratado como uma urgência para o país e, pela sua importância, motivar o envolvimento das pessoas em função da sua conexão com o futuro.
A campanha deste ano não priorizou temas e optou pelo atalho dos elevados custos, que tornam a disputa mais desigual. Participei com a consciência de um semeador. Estou confiante de que um dia os resultados frutificarão, apesar de contrariado com a atual posição predominante na política, do jeito como ela valoriza as ideias, que Educação ainda não é tudo!
Boa Tarde!
Gostaria de saber como fazer para apoiar e trabalhar na campanha do José Serra, em Cubatão.
Se houver um representante com quem devo falar?
Beijos.
Obrigada.
Flávia,
Acabo de vir do Vale do Ribeira, onde tenho amigos q moram em comunidades quilombolas – são descendentes de ex-escravos deste país. Há um casal mto querido, q ñ lê revista Exame, ñ fala inglês, ñ tem faculdade (ainda). Mas entendem E MUITO de política. Pq eles precisam lutar dia a dia 1) p/ construir perspectivas de estudo e trabalho para os jovens da comunidade, p/ que ñ sejam presa fácil do êxodo 2) há mais de vinte anos contra uma barragem que é do interesse da Votorantim, mas que vai alagar áreas de comunidades históricas, mata atlântica (o restinho!), riqueza espeleológica, humana, ambiental… 3) lutam dia-a-dia p/ cada simples conquista, como o direito de poder levar uma criança ao hospital e evitar uma complicação na saúde dela, em vez de terem q insistir em três viagens e só na terceira consulta conseguirem q a criança seja de fato examinada, qdo afinal descobrem que é preciso drenar o pulmãozinho dela
Assim sendo, Flávia, mtas pessoas dessas comundidades quase passaram fome e passam com certeza dificuldades que vc e eu ñ conhecemos. Mas esse casal, q certamente já passou por coisas difíceis, me ensinou mto sobre política nesses 3 dias em q estive lá. Pq política é cuidar da vida em comunidade, em sociedade, do país, e não só conhecer os índices econômicos e as tendências do eleitorado.
Poucas pessoas q conheço conhecem tão de perto e tão de dentro a política em suas regiões quanto essas q visitei. E ñ é por causa do inglês, da faculdade, da revista Exame. Tudo isso ajuda sim, e muito. Mas ora veja, há algo de mais essencial e mais “dia a dia” na política, um olhar que precisa se desenvolver para então poder ser ampliado.
Ñ, eu ñ vou desejar q vc fique no Brasil SE VC Ñ QUER!E isso ñ tem nada a ver com seu valor como pessoa. Eu ñ a conheço, o pouco q li mostra uma pessoa batalhadora, como eu disse, espero q seja feliz. Mas mostrou-se tbm uma pessoa amarga e desiludida com o país. O que é natural em tempos de eleição. Mas se vc acredita q sua felicidade está em outro país, então q vá. Se tem um mínimo de esperança e mta vontade de lutar por este nosso país, sem desvalorizar sua gente, então q fique, e façamos isso juntas.
Ñ sei de onde vc pode ter tirado, no meu comentário, q me sinto feliz com o Tirica eleito. Mas tenha toda certeza de q minha última preocupação, num país como o nosso, será incomodar-me por ñ poder sair com uma correntinha de ouro na rua.
Há 4 anos acompanho (de perto) a situação das comunidades quilombolas, há cerca de 6 o das comunidades indígenas, faço parte da associação ocareté (ocarete.org.br) e há 10 anos atuo também como arte-educadora nas regiões periféricas de São Paulo. Há pessoas próximas q vi passarem por coisas horríveis, e jamais vou me lamentar por ñ poder sair com uma correntinha de ouro na rua. Enxergamos as coisas de maneiras diversas, sentimos de formas diferentes, é simples assim.
Meu país e meu mundo eu FAÇO a cada dia ao lado de pessoas q amo. Acho q eles podem ser mto melhores, por isso me levanto a cada dia e busco contribuir p/ isso.Pude dentrar em contato c/ a obra e palavras de Milton Santos, Paulo Freire, Aziz Ab´Saber, Orlando Villas Boas, Darcy Ribeiro, Florestan, Dino Pretti, Krenak, Marcos Bagno, Antonio Candido,Alfredo Bosi, Marcos Ferreira dos Santos, Rita Laura Segato,Cecília Meireles e tantos outros mestres e mestras… Sei de qual país estou falando.
Nossos problemas, nossas riquezas… são outras. Ñ as da Europa. Ñ necessariamente a solução está “no primeiro mundo”. Ñ é com a liberdade de ir e vir da correntinha de ouro q tou preocupada. Pelo visto, vc tem em sua trajetória coisas tão valiosas qto a revista Exame q leu, mas ñ acredita q isso é tão formador assim, e talvez por isso escorregue ao falar do país.Crítica sim, auto-sabotagem não! Eu acho q ser garçonete, camareira e voluntária é tão ou mais formador do q a revista e o inglês. Cada coisa tem seu lugar, e uma parcela da sociedade brasileira reproduz uma visão de país q quer colocar para debaixo do tapete o q há de mais original, ainda q problemático.
Se quiser continuar a conversa, [email protected]
Um abraço, e felicidade! Da maneira como sua consciência e seu coração acharem melhor.
meu irmão Raul: não foi uma derrota sua, mas de todos nós. Admirei-me, e é possível conferir, que tantos candidatos a deputados federais de fora da região tivessem um grande número de votos; SANTISTA que se preza vota em candidato da região. Aliás, surpresa maior foi de que a própria imprensa local não incentivasse essa conduta. Vi, apenas numa propaganda do Marcio França, essa sugestão, inclusive citando os nomes dos demais candidatos a federais caso não se sufragassem o nome (atitude que cumprimentei via email). Tiririca com votos em Santos; e outros…). Retomo a discussão de que o nosso país deveria ser parlamentarista e com voto distrital; não pode ser de outro jeito para a garantia da democracia. todo o meu abraço carinhoso para você e muita paz. Sérgio G.
Sakamoto, ótimo jornalista, afirma, de um jeito muito feliz,e reproduzo aqui:
“Eu não acho que o que faço é mais digno do que um gari, um garçom ou um faxineiro. Sem demagogia, apenas é uma divisão de trabalho.
Quem se acha melhor porque estudou mais precisa fazer terapia. Ou ler Patativa do Assaré.”
O tom e o teor dos lamentos no twitter dos eleitores de Serra, que atribuem o “mal-feito” da eleição de Dilma ao nordeste, tem absolutamente TUDO A VER com isso que é revelado aqui:
http://blogdosakamoto.uol.com.br/2010/11/01/breve-comentario-sobre-preconceito-no-twitter/
Educação é fundamental para o país sim.
Arrogância não.Preconceito também não.
NÃO HOUVE DERROTA ALGUMA. APENAS NÃO
É A HORA AINDA. ABRAÇOS.