Blog do Raul

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Bruno, tão cedo!?

Bruno Covas foi um grande parceiro.

 

 

 

 

 

 


A informação da morte do Bruno Covas me surpreende, porque eu o via como um imortal, tamanha a confiança e coragem que ele sempre nos passou, no enfrentamento de dificuldades. Ele seguiu fielmente os preceitos do seu avô, Mário Covas, quando respondia aos que falavam em adversidade: “A vida me ensinou que, diante dela, só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer.”

Embora o Bruno tenha nascido e crescido num ambiente político, oriundo da cepa do grande governador Covas, tive a honra de ter sido o seu companheiro de chapa na primeira eleição que participou. Em 2004 disputamos juntos a Prefeitura de Santos, ele foi o candidato a vice-prefeito.

Bruno sempre teve uma inteligência acima da média, não só do ponto de vista da sua formação em matemática e economia, mas na capacidade da definição estratégica e de articulação. E Bruno sempre soube conciliar os temas áridos com o bom humor, superar adversidades com esperança e otimismo.

Difícil viver junto com o Bruno Covas sem rir muito. Ele enfrentava e fazia o bom combate sorrindo. O seu avô (Mário) tinha fama de ranzinza e mal humorado. Os mais próximos justificavam esse comportamento devido ao seu sangue espanhol, mas convivi também com ele e sempre percebi a ternura e o respeito com as pessoas. O mau humor explodia quando surgiam adversidades ou fraqueza na execução dos seus planos.

Pelo histórico com Bruno, sempre enxerguei o futuro dele como governador de São Paulo, presidente da República. No início de sua trajetória ele seguiu comigo e, desde então, me tornei seu correligionário.

Mas a doença que o acometeu tem sido impiedosa e colheu Bruno no esplendor da sua ação pelo interesse público quando mais o apoiamos e queríamos ainda um país verdadeiramente feliz. Não aceito a ideia de que Bruno morreu, tão cedo.

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Pandemia como 3.ª Guerra

Coronavírus infecta o mundo.

Impossível alguém querer desafiar a contaminação pelo COVID-19 e não fazer a sua parte, como recomendam os responsáveis pela saúde – pública e privada – e governos em todas as suas esferas. O cidadão fica mercê de se infectar e se torna hospedeiro e propagador da doença para os seus próximos. Ninguém pode ter autonomia, se há um protocolo sendo cumprido.

Há mais de 270 mil mortos só no Brasil, e a cada flexibilizada reclamada por setores que estão prejudicados e atendida por governantes populistas, uma nova onda de mortes acontece; assim foi durante as eleições municipais do ano passado, pós-festas de fim de ano, feriados (especialmente os prolongados), carnaval, volta presencial às escolas e torcidas nas portas de estádios de futebol. Sem contar as festas clandestinas, pancadões etc.

Hoje a questão não está mais associada ao estrangulamento de vagas em UTIs, mas principalmente pela demora na oferta e aplicação das vacinas e pelo número insuficiente de equipes médicas. Somos sobreviventes, apesar da omissão ou da falta de ação de quem tem autoridade com o assunto.

O mundo está falindo economicamente, porque a estratégia mais correta é salvar vidas, para depois ter movimento no mercado que hoje está na penúria. Quem não morreu ou não perdeu vidas nessa pandemia está em vantagem. Embora essa vitória da vida não seja comemorada pelos vivos.

Defender os protocolos, com a higiene pessoal, uso de máscaras e evitar sair de casa ou se aglomerar com outras pessoas, não é demagogia. Mas qualquer outra atitude, sim! E a demagogia mata há muito mais tempo que nesse último ano de sujeição ao coronavírus. Governos demagogos, populistas, negacionistas ou que se norteiam pela disseminação de fake news, vem sendo chamados assertivamente de genocidas.

Todo dia há a necessidade de uma correção de rotas sobre os protocolos, porque se não bastasse a atuação silenciosa e cruel desse novo coronavírus na saúde das pessoas, percebe-se uma rebelação de algumas próprias autoridades. O que é inconcebível.

Aos governos, que regulam as fases e controles do direito de ir e vir, cabem mesmo definir compensações aos mais pobres e desempregados, não só com ajudas financeiras do orçamento público, mas criando condições essenciais para a sua autonomia, com os setores produtivos, do empreendedorismo e do comércio em geral, pela manutenção dos empregos.

Não aceito o argumento fácil de que os defensores da vida não se importam com a morte da economia. Como já ressaltei aqui, como pensar no mercado se não houver vidas para consumir os produtos e serviços? Ora, a radicalização das medidas sanitárias, constituem no mínimo que se espera para a vitória final. O sistema de saúde no Brasil e no mundo exauriu.

Sem dicotomia entre economia e saúde. Mas há setores que precisam urgentemente de um freio de arrumação. Refiro-me aos lucros bancários, um dos setores que posam de santos, com discursos bonitos e beneméritos de migalhas, e continuam cobrando mais taxas e juros nas contas, cheques especiais, cartões de crédito, ao invés de oferecerem linhas de crédito aos bons pagadores, financiarem folhas de pagamentos das empresas.

Não é possível, em estado de guerra, ver agirem como sempre e como se houvesse amanhã só para eles! Somos todos por todos contra o COVID-19.

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Esperando a vez

Vacina sim, para todos. Foto: Rovena Rosa, Agência Brasil.

Estão surgindo novos escritores na pandemia, relatando as experiências pessoais no isolamento social, para todas as idades. Acho isso muito bacana, porque a experiência de escrever não deixa de ser uma atitude terapêutica diante da ansiedade e até medo desse coronavírus desvairado. Os números de mortos se elevam no Brasil e no Mundo, somando hoje mais de 2 milhões de pessoas em todo o planeta, e toda a atenção deve ser dirigida para a ciência e serviços médicos, que funcionam como anjos da guarda, sendo os mais essenciais de todos.

Lembra aquele dito popular, “saúde é o que interessa, o resto não tem pressa? ”. Pois então, já escrevi em redes sociais que o Covid-19 não era esperado, para o temor do fim do mundo. Na minha infância e na história da humanidade outras doenças e epidemias, juntamente com a dengue contemporânea, tomava conta de uma boa parte da atenção e dos recursos destinados à saúde pública.

O imaginário eclodia com a perspectiva da Terceira Grande Guerra Mundial, a sabotagem química do mundo, a virada do segundo milênio. Atravessamos incólumes e a globalização uniformizou usos, costumes e o consumo em geral. Era sabido que a Terra vinha doente por causa da negligência ambiental do homem, protocolos vem sendo subscritos pelas Nações Unidas, mas o novo coronavírus foi uma surpresa. Menos para muitos cientistas, com os seus alertas no deserto e desprovidos de investimentos para pesquisas e inovações nos modos de prevenção etc.

A humanidade fez muito mal para a sua própria raça. É fundamental que as reflexões aconteçam para que no dia seguinte da vitória da ciência sobre o vírus e de todos nós contra o negacionismo sirvam de lições para o que sobejamos de ignorância. Então é muito bem-vindo todo registro desse novo normal, como retrato da piração diária que agora faz mirar continuamente os espelhos nesse exílio forçado.

Não falei da vacina, até agora, de propósito. Mas a vacinação é a medida mais importante na prevenção para a vida em comunidade, pois quanto mais pessoas protegidas, menor é a chance de que fiquem doentes, de que usem os hospitais. Por outro lado, maior é a chance da valorização da vida e da retomada da economia. Simples assim.

Seguimos em casa, nos precavendo, contando ou escrevendo histórias, aguardando a vez na fila da vacina contra o Covid-19, sim!

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Fatos e fakes

Dilema presente, dependendo da ação política.

 

 

 

 

 

 


Boatos nunca me fizeram a cabeça. Desde cedo exerci a curiosidade de tentar saber a verdade. Muitos de nós devem ter acreditado um dia nas histórias da cegonha trazendo bebês, do papai Noel e do homem do saco. Eram fakes news que “educavam” sem ter argumentos ou conhecimento dos fatos em si. Pesquisas revelam que a sociedade brasileira é a que mais acredita em notícias falsas, ao mesmo tempo em que o Brasil é o país que mais se preocupa com o que é falso e verdadeiro circulando na internet.

Pego como referência um estudo do Instituto Ipsos, realizado em 2018, intitulado “Fake news, filter bubbles, post-truth and trust” (“Notícias falsas, bolhas de filtro, pós-verdade e confiança”) onde 62% dos entrevistados no Brasil admitiram ter acreditado em notícias falsas até descobrirem que não eram verdade. A média mundial chega a 48%.

Esses números são grandiosos e explicam inclusive o porquê o Brasil é citado em séries e filmes mais recentes, quando se reflete sobre a divisão de opiniões e os conflitos que elas vem gerando em núcleos familiares e grupos de amigos. Acho perigoso o descontrole tradicional feito antes pelos líderes comunitários, sindicais, religiosos, parlamentares e partidos, cujas lideranças são postas em descrédito e dúvida, justamente por causa dos boatos, principalmente notícias falsas, fake news.

Espero que o momento do COVID-19, que nos exila em casa, sirva para reduzir o analfabetismo político, social e de valores. Quem puder fazer cabeças com a verdade e a esperança, semeie. Não gostaria de continuar nesse novo normal, patinando numa espécie de desinteligência, no dia seguinte da liberação geral dessa pandemia.

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O Brasil para os jovens

Jovens x geração “nem-nem”, fora do mercado de trabalho e das escolas e faculdades. Ilustração: CIEE

 

 

 

 

 

 

Qual vai ser a resposta do Brasil à sua juventude? É o que esperam 45% dos brasileiros, integrantes da faixa adulta, entre 20 e 59 anos de idade, de uma população de 211,7 milhões de pessoas, estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em levantamento feito até o último dia 1.º de julho.

A incerteza econômica provocada pela quarentena do novo coronavírus acrescenta outros elementos a essa análise: o índice de desemprego no país cresce, hoje representa 14,3% – com mais de 13,7 milhões de pessoas desocupadas –, sendo que 29,7% são jovens, de 18 a 24 anos; e 265 mil estudantes de faculdades particulares abandonaram os cursos ou trancaram as suas matrículas, nos meses de abril e maio deste ano.

O cenário deve ser considerado em todos os níveis governamentais, uma vez que essa falta de perspectiva da nossa juventude para o futuro é um tiro mortal na retomada da produtividade do nosso país. Com os números oficiais do IBGE temos a dimensão do problema, que se agrava diante da massa juvenil sem qualificação necessária para o acesso ao primeiro empregou ou a reinserção no mercado de trabalho.

Não é um conforto para o Brasil, a comparação com os Estados Unidos e a Europa, utilizada por especialistas em análise do mercado de trabalho em tempos dessa pandemia. O fenômeno é mundial, quando se observa o impacto das crises na juventude, e caberá à governança estatal o desenho e execução urgentes de políticas públicas com vistas à uma distribuição de renda compensatória e de estímulo à formação técnica e profissional que atendam aos investimentos com propósito.

A evasão das faculdades particulares não é um bom sinal sobre os propósitos atuais da juventude brasileira, que sempre buscou nesse tipo de matrícula e formação um plus na escolha de seus currículos para as oportunidades de emprego e renda no país. A queda das receitas pessoais e familiares, com o desemprego e a diminuição drástica das atividades econômicas, em princípio tem sido a maior razão para excluir as mensalidades escolares dos orçamentos.

Inclui-se nessa realidade o número de transferências de alunos de escolas particulares paulistas para a rede estadual de ensino, entre janeiro e agosto deste ano, atingindo a marca de 12 mil matrículas. Então, o momento exige uma reação, para não perder todos os esforços que já foram mobilizados nos últimos anos, para a universalização das matrículas das crianças no ensino fundamental, a redução do déficit de vagas no ensino infantil, a reforma do ensino médio, a expansão do ensino profissional para o emprego, o Fundeb, a BNCC, o financiamento do ensino superior com o FIES e o Prouni etc.

Acredito que o Ministério da Educação tenha esse quadro disponível e sei que o Conselho Nacional de Educação está empenhado na aprovação de diretrizes para o novo normal, que prevê o funcionamento das atividades gerais do ensino, presencial, remoto, híbrido, investimentos, que compatibilizem com os protocolos estabelecidos no combate ao Covid19.

Também o Ministério da Economia precisa ter a sua ação sobre a redução dos custos com contratações para o primeiro emprego, porque hoje esses custos não apresentam diferença entre os que estão no começo do trabalho e os trabalhadores com experiência e qualificação.

Enfim, estas reflexões, que poderiam ser centrais nos debates das eleições municipais de 2020, não compuseram a maioria das agendas e programas dos candidatos a prefeitos e a vereadores. Mas são um bom início de conversa, entre governos e parlamentos – nos três níveis – e o setor privado, que pode ampliar a produção, pagando menos por isso, mas empregando mais hoje e no futuro que tem chegado rápido demais para todos nós.

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O papel do Professor

Educação híbrida, em questão.

 

 

 

 

 

 

O Dia é do Professor, está no calendário, todo mundo os reverencia hoje, mas amanhã ele volta fora da pauta. Essa realidade não podia ser a da Educação em nosso país, com inúmeros desafios, projetos desenhados e parcialmente implantados, porque os governos simplesmente bugam e descontinuam políticas para o setor, num círculo vicioso. O retrato é o puro contrassenso, se compararmos com os exemplos de países que se consolidaram como nações desenvolvidas, priorizando a Educação desde a primeira infância.

A pandemia do novo coronavírus (Covid19), antecipou a chegada do futuro e as projeções educacionais, especialmente aquelas que se baseavam na inovação tecnológica e se tornaram presentes. Numa conversa com as educadoras e gestoras educacionais Sueli Elias e Maísa Costa, enquanto começava a reunir dados para este artigo, houve a lembrança de que há seis anos a escola privada vinha experimentando transformações no uso de novas tecnologias no trabalho do professor e no aprendizado dos estudantes, e que nessa cronologia, a partir de março, dois anos se precipitaram.

Nessas considerações, foram unânimes ao afirmar que emergiram de modo instantâneo, no ensino privado e público, as preocupações com o estado emocional das famílias, dos professores e dos estudantes. Crescem os casos de depressão, isolamento. A saúde mental passou a ser uma questão muito séria nessa crise.

Mas, para ambas, o mundo escolar ajuda muito a superar essa fase. As escolas devem oferecer de modo suplementar, toda a assistência possível para resgatar a tranquilidade, oferecer apoio. Os componentes curriculares podem ser mais facilmente recuperados, mas a saúde mental provoca medo. Essa é a avaliação sobre a percepção de que os estudantes precisam estar nas escolas. Maísa conta que adotou a saudação “bom dia estudantes”, antes do início das suas aulas, para transmitir o seu desejo de acolhimento geral.

Pode ser relativo esse novo normal ou as afirmações de que nossas vidas não serão como antes, para justificar impedimentos ou melhoria de nossas aptidões, desenvolturas. Acho interessante refletir sobre o papel do Professor, dos educadores e dos gestores, principalmente da coisa pública, para com o calendário escolar e frequência à nova escola pós-pandemia. Porém, os cuidados devem ser preciosos com a saúde da comunidade-escola, que vem preocupando e forçando a insegurança e resistência dos professores ao retorno, ora pelas comorbidades hospedadas entre os seus ou pela disciplina em relação ao contágio comunitário e familiar, a partir de estudantes – crianças e adolescentes – assintomáticos, em sua maioria, que podem carregar o vírus por semanas.

Nesta semana realizou-se o Seminário Internacional de Educação Básica Híbrida, por meio do canal Youtube da recém criada Associação Nacional de Educação Básica Híbrida – ANEBHI, em que foram apresentados diagnósticos e soluções para os parâmetros de formação de professores, que não contemplaram ainda uma pedagogia digital. As perspectivas para as próximas avaliações institucionais da Educação no Brasil, uma vez que atualmente ela exige a presença dos alunos, para controlar as suas performances etc., também foram analisadas, além de se considerar plataformas e caminhos em busca de alavancar a tecnologia para ajudar o ser humano.

É evidente que o aprendizado híbrido – que combina o online com o off-line, ou seja: os alunos sozinhos pela internet, ou interagindo de forma pessoal, com os seus professores e amigos presencialmente – não é o ideal para todos. Será preciso definir as formas de garantir a superação do estado socioemocional e cognitivo de estudantes, muitas vezes fisicamente em salas, mas mentalmente longe delas.

Esses os desafios presentes, porque o futuro chegou muito rápido para todos. E é necessário reconhecer o desempenho dos professores, que apesar de improvisado foi sério e consequente, muito bem colocado pela professora Maria Inês Fini, presidente da ANEBHI, na abertura do evento: “O professor teve que se reinventar, mudando as suas práticas tradicionais, de uma sexta para segunda-feira, transformando-se em atores de vídeo, youtubers, carregados de coragem e ousadia, para melhorar a interação humana e assim trazer os alunos para o ambiente escolar virtual”.

Salman Khan, engenheiro e matemático americano, criador da Khan Academy, que difunde vídeo aulas no YouTube e libera o acesso para qualquer pessoa interessada, também participou do Seminário da ANEBHI e deixou entre os seus conceitos, sobre os cenários educacionais do momento, uma opinião muito apropriada para este 15 de outubro de 2020: “Se tivesse de escolher entre uma tecnologia incrível e um professor incrível, escolheria um professor incrível”.

O novo normal nas escolas fortalece o uso das novas tecnologias, que já assustaram muitos educadores. Relembro quando as salas receberam aparelhos de TV para funcionar como suporte às aulas e foram recebidas com restrições pelos professores. O Estado Brasileiro precisa cumprir o seu papel para se evitar a exclusão da e na Educação, começando pela universalização das redes para conexão com a internet, saneamento básico, rede elétrica… preservação do Fundeb, com os seus recursos e metas.

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Eu, manipulado!?

O esboço da reação lembra Davi versus Golias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No último fim de semana, assisti ao filme-documentário “Dilema das redes”, na plataforma Netflix, que denuncia o mau uso de nossos dados pessoais pelo Google, Facebook, Twitter, Instagram e várias outras mais. Há depoimentos de designers, engenheiros de software e programadores do Vale do Silício, que ajudaram a construir esse sistema que hoje nos controla. São os chamados algoritmos em ação, interferindo em eleições, movimentos sociais, economia, se aproveitando de nós, pessoas tratadas como máquinas de compras e comportamento.

Não há inocentes nessa área, mas com certeza muitos telespectadores vão achar que, fazer parte de uma rede social e marcar de acordo com aquelas condições de contrato de acesso que consentimos sem ler, é como pactuar com o Diabo. No mesmo espaço em que compartilhamos fotos de nossos netos felizes, a composição de um prato de comida, há uma inteligência programada para mexer com os seus instintos.

Parecemos ingênuos, porque no fundo temos preguiça diante do ritmo que as novas tecnologias nos proporcionam, a pretexto de facilitar as nossas vidas. Movimentos, mundo afora, sempre denunciaram esses perigos para a privacidade dos cidadãos. Carole Cadwalladr, redatora do periódico inglês ‘The Observer’, relata no “Privacidade hackeada”, que também assisti na sequência do “Dilema das redes”, a existência de uma “força tenebrosa que nos conecta globalmente, e flui pelas plataformas tecnológicas”. O acesso à transparência, no caso dos filmes sobre o mesmo tema, serve apenas aos poderosos.

Uso as redes sociais não porque são modinha global. Tenho amigos que ainda não possuem um aparelho de telefone celular ou ignoram as redes sociais porque alegam que não precisam delas nas suas atividades, inclusive profissionais. Mas aí há um dilema: uma parte significativa desses meus amigos são da área das comunicações, consumistas da imprensa tradicional – papel, rádio, TV e portais correlatos, e hoje é praticamente impossível atuar nela sem o uso mínimo das ferramentas digitais e redes virtuais.

Se você tiver um mínimo discernimento e refletir sobre o que busca efetivamente nas redes sociais, para o seu uso pessoal e nas atividades laborais, de trabalho, o filme “Dilema das redes” vai ajudar a se localizar no contexto. Alerto que, em termos de conhecer os níveis de manipulação a que as pessoas em rede se sujeitam, assistindo a esse filme, você pode até resolver diminuir o seu tempo de conectividade diária.

Carole provoca os que chama de “deuses do Vale do Silício” – Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg (Facebook), Larry Page e Sergey Brin (Google) e Jack Dorsey (Twitter) – com uma bateria de perguntas, a partir da constatação: “Porque se propuseram a conectar as pessoas e estão se recusando a reconhecer que essa mesma tecnologia está agora nos afastando. E o que não parecem entender é que isso é maior do que qualquer um de nós. E não é que isso é maior do que vocês e é maior do que qualquer um de nós. E não é sobre direita ou esquerda, ficar ou largar, ou Trump ou não. É sobre se é realmente possível termos novamente eleições livres e justas”. E dispara: “É isso o que querem? É assim que querem ser lembrados na história? Como servos do autoritarismo? E a minha pergunta para todos os outros, é isso que queremos? Ficarmos sentados brincando em nossos telefones até a treva chegar?”, sentenciou e redatora do “The Observer”.

Não deixem de ver o filme “Dilemas da rede”, complementando como eu, com “Privacidade Hackeada”, também na Netflix, que detalha em parte o que a empresa de dados Cambridge Analytica fez para interferir na campanha eleitoral de 2016, nos EUA, quando Donald Trump se elegeu. Inclua no seu cardápio, “Rede do ódio”, que singulariza a manipulação através de um jovem familiarizado com as fake news e a destruição de reputações. Não se iguala ao dois que destaco neste post, mas que poderia tornar uma trilogia do momento, para se assistir e tirar cada um as suas próprias conclusões. Certamente o tema não se esgotará nessas três versões.

Mas, por falar em conteúdos tenebrosos, manipuláveis, não será surpresa se o raciocínio teórico conspiratório começar a achar que a testagem positiva de Donald Trump e a sua esposa para o Covid19, for comparada à facada em Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018 no Brasil. Enfim, recomendo que assistam aos filmes e depois pensem melhor antes de sair curtindo e distribuindo likes em fake news ou anúncios nas redes que você participa “inocentemente”. Cuidado, contudo, porque alguém está de olho em você. Na sua imagem, comportamentos, mobilidades. No que pensa. Na maioria das vezes querendo que você passe a querer consumir…

 

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Participação política e discurso atual

A participação política em perspectiva.

 

 

 

 

 

 

O calendário eleitoral para as eleições de 15 de novembro de 2020 prevê campanha a partir de hoje (27 de setembro). Logo cedo estive numa padaria perto de casa, que frequento há quase 40 anos, e pude sentir o clima. Como participei de outras campanhas, como candidato ou militante apoiador, e sou uma figura pública na região da Baixada Santista, não passei despercebido. Não faltaram acenos e olhares de alguns fregueses, e fui abordado pela moça do caixa com a pergunta: __ Seu Raul, o senhor está no páreo?

Não, não estou no páreo, tenho outra missão, respondi a ela e faço questão de registrar aqui no blog. Na semana passada escrevi sobre impressões das campanhas que acontecem no Brasil e nos Estados Unidos, em meio à pandemia do novo coronavírus (#Covid19), justificando trocas de mensagens com amigos e companheiros de lutas comuns ao longo de uma vida inteira, desde o movimento estudantil secundarista, nos anos 1970.

É evidente que as bandeiras passadas estão consolidadas e garantindo uma participação irrestrita da população nos canais de manifestação e decisão políticas. Me refiro à democracia, que em diversas oportunidades nos últimos tempos foi posta ao risco de medidas autoritárias. Atualmente essas medidas se baseiam principalmente no preconceito social, político, doutrinário, ideológico, de gênero e raça. O que há de retrocesso nisso vale um post específico.

Mas tratando mesmo das eleições municipais, que renovarão ou darão novos mandatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores (entenda-se femininos também, para ser mais explicito), em todo o país, neste ano, o foco deve ser outro. Porque o elenco de expectativas do eleitorado é completamente diferente das eleições passadas, antes desse novo normal esperado pela sociedade.

O futuro em perspectiva passa a ser o maior desafio dos candidatos em suas tentativas de convencimento em busca do voto de confiança e nas urnas. No horizonte, nessa quarentena vivida a partir de meados de março no Brasil, a única perspectiva é a vacina e bem como a vacinação em massa, para permitir um novo fôlego à superação e sucesso de cada um e suas metas sonhadas. Afora isso, qual o discurso diferente de um candidato para conquistar a atenção popular?

Enquanto escrevo este texto, acompanho o movimento nas praias cariocas neste domingo. Pessoas de todas as idades, contrapondo às regras usuais para seguir os protocolos da comunidade médica e científica no enfrentamento à pandemia, circulam ou se agrupam estacionadas na areia, sem máscaras e sem cumprir a distância mínima de segurança da possibilidade de contaminação.

O Rio de Janeiro não vem se constituindo no melhor exemplo para o Brasil, também no tocante à administração pública, haja vista o histórico de seus últimos governantes do Estado e respingos nas municipalidades. Mas esse mal exemplo deve ter uma resposta, inclusive além do Rio, de modo que a sociedade brasileira como um todo se sinta representada por uma legião de dirigentes que está para ser eleita.

Um de meus temores está na polarização de um conflito pretérito entre a ciência e a religião, que atualmente se comparam ao negacionismo das mudanças climáticas e o futuro do planeta em jogo. Quando se colocam em dúvida conceitos científicos, por exemplo, não se trata da simples garantia da liberdade de opinião, mas uma visão ingênua do mundo atual. Por outro lado, qual é mesmo a expectativa da sociedade para se convencer?

Reitero que não é uma tarefa fácil hoje a apresentação como candidato vendedor de sonhos de mudanças e transformações radicais nas vidas das pessoas. O protocolo exige que as promessas estejam sincronizadas com a verdade e a bem dessa afirmação, a Justiça Eleitoral tem feito uma campanha muito assertiva nos seus alertas contra as Fake News e no incentivo à maior participação da juventude nas campanhas deste ano, com a provocação de que “nunca é cedo para fazer a diferença”.

Aposto na indicação de novos caminhos a serem percorridos, com garantias concretas de trabalho, pão, casa, saneamento básico, educação, cultura, segurança e paz para todos. O povo precisa se sentir seguro para que os resultados eleitorais de 2020 sejam os melhores e mais conectados com o valor do seu voto.

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Primavera do futuro

Militância virtual em rede (ilustração via Google).

Este ano para nunca mais esquecer, terá eleições políticas no Brasil e nos EUA. Ambas seguem o protocolo da comunidade científica internacional e de autoridades locais, convivendo com o distanciamento social nessa pandemia que só imaginamos nas telas do cinema catástrofe. O clima de festa nas ruas e nos centros de eventos foram para as calendas. Militância agora, só virtual.

Quem se importa com isso? Eu, também, como militante à moda antiga, diante da preocupação de um velho amigo idealista, daqueles que acompanhei em passeatas e panfletagens, desde há, pelos menos, quarenta e cinco anos. Desperto de um sonho que pareceu atrapalhado, contou-me que andava angustiado com o rumo das coisas no mundo. Lamentou que bandeiras defendidas com convicção estavam largadas, como ações menos importantes.

Isso me preocupou, no divã mutante que o celular se tornou. Teclei logo nas redes sociais, para descobrir o paradeiro, o estado físico e o que cada um de outros pares vêm pensando recentemente. Tudo para comparar se a memória política do meu amigo não era paranoia. Foi assim que nasceu o reencontro de comuns do meu tempo, entre analógicos, digitais funcionais e conectados.

Os preparativos para o dia da reunião em plataforma virtual foram um bom exercício, sendo difícil contornar a ansiedade de alguns convidados, querendo saber se estava tudo combinado mesmo. Independente da falta de contato normal de antes dessa pandemia, a reunião despertou o que dizer.

Não fossem as motivações que nos uniram no passado, lembranças fortes ainda hoje, não teria sentido esse revival. Nos sentimos e nos gabamos como legítimos filhos da luta, em cujas mentes, em algum lugar do passado, houve o temor da globalização, da comunicação de massa, do capitalismo selvagem.

Enfim, chegamos à primavera do futuro que ajudamos a construir. Relembramos que antepassados mais recentes viveram outras moléstias e epidemias, como a febre amarela, peste bubônica, varíola, AIDS, enquanto temíamos a 3.ª Grande Guerra Mundial, o fim do mundo, a bomba atômica, as armas químicas, o bug do milênio, mas não previmos o Covid19.

Vale recorrer ao que escreveu Stéphane Hessel, em “Indignai-vos!”, em 2010, aos 93 anos de idade. Um manifesto contra a indiferença à conjuntura presente, favorável à Democracia, ao Estado de Direito e à liberdade de imprensa: “Os motivos para se indignar atualmente podem parecer menos nítidos, ou o mundo pode parecer complexo demais. Quem comanda, quem decide? Nem sempre é fácil distinguir entre todas as correntes que nos governam. […] Vivemos em uma interconectividade que nunca existiu antes…”

Era mais simples um reporte em outros tempos. Mas, longe das praças, ruas, portas de fábricas, paredes da estiva, partidos, palanques, parlamentos, essa tarefa foi a mais difícil a que me impus. Estamos exilados em casa.

(*) Artigo publicado no jornal “A Tribuna de Santos”, em 20/09/2020.

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Fila da Educação

Retrato se repete em todo o país. (Foto: A Crítica, Manaus)A história se repete: a população enfrenta filas para tentar matricular seus filhos em escolas públicas boas. E essa cena não é privilégio dos municípios nordestinos – que os meios de comunicação exibem mais. No sudeste brasileiro acontece a mesma coisa, fato que pode levar à interpretação de que não há escolas para todos. E não se trata de falta de vagas em escolas públicas. Falta na verdade nivelar por cima a qualidade da educação, em todo o país.

O poder público não consegue corrigir a coexistência de escolas públicas boas e ruins, que na maioria das vezes estão situadas na mesma rua, bairro e região das cidades. Esse diagnóstico foi compartilhado há muitos anos, quando o governo federal decidiu priorizar a universalização do acesso ao ensino fundamental para toda criança de 7 a 14 anos de idade, e instituiu meios para que Estados e Municípios pudessem se engajar nesse objetivo. A iniciativa do então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, completa 25 anos, e se as políticas públicas planejadas não tivessem sido interrompidas no centro ou nas pontas da gestão educacional, acredito que uma geração estaria salva e uma sequência positiva revelaria resultados melhores nas avaliações institucionais feitas pelo Brasil e por organismos internacionais, como o PISA.

A criação do Fundef – Fundo de Desenvolvimento da Educação e Valorização do Magistério (atual Fundeb) funcionou como uma garantia de recursos públicos iguais para todos, proporcionalmente ao número de alunos matriculados. Assim, toda escola pública passou a ter as mesmas condições e recursos para a manutenção, custeio de funcionários, professores e dirigentes, merenda, material didático etc. O fundo, criado em 1996 e em operação a partir de 1998, reuniu impostos de estados e municípios e uma complementação da União, com a finalidade de começar a reverter as desigualdades regionais, que sempre foram e ainda são gritantes no país.

O Fundeb tem prazo de validade a expirar em 2020 e a sua revisão deve ser uma das pautas legislativas mais importantes durante este ano, dada a dependência de praticamente todas as redes públicas de ensino básico pelas verbas que o compõem. Em quatro de cada dez municípios, o Fundeb responde por ao menos 70% do orçamento da educação. No Congresso Nacional discutem alterações que podem ampliar em até cinco vezes os investimentos da União e a melhoria dos critérios de distribuição, privilegiando nos próximos anos os municípios mais pobres. Por isso, acho necessário perguntar sempre aos deputados federais e senadores, sobre como está essa prioridade na agenda política do parlamento.

O Ministério da Educação – MEC e as secretarias estaduais e municipais de Educação têm uma chance histórica de mudar essas imagens de familiares nas filas em busca de um ensino melhor, que por si só representa o anseio de terem melhores oportunidades no futuro, com a empregabilidade e a justiça social cantada em prosa e verso pelos políticos, especialistas e ONGs. São muitos os problemas na educação brasileira, especialmente na educação pública, que não permitem a desatenção do Estado.

Crianças no 6.º ano do ensino fundamental sem habilidade de ler e escrever, exibidas nas avaliações institucionais, ajudam a generalizar o discurso contra a situação em que se encontra a educação pública no Brasil, vítima da descontinuidade de políticas e ações bem sucedidas. É essencial firmar o foco na estrutura educacional brasileira, com a maioria recebendo baixos salários, frustração com as condições da oferta de ensino e do trabalho no chão das escolas, dificuldades diárias na realidade escolar e mínima participação das famílias na educação dos seus filhos, apenas para citar alguns exemplos.

A universalização do acesso à educação no Brasil aconteceu em 1997. Uma diferença básica se compararmos com outros países, como os europeus que universalizaram o acesso à educação no século 19, assim como Argentina, Uruguai e Chile. Não é simples comparar a escola pública de hoje com as escolas dos anos 1950, 1960. Naqueles anos, havia 40% das crianças fora da escola. Eram escolas públicas boas para poucos e não uma boa escola pública.

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