Blog do Raul

Blog

Hidrovias da Baixada, uma idéia esquecida ?

Faz pouco tempo, o governador José Serra esteve em Santos e anunciou a retomada do projeto do VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, uma antiga reivindicação regional. Mas tenho absoluta certeza que ele também vai tirar do papel a idéia do transporte intermetropolitano de barcos pelas hidrovias naturais da Baixada Santista. Quem valoriza essa possibilidade é um homem apaixonado pela região, o vice-prefeito de São Vicente, Paulo de Souza, que ganhou destaque no último final de semana com a reportagem "Barato e não-poluente, sistema aquaviário não sai do papel", de autoria do jornalista Pedro Cunha, de "A Tribuna". Uma solução escancarada, à espera de uma atitude decisiva desde 2004.

O próprio DERSA, conforme a matéria, dispõe de estudos preliminares prevendo a implantação de cinco linhas intermunicipais para transporte de passageiros por meio de barcos. As cinco rotas atenderiam as cidades de Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Bertioga, servindo também para a exploração turística. Essa alternativa representaria aos usuários uma economia de até 50% no gasto mensal com o transporte coletivo intermunicipal.

A preocupação com o crescimento vertiginoso de veículos nos centros urbanos e a ausência de propostas viáveis de soluções para o transporte coletivo devem compor os programas dos candidatos às prefeituras em todo o país. Os espaços viários nas cidades estão cada vez mais restritos, o que nos obriga a questionar a falta de encaminhamento da idéia do uso das hidrovias pelo Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista (Condesb), que deveria apoiar imediatamente as soluções de caráter metropolitano como essa.

Não é a primeira vez que Paulo de Souza expõe a sua sensibilidade com os problemas regionais. A sua obstinação em urbanizar a favela México 70, em São Vicente, sensibilizou o governador Mário Covas, que priorizou obras de drenagem, canalização de valas, saneamento básico, construção de moradias dignas e recuperação de habitações, dentre outras intervenções no local. Paulo vai fundo nos seus objetivos, e o fato de resgatar agora a proposta de valorização do sistema aquaviário para a região, durante um governo que está olhando de frente para a Baixada, começo a imaginar luzes nesse caminho.

A matéria de Pedro Cunha resgata a cronologia desse alerta ao governo do Estado, esclarecendo que o projeto foi apresentado "durante o 1.º Fórum de Transporte Aquáviário do Litoral Paulista, realizado no Delphin Hotel, em Guarujá, em 15 de julho de 2004. Além de apontar diversas vantagens em um primeiro momento, que exigiria poucas interferências, a proposta já levantava a possibilidade de uma segunda fase, com a interligação de quatro das cinco rotas a partir do terminal de passageiros existente na Praça da República, em Santos. Assim, um usuário poderia viajar de barco desde a Ponta da Praia até Cubatão, com escalas em Vicente de Carvalho, na Praça da República e no Valongo, em Santos, e chegada nas proximidades da Cosipa".

Ele prossegue: "A partir da Ponta da Praia, também seria possível atingir o Bairro do Caruara, na área continental de Santos; a Cachoeirinha, em Guarujá; e o centro de Bertioga. Nesse caso, seria preciso trocar de barca na Praça da República. De barco, os santistas não teriam de cruzar as cidades de Cubatão ou Guarujá para se locomover entre a Ilha e o Continente. A única travessia que não estaria integrada à Praça da República seria a ligação entre a Área Continental de São Vicente e o Mar Pequeno, num percurso de quatro quilômetros que, por terra, é feito em 15 quilômetros. A idéia é navegar pelo Rio Mariana, permitindo o embarque e desembarque de passageiros no Humaitá e nas proximidades da Ponte Pênsil".

Há muitos leitores deste blog longe da realidade que descrevi com as informações de A Tribuna. Mas sei que a preocupação é geral com o aproveitamento das melhores alternativas em qualquer área de influência para melhorar a vida das pessoas. Vale cobrar a sensibilidade e o espírito empreendedor dos agentes públicos, encurtando distâncias entre os sonhos, projetos e a capacidade de executar urgente o que é mais necessário! As hidrovias da Baixada não podem ser esquecidas!

Hidrovias da Baixada, uma idéia esquecida ? Read More »

Acima das leis, a conta é nossa ?

Como as punições previstas em lei no Brasil, para os casos de corrupção, escândalos administrativos e mau uso do dinheiro público, merecem pouco respeito porque não saem do papel, costuma-se justificá-las como letras mortas. Os desvios de finalidades dos cartões corporativos foram qualificados de equivocos, e as últimas denúncias que envolvem a Casa Civil de Lula para regularizar o quadro societário e livrar o comprador da Varig das dívidas antigas ou a Anatel de Lula para permitir a compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar ? Qual a justificativa, se há uma completa falta de transparência e promiscuidade em negócios entre a administração pública e os interesses privados ?

A democracia brasileira vive uma verdadeira contradição com a falta de transparência dos seus atores, tamanha as sensações e constatações de privilégios em todas as esferas de atuação. Sempre que uma história cheia de evidências avança para os capítulos finais e o resultado celebra a impunidade, outros casos ganham impulso para desmoralizar mais a classe política, os partidos e a própria democracia. Há uma inversão de valores, um mau exemplo para os nossos filhos: legal agora é se espelhar nos bandidos ou naqueles que levam vantagem sempre ?

Faz tempo, um velho amigo comentava que à época da ditadura militar no Brasil, o autoritarismo e a perseguição dos governantes de plantão eram mais fortes contra o empresariado que aos políticos. A economia sofria influência regulatória instâvel e comumente era atingida por torpedos de exceção com a finalidade de atender interesses de grupos de negócios privados. Economistas aliados daquele regime se auto-proclamam hoje de nacionalistas.

O governo Lula, que exerce controle quase que majoritário do Congresso Nacional, com menor intensidade no Senado Federal, recorreu a esse período nefasto da nossa história para dar tempo aos americanos do fundo Matlin Patterson, que compraram a VarigLog, de regularizarem a situação de incluir sócios brasileiros no negócio (pois concessionárias de transporte aéreo não podem ser controladas por estrangeiros), sem questionar a origem do capital desses sócios. O gabinete Civil, comandado pela ministra Dilma Rousseff, agiu também para não permitir que os novos donos da Varig assumissem as suas dívidas assombrosas, para não inviabilizar ou falir o negócio novo, deixando-as por conta do Brasil.

No caso Oi/Telemar, o governo Lula foi condescendente ao permitir, contrariamente à lei que regula o assunto, que uma empresa telefônica comprasse outra para ficar, na prática, com o monopólio da telefonia fixa e ter capacidade de disputar mercado em outros países do Mundo. Com essa "ajuda" a Oi/Telemar comprou a Brasil Telecom.

Não há respeito às leis. Neste final de semana, o presidente Lula reclamou que queria poder mais, inclusive para fazer convênios com os municípios durante a campanha eleitoral desde ano. Para ele, não atender as administrações municipais que seguem a sua cartilha de exceção é uma hipocrisia da legislação eleitoral. Até quando será possível viver um país assim ?

Acima das leis, a conta é nossa ? Read More »

Pizza, sabor Cartão Corporativo !

É cada vez mais óbvio achar que o Congresso Nacional perdeu a vergonha. Escrevi antes que a CPI dos cartões corporativos deveria suspender os seus trabalhos, porque os parlamentares (deputados e senadores) não conseguiam esconder a dificuldade nas suas investigações sobre o mau uso do dinheiro público, em razão de acordos e mentiras. Nos últimos tempos, parece que o parlamento foi tomado pelo tesão explicito de propor CPI’s apenas para pressionar, aparecer na mídia e de se satisfazer com o minuto de celebridade. Por isso ninguém ficou surpreso com o relatório do petista carioca Luiz Sérgio, cuja conclusão é de que nenhum membro do governo Lula tem culpa no cartório pela farra dos cartões.

Os abusos, confirmados com o pagamento de tapiócas, almoços, bebidas, produtos de free-shops, equipamentos de ginástica, além dos saques vultosos em espécie (quem consegue imaginar um cidadão sacando R$ 20, 30, 50 mil, num caixa eletrônico, para pagamento de despesas secretas da presidência da República ?), foram transformados em equívocos perdoáveis.

Segundo a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), o Congresso devia outra resposta à sociedade brasileira, que no seu entendimento e de todos nós, queria o fim da lambança, da farra com o dinheiro público. Dessa maneira fica cada vez mais difícil se apresentar como político em nosso país, porque está cristalizando o sinônimo de "gente que não presta" (inverter essa tendência só com a entrada de gente mais séria e comprometida nos partidos e na vida pública).

Houve um outro relatório, elaborado pela oposição, que pedia no total o indiciamento de 34 pessoas entre ministros, ex-ministros, e outros funcionários do governo Lula. Tomou uma goleada de 14 votos a 7, sobrando recomendações desdenhadas pelos governistas, de mais transparência nas compras governamentais, de restrição total aos saques, de punições mais graves para quem faz uso irregular do cartão corporativo, da devolução em dobro aos cofres públicos de valores gastos indevidamente pelo usuário do cartão e pelo ordenador de despesa.

Ainda na receita desta última pizza assada pelo Congresso, nenhuma linha sobre o vazamento de informações sobre os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso, para o bem ou para o mal. Faço coro aos gritos da parte digna do Congresso Nacional, lamentando a perda de mais uma vida da esperança da sociedade brasileira. Até quando perderemos sem reação ?

Pizza, sabor Cartão Corporativo ! Read More »

Cacá Teixeira, vice tucano de Papa !

Suplente de vereador e secretário municipal de Ação Comunitária da Prefeitura de Santos, o advogado Carlos Teixeira Filho, Cacá, foi escolhido para compor a próxima chapa de João Paulo Tavares Papa (PMDB) pelo PSDB. Havia quase um consenso para que Rubens Lara ocupasse essa condição de representante tucano. Com a sua partida prematura, foram cogitados os nomes de Edmur Mesquita, Koyu Iha, José Moreira da Silva, Marcos Adegas, Sandoval, José Lascane, Paulo Barbosa, Vera Raphaelli, Jeferson Novelli de Oliveira, Paulo Schiff e Augusto Zago, além de Cacá. Nesta quarta-feira (4), às 19h00, na sede do PSDB de Santos (esquina das ruas Barão de Paranapiacaba com Senador Feijó), haverá uma entrevista coletiva para oficializar essa decisão.

Pela primeira vez nos seus vinte anos de existência, o PSDB santista não apresentará candidatura própria a prefeito. A excelente avaliação do governo liderado por Papa, no qual há tucanos participando desde o início, e a perspectiva de construir uma estratégia para 2012 com maiores chances de vitoria foram decisivos para ter nome próprio apenas para vice-prefeito.

Um partido é fortalecido com nomes próprios para as disputas. Embora polêmico, o caminho escolhido pelos tucanos de Santos sintoniza com a estratégia partidária de obter musculatura com posicionamento político mais forte na disputa de vagas para as Câmaras Municipais. A aliança com o PMDB local indica um rumo para o futuro da cidade, que é sede da região administrativa da Baixada Santista e alvo de grandes perspectivas para o seu desenvolvimento econômico e social.

As descobertas de petróleo e gás na Bacia de Santos, os investimentos no Porto, a construção de um túnel ligando o município com o Guarujá, a universalização da coleta e tratamento de esgotos com o programa Onda Limpa da Sabesp, a implantação do sistema de transporte ferroviário de passageiros VLT (veículo leve sobre trilhos), o Museu Pelé, o Poupatempo… iniciativas para tonificar ainda mais uma das mais belas cidades do Mundo premiam a era Papa na Prefeitura.

O PSDB de Santos, unido pela primeira vez na história em torno de uma estratégia política, foi incapaz de oferecer um nome próprio, apesar de dispor de tantos quadros dentre os seus filiados e militantes. Apesar disso, minha torcida é pela vitória do Papa e pelas lições que resultarão desse momento que não é artificial para os tucanos, porque Santos foi priorizada, do fundo do coração de todos nós!

Cacá Teixeira, vice tucano de Papa ! Read More »

Pesquisa para viver !

Sempre há esperança de vida, quando um parente, um conhecido ou anônimo, se vê preso a uma cama, leito hospitalar, aparelhos ortopédicos, cadeiras de rodas, Alzheimer, enfim. Sou crente em Deus, católico, pai, político e não vou deixar de comentar favoravelmente o resultado da votação do Supremo Tribunal Federal, por 6 a 5, confirmando a constitucionalidade do artigo 5.º da Lei de Biossegurança (número 11.105), que autoriza o uso de células-tronco de embriões humanos para pesquisa científica. O tema é polêmico, mobilizou o Brasil, de certa forma, pela contradição entre valores religiosos e o direito à vida.

O importante, a meu ver, é que esse resultado apertado, por conta da sua complexidade de interpretações e os ditos valores, não deveria concluir em vitoriosos ou derrotados. Não é possível também tratar um assunto dessa ordem de importância com indiferença ou miopia, apenas pelo conformismo com os pré-destinos da raça humana, neste caso pela interpretação que a vida começa no momento da fecundação e que por isso as pesquisas com células-tronco embionárias deveriam ser teminantemente proibidas.

O jornal Correio Braziliense estampou na sua capa de sexta-feira passada, uma grande foto de cadeirantes diante do STF sob o título de "Sim à vida", que resume a maioria dos parágrafos de abertura de todos os editoriais da imprensa nacional, complementando que o desafio, agora, "é conseguir verbas para financiar pesquisas científicas". O Brasil precisa associar o destravamento da chamada judicialização do debate, que por três anos envolveu grupos religiosos e cientistas numa disputa que remontou uma quase "Santa Inquisição", para combinar o curso de ações concretas dos governos e das universidades em todas as esferas, na realização da esperança silenciosa e aflita de uma legião de nós mesmos.

As dificuldades em conseguir verbas para novos estudos são contumazes em nosso país, que não pode mais economizar nesse setor, se realmente quiser mudar de patamar. Com o fim das pendengas nos corredores do Poder Judiciário, creio que o governo cumprirá o seu papel, reabrindo editais e conexões com países em estágio superior ao nosso.

Papai morreu em decorrência das debilitações de diabetes e mamãe com a duríssima invasão dos males de Parkinson e de Alzheimer. Por isso a decisão do Supremo é uma nova luz no final do túnel. O prosseguimento das pesquisas será fundamental na descoberta de terapias para tratar de pacientes que permanecem entre nós e suspender a fabricação de órfãos de uma convivência sadia.

Pesquisa para viver ! Read More »

“Chegados” e Partidos !

A paródia do filme americano "Chegadas e Partidas" não fica apenas no título, mas também na parte principal do seu roteiro, quando conta a história de um jornalista que retorna às suas origens para recomeçar a sua vida com as mesmas crenças e referências do seu passado. Tomei a decisão de escrever este texto, após a recomendação do leitor deste blog, Betão, que lesse o artigo "Partidos e homens partidos", do professor de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira, publicado na edição de ontem do jornal O Estado de São Paulo.

No meio de tantas dificuldades para explicar os rumos da vida política nacional, apesar do exercício quase que diário neste blog, o texto de Marco Aurélio Nogueira é um achado, pela propriedade do seu conteúdo e exatidão nos flashes do cotidiano das chegadas de novos militantes e ideais, num contexto partidário que não oferece nenhum tipo de atração senão àqueles que buscam apenas realizar seus projetos pessoais. Para não me fixar apenas na reflexão das suas palavras, avancei um pouco nas leituras do artigo da jornalista Dora Kramer, intitulado "Tempos difíceis", na mesma edição do jornal, e das considerações do sociólogo e pesquisador Alberto Carlos Almeida, em seu livro "A Cabeça do Eleitor".

Compartilho com você o extrato dessas leituras, com alguns comentários pertinentes a essa viagem, instigando-o a pensar na hipótese de reconstituir um tipo de movimento de unidade progressista, que há 20 anos fez a diferença no meio das dúvidas e dos comportamentos políticos presentes na Assembléia Nacional Constituinte. Não se trata de um bloco de insatisfeitos e reacionários com os rumos da política brasileira, mas de um agrupamento em busca respostas na forma de se fazer política conciliando história e ideais, ética e respeito, para citar alguns exemplos fundamentais.

No início do artigo, Marco Aurélio constata que "os partidos políticos sempre se caracterizam pela divisão interna. Mesmo quando monoliticamente constituídos, são associações plurais, cortadas por distinções muitas vezes marcantes. Por existirem em função da conquista e da manutenção do poder, tudo neles adquire grande dose de tensão, virulência e dramaticidade. Como são compostos por diferentes grupos e pessoas podem ser guiados mais por interesses e projetos particulares do que por orientações coletivas".

Ou: "Tanto são divididos os partidos que boa parte de sua rotina é dedicada a compor consensos e unificar interesses". Mas esse procedimento reforça a necessidade da democracia interna, que é o único caminho para fazer com que as lutas internas num partido terminem sem sangue, expulsões e dissidências; isso quando a dinâmica interna e a conduta pública do partido estiverem impregnadas de idéias e princípios profundos.

Marco Aurélio toca nas feridas ao denunciar a falta de idéias e princípios profundos, que justificariam uma divergência de fundo. Elas inexistem e dão lugar às brigas "por migalhas, por postulações pessoais, por pretensões eleitorais… Ainda quando divididos, raramente os partidos cometem suicídio. Chegam mesmo a alcançar alguma unidade de ação quando se trata de aumentar a força de seus candidatos".

Dora Kramer ilustra o seu texto com um exemplo inglês, que ela pinçou de uma avaliação do cientista político Antonio Lavareda, sobre a atuação dos partidos de oposição no Brasil. Os dirigentes partidários atuais ficam repetindo ações burocráticas, longe da capacidade de interpretação da vontade das bases dos partidos, justamente porque não estão orientados em diretrizes doutrinárias e programáticas. Com as portas abertas para a ocupação de espaços políticos e estratégias eleitorais, todo dia chega uma alma nova num partido, apesar dos seus antecedentes históricos (companhias, atividades, alianças, modo de ver as coisas, mudanças contínuas de partidos) simplesmente ignorados.

Não há, como reafirma Marco Aurélio Nogueira, preocupação dos dirigentes, que se dedicam na manutenção do funcionamento dos partidos, "em lhes dar oxigênio da melhor qualidade. Deveriam provê-los de idéias claras, identidades e estratégias consistentes, paixão cívica e visão que ultrapasse a dimensão do poder. Coisas que estão uma camada acima do chão operacional e rotineiro da política".

Por isso resta, a meu ver, uma refundação de nossos princípios. Os leitores iniciados, com militância política antiga ou que desfrutam dos momentos atuais, logo entenderão esta assertiva. Tucanos como eu precisam repetir o caminho do Partido Conservador inglês, que "reformulou sua estrutura interna, abriu espaço à participação dos filiados, patrocinou referendos sobre questões polêmicas, atuou firma na atração de novos militantes, aumentou o rigor ético na seleção de candidatos, ‘saiu’ do Parlamento para discutir temas de interesse nacional em audiências públicas país afora e adotou uma nova linha de combate ao governo", enunciou Lavareda no artigo de Dora Kramer.

Para completar: "… passaram a se concentrar na cobrança da melhoria dos serviços públicos e procuraram capitalizar o desapontamento do eleitorado com as promessas não cumpridas pelos trabalhistas" ingleses.

Mas a preferência partidária varia muito dependendo da pessoa, conforme atesta Alberto Carlos Almeida. A identidade partidária ou simpatia por um pode condicionar o voto dos eleitores. Há uma diversidade de interesses rondando a vida partidária, além dos já elencados e não deveria continuar valendo dominar uma legenda, inclusive dos maiores partidos, para usá-la nos seus "negócios" políticos, fisiológicos, mercado eleitoral. Se nada for feito para sair desse lugar comum, tão óbvio à luz do dia, como segurar a evolução das partidas dos atuais partidos ?

“Chegados” e Partidos ! Read More »

Qual a sua posição política ?

Dizem que está superada a discussão "esquerda x direita". Mas acho importante considerar as ideologias para qualificar os debates. Estamos todos preparados para a participação política ? O quê somos nessa história ? Coadjuvantes decepcionados ? Na semana passada escrevi sobre uma pesquisa do sociólogo Alberto Carlos Almeida, diretor do Instituto Análise e autor do livro "A Cabeça do Eleitor", denominada Politicômetro e publicada pela revista Veja. Pelas respostas manuais, fui considerado um liberal moderado. Agora, acessando o teste pela Internet (clique a seguir e responda) – http://veja.abril.com.br/idade/testes/politicometro/politicometro.html – o resultado me identifica como centro-esquerda liberal. Essa pesquisa foi elaborada para situar nossa opinião no campo das liberdades individuais e da relação entre o Estado e a economia. Se quiser, depois do teste, publique o seu resultado no espaço dos comentários.

Qual a sua posição política ? Read More »

Essa vida perigosa de nossos filhos !

No meio das comemorações dos 40 anos de 1968, relembro que minha adolescência foi muito sossegada, em Brotas, no Interior de São Paulo, contando histórias na sarjeta até passar o automóvel do juiz de menores Ary Mendonça, por volta das 21 horas e não sobrar um moleque na rua; e em Santos, dos bailinhos de garagem no Marapé ou das sabadeiras do Caiçara Clube, que preocupavam menos a família, porque havia segurança no caminhar de tantas ruas e vielas rumo a casa. Hoje, pai de adolescentes e jovens, não consigo tirar o coração das mãos pelos perigos que rondam nossos filhos na banalização das drogas, "esquentas", "baladas" e "cartas de motoristas imaturos".

Há um texto de Barbara Gancia, no jornal Folha de São Paulo de hoje (Chegou a Zeca-Hora de dar um basta), que traduz com fidelidade esse estado de ansiedade e medo pelo receio permanente da sobrevivência de nossos filhos. Quero compartilhar essa radiografia perfeita do estado de espírito atual de pais como eu e de muitos leitores deste blog, destacando algumas partes de uma leitura que conforta pelo alerta e para mostrar que não estamos a sós:

Escreve Bárbara Gancia, que, sinceramente, não aguenta mais ver mãe sofrendo morte de filho: "… se guerra houvesse, essa meninada ao menos estaria morrendo por uma causa e não tendo a vida interrompida sempre pelo mesmo motivo estúpido. Parece haver uma conspiração contra essa geração que hoje está completando 18 anos e ganhando seu primeiro automóvel. Todos, meninas inclusive, bebem demais, todos comem de menos, todos vêm e vão em horários impensáveis de se sair e voltar para casa e todos, juntos, formam o público-alvo de uma indústria perversa, a de bebidas alcoólicas, que confunde propositalmente liberdade de expressão com permissividade a fim de criar novos consumidores (e vítimas)".

"Eu pergunto: como é que, até hoje, ninguém contestou em praça pública a venda de um produto indecente como aquela garrafinha de 300 ml de vodca adocicada, que é destinada exclusivamente ao consumo de gente jovem? Como podem as marcas de cerveja cooptar impunemente os ídolos da juventude para serem garotos-propaganda de seus produtos? Como pode o manobrista de casa noturna entregar, sem questionar, as chaves do carro ao jovem que está cambaleando de bêbado?"

"Nunca entendi esse negócio de ‘esquenta’ – o ato de começar a beber antes da festa e só chegar à tal da ‘balada’ em horários em que, antigamente, a gente estaria voltando para casa. Como é que os pais admitem esse ritual macabro? Não será óbvio que o ‘esquenta’ aumenta as chances de o jovem se meter em encrenca e que seis ou sete horas de festa é tempo demais para qualquer um aguentar de cara limpa?"

Realmente assino embaixo do texto de Bárbara Gancia. Somos permissivos demais e, quando ousamos resistir a autorizar que o façam, na maioria das vezes somos contestados em casa pela nossa companheira: ___ Excluir nossos filhos da alegria de juventude? Fizemos o mesmo na nossa época!

Não é verdade, como acentuei no início deste texto. Era muito diferente na nossa época. Resisto a me incluir no retrato da jornalista, quando afirma que "tem pai que é cego, e a mera existência do celular passou aos progenitores uma falsa sensação de segurança. Se sei onde meu filho está, tudo bem, pensam eles. Mas não é bem assim…" No entanto, ainda não consegui, na maioria das vezes, uma resposta objetiva sobre os nomes e sobrenomes dos seus companheiros de noitada: ___ Você vai com quem? Quem levará? Quem irá buscar?

Pelo sim ou pelo não, quando não me vejo na porta de uma casa noturna ou barzinho, à espera dos meus filhos e convivas, avanço a noite em casa, notívago, zumbi, como se estivesse à espera de qualquer tipo de notícia; ainda bem que Deus existe e que ele é sempre portador das boas! 

Essa vida perigosa de nossos filhos ! Read More »

Nossa Caixa do Brasil !

Passava da meia noite da última quarta-feira, quando o Jornal da Globo anunciava a divulgação pelos Banco do Brasil e Nossa Caixa-Nosso Banco, o fato relevante de uma negociação que pode transformar o BB no 13.º maior do continente americano (incluindo os EUA) em ativos. O Banco do Brasil passaria a ter um total de US$ 260,8 bilhões em ativos. A Nossa Caixa está na 52.ª posição, com US$ 29,4 bilhões. Juro que foi a maior boa surpresa para mim, nos últimos tempos, principalmente pelo fato da manutenção dos bancos na esfera pública, sob a tutela do Estado; porque ambos representam, do ponto de vista instituição bancária, aqueles em que mais acredito e confio.

Faz alguns dias, estava numa fila para pagamento de contas da Nossa Caixa e fui abordado por um funcionário antigo dela: ___ Raul, há um zum-zum-zum que a Nossa Caixa vai ser privatizada!? De pronto, respondí: ___ Boatos sempre existem na área pública, mas a Nossa Caixa dá bons exemplos desde o governo Mário Covas, quando estava no vermelho e se recuperou, tornando-se um exemplo de gestão de sucesso. Percebi que o funcionário não foi convencido, justamente porque os governos do PSDB têm um histórico de privatizações importantes (telecomunicações, por exemplo) para focalizar mais a sua atuação em políticas públicas eficientes nas áreas do saneamento, saúde, habitação e educação, para citar algumas.

Mas a notícia da compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil e não por outras instituições bancárias privadas, agrada pelo fortalecimento do BB como um concorrente importante no mercado bancário, turbinado com o reforço da sua atuação no Estado de São Paulo, onde a Nossa Caixa conta com 559 agências e dispõe dos depósitos judiciais na sua carteira, uma prerrogativa só de estatais.

O governo paulista tem 71,25% das ações da Nossa Caixa. Outros 28,75% estão em poder do mercado. Essa venda depende da aprovação da Assembléia Legislativa, mas é possível que não sofra tantas restrições, porque não se trata de privatização. Além disso, conforme informações apuradas pelo jornal Folha de São Paulo, o governo do Estado ficaria sem banco e se limitaria a criar uma agência de fomento para estimular investimentos no Estado, como em transportes sobre trilhos, obras do Rodoanel, construção de estradas vicinais e ampliação da rede pública de hospitais.

Então, se as negociações entre os governos Lula e Serra forem confirmadas, creio que os impactos serão menores na esfera política, em especial no quesito fundamental da situação dos bancários em questão, porque o seu poder continuará no poder do Estado. Pelas repercussões negativas, das interpretações dos bancos privados, que sugerem um leilão para manterem as suas vantagens no terreno da compra de bancos menores, acho que essa incorporação, compra ou coisa que o valha pelo BB será muito boa para o povo brasileiro. Sem ufanismo ou demagogia, se é bom para o povo é muito melhor para o Brasil.

Nossa Caixa do Brasil ! Read More »

SP quer Geraldo !

Não são apenas as pesquisas pré-eleitorais do último final de semana que indicam Geraldo Alckmin como um dos mais preferidos do eleitor da Capital para ser o seu prefeito. Ele conta ainda com a confiança de uma grande parte do tucanato, ao defender o respeito a democracia interna, um dos pilares das origens do PSDB. Geraldo seduz ao se afirmar um construtor de pontes para unir todo mundo. Seu maior desafio agora é concretizar o desejo de unidade do partido e dos seus aliados históricos, em torno de um projeto que faça a prefeitura paulistana andar sempre para frente.

Há uma torcida organizada pelo fracasso das oposições. Apostam na divisão radical de forças para alimentar inclusive caminhos mais livres para um terceiro mandato na presidência da República em 2010. Os momentos críticos da história recente do PSDB revelam a sua influência, justamente porque o partido configura numa alternativa real pela retomada dos postos mais estratégicos da vida nacional. O temor pelo retrocesso na direção da Capital estimulou a escalação de um dos melhores quadros tucanos para a disputa eleitoral em 2008, em que pese os conflitos na sua base aliada, que também está preparada para disputar a mesma posição.

O fato de Geraldo ter disposição de concorrer, e de ser reconhecido e aceito por isso, não o isenta da consideração da força de Gilberto Kassab, que até agora continuou os programas traçados pelo PSDB, governando a maior cidade da América do Sul com os principais quadros tucanos de São Paulo. Geraldo acaba de resgatar a unidade com o PTB e, se houver um segundo turno como prevêem as últimas pesquisas, garante portas abertas ao DEM e para os partidos que conseguiu reunir do seu lado nessa primeira fase de articulações – o PMDB e o PV, por exemplo.

Geraldo sabe que um tucano só não faz verão. Divergências eleitorais são normais e ele acredita nisso. O interesse do povo paulistano que se satisfaz com governos comprometidos com o seu futuro é maior que as divergências momentâneas. Qual tucano contribuirá com um gesto de unidade após superar as últimas turbulências ?

SP quer Geraldo ! Read More »