Todos os caminhos levam a Santos. Essa afirmação não está restrita ao "quase perfeito" Sistema Anchieta-Imigrantes, mas aos atrativos que Santos oferece hoje, de cidade bem organizada, limpa, segura e com excelentes perspectivas para o futuro, com o saneamento básico da região, a recuperação do Centro histórico e as "descobertas recentes" do gás e do petróleo, por exemplo. Mas essa mesma Santos já não suporta o grande volume de carros a circular pelas suas ruas, necessitando de um sistema de transportes coletivos mais eficiente e do alerta de consciência para o uso racional dos meios individuais de locomoção. O jornalista José Guido Fré, leitor assíduo deste blog, sugere uma alternativa polêmica: "vamos discutir o rodízio?"
Guido Fré é um apaixonado por Santos. Aliás, esse sentimento vem se espalhando, como disse no início, pelas inúmeras razões que nos levam à essa opção de vida. O boom na construção civil, de apartamentos para a classe média, e a procura por conjuntos comerciais para escritórios, formam um novo retrato, além daquelas carinhas de crianças impressionadas com o primeiro contato com o mar. Santos não é apenas mar e Guido Fré pensa longe, para evitar que o caos seja instalado na sua terra.
Guido é tão apaixonado por Santos, que embora trabalhe em São Paulo, faz questão de voltar para a cidade todos os dias, assim como uma legião de santistas que ainda não encontraram uma possibilidade de emprego melhor por aqui. Por enquanto, nesse assunto, a prosperidade ainda se resume às perspectivas futuras. Milhares de ônibus fretados sobem e descem a Serra diariamente.
No texto da proposta, que pode ser polêmica, de Guido, há alguns fatores que reparto com os leitores deste blog, a começar pela geografia santista, vamos ao seu texto:
"O município de Santos possui uma área de 231,6 km². Sua área insular é de 39,4 km², de acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento. Contados alguns poucos acréscimentos devido a aterros para construção do cais do porto, ainda permanecemos com os mesmos 39,4 km² na área insular e, com alguma variação, com o mesmo número de ruas, praças, avenidas. E isto é, teoricamente, imutável.
"Sem espaço territorial na ilha, a verticalização, ou chamado "solo criado", fez crescer o adensamento populacional, bem como o desenvolvimento social e o econômico da cidade, acompanhando, nas mesmas proporções, o ritmo de outras cidades do Estado e os problemas por eles gerados.
"Acredito que o número de vias da cidade não se tenha alterado muito nos últimos 30 anos, o que não ocorreu com o número de veículos que por aqui circulam. Lembro que nos anos 80 havia uma motocicleta lacrada na cidade para cada 27,4 habitantes. Não me recordo o de automóveis, mas era algo assustador, igualando-se, proporcionalmente, ao da Capital.
"Tão assustador quanto o que se observa hoje, ao tentarmos trafegar por qualquer rua da cidade. Há 20 anos qualquer percurso de automóvel, dentro da área insular, não demorava mais do que 20 minutos. Hoje, o mesmo tempo é gasto para se deslocar da Ponta da Praia até o José Menino.
"Proliferam os estacionamentos, os "guardadores de vagas e de carros", os semáforos "burros" e os "inteligentes" (aqueles em maior número do que estes), os radares que limitam a velocidade, a lentidão dos coletivos. Enfim, o trânsito na cidade tende, em breve, a sofrer um nó górdio.
"Assim, a proposta de criação do rodízio de veículos em Santos chega num momento crítico para a cidade e, aparentemente, pode-se tornar uma solução imposta verticalmente, já que pedir, educadamente, à sociedade que deixe seu carro em casa e uso o transporte coletivo será o mesmo que pregar no deserto. O primeiro e mais forte argumento seria a ineficácia do transporte coletivo, constatada por enquête feita pelo jornal "A Tribuna".
"Aqui cabe o "dilema Tostines": Não se usa ônibus por ineficácia ou a ineficácia é causa pela falta de usuários?
"Ao estudar a adoção do sistema de rodízio de veículos tanto a Câmara quanto a Prefeitura precisam estabelecer condições ideais para a oferta de um transporte coletivo rápido e eficaz, que atenda às necessidades da população. Será necessário, também, reavaliar as vagas para estacionamento nas vias, realocação dos pontos de táxi e, principalmente, retomar a figura do cobrador nos coletivos, uma vez que em grande parte a morosidade do tráfego se deve ao longo tempo que o motorista perde ao exercer a dupla função. Ou então, colocar um vendedor de bilhetes em cada ponto de ônibus, opção esta esdrúxula, pois o número de contratados seria maior do que o de ônibus em circulação.
"Está claro que a proposta do rodízio provocará apaixonadas e insanas discussões, com os mais absurdos argumentos, como um adotado por taxistas à época da aprovação do Codigo Brasileiro de Trânsito, que obrigava o uso do cinto de segurança. Diziam alguns: "o cinto de segurança será usado por assaltantes para nos enforcar!" Nunca soube de um taxista morto por enforcamento…"
Pois é, José Guido Fré, tenho um amigo que não coloca o cinto de segurança para não amassar a camisa, e que sem dúvida resistirá tomar um coletivo até o centro de Santos. Vamos saber por aqui, o quê pensam os nossos leitores!