Gays ficam sem opção em Santos.
O poder de consumo dos homossexuais vem crescendo consideravelmente. Essa tendência pode ser observada com o volume de dinheiro que circula nos municípios que promovem eventos que levam a bandeira da causa gay. No entanto, ainda há muita resistência da própria iniciativa privada em investir dinheiro e associar suas marcas a este estilo de vida. A afirmação é de Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia, longe dele ter lido a matéria da jornalista Patrícia Diguê, de A Tribuna de Santos, intitulada "Santos falha em mercado para público GLS", no último domingo.
No texto inicial, Patrícia faz a seguinte constatação: "Santos não está preparada para lucrar com o pink money (dinheiro cor-de-rosa), porque oferece raras opções de lazer e entretenimento para este segmento, que, conforme pesquisas, gasta mais que os heterossexuais". Ainda de acordo com a matéria, "Santos é vista, pelos próprios gays, como uma cidade conservadora, que não tolera estabelecimentos voltados para os homossexuais. Quando surge um bar novo, a vizinhança faz de tudo para fechar".
Há um sentimento unânime sobre Santos, que tem se caracterizado como um dos municipios mais aprazíveis do Brasil. Depois das primeiras notícias sobre a recuperação parcial da balneabilidade das suas praias (no início dos anos 90), da construção da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes, da recuperação do seu centro histórico e da reurbanização da orla marítima, e agora com as excelentes perspectivas anunciadas pelo Programa Onda Limpa da Sabesp (que ligará e tratará 95% dos esgotos da Baixada Santista), aumenta a cada dia o interesse das pessoas em usufruir o máximo da cidade.
Por causa do meu trabalho em São Paulo, subo e desço a Serra, diariamente. Quando justifico que moro em Santos há sempre uma exclamação de prazer: ___ nooosssa, ainda vou viver na sua cidade, mas não sei se antes ou depois da aposentadoria.
Essa intenção vale muito para uma cidade, que mantém a sua vocação turística sempre em evidência nos últimos tempos. Mas Santos revela também que ainda não está pronta para receber turistas de todas as origens. Mesmo com o mercado imobiliário vivendo um verdadeiro "boom", com a proliferação de construções em quase todos os seus bairros; a rede hoteleira ainda deixando a desejar, num evidente contraste com os seus centros comerciais, bares e restaurantes.
Retratei cenas da realidade regional, para tentar uma explicação sobre o sucesso de outros centros turísticos, num esforço comparativo. Afinal, qual o perfil do turista que visita Santos? Será que os responsáveis pelo turismo local desconhecem o fato que São Paulo, quando realiza a sua Parada do Orgulho Gay atrai cerca de 600 mil turistas, que vêm para participar da manifestação, fazer compras e se divertir nos bares, restaurantes e casas noturnas paulistas?
Na matéria de A Tribuna, a secretária de Turismo de Santos, Wânia Seixas, disse que o assunto não é recorrente na secretaria. E acredita que o poder público não tem a função de incentivar a criação de opções de lazer para o público GLS: "Acho que tem que ser algo natural. Aliás, acredito que criar locais específicos para os gays é uma forma de discriminar. Santos não é uma cidade preconceituosa, recebe qualquer tipo de pessoa".
Fica evidente que Santos está despreparada para receber qualquer tipo de pessoa. Basta observar o receptivo da cidade aos passageiros que chegam nos transatlânticos ou que chegam antes para embarcar depois nos seus cruzeiros e sonhos. Porque a própria Baixada Santista vive um momento de identificar e instrumentalizar o seu potencial turístico, conforme destaca Lúcia Maria Teixeira Furlani, presidente do Santos e Região Convention & Visitors Bureau, inclusive para desenvolver projetos para incentivar atrações mais segmentadas.
Enfim, conservadora ou preconceituosa, ao que parece, Santos não pode ficar alheia da realidade ou exilada em um armário, infeliz por não conseguir superar as suas diferenças. Até quando os gays ficarão sem opção em Santos?
Números sobre o perfil do público gay, para o planejamento estratégico, obtidos do Censo GLS, promovido pelo Instituto de Pesquisa e Cultura GLS:
18 milhões de brasileiros são gays, 10% da população;
30% é o que eles gastam a mais do que os héteros;
40% estão em SP, 14% no RJ, 8% em MG e 8% no RS;
36% são da classe A, 47% da B e 16% da C;
57% tem nível superior, 40% médio e 3% ensino fundamental.
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