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Nova hora da Reforma Política ?

Levantamentos sobre os números de medidas provisórias (MP’s) indicam que daqui a sete novas iniciativas do gênero, o governo Lula estabelecerá um novo recorde em comparação aos oito anos do governo Fernando Henrique: em seis anos Lula editou 328 MP’s contra 334 de FHC. Para quem sempre criticou essa atitude, porque achava um desrespeito com o Congresso Nacional (que ele próprio afirmou no passado se tratar da casa de 300 picaretas), Lula agora diz que é "humanamente impossível governar se não tiver medida provisória". Com isso, restou a senadores e deputados o papel de votar a favor ou contra o governo, para tentar descongestionar a pauta de votação e discutir projetos a que se propuseram nas campanhas eleitorais mais recentes.

Quando estava na oposição, Lula sempre comparava as MP’s com os famigerados decretos-leis, que era o modo dos governos ditatoriais imporem as suas vontades e as reformas que achavam necessárias, sem qualquer preocupação com o equilíbrio de forças e a autonomia entre os poderes constitucionais. O presidente da República reconhece, no entanto, que a democracia impõe a necessidade de discussões mais amplas no Congresso Nacional, mas se contradiz quando considera que a democracia atrapalha as ações do governo.

Então há que se encontrar um meio termo entre as urgências do país, a agilidade dos governos e a importância do Parlamento. Essa harmonia, sem dúvida, proporcionaria um salto de qualidade no regime democrático brasileiro, estimulando a própria população a acreditar mais nos seus representantes, seja para governar, seja para legislar, caso contrário haverá palavras de ordem incentivando a interpretação da desnecessidade dos senadores, deputados, partidos, e a opção pelo totalitarismo.

Os parlamentares vivem processos de desgaste desde a Constituinte de 1988, que foi palco de espetáculos como o do balcão de negócios e de trocas de apoios por benesses governamentais e privadas, turbinado com a CPI do Orçamento, época dos chamados "anões do orçamento" (maioria dos senadores e deputados envolvidos tinha baixa estatura física) mergulhados em fraudes com recursos da União, para entidades filantrópicas das suas famílias e para acertos de comissões ao carimbar dinheiro público para empreiteiras. Mais recentes foram os escândalos do mensalão e das suspeitas de fraude no BNDES.

A profusão de MP’s por Lula prova que a falta de consenso e de uma maioria parlamentar limitam a convivência dos governos com a democracia, sujeitando-os à tentação pela compra de votos. Enfim, não será o momento de trazer à ordem do dia a reforma política, que também poderia abrir e clarear os caminhos de uma nova visão e confiança da sociedade para a verdadeira democracia representativa no Brasil ?

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Meio ambiente ilimitado ?

A partir de 1988, as leis ambientais ficaram mais rigorosas e os cuidados com os impactos ao meio ambiente foram extremados. Comemorei esse novo contexto, porque testemunhei a situação de Cubatão e ajudei a combater a vinda de usinas nucleares para Peruíbe e Iguape. No entanto, a dificuldade de conciliar a preservação ambiental com o desenvolvimento econômico, valorizando políticas de sustentabilidade, criou um verdadeiro cabo de guerra entre os defensores radicais do não pode fazer e os empreendedores que se comprometem fazer da forma correta. Nesse cenário sobrevivia a senadora Marina Silva, até não resistir mais às pressões e avisar que estava deixando o ministério do Meio Ambiente, entregando o bastão a um sucessor com fama de antenado com os prazos das obras e as vantagens do crescimento econômico.

Essa fama de burocrata político que desburocratizou os órgãos de licenciamento ambiental no Rio de Janeiro, transforma o novo ministro Carlos Minc na grande esperança para a execução das obras previstas pelo PAC – Programa de Aceleração do Crescimento do governo Lula, principalmente porque ele conhece o assunto e tem idéias consolidadas a respeito. Acontece que o mérito de não analisar com pressa os projetos de novos empreendimentos e obras, não é exclusivo de Marina Silva, que, por sua história de dedicação à causa ecológica ao lado de Chico Mendes, aumentava os graus de cuidados quando os objetivos tinham a ver com desmatamentos ou construções em áreas de preservação como os manguezais: os orgãos de análise e decisão sobre o meio ambiente não contam com uma infra-estrutura capaz de responder às suas demandas.

Quando se falava que um empreendimento daria um novo impulso à economia regional, como é o caso do anunciado Porto Brasil, em Peruíbe, por exemplo, logo surgiam dúvidas sobre o tempo que levaria para a sociedade conhecer os estudos e relatórios de impacto ambiental (EIA-RIMA). Marina e os seus correligionários evitavam decidir sobre esses temas mais polêmicos, às vezes precipitando nãos. Com esse andar lento da carruagem, que faz ninguém acreditar mais em obras no meio do ambiente, qual será o futuro do Brasil com um ministro conservacionista menos radical ?

Realmente não tenho idéia, se ele optar por uma gestão centralizada e não atender às carências dos sistemas ambientais nos estados e municípios. No Rio de Janeiro, Minc teve parte da estrutura, que permitiu a agilidade na emissão de licenças, financiada por empresários associados à Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), importando R$ 22 milhões na contratação de funcionários temporários, aquisição de materiais e reformas na sede da sua ex-secretaria. Com a nova estrutura e metodologia, acelerou a emissão de licenças, somando, desde fevereiro de 2007, cerca de 2.068, número aproximado da quantidade de licenças emitidas nos três anos anteriores.

No Brasil, a questão ambiental foi tratada com respeito a partir da aplicação das leis, havendo um conflito permanente em relação à interpretação das mesmas, principalmente quando os atores que mais pressionam são aqueles detentores de influência governamental e de poderio econômico. Por essa razão ainda existem denúncias sobre a complacência das autoridades, quando insurge a defesa do desenvolvimento econômico a qualquer preço.

A saída de Marina Silva representa uma perda para o Brasil alinhado com o desenvolvimento sustentado. Mas também o que adianta para o país uma gestão consciente da importância da Amazônia e dos nossos recursos naturais, se as ferramentas para a fiscalização, autuação e cumprimento das leis são deficientes, quase nulos ? A questão ambiental precisa constar da agenda de quem planeja em nosso país, em todos os níveis, com as ressalvas e o respeito necessário !

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A verdade de Dilma !

Faço parte de uma legião de militantes políticos que tinha horror de ser qualificado como direitista. Por isso, o depoimento da ministra Dilma Rousseff à Comissão de Infra-Estrutura do Senado, na terça-feira passada, reacendeu essa chama "incendiária" ao crescer o tom na resposta ao senador José Agripino Maia (DEM-RN), sobre a lógica das verdades fáceis no momento de tortura, quando a mentira, nesse caso à época da ditadura no Brasil, configurou um verdadeiro ato de heroísmo ao flagelo na prisão política. Mas não me incluo entre aqueles que suspiraram, como se estivessem de alma lavada, com o resgate do espírito e das bandeiras de lutas passadas.

Concordo com o editorial do jornal "O Estado de São Paulo", O engodo do PAC e da ministra (09/05/2008), sobre o discurso mais fácil que a eficiência no desempenho de governar investimentos para melhorar a infra-estrutura do país. Parcela significativa da imprensa foi unânime em considerar que o depoimento da ministra foi um sucesso, como se o Brasil tivesse nascido com o lulo-petismo. Acho que isso é fruto de uma parte predominante dos atuais repórteres, redatores, comentaristas e editorialistas, que acompanhou o discurso de Dilma in loco, pela televisão, internet ou rádio, terem vivivo o meu conflito direita/esquerda, da época de lutas contra o regime autoritário brasileiro ou mais recente a favor do impeachment de Collor com a fantasia de caras-pintadas. Bateu na democracia? Trombou em todos nós!

Dilma Rousseff é a atual pré-candidata de Lula para sucedê-lo em 2010, enquanto não se aprova a possibilidade dele buscar um terceiro mandato. Lula é o responsável em atribuir à ministra a maternidade do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, um filho mantido num balão de oxigênio, porque dos R$ 17,2 bilhões previstos para dar os seus primeiros passos, apenas R$ 1,9 bilhão foi empenhado e, destes, ínfimos R$ 13,7 milhões foram efetivamente gastos no primeiro quadrimestre.

Como analisa e provoca o editorial do Estadão, "Lula passeia pelo país lançando pedras fundamentais – ou seja, inaugurando intenções -, na companhia da mãe do PAC, que declarou dias atrás, em Santa Catarina, que o que trava o PAC é a qualidade dos projetos que nós herdamos". Por ironia do destino, a dedução é de que a culpa pertence ao governo anterior ao lançamento do PAC em janeiro de 2007, ou seja: do próprio governo Lula no seu primeiro mandato.

O crescimento do país não sai do papel, mas Lula navega em mar de almirante, com índices imexíveis e crescentes de popularidade, porque fala do modo que o povo quer ouvir e entende, ficando a impressão que o Brasil foi transformado num grande canteiro de obras. Uma ficção que encanta um povo aparentemente feliz com as bolsas compensatórias de renda e que tempestivamente favorece uma maré de denúncias por todas as partes do nosso país, com obras e instituições oficiais (BNDES, inclusive), no banco dos réus, sob suspeita!

Me orgulho muito de ter militado pela esquerda, por convicção doutrinária e ideológica sempre. Com o tempo, amadureci e compreendi a evolução do mundo e da política. Não me considero uma metamorfose ambulante, mas ao responder ao teste do sociólogo Alberto Carlos Almeida, no que ele chamou de o "politicômetro", na revista "Veja" (páginas 70 e 71) deste final de semana, concluí que me tornei um liberal moderado, que admite certo grau de restrição às liberdades individuais e alguma regulação e controle do Estado sobre a economia. Francamente, e sem mentiras. E você ?

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Na Geral do PSDB !

Como escreveu o deputado Bruno Covas, na seção Tendências e Debates da Folha de São Paulo, desta segunda-feira, não dá para esquecer que o PSDB nasceu para ser um partido profundamente democrático em sua vida inteira. A aprovação do nome do governador Geraldo Alckmin para disputar a prefeitura da Capital, nas eleições deste ano, em meio a debates acalorados entre companheiros que defendiam candidatura própria e coligação com o DEM. Este é o primeiro sinal de fumaça branca com o aval do PSDB, antes da convenção municipal de junho.

Aproveito um pouco mais do texto de Bruno Covas, defensor da candidatura própria do PSDB, quando assinala que impedir que o partido tenha um representante próprio nas próximas eleições – porque tem participação no governo municipal, em conjunto com o DEM e com outras agremiações – "seria o mesmo que promover a defesa do atrelamento partidário à máquina governamental, à custa da liberdade de escolha do eleitor e do engessamento da democracia". Em tese, ele levanta em parte o espírito da afirmação incluida por Franco Montoro na introdução do manifesto tucano: "longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas".

Por outro lado, não posso considerar a dúvida do vereador paulistano, Gilberto Natalini, sobre o quê fazer com as centenas de fotos tiradas em ações conjuntas com Gilberto Kassab e o secretariado tucano do seu governo. Doem as rupturas, principalmente quando levamos em conta a fidelidade de Kassab com o programa de governo elaborado e executado desde a primeira hora pelo PSDB sob José Serra.

Bruno relembrou que "na concepção de democracia do PSDB, não há espaço para composições de governo com sacrifício de candidaturas legítimas… Muito mais que os interesses de alianças políticas ou de estratégias eleitorais, o que está em jogo neste momento são exatamente os princípios que fundamentaram a criação do partido, a começar pela estrita fidelidade às suas diretrizes".

Juro que sempre assimilei esse discurso, até compreender a necessidade das alianças políticas para vencer eleições e executar programas comuns de governo. Geraldo é um legítimo representante do PSDB e tem todo o direito de pleitear ou de ser convencido pelas bases partidárias para uma disputa eleitoral importante como a deste ano. No entanto, acho um erro esse encaminhamento da direção local tucana.

Mas também acho que não cabe a reação intempestiva do vereador Carlos Apolinário (DEM), hoje pela manhã no rádio, dizendo que o seu partido não tem qualquer compromisso com o PSDB num hipotético segundo turno. Se ambas direções radicalizarem na compreensão do seu momento de imaturidade política, é possível considerar que esse despreparo facilitará as coisas para os lulopetistas, quando o embate for de natureza superior, previsto para 2010.

Não dá para esquecer que, para fazer germinar novamente a esperança, é preciso fortalecer o jeito de fazer política com respeito e confiança. E se a decisão a partir de agora é Geraldo, que em torno dele se construa a unidade, sem alijamentos. Não há razão para dispersar…

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Qual o país do índio brasileiro ?

Numa roda de parlamentares em Brasília, faz duas semanas, ouvi um comentário sobre a ação do governo Lula na demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, que conduz a política externa com viés extremamente ideológico e com base no que é mais politicamente correto. O tom era de piada, mas para os petistas pode soar como uma referência preconceituosa dos ideais mais conservadores e racistas contra os direitos indígenas: "O Brasil vai acabar perdendo um pedaço do seu território. Imagine se esse mesmo governo arbitrasse sobre o destino do Acre no início do século passado ? Veja como se comporta o Lula na Bolívia e na Venezuela… os investimentos da Petrobrás estão virando pó !"

O tema Raposa Serra do Sol está na ordem do dia e já se configura num processo bastante conturbado e ignorado pela maioria da população brasileira, porque o governo não apresenta sintonia com a sociedade e não repete a mesma habilidade do então chanceler Barão do Rio Branco em defesa do Acre. Aparentemente o governo repara mais uma dívida étnica e favorece a suspensão da devastação da floresta amazônica nas áreas fronteiriças, reacendendo antigas polêmicas sobre a soberania e a vigilância militar das nossas divisas.

Conforme a análise positiva do ISA – Instituto Socioambiental, destacada na Folha de São Paulo deste domingo, com base em dados levantados pelo Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que considera as reservas indígenas importantes para frear a expansão das atividades predatórias, impedindo o avanço da grilagem de terras e o desmatamento, é bem provável que o governo Lula transfira para os próprios índios o trabalho de fiscalização e autuação que cabe ao IBAMA (uma ironia!).

Será que a demarcação de um território, quase que a definição de um país indígena no Brasil, é a solução para contemplar a diversidade prevista na Constituição Brasileira ? Essa medida apenas fará bem à consciência nacional, como a profusão de políticas públicas em forma de cotas compensatórias ? Quem fará o trabalho de fiscalização e proteção da mata e das nossas divisas ?

A forma como o governo federal impõe a sua decisão, só consolida conflitos entre índios e brancos, além de abrir uma avenida para a influência de organizações não governamentais mantidas com recursos estrangeiros, reabrindo também o tema da internacionalização da Amazônia. Porque o governo Lula insiste na definição de áreas contínuas, interrompendo a idéia defendida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja proposta se orientava no formato de "ilhas", para garantir a boa convivência entre brancos e índios, produtores agrícolas e preservadores das raízes culturais, costumes e da floresta em pé.

O Estado de Roraima conta hoje com 32 reservas indígenas, cobrindo 46% do seu território. A Raposa Serra do Sol responde por 7,5% da área do Estado. Nesse cenário territorial abre-se um debate acerca da sobrevivência dos roraimenses, que têm mais de 70% das suas terras como áreas indígenas ou reservas ambientais.

A polêmica está nas rodas políticas, entre os governos federal e estadual, no meio dos movimentos indigenistas e ecológicos, nas páginas dos principais jornais brasileiros e estrangeiros. Hélio Jaguaribe escreveu na Folha de São Paulo sobre o quê chamou de a insensatez de um jardim antropológico, cobrando das autoridades governamentais medidas que zelem pela unidade do país e não contribuam para autonomizar supostas nações indígenas. No mesmo período, Boris Fausto refletiu no jornal O Estado de São Paulo, que a nossa constituição garante o direito à diversidade e que a sua consagração é um elemento positivo para a construção de uma Nação mais risca e mais generosa.

Arrozeiros de Roraima, como os seringueiros do Acre à época da sua conquista para o Brasil, são influentes para a economia e a sobrevivência do Estado. Eles geram cerca de 2 mil empregos e são responsáveis por 6% do PIB local. Essas razões estimulam o governo do Estado a defender a sua realocação em novas terras, porque não pode sofrer um baque desses na sua economia. E a conjugação de interesses econômicos com a tentativa de convivência na nova demarcação de terras provocam conflitos arbitrados pelo governo Lula e o seu poder de polícia federal.

O desfecho dessa história será bom para o Brasil ? Indígenas de todas as nações brasileiras precisam da atenção governamental, com orientação para a sua sustentabilidade e respeito, mais que simplesmente uma nova cota ou Bolsa-Índio. O Brasil precisa de governos mais atentos com a integração nacional. Longe de considerar a hipótese de perder uma parte do nosso país, com o reconhecimento das nações indígenas nas nossas dimensões continentais.

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“Pedi para Deus me matar !”

Os teles e rádios jornais, em cima da hora, ocupam o tempo neste domingo com a reconstituição do assassinato da menina Isabella Nardoni, em São Paulo. Especialistas em psiquiatria e em direito expuseram estatísticas e opiniões sobre as razões e os elevados índices de violência contra as crianças, destacando que atualmente uma é morta a cada 10 horas. Num intervalo desse assunto, que choca o Brasil há muitos dias, a notícia da prisão de um pai austríaco que manteve uma filha num porão durante 24 anos, sendo o suposto e incestuoso pai de sete de seus filhos. E, na marginal desse noticiário, em Guarujá, o registro do fim do suplício de cinco crianças queimadas e agredidas pelos próprios pais.

Provocado a comentar sobre o tema "violência infantil" e na condição de pai de quatro filhos, que já entendem as diferenças de formação familiar, religiosa e educacional, aproveito para revelar que ainda hoje não consigo controlar o estresse gerado pela falta de controle da situação em fatos corriqueiros, desde a travessia de uma rua sem olhar para os dois lados ou à exposição ao risco numa subida em cadeira próxima à janela, muro etc. Sem falar do coração na mão quando os liberamos para as baladas e mega-shows, na multidão, com horário marcado para o retorno, e não há uma justificativa, um sinal de vida por telefone ou recado por qualquer outro meio.

O estado de violência é incontinenti e responsável pela sensação do risco e da chance de perda dos filhos, por qualquer motivo, reforçando a nossa sensibilidade para as constatações da escritora Lya Luft, no seu ponto de vista ‘a revista Veja deste final de semana, com o título "Menina quase morta, sozinha". O estresse incontrolável sempre leva às expressões radicais de reconquista e de carinho, que não foram percebidas até agora no caso de Isabella: "Não a vi abraçada, levada no colo por alguém desesperado que tentasse lhe devolver a vida, que a cobrisse de beijos, que a regasse de lágrimas. Estava ali deitada, a criança indefesa, como um bicho atropelado com o qual ninguém sabe o que fazer", escreveu Lya.

No caso registrado em Guarujá, os pais saíam para o trabalho e deixavam presas crianças, com idade variando de dois a nove anos, com marcas de queimadura que, segundo as próprias vítimas eram aplicadas por palitos de fósforos, isqueiros, água fervente ou colheres aquecidas ao fogo. Vizinhos impotentes com a situação revelaram que as agressões físicas, berros e xingamentos ocorriam frequentemente.

Qual a diferença entre os casos da austríaca Kerstin, Isabella e dos irmãos do Guarujá ? A meu ver nenhuma, senão a necessidade da definição de punições mais exemplares para inibir esse comportamento irracional, cujo link único com o amor é o apelo da mais velha das crianças sobreviventes dos maus tratos: "eu sofria demais, até pedi para Deus me matar !"

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PMDB com DEM não é leite derramado !

A indefinição sobre a candidatura própria do PSDB para a prefeitura de São Paulo ajuda, mas não é fundamental para o partido perder musculatura eleitoral. Com a notícia do apoio do PMDB à reeleição de Gilberto Kassab (DEM), inclusive com o oferecimento de um vice na sua chapa, é importante e já foi desdenhada pelo PSDB, que em São Paulo faz uma associação imediata de uma aliança com o Orestes Quércia, em litígio com o tucanato há 22 anos. De que adianta querer um projeto nacional, com a reconquista da presidência da República, se há um quê provinciano nessa perspectiva de aliança ?

O PMDB é maior do que o Quércia. Quem não se recorda da sua posição eleitoral em 2002, quando o partido, pela sua direção nacional, compunha com o PSDB na vice de José Serra, e ele apoiou isoladamente a candidatura de Lula ? (Ele também alimenta dificuldades de relacionamento com os tucanos). E quem já esqueceu 2006, quando o próprio Quércia concorreu ao governo do Estado, porque setores do PSDB rejeitavam uma aliança regional, com a oferta de uma vaga ao peemedebista para o Senado ? 

Poucos recordam, contudo, que em 1990 o então senador Mário Covas liderava com folga as pesquisas eleitorais para o governo do Estado, mas ficou em terceiro, atrás de Paulo Maluf (PDS) e Luiz Antonio Fleury (candidato de Quércia, no PMDB). Muitos vão se lembrar do movimento "Maluf nunca mais" e do apoio do PSDB ao candidato de Quércia, naquele segundo turno das eleições.

Não há nada de complexo nesse cenário. O PMDB não serve para uma aliança na Capital, mas em Santos não tem problema ? Para quem enxerga a política com a perspectiva de um sistema parlamentarista, a estrutura partidária deve ser considerada mais importante que os seus personagens e líderes. Há apenas um PMDB no Brasil, embora o privilégio de correntes políticas divergentes não seja apenas desse partido.

O movimento do PMDB para junto de um partido aliado do PSDB, o DEM, deve ser encarado como uma vitória contra os seus principais adversários, o PT e o governo Lula, que não foram capazes de mantê-los no projeto de tentar resgatar a prefeitura de São Paulo da coligação PSDB-DEM. Esse lado fica reforçado, independente de candidaturas solteiras. Vale comemorar que a candidatura de Marta Suplicy, líder atual na corrida de 2008, teve o seu primeiro tropeço.

Antes de produzirem milhares de correntes reacionárias à essa aliança importante por São Paulo, penso que o melhor é manter o espírito de unidade, para caminhar num mesmo sentido, sem precipitações e sem verbalizar coisas impensadas para não se arrepender depois !   

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Tremor acorda fantasma de “tsunami”

Não percebi a terra tremer na terça-feira à noite, mesmo trabalhando próximo da rua Sumidouro, em Pinheiros. Colegas de trabalho, em outras dependências do prédio da Sabesp, não ficaram isentos dessa sensação, que para mim, se tivesse sentido, minimizaria o ocorrido interpretando como se fosse a passagem de um veículo mais pesado nas redondezas. Mas, se estivesse em Santos, com certeza me dedicaria a acalmar aqueles que chegaram a temer por grandes ondas, das catástrofes anunciadas por Nostradamus e outros profetas.

O Brasil é um país privilegiado em relação às suas condições naturais, embora o homem daqui também contribua para não cuidar de maneira adequada do meio ambiente. Parece que estamos sempre pagando para ver e um susto desses nos desperta para o nosso tamanho diante das leis do universo. A vida não imita a arte cinematográfica, como naqueles filmes-catástrofe. Não há missão momentânea que nos faça sentir mais precavidos e com menos risco.

Imagino, lí e vi depoimentos de pessoas que não voltaram para as suas casas, por causa do abalo de 5,2 graus na escala Richter. Segundo o chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, Lucas Vieira de Barros, em termos mundiais, os 5,2 graus são apenas uma magnitude moderada, mas em termos de Brasil são expressivos. Um grande susto, daqueles de acordar fantasmas da nossa imaginação.

Como praiano, não me cansei, no dia de hoje, de tranquilizar conterrâneos com as declarações da professora Tereza Yamabe, da cadeira de geofísica da Unesp, que o Brasil não é um local propício a grandes terremotos em razão de estar no meio de uma grande placa, região mais estável que as bordas. Portanto, não há risco de maremotos ou tsunamis.

Enfim, o medo é provocado pela ignorância das coisas, enquanto o respeito é pelo conhecimento. Duro mesmo é o intangível, aquilo que povoa a nossa imaginação diante de tantas previsões por magos, alquimistas, profetas e videntes, relembrados em vão com esse susto?

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Preparar e qualificar para tanto petróleo.

Volto ao assunto da última descoberta da Petrobrás, na Bacia de Santos, porque ainda pairam muitas dúvidas sobre o que está reservado para o futuro do Brasil com os seus dividendos. Vivo numa região ansiosa, justamente porque essas notícias, aliadas às movimentações concretas da Petrobrás, sinalizam com um salto estratosférico no seu desenvolvimento econômico, desde as implantações do Porto de Santos e do Pólo Industrial de Cubatão. E a pergunta que não cala é a seguinte: quando isso será transformado em realidade?

A imprensa vem dando muita ênfase à força econômica dos municípios cariocas que recebem royalties do petróleo. Mas essa pujança não exclui a abundância de problemas na sua infra-estrutura regional e a exclusão social. Os dividendos do petróleo são inclusivos para uns, mais preparados e qualificados para atuar nesse novo mercado.

Na Baixada Santista há um boom imobiliário para a classe média. Basta circular pelos bairros de Santos e Praia Grande, por exemplo, para denotar a quantidade de novos empreendimentos de luxo e alto luxo. A resposta é que haverá muitos executivos bem sucedidos ocupando esses apartamentos, por conta antecipada das atividades petrolíferas e da exploração do gás. O medo de muitos conterrâneos é que a região sofra uma invasão de imigrantes como se uma nova Serra Pelada estivesse com ouro à mostra.

Retornei ao assunto para refletir sobre a necessidade de uma provocação aos dirigentes governamentais locais, com o respaldo do Estado e da União, para que despertem logo para o planejamento estratégico. A infra-estrutura regional não oferece as condições compatíveis para um salto populacional. São importantes as carências em diversos setores, como a saúde, transportes públicos e a qualificação profissional, por exemplo.

Todos sabemos que não jorrou uma gota dessas descobertas nos reservatórios da Petrobrás. Mas as possibilidades disso acontecer logo ainda dependerá de uma grande atenção para o cumprimento de exigências em termos de tecnologias, investimentos e logística de processamento, dada a distância da costa e das características desse lençol petrolífero em águas profundas, na camada de pré-sal da plataforma oceânica do país. É sabido, ainda, que há uma contradição à vista: o petróleo estará cada vez mais visado e controlado por causa dos seus efeitos de emissão de gases de efeito estufa. Portanto, essa exploração haverá de se orientar em políticas de sustentabilidade que a Petrobrás tem cacife para banca-las, felizmente.

Acho que a exploração do petróleo e as suas consequências configuram questões de Estado. Questões que estão postas e que, mesmo sem definições claras de quando resultarão em realidade, exigem preparo antecipado. As perspectivas de retomada do desenvolvimento e da recolocação da Baixada Santista, novamente como ponto estratégico para o país, não permitem governantes sem visão do futuro. As escolhas nas eleições municipais de 2008, de prefeitos e vereadores, precisam ser consideradas sob a ótica dos mais capazes de antecipar o futuro e não esperar para ver o que acontece.

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Caso Isabella nos surpreenderá ?

De todo modo, o caso Isabella repercurte mais que a novela "Duas Caras". A diferença é que Agnaldo Silva pode escolher o fim dos personagens e do próprio folhetim, com a ajuda de pesquisas de opinião e dos índices de Ibope. Com o triste fim de Isabella, me incluo na torcida silenciosa para que não se confirmem os seus pais, tios, avós e madrasta, como responsáveis por esse crime medonho. A família brasileira, apreensiva a cada capítulo vazado para a imprensa, não merece um choque dessa ordem.

Mas a imprensa vem cumprindo um papel maduro, longe do modelo que gerou vítimas para sempre, como no episódio da Escola Base, em São Paulo. É inegável que os repórteres queiram apresentar fatos novos. Nos últimos dias, várias emissoras de televisão apresentaram cópias extra-oficiais dos inquéritos policiais, como se fossem de posse exclusiva, um pretenso furo de reportagem.

Creio que o leitor deste blog também foi contagiado pelos capítulos dessa "novela" de final infeliz. É impossível não perceber o assunto, que tem merecido destaque nos sites, jornais, telejornais e programas de rádio. Ninguém pode estar indiferente com a angústia que deve estar povoando a imaginação de nossos filhos, com a comparação inevitável: "pais que matam filhos inocentes?"

Surpreende sempre as próprias notícias de pais que matam filhos culpados. Pais nunca poderiam matar filhos. E nesse caso, então, como aceitar que uma menina calma, bastante boazinha e meiguinha poderia sofrer uma violência como essa? Como pode um cenário tão restrito, importar tantos testemunhos, se nos prédios há vizinhos que nem se conhecem e pouco se importam com o mundo exterior?

Dá a impressão que a polícia mobilizará quarteirões de testemunhos, como se fosse para apenas para retardar a resposta que ela não quer aceitar. Essa é uma demonstração do nosso atraso científico. Porque tamanha demora nos resultados de impressões digitais, análise de DNA e outros vestígios?

Bem que esse desfecho poderia culpar um pesadelo, uma fatalidade, diante da primeira versão que o pai de Isabella a deixou só, por alguns momentos, no seu quarto de visitas. Crianças pensam muitas vezes que podem voar. Quem sabe, Isabella, ao se ver sozinha, refém da imaginação de criança, gritou sem se desvencilhar do seu próprio destino.

Polícia de São Paulo, por favor, nos surpreenda!!! 

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