Publico para o conhecimento dos prezados leitores, entrevista disponível desde segunda-feira (18), nos sites do PSDB nacional – www.psdb.org.br – e do ITV – Instituto Teotônio Vilela – www.itv.org.br – contendo minha visão sobre os rumos do PSDB. Realmente tenho encontrado muitos tucanos em discussões sobre o futuro do PSDB e como se insere o partido na proposta de Reforma Política que tramita no Congresso Nacional. Mas o PSDB completará 19 anos no dia 25 de junho, razão da entrevista que concedi ontem.
Fundador do PSDB, o jornalista Raul Christiano defende que o partido, às vésperas de completar 19 anos de fundação na próxima segunda-feira (25/06), estreite laços com os movimentos sociais e sindicais. "Existe a necessidade de o partido tomar um banho de articulação, de inserção maior com os movimentos sociais", argumenta em entrevista ao site do ITV, para a série de contatos com fundadores do PSDB. Para ele, "a consolidação da democracia passou pela forma como o partido conduziu o processo de participação política no governo Fernando Henrique".
Christiano filiou-se ao MDB, em 1976, participou do movimento que originou na criação do PT, em 1978, mas optou por filiar-se ao PMDB em 1979, liderando uma dissidência na agremiação a partir de 1986 com o Movimento de Unidade Progressista.
Militou ativamente nos movimentos contra a ditadura militar e a favor da democracia, da anistia, da convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte e de eleições diretas para presidente. É autor de livro "De Volta ao Começo! – Raízes de um PSDB militante, que nasceu na oposição", editado pelo ITV e pela Geração Editorial, em que conta a história do partido. Atualmente, o jornalista mantém o Blog do Raul (www.raul.blog.br). Leia abaixo a entrevista:
O PSDB completa 19 anos de fundação na próxima segunda-feira (25/06). Ao longo dessas quase duas décadas, o mundo mudou muito. Em setembro o partido realiza o seu III Congresso Nacional para se atualizar. Qual a expectativa do senhor sobre o Congresso da legenda?
No texto de abertura do programa do PSDB, o ex-governador Franco Montoro destaca que o partido recém-criado estaria longe das benesses oficiais, mas perto do grito das ruas. Acredito que o que está faltando para o PSDB é a atualização programática, que vai acontecer agora. Estamos precisando de uma atualização teórica, de idéias, novas palavras de ordem. Acho que esse momento de revisão programática é extremamente importante, porque dará consistência a um posicionamento nosso na oposição.
Que tipo de partido deve surgir então?
A expectativa é que o PSDB ressurja como um partido maduro, que foi responsável pela travessia de um mundo difícil, de uma democracia sendo resgatada. A consolidação da democracia passou pela forma com que o PSDB conduziu o processo de participação política no governo Fernando Henrique. O PSDB vai se tornar uma alternativa concreta de poder, de programas capazes de resolver os problemas de várias áreas.
Muita gente defende que o PSDB deve se tornar no partido da classe média…
O PSDB tem bandeiras muito claras para a classe média. Como é um partido social-democrata, a legenda deveria centralizar a sua ação nos próximos anos no fortalecimento dos núcleos de base, na influência da militância sindical, nas sociedades comunitárias. Portanto, existe a necessidade de o PSDB tomar um banho de articulação, de inserção maior com os movimentos sociais. A classe média já sabe o papel do PSDB. A maioria dos nossos parlamentares são oriundos da classe média.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem afirmado que o partido deve se diferenciar das outras legendas. Hoje o principal contraponto ao PSDB talvez seja o PT. Avaliando a posição dos dois partidos, tanto no governo quanto na oposição, o senhor acha que essa diferença está nítida?
A diferença é nítida. O PT não tem um programa para o país, mas apenas de poder. O Partido dos Trabalhadores tem uma estratégia de ocupação de espaços no governo, de aparelhamento do Estado. O PSDB tem um modelo de gestão para o Estado.
De modo geral, como o senhor definiria a situação do Brasil durante o governo Lula?
O governo Lula teve uma origem popular, democrática, voltada para as políticas focalizadas nas maiores vulnerabilidades sociais. No entanto, o atual governo está simplesmente ampliando o fosso das desigualdades. O Brasil só perde com isso. Por exemplo, na questão econômica com todo cenário mundial favorável, o governo Lula não conseguiu avançar, não conseguiu que o país desse um salto no crescimento. Na educação o problema se repetiu.
Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, houve um grande esforço para universalização do acesso à educação básica…
De fato, colocar todas as crianças nas escolas foi um grande desafio. Já a gestão Lula tinha como meta melhorar a qualidade da educação como um todo. Depois do primeiro mandato do PT, percebemos que o país perdeu quatro anos. Efetivamente nada aconteceu. Mesmo com a mudança do Fundef para Fundeb, tudo continua na mesma. Acho que o governo está devendo em vários pontos e isso pode significar uma projeção de atraso para o Brasil nos próximos anos.
Na sua avaliação, o PSDB tem boas perspectivas nas próximas eleições, tanto em 2008 como em 2010?
Sem dúvida, o partido tem a sua agenda política. Por esse motivo, não pode tentar acompanhar a agenda do PT e do governo. O PSDB precisa mostrar claramente qual é a sua agenda política para esse ano e para o ano que vem. Isso irá desenhar o processo pré-eleitoral em 2010.
Em 1988, quando o partido foi fundado, as principais demandas da sociedade eram a estabilidade econômica e a consolidação da democracia. Neste momento do país, quais as bandeiras atuais que o partido deveria empunhar com mais ênfase?
Manter a estabilidade da moeda. O governo Lula navega em um mar tranqüilo do ponto vista econômico por conta do que foi estruturado pelo governo Fernando Henrique. Na era pós-Collor, o PSDB estabeleceu uma visão de futuro e as coisas estão acontecendo pelas linhas traçadas em 1993, quando o ex-presidente Fernando Henrique ainda era ministro do governo Itamar Franco. Nada é por acaso. Devemos consolidar isso. Há necessidade de termos um foco mais na questão da produção do país. O Brasil precisa retomar o crescimento, reduzir juros, realizar os investimentos necessários à malha rodoviária, aos portos, enfim o foco à infra-estrutura.
O senhor participou do último Laboratório de Aprendizagem Política, promovido pelo ITV para jovens tucanos, em Anápolis (GO) neste fim de semana. O partido está conseguindo atrair novas lideranças?
Acredito que sim, percebi isso neste fim de semana. A Juventude é uma vitamina poderosa para renovação de quadros e de perspectivas no partido. Nesse processo de discussão do programa, a Juventude precisa estar sintonizada com os problemas de políticas públicas. É fundamental que os jovens tucanos colaborem com essa discussão.
Como o senhor acredita que o ITV pode ajudar no processo de reformulação do partido?
O ITV deve ser o maestro da reforma programática. Já tem todo um histórico de discussões voltadas para os grandes temas nacionais. A presença do ITV nesse processo é fundamental.