Blog do Raul

Democracia

O fim da linha de Cuba !

Cuba, Fidel Castro e Chê Guevara marcaram muito a minha juventude e as gerações que me antecederam. O espírito revolucionário que derrubou o regime oligárquico-ditatorial cubano e implantou um governo popular nos animava ao enfrentamento do regime militar no Brasil, adversário da democracia e da reunião de forças políticas e populares no governo do nosso país. Nossa luta aqui perdurou de 1964 a 1984, quando perdemos a luta por eleições diretas para a presidência da República, aceitamos a escolha de José Sarney pelo Colégio Eleitoral no Congresso Nacional e atravessamos o abismo da ditadura para a chamada Nova República. Apesar de tudo mantivemos acesa a chama do idealismo, renovando idéias e comportamentos, até o testemunho dos últimos acontecimentos lamentáveis desde Cuba.

Juro que me vejo incomodado com a visão arcaica de Fidel Castro e com o desmoronamento do regime que sonhou e ainda mantém a ferro e a fogo. Acho inaceitável o papel de cúmplice da repressão política e da violação dos Direitos Humanos na América Latina, sintomas do atraso, quando vivemos praticamente uma 5.ª Revolução Industrial. Não estamos mais suscetíveis a martelar com romantismo os referenciais da década de 60, que na história da minha geração e de duas anteriores, além de ter sido marcada por um sabor de inocência e lirismo nas manifestações sócio-culturais, de idealismo e entusiasmo no espírito de luta do povo, nas experiências com drogas, revolução sexual e protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos. Mesmo assim conto isso aos meus filhos com o orgulho da minha natureza política e ainda exibo fotos de uma viagem em missão do governo brasileiro a Cuba em 1996, inclusive ao lado de Fidel.

Mas nunca tive laços de amizade com Fidel, como revelam sem constrangimento os atuais ocupantes do governo federal brasileiro e da militância do PT. Atravessei a fase de idolatria revolucionária, focando prioridades com a alfabetização, a educação para o emprego, a melhoria da qualidade do atendimento na área da saúde, o combate a corrupção, ao terrorismo e aos bloqueios políticos e econômicos desde o fim da Guerra Fria e o símbolo da derrubada do muro de Berlim. Fidel Castro explicitou recentemente, para mim soando nostálgico, que muitas gerações acreditaram e apoiaram a sua revolução, porque conseguia mobilizar gente atuante na ciência, na técnica, no trabalho, professores, intelectuais, jovens, estudantes.

Lamento que Fidel tenha se transformado numa figura errante, sobrevivente dos ideais revolucionários e encantado com a bajulação de esquerdistas caquéticos do Brasil e dos simpatizantes do neo-revolucionário bolivariano Hugo Chavez. Sei que um comentário dessa natureza, distante da linha comum da cobrança pura e simples de uma posição do governo do PT em relação a morte do dissidente cubano Orlando Zapata, morto em razão de maus tratos sofridos durante a sua prisão em Cuba, agravados pela greve de fome que manteve por mais de 80 dias, desagradará “companheiros”. Serei confinado na “direita” e na combinação de opositor lulopetista/tucano neoliberal (sic), que rasgou a “parte boa da biografia”. Não me importo com isso, minha preocupação está mais voltada a dignidade humana e a perspectiva emancipatória e de sobrevivência das pessoas

Cuba precisa de ajuda. O seu povo sofre, apesar da cultura, conhecimento e consciência, legados importantes da Revolução Cubana. O Brasil deveria aproveitar esse momento de “prestígio” político com a família Castro, posicionando pela democracia, liberdade e solidariedade. Por uma questão de princípio e de compreensão da realidade, o atual governo federal deveria considerar inegociável uma parceria tecnológica para produção e de investimentos para a recuperação econômica daquele Estado, sem o início da reconstrução da democracia. Não quero prosseguir acreditando que o presidente Lula esteja conivente com a similaridade histórica do holocausto e da opressão que vive o povo cubano.

Dizer amém aquele modelo político hoje, diante de todos os sinais de socorro emitidos da Ilha de Cuba, impõe compactuar com o atraso, o refluxo do esquerdismo e as ameaças contra as liberdades individuais. Em nosso próprio território, o governo Lula combina o seu pensamento autoritario para validar o polêmico Programa Nacional de Direitos Humanos, também rechaçado por toda a sociedade. O assessor para Assuntos Internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia, justificou a defesa da falta de liberdade de expressão e dos direitos humanos em Cuba, relativizando que “há problemas de direitos humanos no mundo inteiro”. Assim é possível compreender o silêncio de muitos e a mudança de posição de poucos, que felizmente tiveram a capacidade de despertar no meio desse pesadelo !

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Senador Eduardo Azeredo indefeso!

Silêncio condenatório do PSDB.

Tenho acompanhado pela imprensa, o pré-linchamento do senador Eduardo Azeredo, um dos fundadores do PSDB no Estado de Minas Gerais, por causa do relatório da polícia federal, que “concluiu pela existência de um esquema de caixa 2” na sua campanha à reeleição para governador em 1998. Em 2006, quando explodiu o escândalo dos Correios e emergiu a figura do publicitário mineiro Marcos Valério, como responsável pela distribuição de mensalão a políticos da base aliada do PT, a conexão com Minas popularizou a expressão “valerioduto” e trouxe de roldão o seu PSDB. Até esse ponto, nenhuma surpresa foi causada ao eleitorado brasileiro, convencido que todos os políticos são farinha do mesmo saco.

Mas, nos últimos dias, fatos novos sobre o caso das raízes do “valerioduto” ocuparam revistas semanais e os espaços dos jornais pelos repórteres investigativos e pelos analistas de plantão. Além de Eduardo Azeredo, houve respingos nas figuras públicas do governador tucano Aécio Neves e do ministro lulista Walfrido dos Mares Guia. E uma porção de postagens fez misturar petistas (os 40 já denunciados) e tucanos mineiros (em vias de serem denunciados pelo procurador-geral da República ao Supremo Tribunal Federal), como se fosse para engavetar ou escandalizar tudo.

Não estou entendendo mais o comportamento do próprio PSDB em relação ao citado envolvimento do senador Eduardo Azeredo. Lí com ironia as manifestações do presidente Lula de solidariedade sobre os seus 40 denunciados. Acabo de reler as declarações do presidente da República ao jornal americano “The New York Times”, dizendo não acreditar no envolvimento do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT) com o mensalão. Achei no site do Democratas – DEM, maior aliado do PSDB, a publicação, na íntegra, de matéria do jornal “Valor Econômico”, cujo título estampava singelamente “PSDB divide-se na defesa de Azeredo”.

Mergulhei nessa diferença de comportamento de tucanos e petistas, em relação aos seus quadros políticos importantes. Não encontrei uma palavra que expressasse, de imediato, solidariedade do PSDB ao senador Azeredo. Também não achei uma declaração de dúvida sobre as denúncias que recaem sobre si. Constatei interpretações sobre a possibilidade do partido explicitar uma estratégia de diferenciar mensalão tucano, como sendo “doações eleitorais não declaradas”, do petista justificado como “recursos não contabilizados”.

Belíssima hipocrisia essa de explorar o fato que apenas a campanha eleitoral de Eduardo Azeredo praticava caixa 2 em 1998. Se havia mecanismos de impedir isso já naquela época, a bem da democracia e da transparência pública, bem que todas as contas eleitorais poderiam ser revisitadas. Quantas campanhas em 1998 e em 2006 tiveram níveis de exposição tão abusivos e uma prestação de contas tão fictícia ?

No Brasil, há políticos acusados de improbidade administrativa, quebra de decoro e abuso do poder econômico, que renunciam e voltam à cena graças aos votos “gratuitos” e “desinteressados” do povo. Corruptos declarados funcionam como iô-iô, nunca se importando com o quê pensam os cidadãos. Aliás, riem dos cidadãos. Mas assisti, recentemente, à cassação de um senador do Amapá, acusado de ter corrompido dois eleitores, com a compra de seus votos por R$ 27 (vinte e sete reais, sim).

Quero dizer que não se justifica o posicionamento equidistante do PSDB com um quadro tão importante e decente como o senador Eduardo Azeredo, também ex-presidente nacional do partido. Mesmo que seja denunciado e incluído no rol daqueles que futuramente serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal, ele não merece esse tratamento de abandono político.

Azeredo indefeso é um mal exemplo da falta de respeito. O presidente Fernando Henrique disse que falta convicção ao PSDB para reconhecer o legado de seu governo de tantos êxitos. Não posso crer e aceitar a minha própria infâmia, de refletir se não seria o caso de o PSDB ter alguém como o “Lula”, que não se constrange em revelar solidariedade a um companheiro, até que se prove o contrário!

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