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Baixada mal educada !?

Para a surpresa geral e muitos narizes torcidos, o resultado de estudo da Fundação Getúlio Vargas, publicado com exclusividade neste domingo, pelo jornal O Estado de São Paulo, é um soco no meio do estômago da Baixada Santista. Ele revela que a região é a menos eficiente na aplicação dos recursos em educação (15.º lugar entre 15 regiões do Estado), com um desperdício de 32,6% dos investimentos. Amarga também o último lugar no Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que avalia a qualidade das escolas públicas brasileiras, medindo o desempenho dos estudantes das redes públicas de 4.ª e 8.ª séries em português e matemática, bem como o índice de aprovação.

Nesse diagnóstico, a Baixada Santista expõe uma situação delicada, com problemas enfrentados devido à falta de professores e à alta repetência. Esses resultados não representam a opinião unânime de especialistas em avaliação educacional, que contestam o fato de deixar a impressão de que existe apenas um modelo para o ensino eficiente, apesar do mérito de inovar com a análise da gestão dos gastos. Foram avaliadas 404 cidades paulistas, por oito professores da FGV, do Centro de Estudos de Política e Economia do Setor Público. Busque a matéria "Litoral é menos eficiente nos gastos", no www.estadao.com.br .

Esses números desmontam os argumentos que a educação no Brasil só será melhorada quando houver uma injeção de recursos mais significativa. A Constituição Brasileira obriga os Estados e os Municípios a reservar e investir, no mínimo, 25% de seus orçamentos para a Educação. Além disso há uma luta permanente pela elevação dos atuais 4% do PIB nacional, mas os últimos resultados indicam o contrário: falta melhorar a gestão dos recursos, construindo mais escolas, qualificando professores e diretores, reforçando aulas.

Ao invés de chocar os dirigentes e as classes políticas locais, o momento eleitoral deveria responder com o compromisso dos atuais candidatos a prefeitos e a vereadores da região, e de outras regiões com desempenho fraco, de apoiar e de buscar a melhoria no desempenho futuro, com os Planos Municipais de Educação. O discurso do presidente Lula e do seu ministro Fernando Haddad reforçam a intenção do destino dos royalties do petróleo, guardado sob as camadas do pré-sal, para a educação.

Tudo muito fácil, sem que a "galinha botasse o ovo", pelo menos. A receita, conforme a FGV, está no esforço concentrado pela melhoria da qualidade do ensino, com o uso mais eficiente dos recursos que já estão disponíveis para o setor.

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Morre Zé Ito, tucano de Urupês !

Recebi agora há pouco, a notícia da morte de José Roberto Perosa Ravagnani (Zé Ito), tucano histórico e combativo da região de São José do Rio Preto, mais precisamente da grande Urupês, cidade responsável pela sua revelação como administrador público. Zé Ito elegeu-se prefeito em 1996 e 2000, pelo PSDB, destacando-se sempre pelas marcas do jeito tucano de governar, especialmente nas áreas da educação e da saúde, além de ser considerado um dos mais hábeis articuladores políticos para o desenvolvimento do Interior paulista.

Desde 31 de janeiro do ano passado, Zé Ito era o presidente da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo (Codasp), ligada a Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento, do Governo do Estado. Ele foi convidado para essa missão pelo próprio governador José Serra, com o qual mantinha seus laços políticos desde o governo Franco Montoro. Antes de assumir a direção da Codasp, exerceu a função de assessor do prefeito Afonso Macchione, da cidade de Catanduva.

Graças ao seu relacionamento com os municípios, os prefeitos chamavam Zé Ito de "embaixador" no governo do Estado. Mas posso dizer que à época do governo Fernando Henrique, em Brasília, testemunhei o seu empenho em abrir portas para os seus colegas prefeitos, orientando sobre os principais programas governamentais e para as possibilidades dos municípios apresentarem suas reivindicações para a melhoria dos serviços e infra-estrutura das cidades.

Perdemos um jovem líder, com a partida prematura de Zé Ito. Ele completaria 48 anos de idade, no próximo dia 26 de novembro, mas deixa um legado de amor e dedicação à causa pública. Enfrentando dificuldades com a sua saúde pessoal, nos últimos tempos, apoiava a eleição da sua esposa Cassia Rita de Bortole Perosa Ravagnani, à prefeitura de Urupês, que lidera a coligação "Urupês de Todos", com os partidos PSDB, DEM, PRB, PSB, PDT, PV e PPS.

Em nome de companheiros de todo o Brasil, registro a saudade do Zé Ito, com uma pergunta que nunca recebemos a resposta: porque tão cedo ?

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Cargos vagos de parentes !?

Não se trata de mais uma promessa de político. O Supremo Tribunal Federal anunciou, na quinta-feira da semana passada, que a nomeação de familiares de até terceiro grau, para cargo em comissão ou de confiança, na administração pública direta ou indireta em quaisquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, por autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, viola a Constituição Federal. Virou compromisso com a lei, inclusive para acabar também com o jeitinho brasileiro na forma do "nepotismo cruzado", quando um político ou servidor contratava o parente de outro. Essa decisão não deixa de ser um alento novo num cenário de recuperação da credibilidade e confiança populares, a 40 dias da eleição dos políticos mais próximos dos cidadãos (prefeitos, vice-prefeitos e vereadores).

O tema é polêmico, porque o nepotismo, de tão enraizado em nossa cultura, parecia que jamais seria banido. O fato de ser parente de político, independentemente da sua competência, sempre gerava desconfiança sobre a competência e a qualidade dos seus serviços. Sei que não é possível generalizar essa história de parentada ineficiente nos cargos de confiança, mas a decisão do STF é moralizadora e obriga os parentes em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau – bisavós, avós, pai-mãe, sogro-sogra, tios, irmãos, cunhados, sobrinhos, filhos, netos, bisnetos, padrasto e madrasta, enteado e enteada, genro e nora, sogro e sogra, avôs e avós do cônjuge, cunhado e cunhada, concunhado e concunhada -, se interessados em atuar no serviço público, a prestar concursos públicos, que são a única porta de entrada numa pretendida carreira no funcionalismo.

Mesmo assim, ainda haverá comentários de que os concursos serão tendenciosos, sobrando suspeitas de que as provas foram vazadas privilegiadamente aos parentes. Ainda estamos longe no caminho para resgatar a credibilidade das nossas instituições políticas brasileiras. Apesar dessas mudanças tão significativas, a saída dos parentes dos cargos de confiança deveria ser acompanhada da redução do número de funcionários comissionados nas prefeituras, câmaras municipais e em outras esferas de governos e dos poderes constituídos.

Conforme o último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período compreendido entre 2005 e 2006, o número de cargos em comissão aumentou de 380.629 para 422.831, apenas nas prefeituras dos 5.564 municípios do País. Para o diretor-executivo da Transparência Brasil, Cláudio Abramo, a livre nomeação para os chamados cargos de confiança faz com que, na prática, o nepotismo continue a existir: "Saem os parentes, entram os amigos do rei. Qualquer receituário de combate à corrupção coloca em primeiro lugar na lista a redução nas nomeações de cunho político".

Acredito que é possível mudar para melhor, o respeito com a sociedade. O STF vem oferecendo respostas importantes às frustrações seculares, que poderiam ser corrigidas no exercício dos mandatos populares. Portanto, nunca é tarde para reafirmar que voto é coisa séria, que as oportunidades estão batendo à nossa porta novamente e que o seu papel transformador precisa ser valorizado, cada vez mais. Isso reforçará e socializará a nossa crença de que é possível fazer e conciliar política com honra e dignidade ! Esse é o único espaço que não pode ficar vago e sujeito ao retrocesso !

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Kassab mais próximo de Geraldo !

PSDB e DEM sucederam o PT na prefeitura de São Paulo e amargaram uma pesada herança financeira, com dívidas não honradas e pagamentos cancelados irregularmente. Essa aliança vem dando certo nas alegrias e nas tristezas. Em 1994, Fernando Henrique se elegeu presidente da República pela primeira vez com Marco Maciel na vice-presidência. A receita foi repetida e bem sucedida em 1998. São Paulo, até então, governava com chapa pura, Mário Covas-Geraldo Alckmin, até que Geraldo, em 2002, determinou que o cargo de vice fosse entregue a Cláudio Lembo (PFL-DEM) e viveu lua-de-mel até a derrota do PSDB na disputa da presidência da Assembléia Legislativa para Rodrigo Garcia. Na semana passada, o Ibope registrou o distanciamento de Marta Suplicy, de Geraldo e de Gilberto Kassab, antes do horário eleitoral gratuito e de qualquer fato novo. Hoje, o Datafolha confirma os números do Ibope para Marta, a queda de Geraldo e o crescimento de Kassab.

Todo mundo conhece o jeito de governar de Marta Suplicy. Pesquisei no google os editoriais da Folha e do Estadão, sobre o quê esperava Serra na prefeitura de São Paulo: "A prefeita Marta Suplicy governou com as burras abertas. Entre 2001 e 2003, as despesas com pessoal cresceram de R$ 3,5 bilhões para R$ 4,5 bilhões, um aumento de mais de 28% engordado, em grande parte, pela criação de 2.126 cargos de confiança, que custam R$ 100 milhões por ano. Obras foram contratatadas sem que houvesse preocupação com o desempenho da receita. O orçamento em vigor, por exemplo, prevê receita de R$ 14,5 bilhões, mas não deverá realizar mais que R$ 13,7 bilhões. Resultaram disso tudo déficits correntes que cresceram de ano para ano."

A Prefeitura não tinha como pagar as despesas contratadas e, ao mesmo tempo, cumprir a LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal. Como publicava o Estadão, "a saída clássica para esse tipo de situação é cancelar empenhos e não reconhecer títulos emitidos pelos fornecedores – um calote que empurrará para a próxima gestão o pagamento da dívida". Esse diagnóstico levou o prefeito José Serra a promover um intenso ajuste fiscal e colocar São Paulo no rumo de uma cidade com administração exemplar, muito melhor de se viver, a exemplo de Mário Covas quando sucedeu Luiz Antonio Fleury no governo do Estado.

Comentei na semana passada que a coordenação da campanha de Geraldo estava preservando muito a experiência de Marta na Prefeitura. E que não entendia os disparos críticos contínuos à gestão atual do governo DEM-PSDB, que a meu ver contribuiria para dificultar o diálogo entre os dois partidos, numa eventual aliança, num eventual segundo turno. Porque não faltaram avaliações na mídia sobre a possibilidade de Marta vencer as eleições logo no primeiro turno.

Lí e soube do testemunho na fonte de muitos companheiros tucanos, que essa estratégia persistiria e as baterias de comparação com o governo Marta seriam acumuladas e utilizadas apenas no segundo turno. A nova pesquisa, do Datafolha, confirma que essa não é a melhor estratégia e que ainda há tempo de modificar os rumos, sem ranços, nem interpretações figadais.

A boa notícia, a essa altura do "campeonato", é que Kassab está crescendo e se aproximando de Geraldo, porque continua divulgando os efeitos do ajuste fiscal e do choque administrativo de Serra nos seus 15 meses como prefeito, bem como relembrando, intensamente, que a experiência de Marta na Prefeitura não pode se repetir. Esse crescimento estanca Marta e pode resgatar a perspectiva de Geraldo herdar uma Prefeitura bem governada até agora.

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Lágrimas de Pequim embalam insônia …

Insucessos do Brasil na Olimpíada de Pequim inundam de lágrimas as TVs. Há uma epidemia de frustração, superada graças ao espírito do povo brasileiro, que se emociona e logo perdoa, porque compreende que a prática de esportes competitivos em nosso país não merece apoio dos governos, das universidades e do empresariado. Não posso generalizar, pois cometeria alguma injustiça, mas a preparação dos nossos atletas é limitada, exceto quando conseguem uma bolsa no exterior para se aperfeiçoarem. Educação e esportes deveriam andar de mãos dadas, desde os primeiros anos de ensino básico.

Este comentário não é conclusivo. Nem poderia, porque nesta semana chegaremos ao podium em diversas modalidades coletivas – futebol feminino, futebol masculino, vôlei masculino, vôlei feminino – com direito a medalhas, inclusive. São reflexões da minha insônia, para não dizer que não falei de Pequim sem uma cutucada necessária naqueles que decidem sobre os esportes ou nos mecenas de plantão.

César Cielo conquistou medalha de ouro nos 50 metros de nado livre, com recorde olímpico, além do terceiro lugar nos 100 metros livres. Lí que três países europeus e a Austrália disputam o "seu passe", pois oferecem a possibilidade de conciliar os estudos com a possibilidade de competir com grandes nadadores. E não escondi que me sensibilizei com o erro fatal de Diego Hypólito; com nonsense sumiço de uma das varas da saltadora Fabiana Murer; com o pedido de desculpas de Eduardo Santos aos seus pais, "porque não teve competência de jogar o seu adversário ao chão", e pela revelação de que ficou durante dez anos na faixa marrom porque não tinha dinheiro para pagar pela mudança de faixa para a Federação Paulista de Judô; enfim …

Busquei comentários sobre justificativas dos insucessos. Nada, por enquanto, mas achei no google uma notícia divulgada em dezembro do ano passado, que o São Paulo Futebol Clube conseguiu do Ministério dos Esportes, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, uma verba para três obras no Centro de Treinamento de Cotia equivalente a mais de 50% do que foi destinado ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para o Projeto Pequim. Para a preparação brasileira à Olimpíada deste ano, o valor divulgado naquela ocasião era de R$ 26.988.196,95, divididos entre 27 modalidades; enquanto a verba do clube paulista, tinha como único destino o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia, somando R$ 13.868.493,51.

Nada contra o São Paulo, que acredito tenha maior capacidade de correr atrás de verbas de pessoas físicas e jurídicas para iniciar o seu projeto. Com a lei do incentivo ao esporte, os potenciais investidores podem deduzir uma porcentagem do imposto de renda: até 1% para empresas e até 6% para pessoas físicas. Mas tudo a favor do esporte, que contribui imensamente para manter as nossas crianças nas escolas, além de torná-las mais exigentes com a saúde, o bem estar, a integração, o afastamento das drogas e dos apelos nefastos que estão por aí.

Chore por isso também, mas tome alguma atitude!

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Marta subiu SETE pontos no Ibope ?

Pois é, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), segundo a última pesquisa do Ibope sobre as eleições da Capital, tomou 5 pontos percentuais de Geraldo Alckmin (PSDB) e 2 de Gilberto Kassab (DEM). Muito interessante esse novo cenário, sem que houvesse um fato que justificasse a mudança do posicionamento embolado entre Marta e Geraldo, que pode sinalizar o início da contagem regressiva para uma vitória do PT logo no primeiro turno. Fiquei preocupado com os comentários de que não haverá mudanças na campanha, mas uma aceleração no seu ritmo. Coleciono há 10 dias, críticas e torpedos do PSDB à administração atual do DEM-PSDB, poupando o período governado por Marta e também a sua "metamorfose ambulante". Não mudar e acelerar quer dizer mais pauladas no Kassab e vice-versa ?

O leitor deste blog sabe que este teclado é engajado, porque sou tucano, alinhado com as diretrizes partidárias, apóio a candidatura do Geraldo Alckmin para prefeito, embora vote em Santos etc. Mas fundamental relembrar que o comportamento da campanha na Capital e o desempenho da candidatura do PSDB afetam candidaturas e alianças políticas do partido por todo o Estado e Brasil afora.

Na quarta-feira (13), o professor de história da Universidade de São Carlos, Marco Antonio Vila, escreveu artigo na seção Tendências e Debates da Folha, com o título "Os novos mandões municipais". Sem dúvida nenhuma, mais uma contribuição importante para tentar entender cenários difusos, quem sabe até as razões que levaram Marta crescer do nada, porque os seus adversários fingem que ela está fora da disputa.

Na terça-feira que vem (19) começará o horário eleitoral gratuito. Analistas políticos e marqueteiros de plantão sempre consideram que uma boa campanha no rádio e na tv invertem tendências. Daí retomo minha preocupação, quando parece não haver uma consideração sobre os lados e os entornos de uma disputa como a da Capital de São Paulo. E Marco Vila, no meio do seu artigo, pontua levemente a sua opinião sobre o que viu e pôde perceber até agora:

"Os programas eleitorais dos candidatos são marcados por propostas antigas e não há renovação inclusive dos slogans. A sensação de ‘déjà vu’ é evidente. O entusiasmo é falso. A eleição agrada aos marqueteiros, aos cabos eleitorais e aos produtores de material de propaganda, mas o eleitor se mantém até o momento distanciado, com ar de enfado".

Martaxa até 2004, agora Marta surfa livremente, com tempo de prometer que vai "cortar impostos", de olho nos votos da classe média; construírá linhas de metrô … e ignorar os seus adversários se estranhando, justificando presenças e ausências nas campanhas, perdendo pontos ! 

O cenário sugere reação ! E então ?  

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Tortura manchou história do Brasil !

Desde a semana passada o ministro Tarso Genro (Justiça) vem protagonizando o noticiário sobre a reabertura do debate da punição dos militares brasileiros acusados de torturar adversários do regime que se instalou no Brasil em 1964, perdurando até o início de 1985. Um período autoritário, em que a tortura foi uma política de Estado, mas que ainda depende de um posicionamento estrito do Poder Judiciário, porque em qualquer lugar do mundo democrático essa prática é qualificada como crime imprescritível. Costuma-se dizer que o brasileiro tem memória curta, mas a nossa história registrou essa mancha de sofrimento, restando à sociedade decidir se esse passado deve ser revisitado, até como um alerta para que nunca mais se repita.

O jornalista Élio Gaspari, na Folha, escreveu que a tortura é a verdadeira herança maldita e que os comandantes militares precisam aprender a conviver com os crimes de seus antecessores (13/08/2008). Para a jornalista Maria Inês Nassif, editora de Opinião do jornal Valor Econômico, "a anistia de 1979 foi, de fato, a anistia possível naquele momento. Mas, como diz o manifesto público da OAB, que está recebendo apoio maciço de juristas de todo o país, não se pode esquecer o que não foi conhecido, não se pode superar o que não foi enfrentado" (14/08/2008).

A imprensa mescla o tema, na maior parte dos espaços, com a opinião de juristas, militares e colegas ministeriais do governo Lula, para condenar a difusão do assunto por ministro de Estado, e que a revisão da Lei da Anistia geraria instabilidade institucional ao Brasil, a exemplo de experiências observadas em países vizinhos.

O presidente Lula defende a transformação dos mortos, nas lutas contra o regime autoritário, em heróis, não em vítimas. E enumerou exemplos da Nicarágua, dos mortos pelo governo do ditador Anastacio Somoza (de 1967 a 1979), e de Cuba, à época do ditador Fulgêncio Batista (de 1952 a 1959), que não ficaram se lamentando.

Esse tema é espinhoso e parece funcionar como os movimentos de uma onda. Não se pode qualificar o debate como revanchismo histórico, porque a questão se materializa em nossa história como um cadáver insepulto. É evidente que os encaminhamentos necessários dependem da pautação das causas pelo Poder Judiciário, excluindo dessa competência os poderes Executivo e Legislativo. Mas hoje é curioso observar a falta de opinião do Congresso Nacional, instituição que representa o povo brasileiro e que forneceu tantos heróis na defesa da democracia. Nenhuma voz partiu da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal até agora. 

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Universidade: Avaliação ou comparação ?

Na semana passada os jornais destacaram os resultados do sistema nacional de avaliação de cursos universitários e o ministro Fernando Haddad (Educação) tentou passar a idéia de que agora é para valer, porque no governo Fernando Henrique todo mundo era aprovado, o processo era uma "festa" (sic). Um jogo de cena, a quatro meses de completar seis anos de governo Lula, depois de mutilar o modelo original (Provão) que tinha caráter universal, porque todos os estudantes eram obrigados a fazer o exame para receber o diploma, optando por aplicar os exames por amostragem (Enade). Afinal, onde o atual ministro pretende chegar, se o seu estilo "sem festa" fica resumido à comparação dos cursos entre si ?

Esse debate é importantíssimo para valorizar uma antiga bandeira de lutas da sociedade e do movimento estudantil, em busca de melhorias na qualidade do ensino praticado nas universidades públicas e privadas, porque ainda estamos inseguros com a falta de informações reais se uma faculdade ensina ou ensinou a seus estudantes os conteúdos mínimos exigidos de um profissional de medicina, engenharia, direito, administração, pedagogia etc. Sem falar que os jovens que querem se inserir no mercado de trabalho, em meio a essa confusão ineficaz, não sabem por onde começar.

O deputado federal Paulo Renato Souza (PSDB-SP), ministro da Educação no governo FHC, foi o responsável pela criação de todos os processos de avaliação do ensino superior, que resistem até hoje apesar de pretensas alterações bruscas e impraticáveis. Recordo-me da época em que o Provão foi aprovado pelo Congresso Nacional, excluindo o estímulo ao aluno para se esforçar na realização do teste e a inclusão obrigatória da sua nota no histórico escolar.

A avaliação por amostragem, pelo governo Lula, a pretexto de reduzir os custos com a aplicação do Enade, além de significar um retrocesso, num modelo que poderia ser melhorado, é contraditória, porque o ministério da Educação testa com a mesma prova calouros e concluintes. Até hoje o ministro Fernando Haddad não conseguiu uma explicação plausível sobre o resultado que ele espera, com as duas vertentes radicais do conhecimento: avaliar a deficiência dos estudantes recém saídos do ensino médio e comparar com a competência adquirida no ensino superior ? Realmente não consigo entender.

Também duvido, como o ex-ministro Paulo Renato, se o atual governo teria coragem de criar o sistema de avaliação do ensino superior. O Provão, como ele concebeu, era um dos indicadores de qualidade, que não podia ser analisado de maneira isolada, porque à média global se agregava a qualificação do corpo docente e as condições de infra-estrutura das instituições de ensino. O atual ministro poderia institucionalizar a obrigatoriedade de todos os alunos de escolas públicas estaduais e federais, bem como das privadas, realizarem as provas e incluirem as notas obtidas no histórico do curso.

Ao que parece, o governo federal tem meia coragem e meia covardia para enfrentar as corporações e a UNE. Também não consegue definir o uso dos índices obtidos com a avaliação, ora ameaçando faculdades do fechamento, ora fechando os olhos sobre a avaliação das mesmas para comprar vagas e matricular estudantes carentes. Manter a avaliação como pressuposto de medição da qualidade do ensino e das condições de oferta pelas Universidades é um avanço consolidado. Apesar de ainda sobrar o oportunismo da apropriação do sistema, incapazes de um parâmetro mais sério de comparação, falta ao governo Lula um rumo e uma resposta mais coerente e séria para a Universidade Brasileira. Por enquanto, a bem da verdade, noves fora, NADA !

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Cidadania de Cananéia !

Compartilho com os meus leitores, que ontem à noite estive em Cananéia para receber o título de "Cidadão Cananeense". O município é um dos mais antigos do Brasil e o evento aconteceu durante as comemorações do seu 477.º aniversário. Para mim é uma responsabilidade e tanto receber uma homenagem dessa natureza, principalmente quando mantenho uma conduta de não esperar o reconhecimento por possíveis feitos; obrigações implícitas de um agente público que às vezes pode decidir e suprir carências sociais e comunitárias. Contudo, mesmo parecendo contraditório, aproveito esta oportunidade para explicitar a minha alegria de ser cidadão de uma cidade pela qual não escondo a paixão desde 1981.

A decisão do título foi do vereador Pedro Ferreira Dias Filho, por causa de uma prioridade do município que ajudei a destravar da burocracia estatal em 2005: um projeto de habitações para a população carente de Cananéia. O prefeito Geraldo Carneiro, um velho amigo, elogiou a minha disposição de estar disponível e atender as pessoas. Acho que um homem público, em qualquer esfera de sua atuação, deve se conduzir como um facilitador, sensível, transparente e justo.

Não sou candidato a nada, mas uma campanha pelo bom voto nas eleições deste ano, patrocinada pelo Tribunal Superior Eleitoral, nos alerta para a importância de escolhermos representantes comprometidos com o futuro de todos nós. Faz menção à uma linha do tempo, refletindo sobre as oportunidades perdidas, de mudanças e de perspectivas melhores para a sociedade.

Sentado ao lado de outros homenageados em Cananéia fiquei imaginando uma sociedade participativa, consciente, cidadã. Percebi um pouco mais, entre os mais novos cidadãos, a ansiedade de Dilzanir de Barros Avelino, uma voluntária da APAE local, que confessou a sua apreensão em falar diante de tantas autoridades, quando ela se sentia mais à vontade fazendo o seu próprio trabalho. Recomendei que ela pusesse o seu coração no microfone.

Obrigado, Cananéia!

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Cidadãos que lutam perdem Lima !

A militância política da região da Baixada Santista está de luto com a morte do "seu" Lima do Guarujá, ocorrida na terça-feira (5). Com ele a sociedade perde um cidadão idealista, que acreditava e lutava pela melhoria da qualidade do voto e dos próprios políticos, a partir do Guarujá, escolhido por ele inicialmente para desenvolver as suas atividades profissionais e empresariais. "Seu" Lima – Antonio Gomes de Lima – foi militante do PT, de onde saiu para ajudar a fundar o PSDB em 1988. E o destino quis que ele tivesse um mal estar justamente durante a convenção partidária deste ano, dia 22 de junho, palco das suas mais intensas lutas recentes. Cheguei minutos depois, quando recebia os primeiros cuidados médicos no Hospital Santo Amaro, acompanhado de seu filho Marco Antonio.

De lá para cá não falei mais com ele, recebendo notícias de que estava se recuperando, melhorando. Aguardava o momento de visitá-lo, com nossas emoções políticas mais equilibradas. Mas fui surpreendido pelo recado de Marco Antonio, no meu celular, que ouvi com atraso, e não tive tempo de me despedir do amigo e companheiro de 20 anos. Por isso, uma tristeza profunda invadiu o meu coração no começo da noite desta quarta-feira. Não posso acreditar nesse triste final de história, depois da nossa cumplicidade na administração de muito conflitos políticos no seu município e na região. Logo agora que a paz estava selada…

Com certeza não serei o único a revelar surpresa e a dor pela sua partida. Chorei por um parceiro de lutas que sempre foi uma figura admirável. Haveremos de seguir o seu exemplo de vida pessoal, que dissimulava para os seus amigos, com uma força impressionante de superação, todos os dias, desde a perda de Beth, sua filha, em 1999, naquele acidente na BR-101, no Espírito Santo. A cientista social Beth Lima, que eu também admirava tanto, era assessora de imprensa do então presidente de honra do PT, Lula da Silva, e perdeu sua vida quando o carro que a conduzia desde São Mateus, onde participara de um ato público, foi atingido na traseira por um caminhão.

Lima, a você, o meu eterno respeito e saudade ! Aos seus famíliares, esposa, filho, nora, netos, parentes, a compreensão da dor e o desejo de que encontrem as forças necessárias para a superação ! Contem sempre conosco !

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