Quando a Democracia perde para “Governismo”
Os leitores deste blog tomaram conhecimento sexta à noite, da pesquisa que apontou Lula como o dono da melhor imagem no exterior. Busquei a fonte dessa avaliação e encontrei na Folha de São Paulo, deste sábado, o resultado do estudo realizado pela ONG chilena, Fundação Latinobarómetro, que além da avaliação dos governantes da região mostrou que há uma crença cada vez maior no papel do Estado e a desvalorização da democracia como melhor sistema de governo. Explicam: a presença mais forte do Estado, com os serviços básicos fornecidos e os seus programas assistenciais, leva partes significativas das populações dos países latino-americanos a não se importar com os regimes políticos que sustentam e garantem os seus governantes.
E não se tratam de golpes, pois a sociedade foi responsável pela eleição desses governantes, porque houve a garantia de democracia nos seus países. A meu ver isso é preocupante, principalmente porque em nossa história recente, as mudanças políticas só foram possíveis graças à luta contra o autoritarismo da ditadura instalada no Brasil de 1964 a 1985, menos pela polarização que se observa em outros países por conta do confronto eleitoral entre esquerda e direita.
Nesse estudo, dos 18 países que aparecem no levantamento, apenas cinco registraram aumento do apoio à democracia: Equador, Costa Rica, Panamá, Nicarágua e Bolívia. O Brasil registrou uma perda de 3% nessa avaliação, passando para 43% no seu índice de apoio à democracia (comparação com os índices obtidos em 2006). Como é que pode acontecer isso num país que aparentemente consagra a democracia? A contradição desses números está justamente no quê podemos chamar de satisfação com a democracia, na medida em que há o reconhecimento da melhora do papel do Estado.
Se o Estado está mais presente na resolução de todos os problemas da sociedade, há que se considerar a confusão que se faz entre o papel do Estado e do governo. No Brasil dos últimos cinco anos, o lulo-petismo explica essa tendência, com a apropriação do Estado pela marca pessoal e partidária nas funções de comando e governança. Então, a presença de lideranças políticas fortes nos governos e a execução de programas nacionais eficientes, que efetivamente mostram resultados para a população garantem o reconhecimento do eleito e não do processo que confirmou a sua eleição.
Por fim, há uma justificativa que expõe com clareza a razão desse equilíbrio na região. Na análise de Marta Lagos, diretora da Latinobarómetro, a febre de reeleições, a internacionalização das campanhas, a mudança da agenda política e econômica, o surgimento de novos projetos políticos, a renovação de elites e lideranças, o surgimento de maiorias aparentes e o clima de campanha perene, alimentam e consolidam esse fenômeno, que não deixa de ser ignorante, do ponto de vista educativo para a política e pela preservação de democracia.
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