Jogo sujo ou política suja ?
Estamos prestes a votar pela sexta vez para eleger um presidente da República do Brasil, desde o início da redemocratização do país em 1985. E há novos tormentos no cenário político para tentar desgastar personagens do jogo, que aumentam os índices de descrédito das pessoas na própria importância da democracia, o melhor regime de governo, indiscutivelmente. A última sexta-feira foi prodigiosa para os jornais e revistas semanais, com um artigo de César Benjamin, na Folha de São Paulo, a denúncia sobre o genro de Lula, na Veja, e o novo mensalão de Brasília, em todas as mídias. Para onde vamos assim ?
Minha primeira reação ao ler o texto de César Benjamin, contendo revelações tardias de um comentário de baixo nível feito por Lula em 1994, de que tentara "subjugar um rapaz militante do Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP)" quando estava na prisão, porque não conseguia ficar tanto tempo sem manter relações sexuais, foi de tristeza e uma certa melancolia. Ato contínuo, descrente nessa verdade de Benjamin, por se tratar de um velho companheiro de lutas do próprio Lula, pensei no destino político do atual presidente da República, se tais revelações fossem conhecidas e confirmadas naquela época.
Com todo cuidado político, longe de turbinar o jogo sujo que muitos fazem nessas horas, mas indignado com o que acabara de ler postei comentário no www.twitter.com/raulchristiano com o seguinte teor: "Se o conteúdo do artigo de Cesar Benjamin, ex-petista, publicado hj p/ Folha, for verdadeiro, p/ dignidade Lula deveria renunciar!" No mesmo instante lí frases de efeito desqualificando Cesar Benjamin, a Folha de São Paulo, a "imprensa golpista do pais" e nenhuma resposta oficial de Lula, além da crítica do seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, de que era "ato de um psicopata" e o presidente havia ficado "triste, abatido e sem entender" os motivos do ex-parceiro.
Depois, outros participantes do mesmo encontro de Benjamin e Lula em 1994 minimizaram a gravidade do assunto, atribuindo as expressões ao jeito brincalhão do presidente. Aliás, esse jeito tem sido responsável por muitas gafes presidenciais no Brasil e no Exterior, mas essa história do "menino do MEP" (como passou a circular pela Internet e na repercussão do artigo de Cesar Benjamin) é suja e de mau gosto. Lamento muito pela Folha de São Paulo, que parece tão cuidadosa com os conteúdos de todos os artigos que pública, mesmo de textos opinativos e com a assinatura dos seus responsáveis, servir de palanque para diferenças políticas históricas. O jornal precisa e deve publicar a confirmação ou um contraponto dessa história, como defendeu hoje o seu ombudsman Carlos Eduardo Lins e Silva, o mais breve possível.
Sobre o caso do marido de Lurian, a filha mais velha de Lula, o fato é uma repetição de casos da família presidencial, que teve seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, denunciado antes ao pedir dinheiro a um empresário do ramo de jogos. Certamente haverá um bilhão de spams invadindo nossas caixas de e-mails a partir de agora, porque nesse governo ninguém fica sabendo o resultado das apurações e ressarcimentos públicos. A reincidência desses acontecimentos demonstra o quanto são vulneráveis os familiares, amigos, "mui amigos" e partidários das autoridades de plantão nesse jogo.
E o quê dizer mais além das imagens gravadas, por colaboradores do antigo governador de Brasília, Joaquim Roriz, durante a campanha de 2006, do ato de entrega de maços de dinheiro ao atual governador José Roberto Arruda (DEM)? Na ocasião, pelo que se observa, Durval Barbosa que era presidente da empresa Codeplan, do Distrito Federal, na gestão Roriz, e que até a última sexta-feira era o secretário de Relações Institucionais de Arruda, e foi o responsável pela gravação do ato divulgado agora durante as primeiras movimentações do ex-governador e ex-senador que renunciou para não ser cassado na atual legislatura. Sem falar de um novo mensalão comandado pelo próprio governador do DF, para lhe garantir a governabilidade…
Uma vergonha sem fim no meio político do Brasil, que tende a nivelar todos por baixo, no momento em que são ensaiados os primeiros passos para a sucessão presidencial, governantes estaduais, dois terços do Senado, deputados federais e estaduais. Percebe-se que o jogo sujo está aberto por muitos políticos sem escrúpulos e também por setores que têm interesses frustrados.
A meu ver a política não pode ser considerada uma causa suja, hipócrita e desrespeitosa de regras claras para o jogo, a negociação, a disputa, o entendimento e a lealdade. Acredito que através das boas práticas políticas vamos transformar o Brasil e o Mundo; mas é fundamental tentar limpar de uma vez por todas tantas mazelas, antes de propor novas medidas curativas para todos os males que nos atormentam e nos tornam menos crédulos de que é possível mudar para melhor !
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Lí e recomendo a leitura da última edição (37) da Revista Piauí, que traz um dos mais completos perfis do governador José Serra, "Serra na hora da decisão", em reportagem da jornalista Daniela Pinheiro. Nos últimos 15 dias acompanhei comentários de colunistas, blogueiros e twiteiros, que extraíram partes da matéria, utilizando-as de maneira pejorativa na rádio peão, para tentar denegrir a imagem daquele que é, sem dúvida, a maior expressão política da oposição ao PT e ao lulopetismo. Valho-me da resumida introdução da jornalista, que escreveu: "O espelho, as duas almas, os três Eus, as pesquisas, as implicâncias e os critérios que o presidenciável levará em conta para resolver se, de fato, será candidato ao Planalto", como ponto de partida para desconstruir algumas das expressões manipuladas pelas vozes e textos de aluguel do mundo virtual e algumas colunas que se autoproclamam reacionárias ao PIG – Partido da Imprensa Golpista.
Nesta semana o PT exercitou um velho hábito durante os comerciais políticos no horário nobre das programações de rádio e TV. Mentiu sem vergonha que o governo Lula investirá R$ 100 bilhões no Estado de São Paulo até 2010. Sua retrospectiva revela uma intenção permanente de "trabalhar o imaginário da população", como justificou um conhecido marqueteiro (João Santana). Na mentira dessas últimas inserções da sua propaganda política, o PT "omite" que os referidos bilhões de reais totalizam o dinheiro repassado pela União, incluindo despesas de empresas públicas federais e estaduais, empréstimos de bancos federais e investimentos vultosos do Governo do Estado e dos próprios municípios.
Os discursos triunfalistas de Lula e do PT podem configurar um perigo nacional. Se nos últimos tempos batemos na tecla da incompetência do atual governo federal em executar as centenas de obras anunciadas nos palanques do PAC, pelo comportamento de integrantes do MST – Movimento dos "Trabalhadores Rurais" Sem Terra no interior de São Paulo, destruindo pés de laranja em protesto pela reforma agrária na região, é possível concluir que nem tudo na história deste país vai bem como a propaganda oficial alardeia e massifica. O MST é um braço ativo do PT, assim como a UNE e a maioria das centrais sindicais. Se o MST está no jogo e ainda demonstra a sua insatisfação, mesmo com o tratamento dócil recebido do governo e do Congresso Nacional, que recentemente arquivou CPI que investigaria os seus repasses financeiros do lulopetismo, parece que os setores produtivos deste país continuam premiados com o fio da navalha.
Faz dois meses e o vereador de São Paulo, Gabriel Chalita, foi lançado candidato ao Senado num encontro com alguns tucanos da Baixada Santista em Santos. Com todo o respeito que ele sempre mereceu, esse acontecimento não repercutiu no PSDB porque foi um ato isolado e de motivação aparentemente pessoal. Com o desfecho da novela "Chalita" e o seu destino assemelhado à infidelidade e à traição, estou ainda mais convicto que, ao contrário das suas pregações filosóficas e literárias, ele jamais demonstrou qualquer afeto ao PSDB, excetuando os seus laços com a família de Geraldo Alckmin e a recém-revelada paixão pelos exemplos democráticos de Franco Montoro e Mário Covas.
Ouvi agora à noite, comentário da jornalista Lúcia Hippolito na CBN, que os senadores estão cautelosos com a indicação do advogado José Antonio Dias Toffoli porque parecem temer a sua juventude aliada à perspectiva de permanecer 30 anos no cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Medo das suas condutas passadas e presentes dependerem da decisão de Toffoli no futuro, porque não acreditam na mínima hipótese do Senado deixar de aprovar o seu nome para o STF na próxima semana. Com isso, simplesmente dão de ombros para o curriculum fraco e comprometido do afilhado do presidente Lula, assinando embaixo da sua fala ao justificar Toffoli das críticas, sob o argumento de que se tratavam de "pura bobagem", pois "alguns dos maiores cientistas foram péssimos alunos".