Elogio ao Lula !
Diferenças políticas e partidárias à parte, honesta e civilizadamente me vejo obrigado a reconhecer que Barack Obama tinha razão em dizer que o presidente Lula é o "Cara". Resolvi revelar esse sentimento porque não adianta atribuir a Lula todas trapalhadas do seu governo. Outro dia comentei que ninguém da política tinha mais sorte que Lula, porque os ventos que sopraram difíceis no início da sua própria vida, agora são favoráveis para ele. Esses ventos não melhoram o governo, mas intensificam cada vez mais o brilho da sua trajetória. As suas respostas nos jornais de hoje, mesmo que tardias sobre a ação do MST, o confisco do IR a mais e a taxação da poupança expõem as contradições entre o homem sensível e a sua equipe de aloprados.
Lula parece que está permanentemente em campanha. Não faltam avaliações irônicas e negativas sobre o seu estilo palanqueiro, fustigador, descomprometido com antecessores, apesar deles (Itamar Franco e FHC) terem deixado as melhores referências e diretrizes para a sua atual receita de sucesso. Lula é vaidoso da sua condição histórica pessoal e fala como ninguém da sua vivência sofrida para relembrar e comparar reações dele mesmo no tempo em que era um dos milhares de excluídos deste país.
Não esqueço daquele debate, no segundo turno das eleições presidenciais em 2006, quando foi questionado sobre as políticas públicas que implementaria para resolver o problema das enchentes nas áreas urbanas. Antes de responder, ele olhou fixamente para as câmeras e para o seu adversário de então (Geraldo Alckmin) e disparou: "Você não tem idéia do que é viver com a água tomando o seu peito…" e continuou explicando soluções que já não importavam mais para ninguém. Todo mundo ficou sabendo que ele apoiaria as vítimas das enchentes, porque viveu isso na pele.
Acho que ele abusa do feeling, da sensibilidade pessoal. Por isso deixa a impressão de que está sempre no palanque, porque cabe aos políticos prometer e deixar a sensação de que vai realizar as mudanças esperadas. Mas as mudanças necessárias têm ficado aquém, justamente porque elas exigem gestores, que no caso do governo Lula somente ocorrem quando há iniciativas anteriores para continuar e mudar a marca.
Vejam os últimos acontecimentos do seu governo em relação ao MST, Imposto de Renda e poupança. Enquanto a sua equipe do INCRA e do ministério do desenvolvimento agrário botavam panos quentes na ação dos companheiros sem-terra, que destruíram pés de laranja, máquinas agrícolas e outras instalações de uma fazenda do grupo Cutrale, Lula condenou essa atitude, batizando-a de "vandalismo", longe da sua sintonia em defesa das lutas sociais.
Sobre o adiamento das restituições do Imposto de Renda da Pessoa Física, que atingiu trabalhadores da classe média, Lula demonstrou insatisfação com a decisão do ministério da Fazenda, embora sem justificar que a economia gerada com esse confisco momentâneo não compensaria o desgaste à imagem do governo lulopetista. Agora o governo cogita acelerar a devolução do IR, ao mesmo tempo em que aproveita o ministério na berlinda para anunciar que pretende desistir da cobrança de Imposto de Renda sobre a caderneta de poupança, conforme Guido Mantega vinha cogitando.
Além desses últimos três casos, que ainda sustentam o noticiário em todas as mídias, mesmo parecendo que Lula não esconde a sua insatisfação por causa dos reflexos políticos e eleitorais negativos em todo o seu governo e nele próprio, há de se considerar que Lula é uma coisa e a sua equipe é outra. Talvez essa separação seja orientada, mas duvido que alguém consiga dirigir o instinto de Lula. Ele pode dizer que não sabia das coisas, mas ninguém neste país é mais capaz que Lula para dizer o que o povo está pensando. Suas antenas estão muito ligadas nessa afinidade.
Ele é mesmo o "Cara". Não creio que ele consiga transferir essa estrela para o PT ou para as suas sublegendas. Há dois brasis em vigência. Um que se propaga na figura de Lula e outro do desgoverno da sua equipe insensível e incapaz. Quem já esqueceu de Ricardo Berzoíni, presidente do PT, quando ministro da Previdência e fez aposentados madrugarem em intermináveis filas para dizer que ainda estavam vivos ? E dos escândalos do mensalão, da incompetência de planejamento e gerenciamento de projetos e obras para o PAC ? O quê dizer agora da incompetência do ministro da Educação com o ENEM ?
O governador José Serra tem razão quando diz que a disputa em 2010 não será entre Lula e FHC. Os legados de ambos vão interferir no próximo governo do Brasil, porque essas bases estão muito sólidas. Porém, vencerá quem tiver a maestria de Lula para convencer o eleitor brasileiro de que é mais capaz de vencer carências estruturais e fazer o que o país necessita e precisa. Na minha opinião, o próximo "Cara" é o Serra !
Os discursos triunfalistas de Lula e do PT podem configurar um perigo nacional. Se nos últimos tempos batemos na tecla da incompetência do atual governo federal em executar as centenas de obras anunciadas nos palanques do PAC, pelo comportamento de integrantes do MST – Movimento dos "Trabalhadores Rurais" Sem Terra no interior de São Paulo, destruindo pés de laranja em protesto pela reforma agrária na região, é possível concluir que nem tudo na história deste país vai bem como a propaganda oficial alardeia e massifica. O MST é um braço ativo do PT, assim como a UNE e a maioria das centrais sindicais. Se o MST está no jogo e ainda demonstra a sua insatisfação, mesmo com o tratamento dócil recebido do governo e do Congresso Nacional, que recentemente arquivou CPI que investigaria os seus repasses financeiros do lulopetismo, parece que os setores produtivos deste país continuam premiados com o fio da navalha.
Cobrar a transparência dos investimentos previstos para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, não é um argumento para diminuir o papel do Brasil, como disse o presidente Lula. Muito menos uma reação dos opositores ao sucesso dessa conquista histórica, que pertence a todos nós. Lula e o PT, que sempre foram acostumados a vaiar até o hino nacional em solenidades de governos que não faziam parte, chegam a pensar que somos iguais a eles e que num momento como esse nos consumiríamos como "invejosos" e "apostadores do quanto pior melhor".
Quando o Ministério da Educação – MEC anunciou neste ano, mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, para este ano, elevaram-se as expectativas de mais de 4 milhões de adolescentes e jovens em todo o país, em obter o passaporte para as melhores universidades públicas e privadas brasileiras. Com esse foco, o ministro da Educação minimizou a preocupação trazida por uma legião de especialistas, sobre os riscos operacionais da logística e da segurança. Deu no que deu: vazamento da prova e frustração dos principais interessados – estudantes e pais – que tentam, a todo custo, acreditar nos governantes e apostar na continuidade dos programas bem sucedidos em Educação.
Faz dois meses e o vereador de São Paulo, Gabriel Chalita, foi lançado candidato ao Senado num encontro com alguns tucanos da Baixada Santista em Santos. Com todo o respeito que ele sempre mereceu, esse acontecimento não repercutiu no PSDB porque foi um ato isolado e de motivação aparentemente pessoal. Com o desfecho da novela "Chalita" e o seu destino assemelhado à infidelidade e à traição, estou ainda mais convicto que, ao contrário das suas pregações filosóficas e literárias, ele jamais demonstrou qualquer afeto ao PSDB, excetuando os seus laços com a família de Geraldo Alckmin e a recém-revelada paixão pelos exemplos democráticos de Franco Montoro e Mário Covas.
Ouvi agora à noite, comentário da jornalista Lúcia Hippolito na CBN, que os senadores estão cautelosos com a indicação do advogado José Antonio Dias Toffoli porque parecem temer a sua juventude aliada à perspectiva de permanecer 30 anos no cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Medo das suas condutas passadas e presentes dependerem da decisão de Toffoli no futuro, porque não acreditam na mínima hipótese do Senado deixar de aprovar o seu nome para o STF na próxima semana. Com isso, simplesmente dão de ombros para o curriculum fraco e comprometido do afilhado do presidente Lula, assinando embaixo da sua fala ao justificar Toffoli das críticas, sob o argumento de que se tratavam de "pura bobagem", pois "alguns dos maiores cientistas foram péssimos alunos".
Como despertar a sociedade para mudanças de verdade no cenário político atual ? Essa pergunta virou lugar comum em qualquer situação. E o pior é que os seus autores quase sempre resistem às respostas, que remetem à democracia e às eleições, porque acham que a maioria escolhe errado na hora certa. Penso diferente e encontrei algumas justificativas coincidentes na leitura do livro “1968: O que fizemos de nós”, de Zuenir Ventura. Votamos em candidatos que são mais capazes na divulgação de suas idéias e que conseguem nos convencer que farão o melhor. Mas também acho que o desconhecimento da história dos pretendentes, por razões ideológicas ou de prioridades atuais, pode ser responsabilizado pelas escolhas superficiais, descomprometidas.