Inferno astral na mordomia dos reitores.
O uso abusivo dos cartões corporativos está servindo para demolir reputações no serviço público. Faço coro àqueles que defendem a sua existência, justamente porque ele dá mais transparência à relação de gastos. Tome como exemplo a fatura do seu cartão de crédito pessoal. Ele é o registro fiel das suas compras limitadas e você sabe que sacar dinheiro no caixa custará ainda mais. Como é diretamente do seu bolso que sairá o prejuízo, você pensa duas vezes; essa a diferença do corporativo, o dinheiro é seu, indiretamente, e uns privilegiados extrapolam. Pelo noticiário dominante, a sensação é de que não sobrará pedra sobre pedra, se as investigações forem mais sérias para respeitar os recursos públicos. O péssimo exemplo do reitor da UnB e a sua "punição" com a organização dos estudantes pode ser o fio da meada…
Realmente, o reitor Timothy Mulholland, da Unb – Universidade de Brasília, extrapolou na farra da montagem do seu apartamento funcional. Dentre tantos luxos, aqueles latões de lixo de alumínio ou aço escovado, que custaram a "merreca" de R$ 1 mil cada ou o saca-rôlhas que só poderia ser de ouro, por R$ 850, se não fossem capazes de provocar a indignação dos estudantes e da comunidade universitária, logo deduziríamos que nas suas veias corriam sangue de barata.
Na lixeira da história, perdoem o trocadilho infeliz, a mobilização estudantil lavou a alma de cidadãos que duvidam que as CPI’s sobre o mesmo tema não acabem em pizza. Esse comportamento, radicalizado com a invasão do prédio da reitoria da UnB, há 11 dias, resolve uma parte do problema nacional. Pena que a sociedade brasileira não reaja da mesma forma para exigir respeito com a coisa pública, em todas as esferas de governo, onde se confirmou a mesma farra.
É lamentável que o Congresso Nacional continue perdendo a luta pela faxina e pela volta da dignidade geral. As últimas declarações da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), em que revela a sua disposição de abandonar a presidência da CPI dos cartões, porque não consegue pautar um depoimento de governantes envolvidos direta ou indiretamente no caso, aumenta o nosso desalento, mas leva à comparação com os estudantes brasilienses, que nem precisaram pintar as suas caras para provocar a renúncia do reitor Timothy.
Os jornais de hoje expõem os gastos do reitor Ulysses Fagundes Neto, da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo, que fez compras pessoais em suas viagens ao exterior, com o cartão corporativo. Até o momento em que escrevia este post, não constatei movimentos pela renúncia do reitor paulista.
Lí que o ministro da Educação, Fernando Haddad, baixou regras novas para a gestão dos recursos das universidades federais, quando oriundos das chamadas fundações de apoio. Imagino que o tema autonomia universitária retomará o centro dos debates. No entanto, se a receita de tratamento dispensado às centrais sindicais e aos sindicatos, no tocante aos recursos públicos que recebem, for repetida, quem sabe a autonomia universitária servirá para impedir a fiscalização da farra dos gastos dos reitores.
Nesse mundão das corporações, combinando o jogo com o atual governo, uma única e singela palavra de ordem: estudantes neles!
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